segunda-feira, 29 de setembro de 2025

25.287 Almeida Garrett e o Arco de Sant’Ana

 
 
O Arco de Sant’Anna estava localizado na rua que teve o mesmo nome, a partir do século XVIII e, antes, durante a idade média, tinha sido Rua das Aldas e, depois da construção do colégio de S. Lourenço (Grilos), Rua do Colégio, embora amputada de uma porção, na sua extensão.
O Arco de Sant'Ana das Aldas era o que restava de uma das quatro portas da velha cidade do Porto, talvez mesmo um postigo aberto no extremo da muralha do lado norte, que nesse ponto quebrava em direcção ao sul, correndo em seguida pelas traseiras da antiga Rua dos Mercadores, paralela à de Sant'Ana.
 
 
 

Arco de Sant’Ana, In revista” O Tripeiro”


 
 

Arco de Sant'Ana e oratório - Reconstituição de Gouvêa Portuense
 
 
 
Sant’Ana, a avó materna de Jesus Cristo, foi adorada todos os dias num oratório, implantado num arco da Rua das Aldas.





Imagem de Sant’Ana, da Virgem e do Menino, que era adorada no Arco de Sant’Ana
 
 
 
Aí, correndo em busca de auxílio, as parturientes, em dificuldades, tinham a devida assistência, numa casa contígua ao oratório que lhes disponibilizavam, quer durante o dia ou à noite, as Cadeiras de Sant’Ana, nas quais se recostavam e adquiriam a fé que necessitavam, em troca da oferta de um pouco de azeite (a lâmpada do Arco mantinha-se permanentemente acesa) ou de uma pequena dádiva em dinheiro.



Cadeira de Sant’Ana para parturientes



A 26 de Julho, dia da festa anual da padroeira, o Arco onde assentava o oratório com a imagem da Santa era ricamente decorado com panos (alguns deles bordados a ouro e prata) e flores, dando ao Arco o aspecto de uma capela-mor.
Quando o Arco de Sant’Ana foi demolido, em 1821, a imagem da Santa e as Cadeiras de Sant’Ana passaram para a capela de S. Crispim, junto da Rua da Biquinha, continuando a servir do mesmo modo que anteriormente.
Em 2 de Junho de 1821, começava a ser demolido, por ordem da Câmara, o velho “Arco de Sant’Ana”, junto à Sé, resultante de um pedido de Manuel Luiz da Silva Leça e António Joaquim de Carvalho.
Entre muitas outras personalidades, Almeida Garrett foi a voz que mais se fez ouvir, criticando a demolição do Arco de Sant’Ana, manifestando-se nos seguintes termos:

 
 
“Cahiste pois tu, ó arco de Sant’Anna, como em nossos tristes e minguados dias, vae cahindo quanto ha nobre e antigo ás mãos de innovadores plebeus, para quem nobiliarchias são chimeras, e os veneráveis caracteres heráldicos de rei d’armas Portugal lingua morta, e esquecida que nossa ignorância despreza, hieroglyphicos da terra dos Pharaós antes de descoberta a inscripção de Damieta!
Assentaram os miseráveis reformadores que uma pouca de luz mais e uma pouca de immundicie menos, em rua já de si tam escura e mal enchuta, era preferível á conservação d'aquelle monumento em todos os sentidos respeitável!
Com que desapontamento deste meu coração, depois de tantos annos de ausência, não andei procurando, em vão!... Na rua de Sant’Anna, uma das primeiras que a minha infancia conheceu, as gothicas feições d’aquellé arco? e a alampada que lhe ardia continua, e os milagres de cera que lhe pendiam á roda, e toda aquella associação de cousas, que me trazia á memória os felizes dias de minha descuidada meninice!”
Almeida Garrett


Aquele elemento arquitectónico, pela pena de Almeida Garrett, haveria de dar, ainda, o nome a um conhecido romance de cariz histórico - O Arco de Sant'Ana.
Então, na tarde de 29 de Junho de 1821, a imagem alvo de veneração foi, sob o estandarte da irmandade dos sapateiros, curtidores, surradores e correeiros, conduzida, em procissão e em magnífico andor, pelos mestres que nesse ano eram juízes ou tinham assento na Casa dos Vinte e Quatro (em que estes ofícios gozavam do direito de banco), para a capela de S. Crispim e, aí, colocada em altar especial.
A gravura, abaixo, foi publicada, também, em 24 de Agosto de 1901, na revista semanal Gazeta Ilustrada, de Coimbra. Nela se pode observar a Rua de Sant’Ana e, no seu início, à esquerda, um nicho com uma imagem – o antigo local do Arco de Sant’Ana.
Trata-se de um trabalho de litografia de um conceituado litógrafo espanhol que, à data, assinava como “Pastor”, se chamava Francisco Pastor Muntó (1852-1922) e montou oficina, em Lisboa, a partir de 1873.
A gravura referida baseava-se num desenho do ilustrador, cenógrafo, pintor e escritor Manuel Maria de Macedo (1839-1915) que, a partir de 1878, se fixou em Lisboa, mas que viveu dois anos no Porto.
De realçar, o pormenor das sacadas, de madeira ou de ferro, apoiadas nos respectivos cachorros, uma característica inconfundível das antigas moradias da cidade velha.
Esta gravura foi capa da revista “O Tripeiro”, Série Nova, Ano I, Número 0, de 1 de Outubro de 1981.


