sábado, 25 de maio de 2024

25.242 Um centro comercial que não se concretizou

 
A actual Praça de Gomes Teixeira, assim designada desde 1936, mais conhecida por Praça dos Leões, por alusão à fonte com esse nome, que exibe vários reis da selva, alados, jorrando água pela boca, já teve alguns outros topónimos.
Em 1835, passou a ser Praça dos Voluntários da Rainha, quando antes era Largo do Carmo e chegou a ser identificada por Praça do Pão, por lá se realizar uma Feira de Farinha. Este último topónimo passaria, depois, para designar a actual Praça Guilherme Gomes Fernandes, cuja feira do pão chegou ao século XX. Também já foi conhecida como Praça da Universidade.
Poucos portuenses saberão que, praticamente, toda a área do quarteirão formado pelas praças de Gomes Teixeira, Guilherme Gomes Fernandes e Carlos Alberto e a Rua Actor João Guedes, fronteiro ao edifício da Universidade, foi alvo de um projecto do arquitecto Fernando Távora resultante de concurso para provimento (neste caso para prof. de arquitectura) de lugar de professores nos diversos grupos da Escola Superior de Belas Artes do Porto e publicado no “Boletim Especial da Escola Superior de Belas Artes do Porto 1962-1963”.
Esse projecto nunca veio a realizar-se, mas, consultando-o, podemos ficar com uma ideia de como ficaria essa zona da cidade.
 
 
 
«O tema é “Um Centro Comercial” localizado no quarteirão a norte do edifício da Reitoria e Faculdade de Ciências, “de configuração rectangular, com cerca de 5600 (cinco mil e seiscentos) metros quadrados de superfície”. O projecto deve ser integrado no Plano de Pormenor do Plano Director da Cidade do Porto de Robert Auzelle, que “além de prever o prolongamento da Avenida de Ceuta” prevê um “novo sistema de circulações da Praça de Carlos Alberto.”
 
 
 

Parte do edificado total que era previsto demolir
 
 
 

Alçado Nascente

 
 

Alçado Sul


 

Vista virtual do Centro Comercial do Carmo

 
 
 
Távora propõe um edifício com um “corpo relativamente baixo (cave e 3 pisos) que ocupa praticamente toda a área do quarteirão” … “com cércea condicio­nada pela Igreja do Carmo e restantes edifícios, (e que) «adere» aos alinhamentos tradicionais, que não sentimos necessidade de alte­rar na sua essência” a que se opõe “um corpo alto (cave e 15 pisos), de pequena superfície de implantação,… “de escri­tórios, e que “constitui como que uma manifestação de presença em face do anonimato do corpo baixo que por aderência e simpa­tia com as formas preexistentes as vai acompanhando, crian­do-se assim um jogo de formas que, sabendo respeitar, sabe também impor-se, dualidade de atitudes sempre difícil de con­seguir não apenas no caso particular da arquitectura, mas no caso mais amplo da própria vida, de que a arquitectura cons­titui aliás, quando autêntica, uma perfeita tradução.”»
Fonte: O texto sobre o projecto de Fernando Távora é da autoria do administrador do blogue “doportoenaoso.blogspot.pt”, tendo a foto e as gravuras respeitantes, sido aí, também obtidas.
 
 

  

É de notar que quando Barry Parker propôs que o edifício da Câmara do Porto fosse levantado no local cimeiro da que viria a ser a Avenida dos Aliados, era na área proposta por Fernando Távora para edificação do “Centro Comercial do Carmo”, que o arquitecto Marques da Silva sugeria que fossem construídos os Paços do Concelho.

 
Os Armazéns Cunhas
 
 
O local do projectado centro comercial acabaria até aos nossos dias, por ficar ocupado, em parte, com o prédio da gravura seguinte, que se destaca a norte da praça.

 
 

Manuel Marques e Amoroso Lopes, Projecto de remodelação da fachada principal dos Armazéns Cunha em Agosto de 1935 – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt/”
 
 
 
“A remodelação da fachada dos Armazéns Cunha segundo um projecto dos arquitectos Manuel Marques (1890-1956) e Amoroso Lopes (1899-1953) marca o aparecimento de um gosto art-déco como introdução da modernidade na arquitectura da cidade do Porto. Lembre-se ainda outros estabelecimentos contemporâneos no centro da cidade de que se destaca a Farmácia Vitália”.
Com o devido crédito ao professor Ricardo Figueiredo
 
 
 
A fachada depois de remodelada – Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt/”
 


 
Francisco Gomes Teixeira - Um matemático de excepção
 

 

Francisco Gomes Teixeira
 
 
 
Francisco Gomes Teixeira nasceu em Armamar, na freguesia de São Cosmado em 1851. Em 1874, licenciou-se em Matemáticas com 20 valores, na Universidade de Coimbra. No ano seguinte, doutorou-se com igual valor, facto sem precedentes na universidade.
Aos 25 anos, foi convidado para professor universitário e, aos 30, já era catedrático de Cálculo Infinitesimal e Integral.
Vai para o Porto, para a Academia Politécnica (antecessora da Faculdade de Ciências). É nomeado primeiro reitor da Universidade do Porto (1911-17). Em 1919, atingiu o limite de idade que o afasta da docência, mas o seu prestígio leva-o à direcção do Instituto de Investigação Científica da História das Matemáticas Portuguesas.
Gomes Teixeira morre em 1933, com 82 anos. No seu elogio fúnebre, Duarte Leite, outro grande matemático e historiador, considerou-o o maior matemático da Península e um dos mais respeitados da Europa.
Parece que, na altura da sua morte, era mais conhecido e respeitado no estrangeiro do que em Portugal. Por isso é que, contrariando a regra de consagrar sítios na cidade com nomes que nada têm a ver com o local, o nome de Gomes Teixeira merece plenamente estar imortalizado no local a que a sua carreira docente esteve ligado.

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