Na cerca do antigo convento dos carmelitas que, mais tarde,
foi quartel da Guarda Republicana, esteve a Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Este estabelecimento de ensino superior, na área médica e farmacêutica, seria
criado na cidade do Porto no âmbito da reforma educativa de Passos Manuel,
tendo funcionado entre os anos de 1836 e 1911.
O ensino da Medicina no Porto tem origens, porém, na Régia
Escola de Cirurgia, instituição criada em 1825, ao mesmo tempo que a congénere
de Lisboa. A criação destas escolas era assim justificada:
“Sendo indispensável e
da mais absoluta necessidade que os Cirurgiões adquiram os precisos
conhecimentos para bem e dignamente prehencherem, e com pública utilidade, os
empregos de Cirurgiões no Exército e na Armada; assim como para poderem socorrer
os Povos, tanto nos lugares onde não existirem Médicos, como naqueles cujo
número não for suficiente para ocorrer a todas as afecções do seu foro”.
Criada por D. João VI, depois de ter aberto as portas pela
primeira vez a 25 de Novembro de 1825, a Régia Escola de Cirurgia funcionou com
normalidade durante dez anos, no Hospital da Misericórdia (Hospital de Santo
António), na sua ala mais a Sul.
Em 1836, uma reorganização do ensino médico, que procurou
melhorar “não só com proveito do ensino
público, mas também com utilidade dos hospitais de ambas as cidades”, é
estabelecido um novo plano geral de estudos, que, além de alargar o número de
cadeiras, as dividia em cadeiras médicas e cadeiras cirúrgicas.
Como resultado, aconteceria
a reforma das escolas de cirurgia do Porto e a consequente criação da Escola
Médico-Cirúrgica do Porto. Após a criação da U. Porto, em 1911, esta viria a
dar origem à actual Faculdade de Medicina.
Ala sul do Hospital da Misericórdia, onde funcionou até 1884,
o ensino da Medicina - Gravura de Nogueira da Silva, in Archivo Pitoresco
A Régia Escola de Cirurgia e a Escola-Médico Cirúrgica do
Porto funcionaram na ala Sul do Hospital de Santo António (em 1º plano na
gravura acima).
À Escola-Médico Cirúrgica do Porto se referia Pinho Leal na
sua obra “Portugal Antigo e Moderno”( 1875), Volume 5, página nº 259.
Na oportunidade, Pinho Leal fazia outras referências à
renomada escola, nomeadamente, o funcionamento, na escola, de um observatório meteorológico.
A Escola Médico-Cirúrgica passou, em 1884, a funcionar em
edifício construído numa área da cerca do convento dos carmelitas, na esquina
da Rua do Carmo com a Rua do Carregal (Rua do Paço) e que hoje é a Rua Prof.
Vicente José de Carvalho, ligada ainda ao Hospital de Santo António.
Em 1877, essas instalações ainda estavam em construção.
Hospital da Misericórdia, c. 1890, sendo visível, à direita, o edifício que a Escola Médico-Cirúrgica acabou por ocupar
Na reforma educativa que se seguiu à implantação da
República Portuguesa, a Escola Médico-Cirúrgica do Porto foi elevada a
Faculdade de Medicina do Porto pelo Decreto com força de lei de 22 de Fevereiro
de 1911, que promulgou a reforma do ensino médico e, acabaria, por no mesmo
local, ser construído um novo edifício que passou a ocupar.
Em 1912, pretende-se, sem sucesso, a ampliação do edifício
com a introdução de mais um andar, de acordo com a planta e alçados da autoria
do arquitecto José Teixeira Lopes, tendo sido apenas construída a sala do Museu
de Anatomia, com recursos da própria escola.
Em 1926, através do Decreto nº 12.889, o Governo é
autorizado pelo Ministério da Instrução Pública a contrair um empréstimo na
Caixa Geral de Depósitos para a ampliação do edifício, cujas obras são
iniciadas em 1931, ocorrendo a respectiva inauguração do edifício, após a
ampliação, a 15 de Abril de 1937, nas comemorações do 1º Centenário da Escola
Médico-Cirúrgica.
Na foto, pode ver-se a antiga Escola Médica construída na
cerca do convento (em primeiro plano) e ao fundo a Igreja dos Carmelitas
O novo edifício da Faculdade de Medicina, no local da antiga
Escola Médico-Cirúrgica, foi um projecto dos arquitectos Baltazar de Castro
(1891-1967) e Rogério de Azevedo (1898-1983), com uma fachada onde é utlizada
uma linguagem neoclássica, tentando uma integração com o vizinho Hospital de
Santo António.
As novas instalações da Faculdade de Medicina, pelo aumento
da população de estudantes, professores e médicos, iria contribui para animar
todos os locais de convívio envolventes, mormente o Café Ancora d’Ouro, como se
pode ainda hoje constatar pelas placas evocativas dos diferentes cursos médicos
que decoram as suas paredes.
Note-se que, não chegaram a ser realizados, conforme o
previsto, quer a identificação da Faculdade, quer a colocação de símbolos
(estátua e baixo-relevo no tímpano)
Perspectiva actual da fachada do edifício onde
funcionou a Faculdade de Medicina do Porto – Fonte: Google maps
Por este local, duas homenagens sobressaem tendo por alvo
personagens ligadas à medicina.
Uma envolve Júlio Dinis de nome de baptismo, Joaquim Gomes
Coelho, que nasceu e morreu no Porto, tendo-se formado na Escola Médica
Cirúrgica do Porto, com alta classificação, razão suficiente para se
compreender a escolha do local para levantamento de um monumento à sua memória.
O busto do escritor encontra-se do lado de lá na Rua do
Carmo, mesmo defronte da antiga Faculdade de Medicina.
Uma outra homenagem ocorre, bem perto, destacando o
Professor Abel Salazar numa estátua colocada no Jardim Carrilho Videira (Jardim
do Carregal)
A 24 de Junho de 1959, dá-se a transferência da Faculdade de
Medicina para a área da Asprela, para o edifício hoje ocupado também pelo
Hospital de S. João, que seria inaugurado na mesma data.
Este hospital escolar teve projecto do arquitecto alemão
Herman Distel (1875-1945), um arquitecto muito conceituado, como
projectista desse tipo de edifícios. O Hospital de Santa Maria, em Lisboa
tem também a sua marca.
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