 
 


 
 
 
Do velho Arco de Sant'Ana, actualmente, apenas sobrevive a porta que permitia o acesso ao nicho onde estava a imagem de Sant’Ana com a Virgem e o Menino, apesar de, em 13 de Maio de 1943, a Câmara Municipal ter aprovado um projecto para o reconstituir e reimplantar, no seu local primitivo, o que não se concretizaria.
Hoje, a imagem original de Sant’Ana está esquecida na Capela de S. Crispim, entretanto, deslocada, nos finais do século XIX, para a actual Rua de Santos Pousada.
 
 
 

Local actual do Arco de Sant’Ana – Ed. Graça Correia

quarta-feira, 24 de setembro de 2025

25.286 Os monges Beneditinos instalaram-se no Olival há mais de 400 anos

 
Implantação das estruturas
 
 
O Mosteiro de S. Bento da Vitória foi erguido no Morro do Olival, na actual Rua de S. Bento da Vitória, que já foi Rua de S. Bento dos Frades e Rua de S. Bento, tendo sido, ainda, Rua de S. Miguel, quando esta tinha a configuração de um L.
Hoje, dessa Rua de S. Miguel, só resta o troço do braço pequeno do L.
Situava-se no interior das muralhas e junto da Porta do Olival.
O mosteiro e a sua igreja de S. Bento da Vitória serviam à Ordem Beneditina, fundada por S. Bento (480-547), tendo a sua construção ocorrido em finais do século XVI, no local anteriormente ocupado pela Judiaria do Olival.
Aqueles monges obedeciam à Regra de S. Bento que consagrava os princípios da humildade, pobreza e obediência.
Em função do que tinha sido decidido no Mosteiro de Tibães, os beneditinos entraram no Porto com o intuito de construírem um mosteiro na cidade, o que veio a acontecer depois de resolvidos alguns entraves, embora, a construção, só tenha terminado cerca de um século depois.
Expulsos os judeus por D. Manuel I, em 1496, os bens que deixaram para trás foram distribuídas pelo Cabido e pela Câmara que, por vezes, se mostraram relutantes na transferência da posse das propriedades para os beneditinos. Por esta razão, alguns dos litígios tiveram, mesmo, de ser sanados em tribunal.
O Mosteiro de S. Bento da Vitória foi o único mosteiro beneditino masculino construído no Porto, tendo sido instituído em 1596, onde, antes, estavam os terrenos e casebres ocupados pelos judeus.
A sua construção terá, então, arrancado, mas, em Março de 1597, o rei Filipe II chamava à ordem a Câmara do Porto pelo facto da construção do mosteiro ter avançado sem a necessária autorização do monarca e, ao mesmo tempo, a Câmara era avisada que, de futuro, tal não deveria mais acontecer.
Talvez, por este facto, a construção só arrancaria, em pleno, em 1604, no local onde estavam as ruínas de uma antiga sinagoga.
 
 
 
“Convento maneirista com igreja cruciforme, de nave única precedida por galilé, capelas colaterais intercomunicantes e abóbada de berço em caixotões, e dois claustros. Capelas com retábulos de talha dourada de estilo nacional e joanino. O claustro principal tem motivo serliano. O cadeiral, de estilo nacional, com relevos narrativos da vida de São Bento de grande qualidade, é um dos melhores do estilo. O retábulo-mor constitui o mais grandioso exemplar do tipo de retábulo com tribuna de estilo nacional na variante em que as colunas alternam com pilastras. Retábulos de estilo joanino de vários andares e sanefa do arco triunfal também joanino, de forma tradicional”.
Fonte: monumentos.gov.pt
 
 
 
 

Em primeiro plano, a fachada do mosteiro voltada para a Rua de S. Bento da Vitória e cujas traseiras se debruçam sobre a Rua de Trás
 
 

O complexo monacal tinha dois claustros: o claustro dos carros e, o chamado claustro nobre que, mais tarde, seria coberto e tinha sido concluído em 1743, apresentando uma fonte no seu centro.
 
 
 
“O claustro contíguo à portaria, todo em cantaria, possui dois pisos separados por cornija e ritmados por duplas pilastras com vãos rectangulares entre elas. Em cada ala, abre-se no 1º piso três arcos plenos e no 2º janelas de sacada com bandeira, balustrada de cantaria e frontões triangulares e circular. Sobrepujando as coberturas, bolas sobre plintos no alinhamento das pilastras e cartelas com enrolamentos ao centro. O outro claustro, de três pisos separados por frisos, têm apenas duas alas com arcos plenos sobre pilares e janelas de guilhotina nos pisos superiores”.
Cortesia de Isabel Sereno e João Santos, 1994
 
 
 
 

Claustro dos carros do Mosteiro de S. Bento da Vitória
 



Mosteiro de S. Bento da Vitória e o claustro dos carros, em 1989, durante obras de restauro
 
 
 

Mosteiro de S. Bento da Vitória e o claustro nobre, actualmente
 
 
 
No que diz respeito à Igreja do Mosteiro de S. Bento da Vitória, o seu projecto é do arquitecto Diogo Marques Lucas, discípulo do italiano Filipe Terzio, em estilo clássico já deturpado pela Contra-Reforma, com uma harmonia, solidez e proporções equilibradas.
De notar os três nichos da fachada, nos quais estão representados São Bento, a Santa Escolástica, irmã gémea de São Bento e, ainda, Santa Gertrudes.
 
