sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

(Continuação 49) - Actualização em 19/06/2019


Moradia no gaveto da Rua D. João IV e Rua Fernandes Tomás


“Esta moradia, procurando imitar alguns dos modelos existentes, mas ainda assim original em vários aspectos, foi erguida segundo vontade do proprietário Joaquim Soares da Silva Moreira, comerciante de torna-viagem original de Moreira da Maia, que não só foi vereador da Câmara Municipal do Porto e comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa, como se destacou enquanto administrador do Banco Aliança e como accionista da Companhia Aurifícia. Marques da Silva projectou-a em 1904 para o seu cliente, mantendo alguma fidelidade para com a arquitectura portuense da época, mas ainda assim conjugando-a com as linhas das Beaux-Arts de Paris, tendo escolhido os melhores materiais através de uma notória ausência de restrinções orçamentais.
Mais tarde a moradia sofrerá novas alterações. Em 1914 é acrescentada uma varanda virada para o jardim e em 1925 uma garagem no quintal, dispondo de arrecadações no piso superior. Ainda hoje se distingue pelo seu jardim, que cobre uma área situada num estreito entre a Rua D. João IV e a Rua Comandante Rodolfo de Araújo, ambas com ligação à Rua de Fernandes Tomás. Os gradeamentos de linhas sinuosas e os jarrões em granito que ladeiam os portões são um exemplo de outros detalhes interessantes”.
In Blog Porto Sombrio 



Fachada de prédio integrante de projecto para licenciamento de construção nº 13/1904, pelo requerente Joaquim Soares da Silva Moreira – Fonte: AHMP




Joaquim Soares da Silva Moreira tinha 11 filhos, só do seu 2º casamento. Era um capitalista de grandes posses e um brasileiro de torna-viagem.
A moradia que mandou construir na Rua de D. João IV, com projecto (1903) do arquitecto Marques da Silva, estaria concluída em 1904.
A moradia é, em termos práticos, um edifício de duas moradas.


Moradia de Joaquim Soares da Silva Moreira


Joaquim Soares da Silva Moreira, nascido na Maia, em 1843, foi novo para o Brasil ter com o seu tio António da Silva Moreira por quem foi educado.
Aos 25 anos enviuvou e já residia na freguesia da Sé, quando voltou a casar com a sua prima direita Alexandrina Soares da Silva Moreira, na igreja de Santo Ildefonso (05 Abr. 1869). O casal parte então para o Brasil e estabelecem-se em S. Luís do Maranhão, onde Joaquim Moreira faz uma fortuna colossal.
A ligação de Joaquim Soares da Silva Moreira à Companhia Aurifícia, resultaria do facto de, José Dias de Almeida, o fundador daquela empresa, sita na Rua dos Bragas, ser o sogro de sua filha Amélia, o que teria conduzido a que o característico pórtico de entrada, de 1906, daquela empresa, da autoria de Marques da Silva, se ficasse a dever à sua relação com ambos.
Entretanto, Delfim Ferreira, que virá a comprar a Quinta de Serralves, em 1957, acabará por adquirir também esta moradia, em finais dos anos 40, para a sua filha Alice Ferreira.
Delfim Ferreira, um dos homens mais ricos de Portugal, tinha residência, bem perto, na Rua D. João IV, nº 239. Era um palacete que apresentava, até à década de 60 do século XX, construções adjacentes para uso dos criados, que iam até à Rua de Fernandes Tomás e que seriam demolidas, para levantamento duma área ajardinada, que ainda hoje se observa.



Palacete de Delfim Ferreira na Rua de D. João IV – Ed. MAC



“Detentor da maior fortuna do País, dava-se com Salazar e era íntimo dos ministros do Governo. Era uma espécie de visionário que pretendera construir um megacentro comercial no Porto na década de 40, quando a palavra shopping center ainda não tinha entrado no léxico comum dos portugueses.
Pessoalmente era tão fechado como uma ostra. Tímido, pouco expansivo e tão exigente com os outros como consigo próprio, passava a imagem de homem implacável que não admitia um deslize tão simples como a falta de pontualidade para um encontro. Exercia o paternalismo típico da época, mas era também um benfeitor. Construiu escolas, hospitais, creches. Deixou um legado que está vivo até hoje.
(…) A sua fama não se confinava ao Norte e foi convidado a juntar-se a Ricardo Espírito Santo e Manuel Queirós Pereira, entre outros, como promotor do Hotel Sheraton de Lisboa. Não aceitou a honra e fez sozinho o Hotel Infante de Sagres, no Porto. Pouco tempo depois, adquiriu a Casa de Serralves a Carlos Alberto Cabral, segundo conde de Vizela, que estava falido na época. O negócio tinha, num entanto, uma ressalva: a quinta não podia ser objecto de qualquer transformação. Quando Delfim Ferreira morreu, em 1960, de cancro, Serralves estava intacta tal como a tinha adquirido.”
Cortesia de Rita Roby Gonçalves (17 Mai 2009), In Diário de Notícias 


Voltando a Joaquim Soares da Silva Moreira, diga-se, que, em 1907, ele encomenda para a Rua de Gondarém, duas moradias geminadas, ao mesmo arquitecto - Marques da Silva.


Alçado principal das moradias geminadas na Rua de Gondarém – Fonte: “arquivoatom.up.pt”


Moradias geminadas de Joaquim Soares da Silva Moreira, na Rua de Gondarém, nº 680 – Fonte: Google maps


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