terça-feira, 13 de junho de 2023

(Continuação)


Jacinto Matos
 
Jacinto Matos (1864-1948) veria o seu nome para sempre ligado à Quinta de Salgueiros ou Quinta do Ingleses, situada no Lugar de Antas de Cima, em tempos, junto do então topo norte do Estádio das Antas.


 

Planta da Quinta de Salgueiros e da implantação dos viveiros de Jacinto Matos

 
 
Legenda:
1. Hospital do Conde Ferreira
2. Rua de Costa Cabral
3. Rua Nova de Contumil
4. Rua da Vigorosa
5. Lugar de Antas de Cima


 
Assim, naqueles terrenos, Jacinto Matos teve os seus viveiros desde o início do século XX.

 
 

Entrada para a Quinta de Salgueiros



 
Horto de Jacinto Matos, em Antas de Cima - Fonte: Ilustração Católica (Braga), 6 de dezembro de 1913
 
 
 
 
Como horticultor, Jacinto de Matos continuava o negócio de um pequeno horto que seu pai, Zeferino de Matos, tinha na Rua da Boavista. Aliás, o horto aparece já, fundado, em 1870, no catálogo abaixo.


 
 



A partir de 1882, organizou e participou em diversas exposições no Palácio de Cristal do Porto e no Ateneu Portuense
Em 1899, participou na fundação da União dos Jardineiros do Porto enquanto presidente da assembleia geral (sendo reeleito em Outubro de 1901), sendo José Monteiro da Costa o presidente da direcção.
No livro Jardins Históricos do Porto (Ed. Inapa, 2001), Teresa Andresen e Teresa Portela Marques enumeram alguns dos jardins e parques projectados por Jacinto de Matos em todo o país: Parque de São Roque, jardim da Casa Allen (Casa das Artes), Quinta dos Salgueiros, jardim da Ordem dos Médicos (à Arca d'Água), Parque da Curia, Parque das Pedras Salgadas, espelhos de água dos jardins da Presidência do Conselho de Ministros, Jardim municipal de Nisa.


 
 

Palacete, na Avenida da Boavista, nº 2609, mandado construir por José Zagalo Ilharco, um amante da horticultura que haveria, em colaboração com Jacinto Matos de criar, em volta da sua casa, na Avenida da Boavista, o chamado Parque Zagalo Ilharco, jardim que rodeava a vivenda mandada construir em 1902


 
 

Jardim (1910) da casa da D. Adelaide Nogueira Pinto, em Leça da Palmeira
 
 
 
Adelaide da Rocha Nogueira Pinto (Leça da Palmeira 26.01.1866 - Leça da Palmeira 21.11.1899), sem descendência, era filha de José Nogueira Pinto (pai do Conde de Leça), nascido em 1834 e de Rosa Joaquina da Rocha, nascida em 1832.

 
 

Casa de Nogueira Pinto, na Rua Direita, nº 234, em meados do século XX

 
 

O que resta, hoje, da casa Nogueira Pinto – Cortesia de Vítor Monteiro





Exposição de Flores organizada por Jacinto de Matos, no Casino Peninsular da Figueira da Foz, em Junho de 1905 - Ed.  Ilustração Portuguesa de 24 de Julho de 1905
 
 
 
 
Aurélio da Paz dos Reis
 
 
Esta personalidade, para além de ter o seu nome ligado à sua actividade política desenvolvida na cidade do Porto, ficaria imortalizada, também, por ter sido o realizador e produtor do icónico e primeiro filme português, "A Saída do Pessoal Operário da Fábrica Confiança" (Rua de Santa Catarina).
No entanto, a sua actividade profissional principal era exercida no sector agrícola.
Assim, Aurélio da Paz dos Reis (1862-1931) tinha a sua casa de comércio, situada na Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), numa loja onde, mais tarde, se iria instalar a Confeitaria Ateneia.
Aí, na “Flora Portuense”, a loja fundada em 1893, de comércio de flores, plantas e sementes, instalada na Praça D. Pedro, Aurélio da Paz dos Reis transacionava os produtos oriundos dos seus viveiros, localizados em terrenos anexos à sua residência na Rua do Barão de Nova Sintra, nº 125.
 
 
 

“Flora Portuense”

 
 

Aurélio da Paz dos Reis, no interior da loja “Flora Portuense”, em estereograma de 1900
 
 
 

No prédio mais afastado, do conjunto de três observados, tinha Aurélio da Paz dos Reis a sua residência e, a ela anexo, os referidos viveiros – Fonte: goole maps

 
 
 

Aurélio Paz dos Reis fotografado com a sua mulher e filhos no jardim da sua residência

 
 

Estufas e viveiros de plantas e flores, em Nova Sintra
 
 
 
 
Em complemento, no âmbito da fotografia, Aurélio da Paz dos Reis aproveitava a sua loja na Praça D. Pedro para comercializar alguns trabalhos fotográficos ou artigos ligados à fotografia.
Ainda neste capítulo, Aurélio da Paz dos Reis ficaria conhecido pelas excelentes reportagens fotográficas realizadas aquando das exposições de floricultura levadas a cabo no Palácio de Cristal, nas quais a “Flora Portuense” costumava participar.