 
 

Fachada principal da igreja de S. Bento da Vitória, observando-se os três nichos

 
 
 

Gravura de Joaquim Villanova da igreja de S. Bento da Vitória, em 1833
 
 
 
Em 1693, a igreja, apresentando no seu exterior e interior as tipologias maneirista e barroca, estava concluída, embora tardasse até finais do século XVIII a conclusão do seu interior.
No coro alto da igreja, pode observar-se um belo cadeiral em talha, considerado um dos mais belos da Europa, obra concretizada entre 1716 e 1719 pelo entalhador bracarense Marceliano de Araújo, em parceria com Gabriel Rodrigues Álvares, de Landim. Nos seus espaldares estão colocados quadros policromados e que narram episódios da vida de S. Bento. 
Como curiosidade diga-se que a igreja possui um órgão imponente, alvo de várias intervenções e um outro como cópia em frente deste, apenas para dar uma ideia de simetria sem outra qualquer funcionalidade.
Por outro lado, o seu órgão, situado do lado do evangelho, possui 2022 tubos e, em tempos de rotina monástica, era tocado de 3 em 3 horas, alternando com o coro.
 
 
 

Interior da igreja de S. Bento da Vitória, actualmente – Fonte: oportoencanta.com
 
 

 
Ocupação das instalações do Mosteiro de S. Bento da Vitória após 1834
 
 
Durante a Guerra Peninsular, uma parte do mosteiro foi ocupada pelas tropas invasoras francesas e, posteriormente, pelas portuguesas, tendo servido como hospital militar.
Em 30 de Maio de 1834, na sequência da implantação da lei assinada por D. Pedro IV e proposta pelo seu ministro Joaquim António de Aguiar, ocorre a extinção das ordens religiosas, e o complexo monacal de S. Bento da Vitória foi confiscado pelo Estado.
Desocupados, o mosteiro e a sua igreja acabariam por passar para o Clero secular.
O Clero secular também referido, geralmente, na actualidade, como Clero diocesano, é a designação dada à parcela do clero da Igreja Católica Romana que desempenha actividades voltadas para o público em geral e que vive junto dos leigos, exercendo as mais variadas formas de apostolado e assegurando a administração da Igreja.
A igreja do Mosteiro de S. Bento da Vitória substituiria a Igreja Paroquial de Nossa Senhora da Vitória  entre 1833 e 1852, durante as obras de reconstrução desta, que tinha sido alvo de um incêndio.
Depois, em 25 de Julho de 1853, a igreja do Mosteiro de S. Bento da Vitória torna-se sede da Arquiconfraria do Santíssimo e Imaculado Coração de Maria, a qual ficou detentora da Igreja por Alvará da Rainha D. Maria II.
Após 1834, as antigas instalações do mosteiro funcionaram como Tribunal, até 1864 e albergaram, ainda, várias unidades militares, onde estiveram aquarteladas, sucessivamente, tropas da Junta do Porto (1846-1847), o Regimento de Infantaria nº. 6, o Batalhão Nacional de Artilharia, o Batalhão de Caçadores nº 9, o Batalhão de Caçadores nº 1 e outros serviços militares, nomeadamente, a Reclusão Militar e o Tribunal Militar.
Na noite de 12 para 13 de Março de 1922, o imóvel foi atingido por um incêndio que destruiu a área ocupada pela Casa de Reclusão Militar, pelo Tribunal Militar e pelo quartel dos dois regimentos (Infantaria 31 e Engenharia).
Vinte anos volvidos sobre este episódio, em 1942, por decisão do Bispo D. Agostinho de Jesus e Sousa, a igreja e parte do edifício claustral foram confiados ao Mosteiro Beneditino de Singeverga.
Em 1977, o Mosteiro de S. Bento da Vitória é classificado como monumento nacional.
Nas décadas de oitenta e noventa do século XX, o mosteiro foi restaurado pelo IPPAR (1984-1990), sob orientação dos arquitectos Carlos Guimarães e Luís Soares Carneiro, o que permitiu a reinstalação de uma pequena comunidade de beneditinos e a instalação do Arquivo Distrital do Porto, na área do claustro dos carros e da Orquestra Sinfónica do Porto, na área do claustro nobre.
 
