sábado, 14 de novembro de 2020

25.103 A Cozinha Francesa na cidade do Porto

 
Com a idade de 8 anos, o francês Léon Prudhomme abandona Paris, na companhia dos seus pais, e aporta a Lisboa.
O chefe de família, Louis Eugène Prudhomme, que era concessionário da mala-posta, escolheu este meio de transporte para fazer a longa viagem, instalando-se na casa de um cunhado, em Lisboa, onde este tinha um armazém de víveres e salsicharia.
Cedo, Léon Prudhomme ficaria órfão de pai, que sucumbiria a uma febre tifóide, o que levou sua mãe, Marie Geneviève Badon, a mudar-se para a cidade do Porto, onde abriu, na Rua de Santo António, nº 186, uma pastelaria, estabelecimento como à época se apelidavam os que vendiam artigos de mercearia fina, actualmente chamados, de estabelecimentos “gourmet”.
Naquela morada, funcionaria a confeitaria da “Viúva Prudhomme” onde, mais tarde, esteve um outro estabelecimento famoso, de perfumaria e flores artificiais – “Au Printemps”- de Artur de Vasconcelos & Filhos.
Em 1877, o estabelecimento da “Viúva Prudhomme”, chamava-se “Salsicharia Francesa”, como se pode observar na publicidade inserida no “Guia do Viajante na cidade do Porto e dos seus arrabaldes” de Alberto Pimentel.


 


 
 
 
 
Projecto de alteração de fachada do prédio da chapelaria Costa Braga & Filhos e da casa “Au Printemps”, em 1919, na Rua de Santo António, 186 - 196



Na área ocupada, actualmente, pela loja com a sua montra envidraçada, esteve a primitiva “Salsicharia Franceza” – Fonte Google maps

 
 
 
Curioso e elucidativo é o comentário de Alberto Guimarães, abaixo expresso, sobre a afamada casa “Au Printemps”, da Rua de Santo António, inserto no blogue “portoarc.blogspot.com/”, do qual é administrador, Rui Cunha:
 
 
 
“Boa tarde!
Nasci nesta freguesia, mais precisamente na casa nº 12 do Passeio de S. Lázaro.
Meu pai nasceu na casa ao lado (nº 9).
Minha mãe nasceu na Rua de Santo António.
Todos os três fomos baptizados na igreja de Santo Ildefonso.
Meu avô materno era proprietário da casa "Au Printemps", fundada por sua mãe e minha bisavó, que era francesa, na Rua de Santo António, em cujos pisos superiores residia e onde nasceu minha mãe.
Seu irmão, o Tio Camilo Conseil de Vasconcelos foi, durante muitos anos, proprietário da "Tabacaria Africana".
O irmão de minha mãe foi fundador do "Mercado Filatélico", instalado no 1º andar da casa "Au Printemps".
Grande abraço tripeiro!”
Alberto Guimarães
 
 
Com Léon Prudhomme, já ao comando dos destinos do negócio, atendendo ao aumento de clientela e ao manancial de conhecimentos que foi adquirindo no âmbito da confecção do boudin (enchido típico da culinária francesa), da mortadela, do salame, do fiambre e da salsicharia em geral, aliado ao manuseamento sem problemas da cozinha francesa, foi decidido abrir, em 1877, um novo estabelecimento do género, na mesma rua, no nº 163, em frente ao prédio onde esteve, durante décadas, o "Depósito da Fábrica de Papéis Pintados" de António Cardoso da Rocha, e com o nome que “Léon Prudhomme” lhe emprestava.
A actividade comercial do empreendimento subiria a pique.
O local tornar-se-ia, na cidade, um ponto de reunião e de tertúlia, a exemplo da livraria Moré e da Farmácia Amorim, mais conhecida por “Club Rigollot”.
Entre as personalidades ligadas à “Casa Prudhomme”, contavam-se Alexandre Herculano, como fornecedor de produtos originários da sua quinta de Vale de Lobos e Camilo Castelo Branco, como consumidor, situações explicitadas no texto seguinte:

 
 
Amadeu Sales, In “O Tripeiro” nº 3, V série, Ano X
 
 

Em 26 de Junho de 1901, o jornal “A Voz Pública” (pág.3) anunciava que a “Casa Prudhomme”, na Rua de Santo António, 120-124, era o depósito da Farinha Nestlé, com uma lata a ter o preço de 460 réis.
Com o passar dos anos e com a idade a avançar, Léon Eugène Prudhomme que todos os dias acompanhado por um criado fazia o percurso, a pé, desde da sua residência na Rua Duque de Loulé, até à loja, para trocar dois dedos de conversa com os clientes, acabaria por ir entregando o negócio a um seu empregado, de seu nome, Vieira de Carvalho, com quem fez sociedade, a “L. Prudhomme & Cia”.
Vieira de Carvalho, oriundo de Braga, começaria por exercer na “Confeitaria Conceição”, na Rua de Santa Catarina, ingressando como caixeiro na “Casa Prudhomme”, em 1890.
Vieira Carvalho alcançaria a plena propriedade do estabelecimento em Novembro de 1921, após o falecimento do fundador, em Maio desse ano, quando a sociedade “L. Prudhomme & Cia” caducou.
Desde essa data e sob a designação de “Casa Prudhomme”, sucessor de “L. Prudhomme & Cia”, manter-se-ia de portas abertas até 15 de Abril de 1945.
No texto que se segue, publicado na revista “O Tripeiro”, na rubrica “Que deseja saber acerca do Porto” um leitor que conheceu a “Casa Prudhomme”, faz uma exaustiva descrição da mesma.


 
 


 
 
Como curiosidade e atinente à Rua de Santo António, em 1864, por lá existiam sete luveiros, Bernard & Romain, Fresquet, Loubière, Martel, Bérard, Vicente & Sanchez e D. Maria Martins.
A afamada Madame Bonifácia, luveira de muitos créditos ocupava, cerca de 15 anos, mais tarde, uma loja de sucesso, quase na esquina com a Rua de Santa Catarina.
Na mesma rua, exerciam a actividade as modistas, Madame Bouhard e Suère, os alfaiates, Baquet e Bouard, os chapeleiros, G. Casalini e Madame Galiano e o cabeleireiro, H. Beauvais.
Guichard Printemps ocupava-se da sua sapataria e V. Buisson da perfumaria e comercializava outros objectos de luxo.
Os dentistas Rouffe e Piriac, atendiam os clientes nos seus consultórios da rua da moda.

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