Outras personalidades do mundo da jardinagem
 
 
A título pessoal, em regime de amadorismo, muitos burgueses portuenses se dedicaram ao arranjo dos seus jardins, que rodeavam espectaculares palacetes, numa actividade que pressupunha que fossem aplicados grossos cabedais.
De facto, era uma actividade cara, pois, na maioria das situações, era necessário, para sobressair, fazer importações de espécies raras e recorrer a serviços de entendidos profissionais, que se faziam pagar bem.
Entre muitos outros, ficaram célebres as intervenções do Conde de Silva Monteiro.
Apaixonado pela jardinagem, Silva Monteiro, para além de cuidar dos seus jardins do palacete situado na Rua da Restauração, tinha um espaço imenso em V. N. de Gaia, que transformou numa propriedade agrícola e de recreio, a Quinta da Lavandeira, pertencente também a seu irmão, onde a praticava e que, é hoje, o Parque Municipal da Lavandeira, à data, confinando com a Quinta do Sardão.
Nesta propriedade mandou construir Silva Monteiro, entre 1881 e 1883, na fundição do Ouro, uma estufa monumental em ferro e vidro, tendo dessa sua paixão pela jardinagem, chegado a receber alguns prémios em exposições efectuadas no Palácio de Cristal.


 
 

Estufa do século XIX, no Parque da Lavandeira, aguardando recuperação
 
 
 
Outro apaixonado pela jardinagem foi o Conde das Devezas, Francisco Pereira Pinto de Lemos (1849-1916), que na sua quinta, em V. N. de Gaia, se dedicou à sua paixão – a floricultura, na qual sobressaiam vários exemplares de camélias.
Presentemente, com o antigo solar da quinta, em ruínas, os seus jardins foram transformados no “Parque da Quinta das Devesas”, um equipamento municipal aberto ao público, situado na Rua Leonor de Freitas.
 
 
 

À esquerda, pela rampa, se entra no Parque da Quinta das Devezas
 
 
 

Tulipeiro (Liriodendron tulipifera) à entrada do parque
 
 
 
 
Terá sido pela Quinta Vilar d’Allen, já sob a responsabilidade de Alfredo Allen, que terão sido introduzidas uma série de plantas exóticas em Portugal.
Esta quinta, situada ao fundo da Rua do Freixo, em Campanhã, nº 194, foi obra de João Allen, ou mais, precisamente, John Francis Allen, um cidadão inglês ligado ao comércio do vinho do Porto, que comprou, primitivamente, em 1838, a Quinta da arcádia.
Seria, no entanto, um seu filho, Alfredo Allen, 1º visconde de Villar d’Allen, quem iria ampliar a propriedade anexando à área adquirida por seu pai, as quintas da Vesada e a de Vila Verde e exercer uma acção decisiva sobre os jardins da propriedade.
 
 
“Os jardins da Quinta de Vilar d'Allen têm vários elementos de interesse como o lago, a zona da mata, a estufa, o Jardim dos Cisnes, vários exemplares de camélias e um jardim formal. Há uma grande quantidade de camélias de cerca de 180 variedades diferentes no jardim. Há, ainda, esculturas e ornamentos arquitetónicos da autoria de Nicolau Nasoni, assim como uma fonte do antigo Mosteiro de Monchique.
A Casa e a Quinta foram classificadas como Imóvel de Interesse Público em 2010 e pode ser visitada, por marcação”.
Fonte: “ambiente.cm-porto.pt/”
 
 
 
Alfredo Allen era enólogo, agricultor e jardineiro.
Foi um dos impulsionadores da Sociedade do Palácio de Cristal Portuense tendo, anteriormente, sido, na companhia do filho de Francisco Van Zeller, Roberto Van Zeller (1818-1868), director da Feira Agrícola do Porto, realizada de 12 a 14 de Julho de 1857, pela sociedade Agrícola do Porto, em terrenos da Torre da Marca onde, em 1865, haveria de nascer o Palácio de Cristal.

 
 

Fonte que terá pertencido ao mosteiro de Monchique, instalado na Quinta Villar d’Allen

 
 
Na foto acima está um dos dois chafarizes (existiam dois claustros) que esteve num dos claustros do mosteiro de Monchique.