 
 

Antigo Refeitório dos Monges transformado num salão de exposições afecto ao Arquivo Distrital do Porto
 
 
 
Em 2007, dois anos após a orquestra ter ocupado a Casa da Música, foi cedida ao Teatro Nacional S. João a ala nascente e parte da ala sul e o claustro nobre, onde passaram a realizar-se espectáculos teatrais, musicais e outros eventos.
Os beneditinos ocupam a denominada “Cela dos Padres Beneditinos” na zona da igreja, a ala Norte e 3º piso da ala Oeste.
Cela, neste caso, refere-se ao local onde os monges se reúnem ou habitam.
 
 
 
 
Outros factos
 
 
Sobre o Mosteiro de S. Bento da Vitória, “O Arquivo Pitoresco”, de 1840, descreve uma cerimónia habitual que ocorria na sua igreja:
 
 
“No dia 5 de Março passava-se uma cerimónia assaz ridícula na Igreja de S. Bento da cidade do Porto. No altar colateral da direita, de hora a hora, estava um frade rezando os exorcismos e orações de levantamento de excomunhão; no fim das quais saía pela igreja abaixo batendo com umas varinhas de marmeleiro presas na extremidade de uma comprida cana, em as pessoas, que de joelhos queriam receber esta cerimónia. E como quase sempre os frades se desmandassem um pouco, deu isso lugar a algumas cenas incidentes, sendo por fim necessário ir uma guarda de polícia para a igreja, pois os frades não quiseram nunca quebrar por si, deixando de fazer a cerimónia”.
 
 
 
Por outro lado, em 1872, a igreja de S. Bento da Vitória celebrava o São Marçal substituindo, nesse ano, nessas festividades, a igreja dos Orfãos de Nossa Senhora da Graça que lhe ficava próxima.
 
 
 

In “Jornal do Porto” de 28 de Junho de 1872, pág. 2
 
 
 
 
 
Mais recentemente, sobre os azulejos da foto, abaixo, no Tripeiro I série, volume 2, nº 62 de 10 de Março de 1910, pág 412, o autor S.A., diz:
 
 “A bela sala da livraria de que roubaram os ricos azulejos, parte dos quais foram guarnecer uma propriedade pertencente ao vizinho João Pereira Vellado, era sumptuosa”.
 
 
 
 

Prédio na Rua S. Miguel, nº 4, antes de 2017
 
 
 
A  livraria referida, acima, era a do Convento de S. Bento da Vitória.
Em 2017, o painel de azulejos foi retirado e arrecadado pela Câmara do Porto.

domingo, 21 de setembro de 2025

25.285 Os 600 anos do complexo monacal de Santa Clara

 
As primeiras religiosas do mosteiro de Santa Clara, no Porto, eram Franciscanas Clarissas e oriundas de um pequeno convento situado na foz do rio Tâmega, na freguesia de Santa Clara do Torrão, onde usufruíam de rendas de portagem de mercadorias que transitavam pelo rio Douro.
 
 
“No século X, foi fundado no anterior cenóbio do Salvador, situado no lugar do Torrão, Entre Ambos os Rios, junto à margem esquerda do Tâmega, na confluência do Douro. 
Os seus patronos foram D. Châmoa Gomes, dama nobre do Porto e seu marido, o fidalgo leonês, D. Rodrigo Froilas, que o dotaram generosamente e receberam do bispo D. Vicente e do cabido do Porto a doação do respectivo couto. 
Em 1256, ou em 1257, por bula do papa Alexandre IV, de 13 de Janeiro, foi autorizada a fundação do Convento para cem religiosas, vindo doze monjas clarissas de Zamora para iniciar a comunidade, uma das quais seria a abadessa. 
Iniciou-se então, a construção do edifício chegando apenas três irmãs de Zamora, o que pode significar um começo mais modesto do que o esperado. 
Em 1258, já estava instalada a primeira comunidade de clarissas que seguia a regra do Cardeal Hugolino, tendo sido o Convento refundado. 
A alegação da existência de abusos cometidos no Convento por grande número de nobres, apresentada por Frei João de Xira, visitador das religiosas e confessor de D. João I, justificou a sua transferência do Torrão, lugar despovoado e solitário, para o Porto. 
Em 1416, sob o patrocínio de Dona Filipa de Lencastre, e através da bula "Sacrae Religionis" de Inocêncio VII, do mesmo ano, dirigida ao abade beneditino de Santo Tirso, foi obtida a autorização necessária. 
Em 1416, a 25 de Março, foi lançada a primeira pedra - benzida pelo bispo do Porto, D. Fernando da Guerra - na presença do monarca que, nesse ano, tomou os dois conventos sob a sua protecção. 
Cerca de 1427, efectivou-se a trasladação da comunidade para o local dos "Carvalhos do Monte" junto à Porta de Santo António da Pena ou Penedo, dentro dos muros da cidade, ao longo da muralha fernandina, com a intervenção de D. Fernando de Guerra, arcebispo de Braga. As freiras mantiveram os privilégios, doações e foros, obtidos no anterior Convento. 
Em 1568, passou da claustra à observância”. 
In: autoridades.arquivos.pt
 
 
“A freguesia de Santa Clara do Torrão, no antigo concelho de Benviver, era curato da apresentação do Convento de Santa Clara do Porto, passando mais tarde a reitoria. O Decreto de 31 de Dezembro de 1853 extinguiu o concelho de Benviver, passando esta freguesia para o Marco de Canaveses.
Arcediagado de Benviver (século XII). Comarca eclesiástica de Sobretâmega - 1º distrito (1856; 1907). Segunda vigararia do Marco de Canaveses (1916; 1970).”
In Arquivo distrital do Porto, História administrativa/ Bibliográfica/ Familiar.
 
