quinta-feira, 27 de outubro de 2016

(Continuação 5) - Actualização em 14/12/2017, 26/10/2018 e 24/11/2020



José Joaquim Rodrigues de Freitas, nasceu no Porto a 24 de Janeiro de 1840. O pai, um prestigiado voluntário do Cerco do Porto, quis que o filho seguisse a carreira eclesiástica, tendo chegado a matriculá-lo no seminário diocesano.
Não era esse, contudo, o desejo de Rodrigues de Freitas, que, depois de abandonar o seminário, se matriculou na Academia Politécnica onde acabou por conseguir, com prémios em todos os anos do curso, o diploma de engenheiro de pontes e calçadas.
Rodrigues de Freitas formou-se, assim, em Engenharia pela Academia Politécnica do Porto, onde chegou ao lugar de "lente proprietário" (topo da carreira) com apenas 27 anos.
Notabilizou-se pela sua carreira política, ligada aos ideais republicanos e socialistas, sendo um dos homens ligados à organização do Partido Republicano Português. Revelou também uma certa simpatia pelas ideias do socialismo reformista. Foi o primeiro deputado do Partido Republicano às Câmaras, pelo Porto, entre 1870 e 1874. Voltou a ser deputado de 1879 a 1881, de 1884 a 1887 e de 1890 a 1893. Pertenceu à Maçonaria.
Rodrigues de Freitas não teve participação activa na revolta republicana de 31 de Janeiro de 1891. Mas o nome dele, sem que para tal tivesse sido contactado, figurou na lista do Governo Provisório, elaborada por Alves da Veiga, que o actor Miguel Verdial leu da varanda do edifício dos Paços do Concelho.
Enquanto outros, após o malogro da revolta, negaram a pés juntos a sua adesão ao movimento, Rodrigues de Freitas, com aquela hombridade que foi sempre o timbre do seu carácter, não só justificou o advento da revolta como assumiu toda a responsabilidade que, porventura, lhe fosse atribuída.
Filiado na Liga Liberal do Norte, desempenhou importante papel na estruturação do movimento republicano no último quartel do século XIX. Foi na sequência desse trabalho que redigiu a circular de constituição do Centro Eleitoral Republicano e Democrático do Porto.
Como escritor, legou-nos uma obra escassa em quantidade mas rica de conteúdo. Foi, no entanto, como jornalista que mais fez notar a sua faceta de homem criador e talentoso, ao espalhar fecunda e proveitosa colaboração por vários jornais da época.
Desde muito novo, isto é, desde os bancos da escola, que José Joaquim Rodrigues de Freitas manifestou uma inclinação invulgar para a escrita jornalística, que cultivou com assiduidade e com proveito natural da comunidade e dos seus leitores.
Daí que sejam inteiramente justas as palavras que um seu biografo escreveu logo a seguir à sua morte, ocorrida em 28 de Julho de 1896:
"… deve-lhe muito, deve-lhe imenso esta sociedade que ele nunca maltratou, porque era um delicado por temperamento, um forte a apontar as fraquezas dos outros…".
Da sua obra, como escritor e jornalista, salientam-se A Igreja, Cavour e Portugal, Princípios de Economia Política e Páginas Soltas, compilação de vários dos seus artigos soltos foram reunidos, postumamente, em 1906, com prefácio de Carolina Michaëlis e Duarte Leite.
Também teve colaboração na Galeria Republicana (1882-1883) e, postumamente, na revista Princípio (1930).
Actualmente o seu nome é hoje recordado na Escola Secundária Rodrigues de Freitas (antigo Liceu de D. Manuel II), no Porto.
Figura de grande prestígio, íntegra, de elevada estatura moral e intelectual, Rodrigues de Freitas gozava da maior consideração, não apenas no Porto, (a sua cidade natal), mas em todo o Norte, onde o povo carinhosamente o tratava por "Freitinhas".





Horácio António de Almeida Marçal (1906-1988) foi Investigador e divulgador de enorme profundidade, da história e cultura regionais, conferencista, participante activo em diversos congressos.
Horácio Marçal nasceu e morreu no Porto.
Profissional de comércio na cidade do Porto, atividade da qual se veio a reformar em 1982, foi um dos exemplos mais eloquentes do intelectual interessado e empenhado na busca da história do Grande Porto, em geral, e do concelho de Matosinhos, em particular.
Investigador e divulgador de enorme profundidade, da história e cultura regionais, o seu trabalho publicado ultrapassa, largamente, um milhar de artigos, entre prosa e poesia.
 Em 1928, iniciou a sua atividade literária no quinzenário académico Alma Lusa, não mais tendo parado no que respeita à investigação e publicação dos mais variados aspetos da cultura e história portuenses. Desde o Jornal de Notícias à revista O Tripeiro, são incontáveis os seus artigos.
Conferencista de grande qualidade concedeu o seu largo saber em palestras e conferências nas mais diversas coletividades: Orfeão de Matosinhos; Câmara Municipal de Matosinhos, Santa casa da Misericórdia e Associação Recreativa Aurora da Liberdade.
Participante ativo em diversos congressos, foi membro auxiliar da extinta Comissão de Etnografia, anexa ao Museu de Etnografia e História, desde 1950. Durante um quarto de século, e até 1975, ocupou vários cargos na Associação Cultural Amigos do Porto, incluindo os de secretário e secretário-geral da mesma, tendo sido nomeado Sócio de Mérito em 1985. Foi membro da Junta de Conciliação da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, entre 1972-75 e membro da Comissão Executiva da Exposição Cerâmica Portuense – Séculos XIX/XX, realizada na Casa do Infante em 1973.





O padre Agostinho Rebelo da Costa era natural de Braga, presbítero secular do Hábito de S. Pedro, doutor em teologia pela Universidade de Coimbra, cavaleiro professo na Ordem de Cristo. Publicou em 1788 a célebre e tão discutida «Discrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto».Trata-se de uma obra absolutamente incontornável para a História e conhecimento da cidade do Porto no Século XVIII.
Muito pouco se sabe mais, da vida de Agostinho Rebelo da Costa. No prefácio do Doutor Artur de Magalhães Basto ficámos a saber, então, que “foi presbítero secular, cavaleiro professor da Ordem de Cristo, doutor em Teologia pela Universidade de Coimbra, natural de Braga, filho de Manuel Rebelo da Costa e de Maria Vieira de Azevedo. Faleceu no Porto a 9 de Janeiro de 1791, e foi sepultado no extinto Convento dos Carmelitas, segundo a sua disposição testamentária.”









Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco (Lisboa, Encarnação, 16 de Março de 1825 — Vila Nova de Famalicão, São Miguel de Seide, 1 de Junho de 1890) foi um escritor português, romancista, cronista, crítico, dramaturgo, historiador, poeta e tradutor. Foi ainda o 1.º Visconde de Correia Botelho, título concedido pelo rei D. Luís.
Camilo Castelo Branco foi um dos escritores mais prolíferos e marcantes da literatura portuguesa.
Camilo Ferreira Botelho Castelo Branco nasceu, então, em Lisboa a 16 de Março de 1825, num prédio da Rua da Rosa, actualmente com os nºos 5 a 13.
Filho de Manuel Joaquim Botelho Castelo Branco, nascido na casa dos Correia Botelho em São Dinis, Vila Real, a 17 de Agosto de 1778 e que teve uma vida errante entre Vila Real, Viseu e Lisboa, onde faleceu a 22 de Dezembro de 1835 e de uma criada deste, Jacinta Rosa do Espírito Santo Ferreira, foi baptizado na Igreja dos Mártires a 14 de Abril de 1825.
Os seus padrinhos foram o dr. José Camilo Ferreira Botelho, de Vila Real, e Nossa Senhora da Conceição.
Camilo foi registado como filho de mãe incógnita, pelo que se diz, porque o seu pai e a sua avó não queriam que o nome Castelo Branco estivesse envolvido com alguém de tão humilde condição.
Apenas com dois anos de idade, Camilo em 1827, ficou órfão de mãe, sendo perfilhado pelo pai, juntamente com a sua irmã mais velha, Carolina, filha do mesmo casal.
Por esta altura, a sua família deslocou-se para Vila Real, onde o pai fora colocado como responsável pelos correios.
Em 1831 o pai e os seus dois filhos regressaram à capital, após a demissão de Manuel Joaquim por acusação de fraude. Com a morte deste, as duas crianças foram entregues aos cuidados de sua tia paterna, D. Rita Emília da Veiga Castelo Branco.
A morte do pai em 1835 obrigou-o a ir viver em 1836 para Vila Real, com a sua irmã.
Passam a viver com uma tia paterna.
Como era uma criança sensível e muito inteligente, vai sofrer grandes perturbações com todos os acontecimentos da sua infância.
Foi recolhido por aquela tia de Vila Real e, mais tarde, em 1839, por sua irmã mais velha, em Vilarinho de Samardã, Carolina Rita Botelho Castelo Branco, nascida em Lisboa, Socorro, a 24 de Março de 1821, recebendo uma educação irregular através de dois padres de província.
Entre 1836 e 1839, Camilo vive na casa mandada construir por seu avô em Vila Real na actual Rua Camilo Castelo Branco (antiga Rua da Piedade), na chamada Casa dos Brocas.



Casa dos Brocas



Casa da família de Camilo em Vilarinho da Samardã – Fonte, Site: panoramio.com



Fonte: historinhasdamedicina.blogspot 




Acima está uma gravura inserida no livro “O Romance do Romancista” de Alberto Pimentel, que representa a casa do padre António d'Azevedo, cunhado da irmã de Camilo, Carolina. O escritor morou ali durante vários meses, na sua adolescência.
Camilo, na adolescência, formou-se lendo os clássicos portugueses e latinos e literatura eclesiástica e contactando a vida transmontana ao ar livre.
Com apenas 16 anos (18 de Agosto de 1841), casa-se em Ribeira de Pena, Salvador, com Joaquina Pereira de França (Gondomar, São Cosme, 23 de Novembro de 1826 - Ribeira de Pena, Friúme, 25 de Setembro de 1847), filha de lavradores, Sebastião Martins dos Santos, de Gondomar, São Cosme e Maria Pereira de França e instala-se em Friúme.



Casa da mulher de Camilo em Friume - In O romance do Romancista



O casamento precoce parece ter resultado de uma mera paixão juvenil e não resistiu muito tempo. No ano seguinte, prepara-se para ingressar na universidade, indo estudar com o Padre Manuel da Lixa, em Granja Velha.
Em 1843 nasce Rosa Pereira de França Castelo Branco.
Nesse ano, o jovem Camilo fixou-se pela primeira vez no Porto, primeiro numa casa da Rua Escura e posteriormente na Casa da Ramadinha, que era administrada por uma senhora cha­mada Ana, carinhosamente tratada pela po­pulação em geral, por "D. Ana dos estudan­tes". O edifício era modesto mas distinguia-se dos restantes pela particularidade de ter a frontaria engrinaldada por uma secular par­reira e situava-se na parte superior da Rua da Fábrica, mesmo em fren­te à Rua de Santa Teresa, num prédio de três andares.
Curioso que, mais tarde, ainda na mesma rua se hospedaria Camilo, primeiro na Hospedaria Francesa e, depois, no Hotel Paris, onde privou com outros escritores importantes da época.
Em Trás-os-Montes deixara a tia Rita, a mulher e uma filha de meses.
Matriculou-se no 1º ano de Anatomia da Escola Médico-Cirúrgica e depois em Química, na Academia Politécnica.
Frequentou o primeiro ano do Curso de Medicina e no ano seguinte voltou a inscrever-se na Escola Médica, mas perdeu o ano por faltas, uma vez que era mais assíduo frequentador dos ambientes boémios do que das aulas.
Em 1844 Camilo começa então a participar nos abadessados ou outeiros de abadessados (certames poéticos que ocorriam nos pátios conventuais e duravam três dias e três noites, nos quais os poetas glosavam motes dados pelas Monjas, que em troca, ofereciam doces e vinho fino) e publicou as primeiras obras poéticas.
Em 5 de Maio de 1845, foi largamente anunciado um duelo entre Camilo Castelo Branco e António de Freitas Barros, que chegaram no dia marcado e ao local aprazado, a Torre da Marca, devidamente preparados para “matar ou morrer”. Vinham honrosamente montados em jumentos mas foram impedidos de realizar o seu intento pela polícia que acabou por prendê-los. Quando interrogados os pretensos contendores confessam que o objectivo não era realizar um duelo a sério, mas apenas ridicularizar a aguda “duelite” que era tão vulgar naqueles tempos.
Camilo Castelo Branco descreve o episódio no livro “Noites de Insónia”.
Depois de conseguir tomar posse do que restava da sua herança, voltou a Vila Real.
Nesta terra perdeu-se de amores pela prima Patrícia Emília do Carmo Barros. Com ela fugiu para o Porto.
Em Outubro de 1846 passou 11 dias na Cadeia da Relação (de 12 a 23 de Outubro), por ter sido acusado de roubar 20 000 cruzados a João Pinto da Cunha, pai de Patrícia e amante da sua tia. 
Sobre este caso o próprio Camilo dá-nos a sua versão dos factos no romance “Maria da Fonte”:

