Moradia no gaveto da Rua D.
João IV e Rua Fernandes Tomás
“Esta moradia, procurando imitar alguns dos
modelos existentes, mas ainda assim original em vários aspectos, foi erguida
segundo vontade do proprietário Joaquim Soares da Silva Moreira, comerciante de
torna-viagem original de Moreira da Maia, que não só foi vereador da Câmara
Municipal do Porto e comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila
Viçosa, como se destacou enquanto administrador do Banco Aliança e como
accionista da Companhia Aurifícia. Marques da Silva projectou-a em 1904 para o
seu cliente, mantendo alguma fidelidade para com a arquitectura portuense da
época, mas ainda assim conjugando-a com as linhas das Beaux-Arts de Paris,
tendo escolhido os melhores materiais através de uma notória ausência de
restrinções orçamentais.
Mais tarde a moradia sofrerá novas
alterações. Em 1914 é acrescentada uma varanda virada para o jardim e em 1925
uma garagem no quintal, dispondo de arrecadações no piso superior. Ainda hoje
se distingue pelo seu jardim, que cobre uma área situada num estreito entre a
Rua D. João IV e a Rua Comandante Rodolfo de Araújo, ambas com ligação à Rua de
Fernandes Tomás. Os gradeamentos de linhas sinuosas e os jarrões em granito que
ladeiam os portões são um exemplo de outros detalhes interessantes”.
In Blog Porto
Sombrio
Fachada de prédio integrante de projecto para licenciamento
de construção nº 13/1904, pelo requerente Joaquim Soares da Silva Moreira –
Fonte: AHMP
Joaquim Soares da Silva Moreira tinha 11 filhos, só do seu 2º casamento. Era um
capitalista de grandes posses e um brasileiro de torna-viagem.
A moradia que mandou construir na Rua de D. João IV, com
projecto (1903) do arquitecto Marques da Silva, estaria concluída em 1904.
A moradia é, em termos práticos, um edifício de duas
moradas.
Moradia de Joaquim Soares da Silva Moreira
Joaquim Soares da Silva Moreira, nascido na Maia, em 1843,
foi novo para o Brasil ter com o seu tio António da Silva Moreira por quem foi
educado.
Aos 25 anos enviuvou e já residia na freguesia da Sé, quando
voltou a casar com a sua prima direita Alexandrina Soares da Silva Moreira, na
igreja de Santo Ildefonso (05 Abr. 1869). O casal parte então para o Brasil e
estabelecem-se em S. Luís do Maranhão, onde Joaquim Moreira faz uma fortuna
colossal.
A ligação de Joaquim Soares da Silva Moreira à Companhia
Aurifícia, resultaria do facto de, José Dias de Almeida, o fundador daquela
empresa, sita na Rua dos Bragas, ser o sogro de sua filha Amélia, o que teria
conduzido a que o característico pórtico de entrada, de 1906, daquela empresa,
da autoria de Marques da Silva, se ficasse a dever à sua relação com ambos.
Entretanto, Delfim Ferreira, que virá a
comprar a Quinta de Serralves, em 1957, acabará por adquirir também esta
moradia, em finais dos anos 40, para a sua filha Alice Ferreira.
Delfim Ferreira, um dos homens mais ricos de Portugal, tinha
residência, bem perto, na Rua D. João IV, nº 239. Era um palacete que
apresentava, até à década de 60 do século XX, construções adjacentes para uso dos
criados, que iam até à Rua de Fernandes Tomás e que seriam demolidas, para
levantamento duma área ajardinada, que ainda hoje se observa.
“Detentor da maior
fortuna do País, dava-se com Salazar e era íntimo dos ministros do Governo. Era
uma espécie de visionário que pretendera construir um megacentro comercial no
Porto na década de 40, quando a palavra shopping center ainda não tinha entrado
no léxico comum dos portugueses.
Pessoalmente era tão
fechado como uma ostra. Tímido, pouco expansivo e tão exigente com os outros
como consigo próprio, passava a imagem de homem implacável que não admitia um
deslize tão simples como a falta de pontualidade para um encontro. Exercia o
paternalismo típico da época, mas era também um benfeitor. Construiu escolas,
hospitais, creches. Deixou um legado que está vivo até hoje.
(…) A sua fama não se
confinava ao Norte e foi convidado a juntar-se a Ricardo Espírito Santo e
Manuel Queirós Pereira, entre outros, como promotor do Hotel Sheraton de
Lisboa. Não aceitou a honra e fez sozinho o Hotel Infante de Sagres, no Porto.
Pouco tempo depois, adquiriu a Casa de Serralves a Carlos Alberto Cabral,
segundo conde de Vizela, que estava falido na época. O negócio tinha, num
entanto, uma ressalva: a quinta não podia ser objecto de qualquer
transformação. Quando Delfim Ferreira morreu, em 1960, de cancro, Serralves
estava intacta tal como a tinha adquirido.”
Cortesia de Rita Roby Gonçalves (17 Mai 2009), In Diário de
Notícias
Voltando a Joaquim Soares da Silva Moreira, diga-se, que, em
1907, ele encomenda para a Rua de Gondarém, duas moradias geminadas, ao mesmo
arquitecto - Marques da Silva.
Alçado principal das moradias geminadas na Rua de Gondarém –
Fonte: “arquivoatom.up.pt”
Moradias geminadas de Joaquim Soares da Silva Moreira, na
Rua de Gondarém, nº 680 – Fonte: Google maps
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