Polícia Sinaleiro
Nos anos 20 do
século passado, devido ao aumento da circulação automóvel nas cidades de Lisboa
e Porto, assistiu-se ao aparecimento, na senda do que já era feito em algumas
outras cidades estrangeiras, de agentes reguladores de trânsito – os
sinaleiros.
O polícia sinaleiro,
que inicialmente se apresentava apeado e depois num pedestal orientava a
circulação viária situado em pontos estratégicos, sendo conhecidos
popularmente, pelos "cabeças de giz”, devido ao capacete branco, característico.
A farda compreendia
luvas e cassetetes brancos, e uma braçadeira vermelha com um "T” inserido,
que mais tarde passou a ser o distintivo das brigadas de trânsito. A esta
paramenta, juntou-se pouco tempo depois os punhos, cinturão e talabarte
brancos.
Polícia sinaleiro na
Praça da Batalha em capa de disco de Tristão da Silva
Como mera
curiosidade, diga-se que em 1962 um sinaleiro ganhava 20$00 por dia, em Janeiro
de 1974 auferia 50$00, e, logo após o 25 de Abril de 1974, passou a auferir
110$00 diários.
Polícia sinaleiro
junto à Sé
Polícia sinaleiro na
Praça D. João I
Com o alargamento da
semaforização, a gestão do tráfego passou a ser feita à distância, em salas
onde estes sistemas são controlados e em 1992 o trabalho daqueles agentes reguladores
do trânsito chegava ao fim.
Durante os anos em
que estiveram ao serviço, até serem completamente substituídos pelo processo de
semaforização, os sinaleiros foram sempre muito bem aceites e acarinhados pela
população.
Assim, durante
muitos anos, pelo Natal, e com o patrocínio do Automóvel Clube de Portugal
(ACP), assistia-se ao “Natal do Sinaleiro” em algumas cidades do País.
Natal do sinaleiro
O Natal do Polícia Sinaleiro surgiu em 1932. Na altura,
havia 120 agentes em Lisboa e 57 no Porto.
Era então possível
ver junto ao local de trabalho, em plena rua, os montes de ofertas de diversos
artigos que junto deles eram deixados.
Depois de várias
décadas desaparecidos, e face ao aumento da actividade turística na cidade do
Porto pelo Natal de 2014 os sinaleiros voltaram.
Dois agentes foram
colocados a comandar o trânsito à entrada da Ponte Luis I. Segundo um
comunicado da altura da PSP pretendia-se com a medida:
“Reforçar a componente
humana em paralelismo com a sinalização vertical e/ou luminosa existente,
dando-lhe um cariz mais dinâmico, objectivo e gestionário que visa facilitar a
vida de todos os que circulam nas artérias sinalizadas, nos momentos de maior
intensidade de tráfego".
Polícia sinaleiro
recentemente, junto à Ponte Luís I
Hélder Pacheco
lembra os tempos do sinaleiro:
“No tempo da
minha infância não existiam sinaleiros nos cruzamentos, em cima de um estrado.
Em certos locais, estavam postados no passeio accionando os comandos de um
aparelho parecido com os dos carros-eléctricos manipulados pelos guarda-freios.
Dali, faziam mudar as luzes de semáforos colocados sobre a rua. No meu bairro
dos Clérigos, havia um dispositivo regulando o trânsito no cruzamento com os
Lóios e Rua do Almada.
Ficava no
passeio, em frente à Casa Daniel Barbosa, de que um dos membros, com o mesmo
nome, seria Ministro da Economia. E, como só apregoava melhorias (no
pós-guerra, de fome e miséria era quase provocação), a gente «do contra»
começou a chamar-lhe o Daniel das Farturas.
Voltando aos
sinaleiros: naquela época de polícia pouco cívica, nada amigável e ainda menos
simpática, eram os únicos bem aceites e respeitados. Transmitiam a sensação de
utilidade e segurança, e as pessoas gostavam. Embora alguns dessem grandes
reprimendas a certos automobilistas, até isso humanizava a relação com a
autoridade. (A uma amiga minha, muito azelha, um sinaleiro disse-lhe: «A
senhora é tão incompetente que nem a quero ver mais à minha frente!») E a
cidade, pelo Natal, rodeava-os de prendas e presentes para lhes agradecer os
serviços prestados.
Se querem que
lhes diga, em certos locais da cidade tenho a convicção de que um bom sinaleiro
despachava melhor o trânsito do que os semáforos. É que, contrariamente a ele,
o computador que regula a vida urbana não tem alma, percepção e inteligência
activa para reagir interactivamente. É cego, surdo, mudo e estúpido. Por tudo
isto, não posso deixar de saudar a decisão da PSP de voltar a colocar um sinaleiro
na entrada da Ponte de Baixo, local pior do que mil diabos, onde, a certas
horas, ninguém se entendia. Muito bem”.
Polícia sinaleiro ao
fundo da Rua dos Clérigos
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