“Este bom homem (João Pinto da Cunha), para me salvar de um enlace indiscreto, ordenava ao seu agente no Porto que me fizesse prender como raptor de uma mulher sem pai nem mãe e de maioridade que me acompanha espontaneamente para Coimbra; e, a não ser este delito eficaz para a prisão, “requerida por meu tio” como se eu fosse o raptado, então autorizava o agente a queixar-se de que eu o esbulhara de ricos valores em jóias e baixela, 20 000 cruzados, calculava-se no botequim do Guichard.
Para que os genealogistas provindouros da minha linhagem se não vejam
embaraçados com esta vergôntea de Pintos e Cunhas na minha árvore, devo esclarecer que este homem não me era nada - era marido de uma tia minha.
Provavelmente, se eu teimasse em matrimoniar-me honradamente com a
raptada, seria pronunciado como ladrão de jóias e baixela, 30 000 cruzados - computava o botequim da Águia”.

Enquanto João Pinto da Cunha precisava o caso, na imprensa da época:

Sr. Redator:

Insto pelo favor de transcrever no seu jornal as seguintes linhas:
Quem fez prender na Relação dessa cidade Camilo Castelo Branco, fui eu que sou tio. A causa por que eu o prendi não é essa que os seus detratores lhe fulminam. E um “rapto”, não é um “roubo”. Para obstar a uma ligação que o faria desgraçado busquei um pretexto; se é dele que se aproveitam os seus inimigos, declaro que é falso, e autorizo meu sobrinho a tirar a desforra legal de qualquer ultraje que se lhe faça com alusão à sua captura.
Vila Real, 27 de Fevereiro de 1849.
João Pinto da Cunha”.

Depois de libertado, regressou a Vila Real e manteve a relação com a prima Patrícia Emília.
Ainda a viver com Patrícia Emília do Carmo de Barros, Camilo publicou no “O Nacional” correspondências contra José Cabral Teixeira de Morais, Governador Civil de Vila Real, com quem colaborava como amanuense.
Esse posto, segundo alguns biógrafos, surge a convite após a sua participação na Revolta da Maria da Fonte, em 1846, em que terá combatido ao lado da guerrilha Miguelista.
Há quem diga que, em 1846, foi iniciado na Maçonaria do Norte, o que é muito estranho ou algo contraditório, pois há indicações de que, pela mesma altura, na Revolta da Maria da Fonte, lutava a favor dos Miguelistas como "ajudante às ordens do general escocês Reinaldo MacDonell” que criaram a Ordem de São Miguel da Ala precisamente para combater a Maçonaria.
Do mesmo modo, muita da sua literatura demonstra defender os ideais legitimistas e conservadores ou tradicionais, desaprovando os que lhe são contrários.
Na sequência da morte da sua esposa, Joaquina Pereira em 1847, voltou ao Porto.
No “O Nacional” escreve Camilo a crónica que indispôs a cidade do Porto, intitulada “ Que é o Porto?”, respondendo caricaturando sarcasticamente alguns traços negativos da mentalidade mercantil dos burgueses do Porto:

“Ânsia de ganhar dinheiro nem sempre por processos honestos, algum espírito exibicionista no vestir e no comer e até no rezar, mentalidade de bairro que não tolerava os que fugiam ao comportamento-padrão, incapacidade para reconhecer os defeitos indígenas reputando-os de virtudes, e para depreciar os méritos dos de fora considerando-os como defeitos, desprezo pelas letras e pela instrução, analfabetismo primário, falta de classe das meninas e as mulheres e ausência generalizada de elasticidade mental”.

Por outro lado numa atitude um pouco esquizofrénica em 1853, a propósito da creche do Porto cuja causa advoga, asseverava:
“poderíamos jurar que não é baldado o supplicar aos generosos corações dos habitantes do Porto, onde mais de uma vez, se encontram modelos de beneficência, e lances admiráveis de compaixão pela invalidez”.

E em 1868, sobre as aldeias do Minho que tanto descreveu nas suas virtudes dizia:

 “ai, meus amigos, as aldeias do Minho! como aquillo é torpe e melancólico! como tudo ali degenerou para nojos e tristezas!”— a motivação que o estimula parece ser menos a denúncia da imoralidade mascarada de inocência do que o despeito pelo facto de o vigário da terra o ter na conta de ímpio”.


Em 1848, Camilo abandona Patrícia, fugindo para casa da irmã, residente agora em Covas do Douro.
Neste ano morre a filha Rosa e nasce a filha Bernardina Amélia (casou com um capitalista idoso), fruto da sua relação com Patrícia Emília, criança que foi colocada na Roda dos Expostos, depois entregue à freira Isabel Cândida Vaz Mourão, do portuense convento de São Bento de Avé-Maria, amante de Camilo.
Tenta então, no Porto, o curso de Medicina, que não conclui, optando depois por Direito. A partir de 1848, faz uma vida de boémia repleta de paixões, repartindo o seu tempo entre os cafés e os salões burgueses e dedicando-se entretanto ao jornalismo.
Em 1851, já tinha passado algum tempo na capital, onde redigiu o seu primeiro romance, Anátema, publicado no Porto.
Toma então parte na polémica entre Herculano e alguns padres sobre o milagre de Ourique publicando o opúsculo “O Clero e o Sr. Alexandre Herculano”, defesa que desagradou a Herculano e enamora-se da escritora Ana Augusta Plácido, noiva de Manuel Pinheiro Alves.
Ana Plácido entretanto tornara-se mulher do negociante Manuel Pinheiro Alves, um brasileiro que o inspira como personagem em algumas das suas novelas, muitas vezes com caráter depreciativo.
Nesta fase da sua vida, em 1852, imbuído de um surpreendente fervor religioso que se julga ter sido inspirado na impressão causada pelo exemplo do Dr. Câmara Sinval, lente da Escola Médica, que, já idoso, tomou ordens tornando-se pregador em S. Filipe de Nery, ponderou seguir uma carreira religiosa.
Para tal, matriculou-se nas Aulas de Teologia, Dogmática e Moral, do Seminário Diocesano, ao tempo instalado no Paço Episcopal, e chegou mesmo a requerer ordens menores que abandona pouco depois.



