quinta-feira, 12 de abril de 2018

(Continuação 13)


Polícia Sinaleiro

Nos anos 20 do século passado, devido ao aumento da circulação automóvel nas cidades de Lisboa e Porto, assistiu-se ao aparecimento, na senda do que já era feito em algumas outras cidades estrangeiras, de agentes reguladores de trânsito – os sinaleiros.
O polícia sinaleiro, que inicialmente se apresentava apeado e depois num pedestal orientava a circulação viária situado em pontos estratégicos, sendo conhecidos popularmente, pelos "cabeças de giz”, devido ao capacete branco, característico.
A farda compreendia luvas e cassetetes brancos, e uma braçadeira vermelha com um "T” inserido, que mais tarde passou a ser o distintivo das brigadas de trânsito. A esta paramenta, juntou-se pouco tempo depois os punhos, cinturão e talabarte brancos.

Polícia sinaleiro na Praça da Batalha em capa de disco de Tristão da Silva

Como mera curiosidade, diga-se que em 1962 um sinaleiro ganhava 20$00 por dia, em Janeiro de 1974 auferia 50$00, e, logo após o 25 de Abril de 1974, passou a auferir 110$00 diários.

Polícia sinaleiro junto à Sé

Polícia sinaleiro na Praça D. João I

Com o alargamento da semaforização, a gestão do tráfego passou a ser feita à distância, em salas onde estes sistemas são controlados e em 1992 o trabalho daqueles agentes reguladores do trânsito chegava ao fim.
Durante os anos em que estiveram ao serviço, até serem completamente substituídos pelo processo de semaforização, os sinaleiros foram sempre muito bem aceites e acarinhados pela população.
Assim, durante muitos anos, pelo Natal, e com o patrocínio do Automóvel Clube de Portugal (ACP), assistia-se ao “Natal do Sinaleiro” em algumas cidades do País.

Natal do sinaleiro


O Natal do Polícia Sinaleiro surgiu em 1932. Na altura, havia 120 agentes em Lisboa e 57 no Porto.
Era então possível ver junto ao local de trabalho, em plena rua, os montes de ofertas de diversos artigos que junto deles eram deixados.
Depois de várias décadas desaparecidos, e face ao aumento da actividade turística na cidade do Porto pelo Natal de 2014 os sinaleiros voltaram.
Dois agentes foram colocados a comandar o trânsito à entrada da Ponte Luis I. Segundo um comunicado da altura da PSP pretendia-se com a medida:
“Reforçar a componente humana em paralelismo com a sinalização vertical e/ou luminosa existente, dando-lhe um cariz mais dinâmico, objectivo e gestionário que visa facilitar a vida de todos os que circulam nas artérias sinalizadas, nos momentos de maior intensidade de tráfego".

Polícia sinaleiro recentemente, junto à Ponte Luís I

Hélder Pacheco lembra os tempos do sinaleiro:
“No tempo da minha infância não existiam sinaleiros nos cruzamentos, em cima de um estrado. Em certos locais, estavam postados no passeio accionando os comandos de um aparelho parecido com os dos carros-eléctricos manipulados pelos guarda-freios. Dali, faziam mudar as luzes de semáforos colocados sobre a rua. No meu bairro dos Clérigos, havia um dispositivo regulando o trânsito no cruzamento com os Lóios e Rua do Almada.
Ficava no passeio, em frente à Casa Daniel Barbosa, de que um dos membros, com o mesmo nome, seria Ministro da Economia. E, como só apregoava melhorias (no pós-guerra, de fome e miséria era quase provocação), a gente «do contra» começou a chamar-lhe o Daniel das Farturas.
Voltando aos sinaleiros: naquela época de polícia pouco cívica, nada amigável e ainda menos simpática, eram os únicos bem aceites e respeitados. Transmitiam a sensação de utilidade e segurança, e as pessoas gostavam. Embora alguns dessem grandes reprimendas a certos automobilistas, até isso humanizava a relação com a autoridade. (A uma amiga minha, muito azelha, um sinaleiro disse-lhe: «A senhora é tão incompetente que nem a quero ver mais à minha frente!») E a cidade, pelo Natal, rodeava-os de prendas e presentes para lhes agradecer os serviços prestados.
Se querem que lhes diga, em certos locais da cidade tenho a convicção de que um bom sinaleiro despachava melhor o trânsito do que os semáforos. É que, contrariamente a ele, o computador que regula a vida urbana não tem alma, percepção e inteligência activa para reagir interactivamente. É cego, surdo, mudo e estúpido. Por tudo isto, não posso deixar de saudar a decisão da PSP de voltar a colocar um sinaleiro na entrada da Ponte de Baixo, local pior do que mil diabos, onde, a certas horas, ninguém se entendia. Muito bem”.

Polícia sinaleiro ao fundo da Rua dos Clérigos

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