quarta-feira, 22 de maio de 2024

25.241 As antigas Escolas de Medicina da cidade do Porto

 
Na cerca do antigo convento dos carmelitas que, mais tarde, foi quartel da Guarda Republicana, esteve a Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Este estabelecimento de ensino superior, na área médica e farmacêutica, seria criado na cidade do Porto no âmbito da reforma educativa de Passos Manuel, tendo funcionado entre os anos de 1836 e 1911.
O ensino da Medicina no Porto tem origens, porém, na Régia Escola de Cirurgia, instituição criada em 1825, ao mesmo tempo que a congénere de Lisboa. A criação destas escolas era assim justificada:

 
“Sendo indispensável e da mais absoluta necessidade que os Cirurgiões adquiram os precisos conhecimentos para bem e dignamente prehencherem, e com pública utilidade, os empregos de Cirurgiões no Exército e na Armada; assim como para poderem socorrer os Povos, tanto nos lugares onde não existirem Médicos, como naqueles cujo número não for suficiente para ocorrer a todas as afecções do seu foro”.

 
 
Criada por D. João VI, depois de ter aberto as portas pela primeira vez a 25 de Novembro de 1825, a Régia Escola de Cirurgia funcionou com normalidade durante dez anos, no Hospital da Misericórdia (Hospital de Santo António), na sua ala mais a Sul. 
Em 1836, uma reorganização do ensino médico, que procurou melhorar “não só com proveito do ensino público, mas também com utilidade dos hospitais de ambas as cidades”, é estabelecido um novo plano geral de estudos, que, além de alargar o número de cadeiras, as dividia em cadeiras médicas e cadeiras cirúrgicas. 
Como resultado, aconteceria a reforma das escolas de cirurgia do Porto e a consequente criação da Escola Médico-Cirúrgica do Porto. Após a criação da U. Porto, em 1911, esta viria a dar origem à actual Faculdade de Medicina.



 

Ala sul do Hospital da Misericórdia, onde funcionou até 1884, o ensino da Medicina - Gravura de Nogueira da Silva, in Archivo Pitoresco
 
 
 
A Régia Escola de Cirurgia e a Escola-Médico Cirúrgica do Porto funcionaram na ala Sul do Hospital de Santo António (em 1º plano na gravura acima).
À Escola-Médico Cirúrgica do Porto se referia Pinho Leal na sua obra “Portugal Antigo e Moderno”( 1875), Volume 5, página nº 259.



 


 
Na oportunidade, Pinho Leal fazia outras referências à renomada escola, nomeadamente, o funcionamento, na escola, de um observatório meteorológico.





 
 
A Escola Médico-Cirúrgica passou, em 1884, a funcionar em edifício construído numa área da cerca do convento dos carmelitas, na esquina da Rua do Carmo com a Rua do Carregal (Rua do Paço) e que hoje é a Rua Prof. Vicente José de Carvalho, ligada ainda ao Hospital de Santo António.
Em 1877, essas instalações ainda estavam em construção.



Hospital da Misericórdia, em 1885 - Ed. Emílio Biel





Hospital da Misericórdia, c. 1890, sendo visível, à direita, o edifício que a Escola Médico-Cirúrgica acabou por ocupar




Na reforma educativa que se seguiu à implantação da República Portuguesa, a Escola Médico-Cirúrgica do Porto foi elevada a Faculdade de Medicina do Porto pelo Decreto com força de lei de 22 de Fevereiro de 1911, que promulgou a reforma do ensino médico e, acabaria, por no mesmo local, ser construído um novo edifício que passou a ocupar.
Em 1912, pretende-se, sem sucesso, a ampliação do edifício com a introdução de mais um andar, de acordo com a planta e alçados da autoria do arquitecto José Teixeira Lopes, tendo sido apenas construída a sala do Museu de Anatomia, com recursos da própria escola.
Em 1926, através do Decreto nº 12.889, o Governo é autorizado pelo Ministério da Instrução Pública a contrair um empréstimo na Caixa Geral de Depósitos para a ampliação do edifício, cujas obras são iniciadas em 1931, ocorrendo a respectiva inauguração do edifício, após a ampliação, a 15 de Abril de 1937, nas comemorações do 1º Centenário da Escola Médico-Cirúrgica. 
 




Na foto, pode ver-se a antiga Escola Médica construída na cerca do convento (em primeiro plano) e ao fundo a Igreja dos Carmelitas

 
 
 
O novo edifício da Faculdade de Medicina, no local da antiga Escola Médico-Cirúrgica, foi um projecto dos arquitectos Baltazar de Castro (1891-1967) e Rogério de Azevedo (1898-1983), com uma fachada onde é utlizada uma linguagem neoclássica, tentando uma integração com o vizinho Hospital de Santo António.
As novas instalações da Faculdade de Medicina, pelo aumento da população de estudantes, professores e médicos, iria contribui para animar todos os locais de convívio envolventes, mormente o Café Ancora d’Ouro, como se pode ainda hoje constatar pelas placas evocativas dos diferentes cursos médicos que decoram as suas paredes.

 
 
Projecto da fachada principal do novo edifício da Faculdade de Medicina

 
 
Note-se que, não chegaram a ser realizados, conforme o previsto, quer a identificação da Faculdade, quer a colocação de símbolos (estátua e baixo-relevo no tímpano)
 
 
 

O novo edifício da faculdade de Medicina do Porto c.1933

 
 

O novo edifício da Faculdade de Medicina do Porto c.1940
 
 
 

 
Fachada lateral da antiga Faculdade de Medicina
 
 
 

Perspectiva actual da fachada do edifício onde funcionou a Faculdade de Medicina do Porto – Fonte: Google maps

 
 
Por este local, duas homenagens sobressaem tendo por alvo personagens ligadas à medicina.
Uma envolve Júlio Dinis de nome de baptismo, Joaquim Gomes Coelho, que nasceu e morreu no Porto, tendo-se formado na Escola Médica Cirúrgica do Porto, com alta classificação, razão suficiente para se compreender a escolha do local para levantamento de um monumento à sua memória.
O busto do escritor encontra-se do lado de lá na Rua do Carmo, mesmo defronte da antiga Faculdade de Medicina.

 
 

Júlio Dinis, no Largo Prof. Abel Salazar
 
 
 
Uma outra homenagem ocorre, bem perto, destacando o Professor Abel Salazar numa estátua colocada no Jardim Carrilho Videira (Jardim do Carregal)

 
 

Abel Salazar, no Jardim do Carregal
 
 
 
A 24 de Junho de 1959, dá-se a transferência da Faculdade de Medicina para a área da Asprela, para o edifício hoje ocupado também pelo Hospital de S. João, que seria inaugurado na mesma data.
Este hospital escolar teve projecto do arquitecto alemão Herman Distel (1875-1945), um arquitecto muito conceituado, como projectista  desse tipo de edifícios. O Hospital de Santa Maria, em Lisboa tem também a sua marca.

 
 

O Hospital S. João seria edificado, na Asprela, num ambiente completamente rural. A perspectiva da foto foi obtida do local em que viria a nascer o Instituto Industrial - Fonte: AHMP

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