Aqui no Paço Episcopal frequentou Camilo as aulas de Teologia Dogmática e Moral - In "O romance do Romancista"


Camilo Castelo Branco viria a ter com Ricardo Clamouse Brown uma disputa que ficou célebre, na cidade do Porto, ocorrida segundo se crê, em 1855.
Ricardo Clamouse Brown era filho do grande negociante de vinhos do Porto, Manuel de Clamouse Brown, que foi fidalgo cavaleiro da Casa Real e da poetisa D. Maria da Felicidade do Couto Brown, com quem Camilo Castelo Branco terá mantido uma correspondência de amor platónico, que originou o famoso duelo, na Afurada, no qual Camilo terá levado uma estocada numa perna.
A poetisa Felicidade Browne distinguiu-se pelos seus grandes dotes e rara sensibilidade poética. Usando pseudónimos como “A Coruja Trovadora” e “Sóror Dolores” teve grande aceitação na época, tendo ficado também conhecida, pelos Saraus Literários em sua casa, frequentados por gentes do Teatro e escritores como Arnaldo Gama, Ricardo Guimarães e Camilo Castelo Branco.
No seu tempo, ficou também célebre pelos bailes e festas que dava em sua casa. Foi sendo descrito como um "árbitro da elegância", ditando a moda na cidade. Poeta e músico, foi também grande viajante e diplomata. Um dos biógrafos refere que morreu na Foz do Douro em Agosto de 1900. 
Em 1856, instala-se em Viana do Castelo, onde trabalhou como redactor do periódico “A Aurora do Lima”. Fruto da sua irrequietude, ao fim de dois meses, está de regresso ao Porto.




Casa em S. João de Arga (Viana do Castelo) onde morou Camilo - In O romance do Romancista



Camilo Castelo Branco residiu “alguns meses”, em 1856, em Viana do Castelo, onde desempenhou as funções de editor no Aurora do Lima, jornal mais antigo do continente, fundado em 1855, pelo amigo de todas as horas – José Barbosa e Silva.
Muito provavelmente, os dois amigos ter-se-ão conhecido no Colégio da Formiga, em Ermesinde, Valongo.
José Barbosa e Silva (reconhecidamente de abastada família) foi um dos amigos mais dedicados e compreensivos de Camilo, sempre de bolsa aberta para o socorrer, tendo sido eleito pelo partido Progressista Histórico três vezes nas Cortes como deputado pelo círculo de Viana. Acabou por falecer em 1865, ainda jovem, com 37 anos, não chegando a ocupar o lugar de embaixador em Constantinopla, para o qual fora nomeado.
Chegado de Viana do Castelo, Camilo Castelo Branco dá início aos esforços finais de sedução para a conquista de Ana Plácido.
Muito rapidamente, esta ligação amorosa viria a tornar-se pública e notória.
Camilo seduz e rapta Ana Plácido.
Após passarem por Lisboa em 1859 voltam ao Porto e hospedam-se no Hotel do Cisne.
A 11 de Agosto de 1859, nasceu Manuel Plácido, supostamente filho de Camilo e Ana Plácido, mas que veio a ser registado legalmente como filho de Pinheiro Alves.
Aconselhado por amigos, Camilo ruma à Foz do Douro onde se instala brevemente para voltar de seguida a Lisboa.
Camilo Castelo Branco também esteve escondido na casa do amigo José Cardoso Vieira de Castro, na vila de Fafe, na freguesia de Paços. Essa estada de Camilo, na Casa do Ermo, em 1860, é motivo de orgulho para os locais daquela freguesia, que já foi “Passos” (com ss). No livro "Memórias do Cárcere", surge a referência à passagem por Paços.
Naquela época, o caso emocionou a opinião pública, pelo seu conteúdo tipicamente romântico de amor contrariado, à revelia das convenções e imposições sociais.
Depois de algum tempo a monte, são capturados e julgados pelas autoridades.
Foram ambos enviados para a Cadeia da Relação, no Porto, onde Camilo conheceu e fez amizade com o famoso salteador Zé do Telhado.
A 1 de Outubro de 1860 entrega-se na cadeia.
A 23 de novembro de 1860, D. Pedro V visita a Cadeia da Relação do Porto, encontra-se com Camilo e Ana Plácido.

“… Passou Sua Majestade à enfermaria dos presos, e à das presas, em seguida. Na extrema desta há uma porta que se abre para o quarto de uma senhora, que ali estava presa.
– Que é ali dentro?
– Saberá Vossa Majestade – disse o carcereiro – que é o quarto da senhora [D. Ana Plácido].
O rei entrou, e a senhora foi chamada do corredor aonde tinha a seu asilo de trabalho.
Com a senhora veio um menino nos braços de sua ama.
D. Pedro V cumprimentou a presa, perguntando-lhe o tempo de sua prisão. Reparou no menino, e acarinhou-o, perguntando-lhe o nome e a idade. A mãe respondeu pela criancinha, e o rei deteve-se a contemplar a infeliz. Ao lado do monarca compungido estava o marquês de Loulé, pensando, porventura, que naquele dia tinha de banquetear-se no palácio de ima irmã daquela encarcerada.
Saiu Sua Majestade e, ao descer as escadas, proferiu as palavras iniciais deste capítulo:
Isto precisa de ser completamente arrasado”.
(In Memórias do Cárcere)


Camilo na prisão receberia a visita de D. Pedro V, por duas ocasiões, e escreveu, no prazo recorde de 15 dias, o seu mais lido e popular romance, Amor de Perdição.
A 17 de Outubro de 1861, é libertado.
Depois de absolvidos do crime de adultério pelo Juiz José Maria de Almeida Teixeira de Queirós (pai de José Maria de Eça de Queirós), Camilo e Ana Plácido passaram a viver juntos, contando ele 38 anos de idade.
Em 1862, vivem em Lisboa, mas, no ano seguinte, voltam ao Norte. 
Abra-se um parêntesis para dizer quem foi essa personagem que dá pelo nome de Zé do Telhado e que conviveu com Camilo na cadeia.