 
 
O Mosteiro de Santa Clara foi, assim, construído dentro da área amuralhada da cidade, no sítio dos Carvalhos do Monte, depois, Santo António do Penedo e, hoje, Largo 1º de Dezembro, para dar cumprimento a um voto de D. Filipa de Lencastre, sendo lançada a primeira pedra no ano seguinte à morte da rainha.
A este acto, que se revestiu de grande solenidade e se realizou em 28 de Março de 1416, esteve presente o Bispo D. Fernando Guerra, acompanhado pelo cabido e clero, comunidades de S. Francisco e S. Domingos, pelo rei D. João I e filhos, o infante D. Fernando e D. Afonso, conde de Barcelos, toda a corte e o povo da cidade, que assistiram a uma procissão que teve por término o local de implantação do mosteiro.
As primeiras freiras, que eram oriundas do mosteiro de Santa Clara do Torrão (Entre-os-Rios) e que viviam até aí, em condições muito precárias, conseguiram autorização para construírem o edifício dentro da muralha, colocando-se assim ao abrigo de possíveis incursões dos castelhanos.
Com a supressão de vários mosteiros mais pequenos nas diversas localidades entre o século XV e o século XVI, as freiras foram-se agregando em Santa Clara levando para lá as suas rendas, sendo uma delas uma portagem por todas as mercadorias que passavam pelo Rio Douro.
As obras estavam totalmente concluídas em 1457, facto a que não foi alheio o monarca, que colocou o mosteiro sob protecção régia.
A transferência dá-se, então, em 1457, sobre a presidência da abadessa D. Mécia Álvares que, pouco depois, é substituída no cargo por D. Leonor Ferraz.
Aliás, esta família Ferraz estará, desde sempre, ligada a este mosteiro.
Assim, é o caso da abadessa Briolanja Ferraz, filha de Afonso Ferraz, fidalgo da casa de D. João III, que terá feito a integração na ordem de vários padroados e doacções.
No começo de 1683, durante a construção de um novo claustro, terá ocorrido um incêndio no mosteiro com danos de alguma monta.
Seguir-se-á uma intervenção que levará a igreja para uma aparência do período barroco, com a capela-mor recoberta a ouro em 1729, e o novo arco cruzeiro levantado em 1731.
Para trás, tinha ficado uma intervenção do início do século XVII, que resultou na cobertura do interior da igreja a azulejos.
Em 1758, a igreja estava toda recoberta a folha de ouro.
Por esta altura, a população cifrava-se em 300 almas, das quais 1/3 eram monjas oriundas da nobreza e da burguesia endinheirada e, os outros 2/3, era criadagem, alguma dela de tez negra, pelo que, não admira que os altares apresentassem santos negros - Santa Ifigénia e S. Benedito.
Os dotes exigidos às futuras monjas eram grandes.
As candidatas à entrada tinham que ter mais de doze anos, serem solteiras ou viúvas, mas, sempre, virtuosas.
A admissão resultava de uma votação secreta de toda a comunidade, a que se seguia a profissão de fé.
O mosteiro vivia na abastança. 
 
 
 

Mosteiro de Santa Clara, gravura de J. Victoria Villanova, em 1834
 
 
 
A estrutura arquitectónica é de grande simplicidade destacando-se, no entanto, os dois portais: o da igreja, renascentista, e o da portaria da casa conventual, muito semelhante ao portal de entrada da igreja do convento de S. Francisco do Porto, já com um espírito barroco. No início do século XVIII, devido ao número crescente de monjas, são construídos novos dormitórios (1707-1715).
Entre 1714 e 1716, é edificado junto da muralha fernandina um novo dormitório sendo, assim, demolidas as instalações para os padres confessores e capelão que só serão novamente levantadas em 1719.
A sua igreja, desde sempre com a sua entrada lateral, característica dos mosteiros femininos mantém, até aos nossos dias, intacto o magnífico interior, totalmente revestido a talha dourada, na linha de outras igrejas portuenses, como a de S. Francisco, ou S. Pedro de Miragaia, ou Monchique, esta última desaparecida.
A entrada da igreja é feita através de uma porta barroca, datada de 1697 e reformulada no século XVIII, com elementos renascentistas como colunas salomónicas e capitéis coríntios. No interior, podemos vislumbrar toda a magnificência desta igreja, toda coberta por talha dourada da primeira metade do século XVIII.
O esmero e o requinte de execução que podemos admirar nos retábulos, sanefas, tecto, arco cruzeiro e, principalmente, na capela-mor, provam a categoria dos artistas da escola do Porto e fazem de Santa Clara um paradigma do domínio da talha dourada. À esplêndida capela-mor encontra-se ligado o arquitecto-entalhador Miguel Francisco da Silva, responsável pela feitura do retábulo-mor, ilhargas, tecto, arco cruzeiro e retábulos/nichos colaterais (1730), ignorando-se o autor do risco.
Chegou a ser um dos mais ricos conven­tos da cidade.
Até ao ano de 1500, as aba­dessas de Santa Clara do Porto recebiam impostos sobre todo o sável e lampreias que eram pescados no rio Douro e, tam­bém, portagem de todas as mercadorias que transitavam pelo mesmo rio, dado que as clarissas mantiveram, em princípio todos os privilégios, doações e foros, que traziam do Torrão.
As monjas do mosteiro de Santa Clara também eram conhecidas por “Donas do Codeçal”.
No século XVIII, as rendas anuais do mosteiro atingiram o elevado montan­te, para a época, entenda-se, de doze con­tos de réis. 
O texto que se segue dá-nos uma descrição do mosteiro, em meados do século XIX.
 
