O naufrágio do brigue Diana em Novembro de 1864
Apesar das medidas que vinham a ser tomadas ao longo dos
anos os naufrágios, com perdas de vidas, continuavam a ser frequentes.
E proliferavam os críticos da incapacidade do salva-vidas,
motivo da curiosidade dos que iam à Foz.
“Tudo quanto havia rico e elegante no Porto reunia-se na
Foz. A curiosidade, n’aquelle tempo, era o salva-vidas, uma casita com um
pequeno jardim de entrada, situada de modo que ouvia de um lado as queixas do
rio, e do outro as iras do Oceano; não tinha sahida para o mar: havia apenas
uma portazinha, e, quando o barco devesse ser empregado no serviço dos
náufragos, chamava-se povo, e era arrastado pela areia até à beira-mar; essa
operação levava uma hora, hora e meia: o suficiente a um salva-vidas para poder
salvar os mortos”.
Júlio César Machado, escritor (Lisboa, 1 de Outubro de 1835
– idem, 12 de Janeiro de 1890);
Fonte: Prof. Ricardo Figueiredo (blogue “doportoenaoso”)
Fonte: Prof. Ricardo Figueiredo (blogue “doportoenaoso”)
Exemplo da inépcia dos salvamentos foi o naufrágio de um
brigue relatado no Annuario do
Archivo Pittoresco, em que apenas se salvaram três tripulantes que foram
recolhidos na casa do
salva-vidas.
“No dia 26 do mez ultimo naufragou no Porto o brigue
sueco Diana. Da participação do intendente da marinha extrahimos a seguinte
curiosa noticia:
No dia 26 appareceu ao SO. Da barra, sendo o vento N; às
4 horas e meia da tarde deitou em cheio para terra, vindo com todo o panno
largo, e com a bandeira a pedir socorro: a distancia a transpor ate ao logar
onde encalhou seria de 7 a 8 kilometros. Entre o acto do navio deitar para a
terra e desfazer-se nas pedras, decorreram poucos momentos; entretanto logo
acudiram ao Cabedello parte da corporação dos pilotos e remeiros das catraias,
e alguns que se poderiam adiantar salvaram o capitão do brigue, o carpinteiro,
e um moço, que a nado tinham vindo para cima das pedras. Estes náufragos
seguiram logo para o Cabedello, não havendo tempo para chegar ao logar do
naufrágio o tenente Crespo e mais pessoas que iam acudir, porque às 6 horas
estava tudo concluído.
A lancha que o brigue trazia a reboque, virou-se com a arrebentação do mar submergindo um homem que vinha dentro.
A lancha que o brigue trazia a reboque, virou-se com a arrebentação do mar submergindo um homem que vinha dentro.
Dos outros três náufragos que faleceram, ainda foi visto
um que nadava, e para o salvar deitou-se ao mar o vareiro Manuel Branco, atado
a um cabo que outro segurava em terra; porem n’esta ocasião, trazendo o mar
sobre elle grande parte dos destroços do navio, mergulhou, e quando voltou à
superfície, já não viu o naufrago, que provavelmente foi morto pelos mesmos
destroços.
Os três náufragos salvos, foram recolhidos na casa do
salva-vidas, prestando-se-lhes todos os socorros, actos a que tem sempre
comparecido o benemérito cidadão Eduardo Mozer, como membro que é da comissão
do salva vidas.”
Annuario do Archivo Pittoresco, n.º12, Dezembro de 1864
(pág. 95);
Fonte: Prof. Ricardo Figueiredo (blogue “doportoenaoso”)
Brigue idêntico ao
“Diana”
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