“…José Teixeira da Silva (Zé do Telhado) nasceu em 1816 (foi em 1818), provavelmente no lugar do Telhado, do concelho de Penafiel. Alistou-se nos Lanceiros da Rainha D. Maria II, tomando parte em vários combates, ascendendo distintamente ao posto de sargento. Obedeceu às ordens de Saldanha na Revolta dos Marechais, em 12 de Julho de 1837, que colocou no poder o marquês Sá da Bandeira. Na Revolução de 1846, acompanhou o então Visconde Sá da Bandeira a Valpaços, e em boa hora para aquele, pois lhe salvou a vida. Recebeu a Torre-e-Espada, ordem honorífica criada por D. Afonso V destinada a distinguir elementos das forças armadas, tendo os seus possuidores honras militares e precedência a todas as outras ordens daquelas forças, em igualdade de grau. Terminada a guerra após a Convenção de Gramido, tentou obter um modesto emprego no Depósito do Tabaco, instituição economicamente importante para o norte, nomeadamente para o Porto e que o grande jurista e liberal, membro do Sinédrio, Ferreira Borges salvara da gula dos franceses comandados por Junot. Não lhe deram o emprego…
...Desiludido, voltou para casa onde o esperavam a mulher e cinco filhos à beira da miséria. Acabou numa falperra à semelhança de um irmão, do pai e do avô Sodiano, distribuindo generosamente o produto dos roubos. Foi julgado por isso e por assassínio de três pessoas, cometidos pelos seus capangas: um padre, um criado da Casa do Carrapatelo e um correlegionário que, num assalto fora ferido, ficando incapaz de fugir. Foi deportado para Angola onde morreu cheio de prestígio entre os indígenas, no Malongo ou em Xissa, em 1875...”
História do Zé do Telhado – blogue Calçada da Miquinhas


Entretanto, o primeiro filho de Ana Plácido foi seguido por mais dois de Camilo. Com uma família tão numerosa para sustentar, Camilo começa a escrever a um ritmo alucinante.
Quando o ex-marido de Ana Plácido falece, a 15 de Julho de 1863, o casal vai viver para uma casa, em São Miguel de Seide, que o filho do comerciante recebera por herança do pai.
Na cidade do Porto Camilo teve várias moradas e, em 1864, esteve na Rua do Sol.
Em 28 de Dezembro de 1865, Bernardina Amélia de Carvalho (1848-1931), de 16 anos, filha de Camilo Castelo Branco e de Patrícia Emília de Barros, criada no Convento de S. Bento de Avé-Maria, sob a supervisão da freira Isabel Cândida, amiga de Camilo, casa, em Valbom, Gondomar, com António Francisco de Carvalho, um abastado capitalista, retornado do Brasil.
Camilo opõe-se ao casamento. E, só em 1874, se reconcilia com genro, desenvolvendo-se entre os dois uma relação cordial. Do referido casamento nasceram duas crianças, uma rapariga a quem deram o nome de Camila Cândida de Carvalho e um rapaz, Camilo Castelo Branco de Carvalho.
Em 1868, Camilo Castelo Branco passou para a Rua do Triunfo, em frente ao portão de acesso de veículos ao Palácio de Cristal, vindo da Rua do Almada e tendo, em 1872, passado a residir em S. Lázaro onde, em 2 de Março desse ano, foi agraciado pelo imperador do Brasil D. Pedro II, com a ordem da Rosa.
No prédio contíguo, vivia o poeta Guilherme Braga, amigo de Camilo.
Entretanto, em Fevereiro de 1869, recebeu do governo da Espanha a comenda de Carlos III.
Em 1870, devido a problemas de saúde, Camilo vai viver esporadicamente para Vila do Conde, onde se mantém até 1871.
Foi, aí, que escreveu a peça de teatro «O Condenado» (representada no Porto em 1871), bem como inúmeros poemas, crónicas, artigos de opinião e traduções.
Outras obras de Camilo estão associadas a Vila do Conde. Na obra «A Filha do Arcediago», relata a passagem de uma noite do arcediago, com um exército, numa estalagem conhecida por Estalagem das Pulgas, outrora pertencente ao Mosteiro de São Simão da Junqueira e situada no lugar de Casal de Pedro, freguesia da Junqueira. Camilo dedicou ainda o romance «A Enjeitada» a um ilustre vilacondense seu conhecido, o Dr. Manuel Costa.



O 1º prédio à esquerda da gravura era o de Camilo em 1872 - In O romance do Romancista



