Quinta da Lavandeira
no Poço das Patas
O Poço das Patas era, em tempos que já lá vão, a área hoje
ocupada pelo Campo de 24 de Agosto e a toda a zona envolvente e vizinha de três
grandes quintas: a dos Cirnes; a do Prado, propriedade do Bispo, onde está o
cemitério do Prado do Repouso e a da Fraga, que se estendia pelas Fontainhas.
Era, uma zona alagadiça, cruzada pelas águas de várias
nascentes, de riachos e ribeiras. Um desses cursos de água tomou o nome de
ribeira de Mijavelhas ou ribeira do Poço das Patas e, as suas águas, além de
serem aproveitadas para tanques públicos de lavagem de roupa, ainda faziam
mover as mós de alguns moinhos, situados nas proximidades da encosta do Monte
do Seminário, por onde essas águas se despenhavam até entrarem no rio Douro.
A origem do nome Poço das Patas tem a ver com a existência
de patos nessa zona alagadiça.
Um tal de Braz de Abreu Guimarães possuía várias casas e quintais
na Rua do Poço das Patas, casas estas, que eram próximas do Poço das Patas e do
rio das Lavandeiras.
Entre o Padrão das Almas (Largo do Padrão) e o Poço das Patas
(Campo de 24 de Agosto) ficava, então, uma enorme quinta propriedade de Brás de
Abreu Guimarães, bem-sucedido negociante portuense, que naquela sua propriedade
construiu uma importante fábrica de seda, que no século XVIII deu nome a uma
rua, que sucessivamente se chamou: Rua da Seda (1764); Rua da Fábrica da Seda
(1766); Rua Direita da Fábrica da Seda (1767); e ainda Rua da Fábrica da Seda
de Brás de Abreu, na Rua do Padrão das Almas.
“Este Padrão das Almas
era um cruzeiro a que o povo dava o nome de Senhor do Amor Divino e Almas.
Estava erguido no pequeno logradouro a que ainda hoje se dá o nome de Largo do
Padrão. A cruz, que o arqueólogo Pedro Vitorino classificou como sendo do
século XVI, "do tipo arcaizante, cabelo a jeito de corda, mãos espalmadas
e pés separados", na opinião, ainda, daquele historiador, foi removida do
local onde estava, em 1869, e levada para o Cemitério do Bonfim, onde ainda se
encontra e pode ser visitado”.
Com o devido crédito de Germano Silva
O cruzeiro atrás citado, que estava situado no meio do Largo
do Padrão das Almas, era a 8ª estação de uma via-sacra que saía da Batalha e se
dirigia para o alto do Godim (Monte do Bonfim), pelo Chão dos Olivais (Rua do
Bonfim).
A Rua do Poço das Patas que tinha sido Rua de Mijavelhas
seguia o actual traçado da Rua Coelho Neto.
Não sabemos como Braz de Abreu Guimarães adquiriu todos aqueles
bens ou se os herdou, sabemos que algumas propriedades foram por ele
penhoradas, devido a dívidas que os anteriores proprietários tinham com ele.
Por consulta do Arquivo Municipal de Penafiel, sabemos,
contudo, que Dona Joana Felizarda Delfina de Abreu Aranha e Araújo, filha de
Brás de Abreu Guimarães e de Dona Joana do Nascimento de Araújo Aranha, “viveu na casa de seus pais, na Rua Chã, no
Porto, e mais tarde na Quinta da Lavandeira”,
junto ao Poço das Patas.
Daquele casamento resultaram ainda mais três rapazes: Bento
de Abreu Aranha, João de Abreu Aranha Araújo e Brás de Abreu Aranha e Araújo.
Para o casamento, D. Joana levou um dote avultado e rico,
essencialmente em enxoval, móveis e peças de ourivesaria.
As casas da Rua do Poço das Patas, e a quinta cercada de
muro, sita ao pé da Fonte das
Lavandeiras, no Poço das Patas, foram para o património dos senhores da
Aveleda por seu dote.
Aquelas propriedades eram foreiras à Câmara do Porto, bem
como mais vinte e uma moradas.
Sabemos que D. Joana em 1765 já se encontrava casada com
Manuel de Meireles Guedes de Carvalho, 4º morgado de Aveleda.
Joana deve ter falecido de complicações derivadas do parto
de sua única filha, pois esta nasceu a 16 de Fevereiro de 1774 e o inventário
feito pelo seu falecimento é de 21 de Março de 1774.
O termo lavandeira significa o mesmo que lavadeira. De
facto, o local assim referido, era frequentado por inúmeras lavadeiras que
lavavam a roupa nuns tanques adjacentes à chamada Fonte do Poço das Patas, e
que deve ser aquela que, em certos textos, é referenciada por Fonte das Lavandeiras.
O local em causa, de Poço das Patas é hoje, como se sabe, o
Campo 24 de Agosto e já se chamou, também, em tempos muito mais recuados,
Mijavelhas.
O que resta daquela fonte está hoje em exposição na estação
do metro do Campo 24 de Agosto.
Reconstituição da Fonte de Mijavelhas ou do Poço das Patas
na estação de Metro
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