Vila de Gaia e Vila
Nova e a ribeira das Azenhas
No século XI, após a expulsão dos muçulmanos do Norte do
território, a ocupação na margem esquerda do rio Douro era feita em torno de um
castelo que tinha sido recuperado e em que à povoação era dado o nome de Gaia –
Vila de Gaia. Esta hipótese é corroborada por muitos historiadores, se bem que
outros afirmem que a designação de Gaia já viria dos tempos da ocupação romana.
Esse povoado desenvolver-se-ia na margem esquerda de um
ribeiro, mais tarde chamado das Azenhas.
Em época anterior àquela, o referido aglomerado populacional
era denominado como “Cale” e tinha a sua existência intimamente ligada a um
outro que na margem direita (mesmo em frente a ele) possuía uma praia que
funcionava como porto das embarcações que faziam o atravessamento do rio. Este povoado
era chamado de “Portus” e situava-se na depois chamada Praia de Miragaia.
Foi assim que o aglomerado populacional com uma ligação
forte entre os dois, fosse designado a partir de determinada altura por “Portus
Cale”. Portus na margem direita do rio Douro e Cale na margem esquerda do mesmo
rio.
A unidade administrativa e territorial que sucederia a
“Portuscale” seria sucessivamente o condado Portucalense e depois Portugal.
Por outro lado, na margem direita daquela ribeira das
Azenhas, um outro povoado se desenvolveria e, por ser mais recente que o outro,
viria a ser chamado de Vila Nova.
A Vila de Gaia viria
a receber mais tarde o foral de D. Afonso III, em 1255, enquanto Vila Nova o recebe de D. Dinis, em 1288,
estando ambas separadas, então, pela fronteira natural da ribeira das Azenhas ou ribeiro de Santo Antão que, nos nossos dias, está praticamente encanado.
A meio da foto, a foz da ribeira das Azenhas, junto do pequeno
estaleiro naval, existente no Cais de Gaia – Fonte: Google maps
O estaleiro naval, à direita, na foto acima, antigamente conhecido por estaleiro Rei Ramiro, é o único
existente em Portugal que ainda constrói os barcos rabelos.
Aquele castelo de Gaia, diz-se, sofreu a ira das gentes do
Porto em 1385, após a vitória de D. João I sobre os castelhanos. Há quem afirme
que a outra margem teria apoiado os derrotados e, por isso, a ideia era não
deixar pedra sobre pedra do tal castelo.
Como consequência do não apoio ao Mestre de Aviz, a Vila de
Gaia e Vila Nova, entre 1385 e 1834, foram ambas integradas no julgado do
Porto, perdendo a sua autonomia.
Outros dizem que aquela medida destinou-se a pagar as
despesas militares da expulsão dos castelhanos, feitas pelos cidadãos do Porto
e a moeda de troca foram os dois povoados.
No final das guerras liberais, a Vila de Gaia e Vila Nova
foram, finalmente, agraciadas com autonomia política e, ao fundirem-se, nasceu
o actual concelho de Vila Nova de Gaia, a 20 de Junho de 1834.
Nas guerras liberais o castelo de Gaia parece ter dado o
último suspiro, como narra o pequeno trecho a seguir:
“Tendo as forças de
Miguel I de Portugal se fortificado no local, montando aí uma bateria, dela
fizeram fogo sobre o Palácio dos Carrancas onde D. Pedro tinha estabelecido o
seu quartel-general. D. Pedro, bombardeado no seu próprio quarto, mudou-se para
Cedofeita, e no dia seguinte, em sua visita de rotina às linhas, dirigiu-se à
chamada Bateria das Virtudes (onde hoje se encontra o SAOM) com cujo fogo
desfez o reduto do Castelo de Gaia. O que restava do antigo castelo desapareceu
na ocasião (c. 1833), tendo sido o seu terreno vendido pelo Estado”.
In Fortalezas.org
Local do Castelo de Gaia – Ed. “cavalinhoselvagem.blogspot.pt”
Local do Castelo de Gaia em 1966 – Ed. SIPA
Alguns achados arqueológicos na colina do Castelo de Gaia e,
também, próximos da Serra do Pilar, confirmam uma ocupação pré-histórica na
actual freguesia de Santa Marinha, e apontam para a existência de povoações,
nesta parte do território, desde a época do “Bronze Final” até ao
Baixo-império. As características dos achados encontrados reforçam a tese de
uma vocação marítima e comercial dos povos aí fixados. O período medievo veio
confirmar a importância daqueles povoados ribeirinhos.
Sem comentários:
Enviar um comentário