 
“Quando fomos visitar o convento de Santa Ana [sic; Santa Clara], entrámos a cavalo no átrio; o ruído dos cascos dos cavalos atraiu algumas das Freiras, e jovens residentes até à janela gradeada. A senhora inglesa a cavalo, ou antes, talvez o seu chapéu e longo vestido de montar, pareciam atrair as atenções, até que os nossos dois cães terra nova “cortaram” essas atenções e captaram a sua admiração. No centro do isolado átrio estava uma bonita fonte de mármore, com uma grande pia circular, a resplandecer com água límpida que a enchia até ao bordo. Mal os cães deram por ela, pularam de imediato e mergulharam na pia, nadando em volta dela como se tivesse sido feita para eles. De vez em quando mergulhavam até ao fundo trazendo pedras, que iam depositar no átrio, saltando de novo para a água, e não descansaram até já não haver um único seixo na fonte. As gargalhadas e os gritos de admiração das senhoras por detrás das grades revelavam que se sentiam tão surpreendidas e divertidas por estes comportamentos como se os cães fossem magos. Enquanto esperávamos autorização para ver a capela, trocámos algumas palavras de circunstâncias com uma das freiras mais velhas, através da grade de ferro que separa a capela do resto do convento do lado oeste.”
Dorothy Wordsworth, In “Diário de uma Viagem a Portugal e ao Sul de Espanha” (1845)
 
 
 
Entre as várias solenidades religiosas que eram assinaladas pelas clarissas, contava-se a festa, a 16 de Janeiro de cada ano, dos santos mártires de Mar­rocos, que pertenciam à Ordem de S. Fran­cisco.
Os padres regrantes da ordem de Santo Agostinho, conhecidos como frades crúzios, que tinham o seu mosteiro do outro lado do rio, no cimo do monte da Serra do Pilar, possuíam uma relíquia dos mártires de Marrocos e, na véspera do dia 16 de Janeiro (ao cair da tarde), levavam a relí­quia em procissão até uma das janelas do convento e mostravam-na à cidade. Do lado de cá, as monjas subiam a um mirante feito a partir de um cubelo da muralha fernandi­na e, enquanto cantavam uma antífona, a madre abadessa incensava, do lado de cá, o relicário. 
 
 
 

Cubelo e Muralha antes da última intervenção

 
 
A foto, acima, apresenta um troço da muralha, antes da última intervenção, mui­to perto da Igreja de Santa Cla­ra e da Rua do Miradouro. Esta rua começa nas esca­das dos Guindais e termina na Alameda das Fontainhas. Tem aquele nome por ficar per­to do mirante da muralha fernandina que era o local de re­creio das monjas e o sítio de onde elas can­tavam a antífona em louvor dos santos mártires de Marrocos e miravam a relíquia.
A Rua do Miradouro já tinha esta denominação em 1846.
Aliás, os conventos ou mosteiros femininos ostentavam os seus mirantes que, em Santa Clara, adaptaram os torreões das muralhas.
Sobre uma outra tradição existente no convento escreve Germano Silva:
 
 
“Há no Porto uma tradição, muito antiga, de as noivas, na véspera do casamento, oferecerem a Santa Clara (a de Assis) meia dúzia, ou uma dúzia, de ovos "de galinha poedeira", logo caseira, para que não chova no dia da boda…Eu não sei, e julgo que ninguém sabe, como estas coisas se engendram na imaginativa crónica popular e passam de avós para netos; de pais para filhos; da lenda para a história; e da história para a tradição ou para o simbolismo. Mas julgo, e é apenas uma mera suposição, que esse antigo uso popular anda ligado ao facto de as clarissas terem sido, em tempos idos, conhecidas também por "esposas de Santa Clara" - sendo que aqui a expressão quer dizer as esposas que vivem em Santa Clara e não as esposas da padroeira.
Todo isto tem a ver com a realização da antiga e tradicional procissão da Paixão, que no Porto acontecia na Sexta-Feira Santa. O préstito saia da Igreja de S. Francisco e passava pela "casa das esposas de Santa Clara". Quando aqui chegava, já a noite começava a cair sobre a cidade. Era então costume deixar na igreja das freiras "o esquife com a imagem do Senhor Morto "para contemplação das 'esposas do Senhor'", como também se costumava dizer.
Como atrás fica dito - e isto é apenas uma suposição -, pode ver-se na oferta dos ovos uma súplica das noivas às "esposas de Santa Clara "”.
 