Naquele ano de 1872, queimou o romance A Infanta Capelista e em 1873, viajou entre Braga, Porto, Póvoa de Varzim e Lisboa. Em 1878, pioraram os problemas de visão e foi ferido num acidente de comboio entre São Romão e Ermesinde.
Entre 1873 e 1890, Camilo deslocou-se regularmente à vizinha Póvoa de Varzim, perdendo-se no jogo e escrevendo parte da sua obra no antigo Hotel Luso-Brazileiro, junto do Largo do Café Chinês. Reunia-se com personalidades de notoriedade intelectual e social, como o pai de Eça de Queirós, José Maria de Almeida Teixeira de Queirós, magistrado e Par do Reino, o poeta e dramaturgo poveiro Francisco Gomes de Amorim, Almeida Garrett, Alexandre Herculano, António Feliciano de Castilho, entre outros. Sempre que vinha à Póvoa, convivia regularmente com o Visconde de Azevedo no Solar dos Carneiros.
Francisco Peixoto de Bourbon conta que Camilo, na Póvoa, «tendo andado metido com uma bailarina espanhola, cheia de salero, e tendo gasto, com a manutenção da diva, mais do que permitiam as suas posses, acabou por recorrer ao jogo na esperança de multiplicar o anémico pecúlio e acabou, como é de regra, por tudo perder e haver contraído uma dívida de jogo, que então se chamava uma dívida de honra».
Camilo era conhecido pelo mau feitio. Na Póvoa mostrou outro lado. Conta António Cabral, nas páginas de «O Primeiro de Janeiro» de 3 de Junho de 1890:
 «No mesmo hotel em que estava Camilo, achava-se um medíocre pintor espanhol, que perdera no jogo da roleta o dinheiro que levava. Havia três semanas que o pintor não pagava a conta do hotel, e a dona, uma tal Ernestina, ex-atriz, pouco satisfeita com o procedimento do hóspede, escolheu um dia a hora do jantar para o despedir, explicando ali, sem nenhum género de reservas, o motivo que a obrigava a proceder assim. Camilo ouviu o mandado de despejo, brutalmente dirigido ao pintor. Quando a inflexível hospedeira acabou de falar, levantou-se, no meio dos outros hóspedes, e disse: - A D. Ernestina é injusta. Eu trouxe do Porto cem mil reis que me mandaram entregar a esse senhor e ainda não o tinha feito por esquecimento. Desempenho-me agora da minha missão. E, puxando por cem mil reis em notas entregou-as ao pintor. O Espanhol, surpreendido com aquela intervenção que estava longe de esperar, não achou uma palavra para responder. Duas lágrimas, porém, lhe deslizaram silenciosas pelas faces, como única demonstração de reconhecimento



A 17 de Setembro de 1877, Camilo viu morrer na Póvoa de Varzim, aos 19 anos, o seu filho predileto e o primeiro de Ana Plácido, Manuel Plácido Pinheiro Alves, de uma "febre", provavelmente meningite. Parece ter sido um jovem que amava bailes.
Em 1883, Camilo terá leiloado a biblioteca pessoal, em Lisboa, devido a dificuldades financeiras.
Em 1882, as relações com o filho Nuno, já se tinham degradado ao ponto de Camilo ter acabado por expulsá-lo de casa.
Nuno Plácido Castelo Branco e a sua mulher Ana Rosa Correia acabariam por viver com os seus sete filhos, na chamada “Casa do Nuno”, em S. Miguel de Seide, bem perto da casa de Camilo.
Aquela casa, estilo “chalet”, fora construída numa parcela de terreno herdado de Manuel Pinheiro Alves (primeiro marido de Ana Plácido) e vendido a
António José da Silva Pinto (1848-1911), escritor e jornalista que, decidido a partilhar e usufruir da convivência de Camilo, o haveria de visitar várias vezes (acompanhado de Narciso de Lacerda), pretendendo, em sequência, aí construir uma casa. Camilo tê-lo-á apresentado a um empreiteiro local, um pedreiro de nome Malvar (o mesmo que terá erigido a igreja paroquial),mas acabaria por ser ele a suportar as despesas da construção do chalet.
Na obra "Echos Humorísticos do Minho", conta uma história de um antepassado daquele pedreiro, a propósito de uma placa cravada na fachada daquela igreja.
O escritor chegou a residir na “Casa do Nuno”, numa fase final da sua vida, bem como Jorge, o filho louco de Camilo e Ana Plácido, falecido aos nove dias de Setembro de 1900.
Após a morte do escritor, a sua viúva aí procurou, também, refúgio.
A moradia ficou ainda a ser conhecida por “Chalet Silva Pinto”.
 
 
 

“Casa do Nuno”, em S. Miguel de Seide
 
 
 
 
Nuno Castelo Branco viria a ser um estroina irresponsável, sempre metido em sarilhos sórdidos.
Desordeiro, alcoólico, perdulário, viciado no jogo, e incapaz de trabalhar, em 1881, casou-se por interesse com uma herdeira rica, Maria Isabel da Costa Macedo que raptara, instigado e ajudado pelo seu pai Camilo.
Com Maria Isabel da Costa Macedo teve uma filha, Camila, que acabaria por morrer poucos dias depois da infeliz mãe, em 1884.
Por via da morte da filha, Nuno herdou o remanescente da fortuna da mulher, que entretanto fora gastando na boémia continuada.
No mesmo ano, ligou-se a Ana Rosa Correia descendente de lavradores de Landim, com quem teria 7 filhos.
Acabou, por influência de Camilo, por ser Barão de S. Miguel de Seide, mas, pretendendo um pouco mais, viria a ser Visconde de S. Miguel de Seide.
Nem, assim, ganhou juízo, tendo morrido 6 anos após o suicídio do pai.
O outro filho, Jorge, era declaradamente louco, com episódios violentos em que agredia os pais, tendo estado mesmo internado no Hospital de Alienados Conde Ferreira, entre 2 de Agosto e 27 de Outubro de 1886, aos cuidados dos psiquiatras Ricardo Jorge, António Maria de Sena e Júlio de Matos, tendo sido considerado um doente irrecuperável. Terminou os seus dias num estado de apatia depressiva e de degradação.
Em 1885, é concedido a Camilo, o título de 1.º Visconde de Correia Botelho.




Casa onde casou Camilo na Rua de Santa Catarina - In O romance do Romancista



Na Rua de Santa Catarina, à data nº 458, hoje com o nº de polícia 630, 2º andar, contrai Camilo matrimónio com Ana Plácido, em 9 de Março de 1888, sendo casados pelo abade de Santo Ildefonso, pois, tinha certidão médica, de que estava impedido de sair de casa.
O padre Alexandrino Brochado (Paços de Ferreira, 1920; Porto, 2016), que foi fundador da Cáritas Portuguesa e seu presidente a partir de 1947, desde 1953, Reitor da Capela das Almas, Medalha de Mérito Municipal Grau Prata pela Câmara Municipal do Porto e que muitos portuenses conhecem por terem assistido, durante a segunda metade do século XX, a aulas por si dadas, no Liceu de Alexandre Herculano, conta-nos a cerimónia do casamento de Camilo, no texto seguinte:
 
