quinta-feira, 21 de junho de 2018

(Continuação 3)


O naufrágio do Veronese


O paquete de carreira VERONESE procedia de Liverpool, seu porto de registo, com carga geral e 20 passageiros, tendo escalado Vigo, onde embarcara 122 emigrantes, aparentemente destinados ao Brasil, Uruguai e Argentina.
Alguns navios que navegavam ao largo da costa, ao receberem o pedido de socorro do VERONESE, aproximaram-se do local da tragédia, mas nada podendo fazer seguiram o seu rumo, entre eles o paquete VAUBAN, do mesmo armador do VERONESE, se bem que de maior porte.
O naufrágio deu-se às 4 horas da madrugada de 16 de Janeiro de 1913.
As operações de salvamento duraram mais de 48 horas devido ao estado do mar. Houve 38 vítimas, das quais 5 elementos da tripulação.
Pelos cabos foram salvos 89 passageiros e pelos salva-vidas Rio Douro e Cego do Maio e os rebocadores Berrio e Tritão, 103. Perderam a vida 38 pessoas.
A 16 de Janeiro, cerca da 1 hora da tarde, chegava diante do naufrágio, vindo de Lisboa o rebocador salvádego da armada Nacional NRP BERRIO, que trazia a bordo material próprio para salvamento de náufragos, mal chegou tentou aproximar-se do VERONESE, mas teve de desistir, em vista da forte agitação marítima, pelo que se foi abrigar no porto de Leixões, ficando a aguardar o momento oportuno de poder prestar o seu auxílio.
No dia 24, como o mar estivesse mais calmo, foram feitas as primeiras tentativas de ida a bordo. Trabalho que se realizou com êxito.


“O vapor que fazia a aproximação ao porto de Leixões com chuva e como tal alguma neblina, embateu na pedra denominada “Lenho”, vindo a encalhar sobre a penedia, a pouca distância a norte da capela da Boa Nova, em Leça da Palmeira. A noite era de temporal desfeito, o mar rugia, embravecido, e, as ondas, altas como torres, cobriam o horizonte e galgavam os molhes do porto de Leixões, desfazendo-se em espuma nos areais próximos.
Note-se que à época não existiam os dois faróis de sinalização da costa no lugar da Boa Nova, tendo mais tarde havido outros dois naufrágios nas imediações, dos vapores BOGOR e SILURIAN, tendo, do primeiro parecido 33 tripulantes dos 38 a bordo. As únicas luzes de referência para os mareantes, que então existiam eram o farol da Sra. da Luz, e os farolins da barra do Douro e dos molhes de Leixões.
Durante três dias, centenas de pessoas, indiferentes ao frio e à chuva, mantiveram-se no local do naufrágio, colaborando com os bombeiros e pessoal do Instituto de Socorros a Náufragos. Foi heróico o esforço despendido, evidenciando-se as guarnições das lanchas salva-vidas CEGO DO MAIO, esta trazida de comboio, propositadamente da Póvoa de Varzim, a titulo gratuito, sob o comando do patrão Manuel António Ferreira, “O Lagoa”, e a RIO DOURO, de Leixões, capitaneada pelo patrão José Rabumba, “O Aveiro”, dois verdadeiros “Lobos do Mar”, que salvaram, respectivamente 50 e 52 vidas, apoiadas pelo rebocador TRITÃO da Junta Autónoma das Instalações Marítimas dos Portos do Douro e Leixões.
Por cabo de vaivém, lançado a 350 metros, vieram para terra em 52 horas de trabalho constante 92 náufragos, tendo-se destacado, pela sua dedicação e saber, a corporação dos Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça sob o comando do sr. coronel Laura Moreira, bem como alguns elementos da Cruz Vermelha Portuguesa e dos Bombeiros Voluntários do Porto, Viana do Castelo e Vila do Conde. Entre quase centena e meia de pessoas condecoradas pelos serviços prestados aos náufragos do VERONESE, contava-se o Sr. Dr. Manuel Monterroso, por ter sido o primeiro clínico a chegar a desempenhar as suas funções que estabeleceram na Capelinha da Boa Nova e no posto fiscal.
Da Estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro, seguiu a carreta com material de socorros a náufragos puxada por força humana voluntária, e meu pai com 13 anos de idade, já moço de traineira e das embarcações dos pilotos, e admitido a piloto da barra em 1926, lá seguiu também a dar o seu contributo a empurrar a carreta até ao lugar da tragédia, só que se perdeu do restante pessoal, e por lá andou cerca de três dias, quase sem dormir, esfomeado e encharcado, até que tomou o rumo de casa a pé, na Cantareira, e à sua espera estava o pai, pescador, que não era para brincadeiras, que fora a Leça à procura dele, sem que o encontrasse, pregando-lhe umas valentes cinturadas que nunca mais as esqueceu.
José Pinto d’Almeida, “Pantaleão”, piloto da barra do Douro e Leixões, que se reformou como piloto-mor por volta de 1929, exímio no lançamento do foguetão, e sempre pronto, acorrendo a qualquer naufrágio na barra e na costa, tendo salvado muitos náufragos, mesmo como piloto-mor, e segundo consta também acorreu ao lugar do naufrágio do VERONESE para orientar o lançamento de foguetões para estabelecimento do cabo de vaivém para resgate dos naufragados, tendo a sua participação sido muita activa e meritória. O pessoal da estação de Socorros a Náufragos da Foz do Douro lançou 10 foguetões, e os Bombeiros Voluntários de Matosinhos-Leça lançaram 18.”
Fonte: “naviosavista.blogspot.pt”



