segunda-feira, 3 de junho de 2019

(Conclusão)


Romaria do Senhor de Matosinhos


“A Festa iniciou-se em 1732 com a inauguração das obras da Igreja Nova. Durou três dias e teve lugar na segunda oitava do Espírito Santo. Teve início no domingo e terminou na terça-feira, dia em que, segundo a tradição, apareceu a imagem.
Começou por ser essencialmente religiosa. Tudo se centrava no santuário. Fora da área do templo e do seu adro havia centros de diversões, barracas de venda de vinho e de comidas, doçarias e tudo o que é comum em arraiais. Hoje, os papéis inverteram-se e o que era secundário, então, passou agora a ser o centro. Por observação directa, a festa religiosa e o culto nos dias de festa são apenas um apêndice a tudo o mais.
A organização da festa passou, desde há muitos anos a esta parte, das mãos da Confraria do Bom Jesus para a Câmara Municipal (Autarquia). Mesmo o título dado às festividades mudou: já não são oficialmente as Festas do Bom Jesus de Matosinhos, ou do Senhor de Matosinhos, mas «Festas de Matosinhos».
A festa tem a duração de quatro dias: sábado, domingo, segunda e terça-feira. Este último dia é feriado municipal.”
Fonte: “paroquiadematosinhos.pt”




“Em 1881, o padre Joaquim Antunes de Azevedo descrevia assim nas suas 'Memórias de Tempos Idos' a Romaria do Senhor de Matosinhos:
Ainda há poucos anos, saía uma procissão ao Senhor da Areia (ou Senhor do Padrão, acrescento eu) no fim da Missa Solene realizada anualmente em cada terça-feira seguinte ao Domingo do Espírito Santo;
só a partir de 1844, é que a Romaria do Senhor de Matosinhos passou a ser realizada também no Domingo de Pentecostes (até então, era apenas nas segunda e terça feiras seguintes);
há uns anos atrás, por má administração temporária das esmolas do santuário, esta romaria esteve em decadência, o que já não se verificava em 1881 quando o Mestre das Festas foi o conhecido padre matosinhense Miguel José de Oliveira e funcionou pela 1.ª vez a escola gratuita para 'os filhos dos irmãos' (a escola do Adro, acrescento eu).”
Cortesia de José Rodrigues



Senhor de Matosinhos em 1907



Adro da igreja de Matosinhos, em 1907



Barracas no Senhor de Matosinhos no início século XX

 


Cartaz das festas do Senhor de Matosinhos de 1908
 
 
 

Igreja do Senhor de Matosinhos, em 1908


 
Rua de Santana, depois Avenida Vitória e, actualmente, a Avenida D. Afonso Henriques, c. 1910



Festas do Senhor de Matosinhos na actual Avenida D. Afonso Henriques, em 1914



Feira da louça no arraial do Senhor de Matosinhos
 
 
 

Louceiras no arraial do Senhor de Matosinhos, junto do palacete do visconde de Trevões



Festas do Senhor de Matosinhos no adro da igreja



Com uma forte ligação à cidade do Porto, as festas do Senhor de Matosinhos foram sempre do agrado dos portuenses que a elas ocorriam em romagem.
Os romeiros tomavam a Estrada de Cima de Matosinhos (antigo troço da Estrada dos Nove Irmãos) vindos da Rua Direita de Cedofeita (antes Rua da Estrada) e na Ramada Alta e no Largo do Carvalhido encontravam arraiais de passagem para os servir durante os 4 dias que duravam as festas do Senhor de Matosinhos.
No sítio do Ribeirinho, junto da Ramada Alta, até cadeirinhas eram alugadas para ver passar os romeiros!
Durante o século XX, até aos dias de hoje, a romaria não esmoreceu.


 

Louceiras no Senhor de Matosinhos, c. 1950


 

Arraial do Senhor de Matosinhos, na década de 1960

 
 

Cartaz das festas do Senhor de Matosinhos de 1962
 
 
 

Senhor de Matosinhos na Rua do Godinho, em meados do século XX


 

Iluminações nas festas do Senhor de Matosinhos de 1962

 
 

Rua do Godinho iluminada em 1962 – Ed. Foto Lobão
 
 
 

A romaria do Senhor de Matosinhos, c. 1970
 
 

Arraial do Senhor de Matosinhos, em 1968 – Cortesia de Henrique Castro



O andor com "O Senhor de Matosinhos" no começo da procissão – Ed. Carlos Romão



Poema de Evocação do Senhor de Matosinhos


“Lenda do Senhor de Matosinhos”
Assistindo aos tormentos de Jesus
Nicodemos ficou com o Sudário
E nuns madeiros bentos reproduz
Cinco imagens do Mártir do Calvário.
P’los judeus perseguido com furor
Nicodemos lançou ao bravo mar
Os cinco crucifixos do Senhor,
Tesoiro que queria conservar.
Essas cinco esculturas tão famosas,
Retratos verdadeiros de Jesus,
Levadas pelas ondas alterosas
Se espalharam no Mundo como a Luz.
Segundo a tradição, esse madeiro
A quem chamam Senhor de Matosinhos,
Veio parar à praia do Espinheiro
Onde foi recebido com carinhos.
Mas o povo ficou cheio de dor
Quando viu que ao Senhor faltava um braço
E logo procurou um escultor
A fim de esculpir um, em breve espaço.
Ao fazerem o braço que faltava
Os escultores viram com assombro
Que de nenhuma forma se ajustava
Inteiramente no divino Ombro.
Então, pra que não fosse destruída
Pela fúria do povo sarraceno,
Por detrás de um altar foi escondida
A escultura do meigo Nazareno.
Mais tarde uma mulher que andava à lenha
Achou na praia um braço e, pelo visto,
Em queimá-lo no forno alguém se empenha,
Mas ele saltou fora – era o de Cristo!
E logo o colocaram nessa imagem
Que em seguida foi posta num altar.
Multidões de devotos em romagem
Vieram a Seus pés ajoelhar.
A fama dos milagres foi tamanha
Que se espalhou por todo o Ocidente,
A Seus pés acorreu gente de Espanha
E até de França veio o povo crente.
Assim foi, Matosinhos, terra eleita,
Entre todas, por Deus Nosso Senhor,
Para altar da imagem mais perfeita
Saída das mãos desse escultor.
E se agora tem foros de princesa
Esta vila de nobres pergaminhos,
Pode dizer que deve esta grandeza
Somente ao Bom Jesus de Matosinhos.
(Romeiro do Norte in “Programa das Festas, 1968”)

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