 
“Ao procurar elementos sobre o casamento do Camilo Castelo Branco, encontrei referências várias ao Cónego Alves Mendes que foi um dos maiores oradores sacros do século passado. Ele teve um papel preponderante, talvez decisivo, no casamento de Camilo que se realizou no dia 9 do Março de 1888, no segundo andar do prédio da Rua do Santa Catarina, onde então residia e cuja porta de entrada tinha o número 458. Os números actuais do edifício, que é o da Casa Nun'Álvares, são o 626, 628 e 630. No segundo andar funciona, hoje, a tipografia do "A Ordem". Aqueles números já existiam a partir de 1902. Tudo leva a concluir que os antigos números 454, 456 e 458 correspondem agora aos números 626, 628 e 630.
Acresce que a gravura do prédio publicada em 1890 por Alberto Pimentel (O Romance do Romancista, pág. 272) coincide perfeitamente com a traça do prédio actual, um tanto apenas de aparência diferente na caixilharia do vidro, que há anos foi remodelada.
Neste prédio mandou há tempos a Câmara Municipal do Porto colocar uma placa metálica assinalando a efeméride, sem ter aparecido qualquer referência nos órgãos da comunicação social.
Da mesma forma a cerimónia do casamento do Camilo foi discreta e quase a desconheceu a imprensa. Apenas a noticiou a Gazeta do Portugal.
Segundo um apontamento do Nuno Castelo Branco encontrado em S. Miguel do Ceide, 0 casamento de Camilo efectuou-se pelas nove horas e dez minutos da noite, a pretexto do nubente se sentir gravemente doente. A ideia de ser na Sé Catedral enjeitou-a o romancista, por lhe repugnar a grandeza do local.
Presidiu ao acto o abade de Santo Ildefonso, Dr. Domingos de Sousa Moreira Freire. As testemunhas escolhidas por Camilo, foram o Dr. Ricardo Jorge, 0 Cónego Alves Mendes, Joaquim Ferreira Moutinho e João Freitas Fortuna.
Assistiram também o Visconde S. Miguel de Ceide (Nuno Castelo Branco), o Dr. Urbino de Freitas e o actor António Dias Guilhermino. Explica-se a ausência do P. Sena Freitas, grande amigo de Camilo, pois desde 1884 estava no Brasil, à frente de um colégio, que fundara em S. Paulo. Ricardo Jorge e Alves Mendes foram os homens que mais influenciaram Camilo para casar religiosamente. Alves Mendes, depois de tudo preparado para o casamento religioso, deslocou-se à residência paroquial de Santo Ildefonso a convidar o pároco para efectuar o referido casamento. Acabado de chegar, é surpreendido pelo filho de Camilo que lhe comunica, nervosamente, que Camilo já não quer casar.
Alves Mendes passa por cima desta informação do filho de Camilo e insiste com o abade Dr. Moreira Freire para o acompanhar ao prédio nº 626, da rua de Santa Catarina, residência do escritor.
Quando chegaram os dois, encontram Ana Plácido debulhada em lágrimas. Camilo já não quer casar e está renitente. Alves Mendes não desiste, convence Camilo a mudar de opinião e aceitar o casamento religioso. Este efectua-se, abençoado pelo abade de Santo Ildefonso, e no fim houve beberete com abraços, doces e vinho do Porto. Alves Mendes, o grande orador sacro do tempo de Camilo, ganhara a cartada e o casamento religioso fez-se.
Ninguém pode negar que Alves Mendes foi interveniente decisivo em todo este processo do casamento de Camilo e certamente o brinde mais efusivo e entusiasta, com um cálice de Porto, foi o seu, no casamento do romancista.”
Alexandrino Brochado


Agora a casa é o nº 630, 2º andar – Ed. JPortojo


Camilo passa os últimos anos da vida ao lado dela, não encontrando a estabilidade emocional por que ansiava. As dificuldades financeiras, a doença e os filhos incapazes (considera Nuno um desatinado e Jorge um louco) dão-lhe enormes preocupações.
Desde 1865 que Camilo começara a sofrer de graves problemas visuais (diplopia e cegueira nocturna). Era um dos sintomas da temida neurosífilis, o estado terciário da sífilis ("venéreo inveterado", como escreveu em 1866 a José Barbosa e Silva), que além de outros problemas neurológicos lhe provocava uma cegueira, aflitivamente progressiva e crescente, que o ia mergulhando cada vez mais nas trevas e num desespero suicidário. Ao longo dos anos, Camilo consultou os melhores especialistas em busca de uma cura, mas em vão. A 21 de Maio de 1890, dita esta carta ao então famoso oftalmologista aveirense, Dr. Edmundo de Magalhães Machado:


Illmo. e Exmo. Sr.,

Sou o cadáver representante de um nome que teve alguma reputação gloriosa n’este país durante 40 anos de trabalho. Chamo-me Camilo Castelo Branco e estou cego. Ainda há quinze dias podia ver cingir-se a um dedo das minhas mãos uma flâmula escarlate. Depois, sobreveio uma forte oftalmia que me alastrou as córneas de tarjas sanguíneas. Há poucas horas ouvi ler no Comércio do Porto o nome de V. Exa. Senti na alma uma extraordinária vibração de esperança. Poderá V. Exa. salvar-me? Se eu pudesse, se uma quase paralisia me não tivesse acorrentado a uma cadeira, iria procurá-lo. Não posso. Mas poderá V. Exa. dizer-me o que devo esperar d’esta irrupção sanguínea n’uns olhos em que não havia até há pouco uma gota de sangue? Digne-se V. Exa. perdoar à infelicidade estas perguntas feitas tão sem cerimónia por um homem que não conhece.
Camilo Castelo Branco

A 1 de Junho de 1890, o Dr. Magalhães Machado visita o escritor em Seide. Depois de lhe examinar os olhos condenados, o médico com alguma diplomacia, recomenda-lhe o descanso numas termas e depois, mais tarde, talvez se poderia falar num eventual tratamento. Quando Ana Plácido acompanhava o médico até à porta, eram três horas e um quarto da tarde, sentado na sua cadeira de balanço, desenganado e completamente desalentado, Camilo Castelo Branco disparou um tiro de revólver na têmpora direita. Mesmo assim, sobreviveu em coma agonizante até às cinco da tarde. A 3 de Junho, às seis da tarde, o seu cadáver chegava de comboio ao Porto e no dia seguinte, conforme o seu pedido, foi sepultado perpetuamente no jazigo de um amigo, João António de Freitas Fortuna, no cemitério da Venerável Irmandade de Nossa Senhora da Lapa.
Camilo teve uma vida atribulada, que lhe serviu muitas vezes de inspiração para as suas novelas. Foi o primeiro escritor de língua portuguesa a viver exclusivamente dos seus escritos literários. Apesar de ter de escrever para o público, sujeitando-se assim aos ditames da moda, conseguiu manter uma escrita muito original.
Dentro da sua vasta obra, também se encontra colaboração da sua autoria em diversas publicações periódicas como “O Panorama”, a “Revista universal lisbonense” (1841-1859), “A illustração luso-brasileira” (1856-1859), “Archivo pitoresco” (1857-1868), “Ribaltas e gambiarras” (1881), “A illustração portugueza” (1884-1890), e a título póstumo nas revistas “A semana de Lisboa” (1893-1895), “Serões” (1901-1911) e “Feira da Ladra” (1929-1943).