 
 
 
O mosteiro era abastecido por manancial proveniente de duas nascentes que se juntavam no campo do Espinheira, na Póvoa de Cima, a actual Praça Rainha D. Amélia, corria mais ou menos paralelo à actual Rua da Alegria passando pelas faldas do Monte de Santa Catarina, que se chamou também Monte dos Congregados e que por pertencer em parte a Thadeu António de Faria é também conhecido por Monte do Tadeu, passava ainda por Malmerendas (Rua Dr. Alves da Veiga, actual) e paralelamente à Rua do Caramujo (troço final da Rua da Alegria) e por Santo Ildefonso, Rua do Campinho, Entreparedes e Praça da Batalha, rumava por fim ao mosteiro.
Este manancial também abastecia o Paço Episcopal.
No seu trajecto o manancial abastecia o chafariz do Largo da Póvoa de Cima, também chamado de S. Crispim, hoje instalado no Palácio de Cristal, a fonte do Canavarro instalada na Rua Santa Catarina e desaparecida e ainda a Fonte da Firmeza, hoje instalada na Praça das Flores, antes implantada na rua do mesmo nome.
Na sequência do Decreto de 30 de Maio de 1834, de extinção das ordens religiosas, o Estado tomou posse definitiva dos bens do mosteiro, em 1900, quando faleceu a sua última religiosa, a abadessa Maria da Glória e, por outro lado, a igreja de Santa Clara deixa de ter comunicação com o mosteiro.
Desde então, as antigas instalações do mosteiro passaram a albergar, em 1901, no corpo norte e na antiga casa dos capelães, o dispensário Rainha D. Amélia (actual centro de saúde da Batalha) e, por adaptação do claustro pelo Governo Civil do Porto, surgiu uma casa de reclusão (o Aljube). Em 1903, a Associação Protectora da Infância instalou-se no edifício envolvente do pátio da igreja. Nas décadas de 1920 e 1930, no corpo das instalações, a sudeste, estiveram as instalações do Hospital de Santa Clara, onde, mais tarde, se albergou o Instituto Ricardo Jorge e, a partir de 1960, também por lá esteve, a Polícia de Segurança Pública do Porto.
 
 
 
 

Pátio do mosteiro de Santa Clara com o seu chafariz (Desenho/reconstituição -1920) – Ed. João Monteiro
 
 
 
 
 

Pátio do mosteiro de Santa Clara. À esquerda, a porta do mosteiro e, à direita, a porta da igreja
 
 
 
No interior da igreja de Santa Clara, podemos encontrar um dos melhores exemplares da arte da talha dourada do Barroco Joanino.



 

Portaria da igreja do mosteiro de Santa Clara
 
 
 

Interior da Igreja de Santa Clara
 
 
 
 
Em 1910, a igreja é classificada como Monumento Nacional e, desde 1996, faz parte integrante do centro histórico do Porto, reconhecido pela Unesco como Património da Humanidade.
Em 22 de Outubro de 2021, após cinco anos de obras de recuperação, a igreja de Santa Clara abriu, ao público, completamente remodelada.

domingo, 7 de setembro de 2025

25.284 A Candidinha

 
Enquanto decorria o século XX e iam abrindo portas os pronto-a-vestir, que permitiam o acesso do povo a artigos mais em conta para a sua bolsa, por outro lado, uma burguesia endinheirada continuava a servir-se em ateliers de alta-costura, as mulheres nas modistas e, os homens, nas alfaiatarias.
Aqui, a moda era ditada pelas capitais europeias e fazia-se pagar bem.
No que diz respeito a modistas, no Porto, uma se destacaria no século XX – a Candidinha.
 
 
“Cândida Celeste Nogueira Alves nasceu no Porto em 1893, e desde jovem se tornou costureira. Rapidamente se torna famosa e ao seu ateliê acorrem as elites femininas da cidade que faziam questão que fosse a Candidinha, como era simpaticamente conhecida, a sua estilista oficial. O termo na época não existia e a palavra modista, era a única que se usava para designar a função, que só passado muitos anos é que se viu projectada para o lugar que ocupa hoje no mundo da moda.
A Candidinha tinha o seu ateliê na Rua da Boa Nova n.º 15, e os bordados também eram uma das suas imagens de marca, quiçá a mais importante. A importância da sua casa podia ser aferida pelo facto de ser uma das poucas no país que estavam autorizadas a usar o nome da casa Dior de Paris.
Quando se dá o 25 de Abril, Candidinha e a sua família foram para o Brasil, onde Candidinha acabou por falecer, em 1980.
A rua que a consagra é recente e é a serventia de uma série de moradias que foram construídas numa zona, até então, ainda não urbanizada da Foz. Por esse motivo, abriu se este arruamento”.
Cortesia do historiador do Porto, César Santos Silva
 
No texto acima, corrigindo o lapso, deve ler-se: Rua da Boa Hora, nº 15.
Filha de lavradores abastados, Cândida Celeste Nogueira Alves, vulgo “A Candidinha”, nascida em Paranhos, cedo mostrou interesse pelos bordados.
Em 24 de Novembro de 1917, casaria com o comerciante portuense Albertino Alves, tendo o casal ido morar para o Carvalhido onde nasceram os seus dois filhos, Maria Francelina e José.
No entanto, não demorou a que o casal se mudasse, definitivamente, para a Rua da Boa Hora, n.º 15, onde Candidinha vai desenvolver a sua actividade profissional.
 
