Romaria do Senhor de
Matosinhos
“A Festa
iniciou-se em 1732 com a inauguração das obras da Igreja Nova. Durou três dias
e teve lugar na segunda oitava do Espírito Santo. Teve início no domingo e
terminou na terça-feira, dia em que, segundo a tradição, apareceu a imagem.
Começou por ser
essencialmente religiosa. Tudo se centrava no santuário. Fora da área do templo
e do seu adro havia centros de diversões, barracas de venda de vinho e de
comidas, doçarias e tudo o que é comum em arraiais. Hoje, os papéis
inverteram-se e o que era secundário, então, passou agora a ser o centro. Por
observação directa, a festa religiosa e o culto nos dias de festa são apenas um
apêndice a tudo o mais.
A organização da festa
passou, desde há muitos anos a esta parte, das mãos da Confraria do Bom Jesus
para a Câmara Municipal (Autarquia). Mesmo o título dado às festividades mudou:
já não são oficialmente as Festas do Bom Jesus de Matosinhos, ou do Senhor de
Matosinhos, mas «Festas de Matosinhos».
A festa tem a duração
de quatro dias: sábado, domingo, segunda e terça-feira. Este último dia é
feriado municipal.”
Fonte: “paroquiadematosinhos.pt”
“Em 1881, o padre
Joaquim Antunes de Azevedo descrevia assim nas suas 'Memórias de Tempos Idos' a
Romaria do Senhor de Matosinhos:
Ainda há poucos anos,
saía uma procissão ao Senhor da Areia (ou Senhor do Padrão, acrescento eu) no
fim da Missa Solene realizada anualmente em cada terça-feira seguinte ao
Domingo do Espírito Santo;
só a partir de 1844, é
que a Romaria do Senhor de Matosinhos passou a ser realizada também no Domingo
de Pentecostes (até então, era apenas nas segunda e terça feiras seguintes);
há uns anos atrás, por
má administração temporária das esmolas do santuário, esta romaria esteve em
decadência, o que já não se verificava em 1881 quando o Mestre das Festas foi o
conhecido padre matosinhense Miguel José de Oliveira e funcionou pela 1.ª vez a
escola gratuita para 'os filhos dos irmãos' (a escola do Adro, acrescento eu).”
Cortesia de José Rodrigues
Senhor de Matosinhos em 1907
Barracas no Senhor de Matosinhos no início século XX
Cartaz das festas do Senhor de Matosinhos de 1908
Igreja do Senhor de Matosinhos, em 1908
Rua de Santana, depois Avenida
Vitória e, actualmente, a Avenida D. Afonso Henriques, c. 1910
Festas do Senhor de Matosinhos na actual Avenida D. Afonso
Henriques, em 1914
Feira da louça no arraial do Senhor de Matosinhos
Louceiras no arraial do Senhor de Matosinhos, junto do palacete
do visconde de Trevões
Festas do Senhor de Matosinhos no adro da igreja
Com uma forte ligação à cidade do Porto, as festas do Senhor
de Matosinhos foram sempre do agrado dos portuenses que a elas ocorriam em
romagem.
Os romeiros tomavam a Estrada de Cima de Matosinhos
(antigo troço da Estrada dos Nove Irmãos) vindos da Rua Direita de Cedofeita
(antes Rua da Estrada) e na Ramada Alta e no Largo do Carvalhido encontravam
arraiais de passagem para os servir durante os 4 dias que duravam as festas do
Senhor de Matosinhos.
No sítio do Ribeirinho, junto da Ramada Alta, até
cadeirinhas eram alugadas para ver passar os romeiros!
Durante o século XX, até aos dias de hoje, a romaria não
esmoreceu.
O andor com "O Senhor de Matosinhos" no começo da procissão –
Ed. Carlos Romão
Poema de Evocação do
Senhor de Matosinhos
“Lenda do Senhor de Matosinhos”
Assistindo aos tormentos de Jesus
Nicodemos ficou com o Sudário
E nuns madeiros bentos reproduz
Cinco imagens do Mártir do Calvário.
P’los judeus perseguido com furor
Nicodemos lançou ao bravo mar
Os cinco crucifixos do Senhor,
Tesoiro que queria conservar.
Essas cinco esculturas tão famosas,
Retratos verdadeiros de Jesus,
Levadas pelas ondas alterosas
Se espalharam no Mundo como a Luz.
Segundo a tradição, esse madeiro
A quem chamam Senhor de Matosinhos,
Veio parar à praia do Espinheiro
Onde foi recebido com carinhos.
Mas o povo ficou cheio de dor
Quando viu que ao Senhor faltava um braço
E logo procurou um escultor
A fim de esculpir um, em breve espaço.
Ao fazerem o braço que faltava
Os escultores viram com assombro
Que de nenhuma forma se ajustava
Inteiramente no divino Ombro.
Então, pra que não fosse destruída
Pela fúria do povo sarraceno,
Por detrás de um altar foi escondida
A escultura do meigo Nazareno.
Mais tarde uma mulher que andava à lenha
Achou na praia um braço e, pelo visto,
Em queimá-lo no forno alguém se empenha,
Mas ele saltou fora – era o de Cristo!
E logo o colocaram nessa imagem
Que em seguida foi posta num altar.
Multidões de devotos em romagem
Vieram a Seus pés ajoelhar.
A fama dos milagres foi tamanha
Que se espalhou por todo o Ocidente,
A Seus pés acorreu gente de Espanha
E até de França veio o povo crente.
Assim foi, Matosinhos, terra eleita,
Entre todas, por Deus Nosso Senhor,
Para altar da imagem mais perfeita
Saída das mãos desse escultor.
E se agora tem foros de princesa
Esta vila de nobres pergaminhos,
Pode dizer que deve esta grandeza
Somente ao Bom Jesus de Matosinhos.
(Romeiro do Norte in “Programa das Festas, 1968”)
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