Casa de S. Miguel de Seide - In O romance do Romancista



Sobre a gravura anterior diz-nos Alberto Pimentel, o autor do romance subjacente:
“A árvore que se vê junto à escada é a Acácia do Jorge, que se chama assim por ter sido plantada pelo filho mais velho de Camilo.
As duas janelas engrinaldadas pela trepadeira são da sala de jantar.
No 2º andar nas janelas meio escondidas pela ramaria da acácia ficava o quarto de cama de Camilo.
Dobrando-se o cunhal formado pela parede da sala de jantar, andando poucos passos e virando à esquerda encontra-se a pirâmide de granito comemorativa da visita de António Feliciano de Castilho em 15 de Julho de 1866”.



Casa de Camilo em São Miguel de Seide – Fonte: monumentosdesaparecidos.blogspot


Em 20 de Setembro de 1895, falecia Ana Plácido, em S. Miguel de Seide.
 
 
 

A casa onde morreram Camilo e sua esposa – In “Diário Ilustrado”, em 29 de Setembro de 1895
 
 
 
 
“A uma légua distante de Vila Nova de Famalicão, seguindo-se pela formosa estrada que liga esta vila a Guimarães, encontra-se, à direita, um atalho, que, por entre milharais, vai dar à freguesia de S. Miguel de Seide.
Ao cabo de um quarto de hora, avistam-se umas antigas carvalheiras, junto das quais está a casa, em que habitou, durante mais de vinte anos, o grande escritor. Um portão de ferro gradeado fechava o portão de entrada da casa.
Quando chegava ali alguma pessoa, que ia visitar Camilo, apenas se tocava à campainha, surgiam logo dois enormes cães de raça e alguns podengos e perdigueiros ladrando furiosamente. Camilo assomava a uma janela, mandava recolher os cães, e era sempre ele quem descia a receber a visita com os primores de cortesia e de afabilidade, que sempre o distinguiram.
(…) Foi naquela casa modesta que a viscondessa de Correia Botelho passou, com curtas intermitências, os cinco anos da sua viuvez, e foi ali onde a morte veio fulminá-la, no mesmo quarto e no mesmo leito onde morrera seu marido.
A ilustre senhora não alterou, nem num ápice, o aspeto interior e exterior da singela vivenda. A biblioteca do mestre lá está intacta; lá se vê ainda a mesma mesa de castanho, com a carteira ao centro; o busto, em gesso, de Castilho; os mesmos quadros, tudo, pois que tudo foi religiosamente conservado pela mão piedosa de aquela que acaba de morrer.
E como sentinelas postadas junto da pitoresca e hoje bem triste habitação, lá se encontram ainda também, as enormes carvalheiras, que durante mais de vinte anos foram o enlevo do grande escritor.”
In “Diário Ilustrado”, em 29 de Setembro de 1895



A casa da Quinta de S. Miguel de Seide ficou praticamente devastada num incêndio em 1915, sendo reconstruída em 1922 e transformada em museu camiliano.
 
 
“Ao final da década de 1940 foi objeto de extensa campanha de intervenção de restauro, ficando, desde então, muito semelhante à que fora habitada pelo romancista.
Encontra-se classificada como Imóvel de Interesse Público desde 1978.
Em 1 de junho de 2005, por ocasião dos 115 anos do falecimento do escritor, foi inaugurado, em terrenos fronteiros à Casa de Camilo um edifício, o Centro de Estudos Camilianos, da autoria do arquiteto Álvaro Siza Vieira, que compreende um auditório, salas de leitura e de exposições temporárias, cafetaria, gabinetes de trabalho e reservas.
Foi considerado o melhor museu nacional em 2006 pela Associação Portuguesa de Museologia.”
Fonte: “pt.wikipedia.org/”
 
 
Alguns dos objectos pessoais do escritor que se encontram actualmente expostos na Casa Museu de Camilo, só chegaram aos nossos dias por mero acaso uma vez que tinham sido temporariamente retirados para a “Casa de Nuno”.
 
 
 
 
 
Centro de Estudos Camilianos; Crédito: “allaboutportugal.pt/”
 
 
 
 
“A partir de Maio, o Centro de Estudos Camilianos de Seide, projectado pelo arquitecto Siza Vieira, terá uma nova entrada. “É o culminar de uma vontade persistente da Câmara Municipal de Famalicão em cumprir o projecto de Siza Vieira, que contemplava para aquele espaço a entrada principal do Centro de Estudos Camilianos”, sublinha o presidente da autarquia, Paulo Cunha.
As obras arrancaram no passado mês de Fevereiro e têm um prazo de execução de 90 dias, implicando um investimento municipal superior a 31 mil euros. A criação da nova entrada representa a conclusão do projecto de Siza Vieira que, para além da construção do Centro de Estudos, envolveu um plano global de valorização do espaço camiliano, com o arranjo urbanístico do Largo de Camilo, construção do Centro Social e Paroquial, requalificação da igreja paroquial e adaptação da Casa do Nuno a sede da junta de freguesia”.
Cortesia de Patrícia Sousa (2021-03-25); Fonte: “correiodominho.pt/”





Jazigo de Freitas Fortuna onde está Camilo no cemitério da Lapa - In O romance do Romancista



Camilo na Câmara Municipal do Porto em fresco de Dordio Gomes 



Alberto Pimentel foi o primeiro biógrafo de Camilo, sendo-o especialmente após a publicação da obra “Romance do Romancista” (1890).

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