 
“A Norte, o aterro cria uma zona individualizada, cercada por um pequeno bosque, onde Alfredo Allen, filho de João Allen e 1º Visconde de Villar d'Allen, introduziu na propriedade, e em Portugal, alguns exemplares de plantas e arbustos exóticos, entre os quais se destacam as famosas camélias de Villar d'Allen. Este tratamento paisagista tem vindo a ser considerado como um dos primeiros no nosso país que segue a tipologia dos jardins paisagistas e pituresques que procuram reproduzir a espontaneidade da natureza; sendo, muito possivelmente, inspirado nos livros trazidos de Londres e que ainda hoje integram o espólio da biblioteca de Villar d'Allen, entre os quais se destacam William Kent e Capability Brown. Nos jardins surgem, amiúde, pedras trabalhadas e falsas ruínas, entre as quais se destacam os fogaréus e os "cestos de fruta" atribuídos a Nicolau Nasoni e muito possivelmente provenientes do vizinho Palácio do Freixo, concebido por este arquitecto”. 
Cortesia de Rosário Carvalho

 
Sendo que, os viveiros da propriedade (5 hectares de jardim e mata) continuam em actividade, ainda há poucos anos, obtiveram o prémio para a melhor Camélia, durante a Exposição de Camélias do Porto organizada pela Câmara Municipal do Porto..
 
 
 
 

Casa da Quinta de Villar d’Allen – Fonte: “ambiente.cm-porto.pt/”
 
 
 
 
Também Francisco Van Zeller (1774-1852), proprietário da Quinta de Santo Inácio, localizada na Rua 5 de Outubro, nº 4503, Avintes, V. N. de Gaia, se destacou ao ser considerado o responsável pela introdução oficial, entre 1808 e 1810, das camélias no nosso país, trazidas justamente para a Quinta de Fiães, onde, ainda hoje, podem ser admiradas.
Na Quinta de Santo Isidro, além das camélias, os jardins foram recriados, há poucos anos, aquando da abertura da quinta ao público, com a inclusão de roseirais e mixed-borders no jardim formal e, no jardim romântico, uma grande colecção de azáleas e rododendros.

 
 
Jardins da Quinta de Santo Inácio - Cortesia de Vilma Silva (2005)
 
 
 
A propósito da introdução das camélias, há quem garanta que a camélia (Camellia japonica) terá aparecido, primeiro, na primeira metade do século XVI, na Quinta do Campo Belo, sobranceira ao rio Douro, na margem direita da foz da Ribeira das Azenhas, em V. N. de Gaia, oriunda do Japão.
Adriano de Paiva de Faria Leite Brandão (1847-1907), 1º conde do Campo Belo que, a partir de 1872, integrou o quadro de lentes da Academia Politécnica do Porto, foi um grande matemático e cientista nas áreas da Termodinâmica e da Óptica.

 
 
«O Conde de Campo Belo ficou conhecido nos meios científicos pelas suas reflexões sobre a telescopia como uma nova aplicação da eletricidade (1878). Explorou este tema na obra "La Télescopie Électrique Basée sur l'emploi du Selenium", em 1880, referindo-se a um "telescópio elétrico com o qual se poderiam transmitir imagens". Este trabalho teve impacto internacional e inspirou estudos pioneiros no campo da televisão. Foi lido e estudado durante os anos vinte em Itália, quando o regime de Mussolini se interessou pelo tema televisivo. Foi também autor de "These Ex Naturali Philosophia" (1868)».
Fonte: sigarra.up.pt/up/
 
 
 
 
Paço e jardins da Quinta do conde de Campo Belo – Fonte: sapoencia.blogs.sapo.pt/

 
 
Sobre as plantações da camellia japónica na Quinta do Campo Belo, a obra de Frederick Meyer, publicada em 1959, intitulada “Plant explorations: ornamentals in Italy, southern France, Spain, Portugal, England, and Scotland”, na figura 49, apresentava uma foto, de Teófilo Rego, do primitivo exemplar com cerca de 400 anos.

 
 

Camellia japonica, na Quinta do Campo Belo

 
 
Sobre a foto anterior Frederick Meyer dizia:


 


 
 
Curiosamente, Frederick Meyer, na mesma obra, faz referência à Quinta do Meio que, a partir de 1871, passa a ser arrendada a William Chester Tait, negociante abastado ligado ao Vinho do Porto e ornitologista, que acabará por comprá-la em 1900.
O irmão de William Chester Tait, Alfred Welby Tait era um botânico de reconhecidos méritos, nomeadamente, especialistas em espécies nativas do Gerês, onde tinha casa.
Por isso, não admira que esta propriedade fosse também relevada pelos seus jardins e espécies arborícolas.


 




Actualmente, os jardins anexos ao palacete do 3º visconde Villar d'Allen, Joaquim Ayres de Gouveia Allen, na Rua António Cardoso, da Casa de Serralves, do Palacete dos Andressen (Jardim Botânico), do Parque Ocidental da Cidade, do Palácio de Cristal e os muitos Jardins Públicos espalhados pela cidade do Porto, podem dar-nos uma ideia de quanto os portuenses são afeiçoados a eles.


(Continua)

Sem comentários:

Enviar um comentário