Naufrágio do Veronese em Leça da Palmeira em 1913



Naufrágio do Veronese em 1913 Observando-se um tripé de toros de pinheiro a suportar o cabo de vai-vém


Um lavrador das redondezas foi abater dois pinheiros para dar altura à corda que haveria de salvar náufragos. Teve essa ideia após verificar que os cabos iam demasiado baixos e não atingiam o alvo.



Capela de S. João da Boa Nova e missa do primeiro aniversário da tragédia



A capela de Boa Nova foi o local onde se abrigaram os náufragos durante a tragédia. Na foto acima aquando da 1ª missa do primeiro aniversário do desastre, ainda é possível ver o Veronese encalhado, à direita.



Farolim da Boa Nova atrás da capela


Outra perspectiva do antigo antigo Farolim da Boa Nova, em S. Clemente das Penhas




Entre 1916 e 1926, existiu nas imediações do local onde actualmente se situa o Farol da Boa Nova, o Farolim da Boa Nova, uma torre encimada por uma lanterna verde, com luz branca fixa, quadrangular branca com cerca de 12 metros, atrás da Capela da Boa Nova.
Tendo estado dez anos em ensaios, foi, então abandonado, por se considerar pouco potente e ineficiente, mesmo após melhoramentos. Passou a servir de camarata aos alunos da Escola de Faroleiros e, mais tarde, foi demolido. No local subsiste ainda hoje, o muro em alvenaria de pedra que sustentava a base da torre.



Capela da Boa nova e os restos do farolim – Ed. Teresa Reis



Entretanto, o actual farol da Boa Nova, que substituiria o farolim da Boa Nova situa-se a uma altitude de 57 metros acima do nível do mar, e tem uma altura de 46 metros, tendo entrado ao serviço em 1927.


“A sua luz, de cor branca, alcança aproximadamente 28 milhas náuticas (52 quilómetros) e o seu sistema iluminante é constituído por uma óptica de cristal direccional rotativa com seis lentes. O seu sinal luminoso distingue-o de todos os outros por produzir três lampejos luminosos de 14 em 14 segundos.
Junto do farol já funcionou um sinal sonoro de nevoeiro, consistindo num duplo grupo de máquinas compressoras que faziam soar duas trompas, tudo accionado por um motor de combustão de 30 cavalos.
As suas características eram: Som 5s; silencio 25s; período 30s.
Possui 225 degraus: 213 em cimento armado, pertencentes à torre; 12 em ferro fundido que fazem já parte do aparelho iluminante.” 
Fonte: “pt.wikipedia.org”



Farol da Boa Nova

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