 
 

“A Candidinha”
 
 
 
 
Exímia na arte de bordar, passaria, depois, à confecção de lingerie e, mais tarde, a partir do início da década de 1950, à alta-costura.
Quando o trabalho começou a crescer, Candidinha alugou a casa ao lado, com o n.º 23, deitou uma parede abaixo e as duas moradas ficaram a comunicar-se.
 
 
 

Rua da Boa Hora, n.ºs 15 e 23

 
 

Perspectiva actual da foto anterior, observando-se que as antigas moradas onde exerceu a actividade “A Candidinha”, já não existem - Ed. Graça Correia
 
 
 
Começaram, então, a ocorrer as exposições periódicas dos trabalhos daquela profissional da costura, nas instalações do atelier da Rua da Boa Hora, às quais, por vezes, assistia o escultor Teixeira Lopes.
Em 3 de Maio de 1949, foi notícia na cidade do Porto um desfile de alta-costura promovido pela Candidinha em sua casa.
Em 29 de Março de 1955, a passagem de modelos, promovida pela Candidinha, já tem lugar nas instalações do Hotel Infante de Sagres.

 
 

Manuela Campos Monteiro, In revista “O Tripeiro”, 7.ª Série (Série Nova), Ano X, N.º 12
 
 

 
Diversas realizações de beneficência, organizadas pela burguesia portuense, na Nave do Palácio de Cristal, no Clube de Caçadores e noutros locais, contaram com a colaboração generosa de Candidinha.
Muitos guardaram para sempre a lembrança de um desfile de moda levado a cabo pela Candidinha, na Quinta do Mosteiro de Leça do Balio, por cedência da sua proprietária, Carolina Lello, nos finais da década de 1960.
Foram exibidos vestidos antigos, alguns do século XVIII, cedidos pelos anfitriões e modelos de vestidos de noite de Candidinha.

 
 
 

Vestido de Noiva criado por Candidinha e exibido na Casa do Mosteiro de Roriz, em 1971
 
 
 
 

Três clientes de Candidinha exibindo os vestidos de noite da sua criação
 
 
 
 

Publicidade à "Candidinha" em 1970
 
 
 
Na publicidade acima, observa-se que Maria F. Marques Gomes (a Mariazinha), a filha de Candidinha, era apresentada como representando o atelier.
Aliás, Mariazinha dirigia a secção de lingerie, tendo adquirido conhecimentos num estágio de um ano que tinha feito em Paris.
O irmão, José, também esteve por Paris, onde desenvolveu os seus conhecimentos de desenho e, por lá, frequentou a Escola Guerre-Savigné, casando com uma sua professora, Madame Lucette. Desenhava para a mãe e dirigia o atelier, então, montado em Lisboa.
Entretanto, chegada a revolução de 25 de Abril de 1974 e, atendendo ao tipo da clientela que procurava os serviços da Candidinha e que, numa fase inicial, saiu afectada negativamente por aqueles acontecimentos, a que acrescia outros factos, como o ter sido tornado público que o próprio Presidente do Conselho, Oliveira Salazar tinha, em tempos, encomendado uma toalha de linho bordada para a residência oficial, a roda da vida começou a desandar para a Candidinha e para a sua actividade profissional.
 
 
 

Manuela Campos Monteiro, In revista “O Tripeiro”, 7.ª Série (Série Nova), Ano X, N.º 12
 
 
 
 
 
Cerca de um ano após a revolução, em 25 de Março de 1975, o Diário do Governo, IIIª série, n.º 71, dava conta da formação de uma nova sociedade denominada Candidinha – Alta-Costura, Lda, na qual eram sócios Maria Francelina Nogueira Alves Marques Gomes e Armando Marques Gomes e Manuel Alves Coelho.

 
 

Texto de introdução à formação da sociedade “Candidinha – Alta-Costura, Lda” – Fonte: Diário do Governo, IIIª série, n.º 71
 
 
 
 
Apesar da formação desta sociedade, a actividade da família iria, contudo, centrar-se no Brasil.
Candidinha não voltaria mais ao Porto e morreria em 24 de Novembro de 1980.
 
 
 

Candidinha em Manaus, no Brasil, em Agosto de 1976 - Fonte: Revista "O Tripeiro", 7ª Série, Ano XIII, Nov.1994
 
 
 
 
Hoje, a sua cidade natal homenageia-a com uma referência toponímica, numa zona residencial donde provinha muita da sua clientela – a Foz do Douro.





Placa Toponímica referente à Rua Cândida Alves, no entroncamento com a Rua Trinitária, à Foz do Douro – Fonte: Google maps