segunda-feira, 16 de abril de 2018

(Continuação 14)


Vila de Gaia e Vila Nova e a ribeira das Azenhas



No século XI, após a expulsão dos muçulmanos do Norte do território, a ocupação na margem esquerda do rio Douro era feita em torno de um castelo que tinha sido recuperado e em que à povoação era dado o nome de Gaia – Vila de Gaia. Esta hipótese é corroborada por muitos historiadores, se bem que outros afirmem que a designação de Gaia já viria dos tempos da ocupação romana.
Esse povoado desenvolver-se-ia na margem esquerda de um ribeiro, mais tarde chamado das Azenhas.
Em época anterior àquela, o referido aglomerado populacional era denominado como “Cale” e tinha a sua existência intimamente ligada a um outro que na margem direita (mesmo em frente a ele) possuía uma praia que funcionava como porto das embarcações que faziam o atravessamento do rio. Este povoado era chamado de “Portus” e situava-se na depois chamada Praia de Miragaia.
Foi assim que o aglomerado populacional com uma ligação forte entre os dois, fosse designado a partir de determinada altura por “Portus Cale”. Portus na margem direita do rio Douro e Cale na margem esquerda do mesmo rio.
A unidade administrativa e territorial que sucederia a “Portuscale” seria sucessivamente o condado Portucalense e depois Portugal.
Por outro lado, na margem direita daquela ribeira das Azenhas, um outro povoado se desenvolveria e, por ser mais recente que o outro, viria a ser chamado de Vila Nova.
A Vila de Gaia viria a receber mais tarde o foral de D. Afonso III, em 1255, enquanto Vila Nova o recebe de D. Dinis, em 1288, estando ambas separadas, então, pela fronteira natural da ribeira das Azenhas ou ribeiro de Santo Antão que, nos nossos dias, está praticamente encanado.




A meio da foto, a foz da ribeira das Azenhas, junto do pequeno estaleiro naval, existente no Cais de Gaia – Fonte: Google maps



O estaleiro naval, à direita, na foto acima, antigamente conhecido por estaleiro Rei Ramiro, é o único existente em Portugal que ainda constrói os barcos rabelos.



Em primeiro plano, o estaleiro Rei Ramiro, c. 1880, com o mosteiro da serra do Pilar em fundo


Aquele castelo de Gaia, diz-se, sofreu a ira das gentes do Porto em 1385, após a vitória de D. João I sobre os castelhanos. Há quem afirme que a outra margem teria apoiado os derrotados e, por isso, a ideia era não deixar pedra sobre pedra do tal castelo.
Como consequência do não apoio ao Mestre de Aviz, a Vila de Gaia e Vila Nova, entre 1385 e 1834, foram ambas integradas no julgado do Porto, perdendo a sua autonomia.
Outros dizem que aquela medida destinou-se a pagar as despesas militares da expulsão dos castelhanos, feitas pelos cidadãos do Porto e a moeda de troca foram os dois povoados.
No final das guerras liberais, a Vila de Gaia e Vila Nova foram, finalmente, agraciadas com autonomia política e, ao fundirem-se, nasceu o actual concelho de Vila Nova de Gaia, a 20 de Junho de 1834.
Nas guerras liberais o castelo de Gaia parece ter dado o último suspiro, como narra o pequeno trecho a seguir:

“Tendo as forças de Miguel I de Portugal se fortificado no local, montando aí uma bateria, dela fizeram fogo sobre o Palácio dos Carrancas onde D. Pedro tinha estabelecido o seu quartel-general. D. Pedro, bombardeado no seu próprio quarto, mudou-se para Cedofeita, e no dia seguinte, em sua visita de rotina às linhas, dirigiu-se à chamada Bateria das Virtudes (onde hoje se encontra o SAOM) com cujo fogo desfez o reduto do Castelo de Gaia. O que restava do antigo castelo desapareceu na ocasião (c. 1833), tendo sido o seu terreno vendido pelo Estado”.
In Fortalezas.org


Local do Castelo de Gaia – Ed. “cavalinhoselvagem.blogspot.pt”



Local do Castelo de Gaia em 1966 – Ed. SIPA


Alguns achados arqueológicos na colina do Castelo de Gaia e, também, próximos da Serra do Pilar, confirmam uma ocupação pré-histórica na actual freguesia de Santa Marinha, e apontam para a existência de povoações, nesta parte do território, desde a época do “Bronze Final” até ao Baixo-império. As características dos achados encontrados reforçam a tese de uma vocação marítima e comercial dos povos aí fixados. O período medievo veio confirmar a importância daqueles povoados ribeirinhos.

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