terça-feira, 3 de julho de 2018

(Continuação 7) - Actualização em 29/11/2019 e 02/04/2020


24.4 Cheias





É curioso o facto de que, em todas as descrições destas catástrofes naturais, se mencionar o carácter repentino da sua formação como, por exemplo, o registo do Padre Rebelo da Costa (1789, p.299), referindo-se a esta cheia de 1727, considerada como a maior de todos os tempos, até àquela data: 
“O caudaloso rio Douro no dia vinte e oito de Dezembro de mil setecentos e vinte e sete formou uma enchente tão grossa, repentina, e precipitada…”


Convento Corpus Christi, em V. N. Gaia, que já estava neste seu novo local, aquando da cheia de 1727



Uma outra cheia, de 5 de Dezembro de 1739, terá atingido, na Régua, um caudal de 18000 m3/s.
Referem-se diversos documentos, que abordam esta cheia extraordinária em dimensão e efeitos, descrevendo-a nos seguintes termos:
«Foi muito superior à de 1729, e em todas as suas funestas consequências perfeitamente igual, ou excedente àquela de 1727; pois consta por todas as tradições, que esta cheia fora a maior, de que há memória».

Esta situação foi confirmada, em meados do século XX, por TATO, J.F. (1966, p.157) quando refere:

«Célebre cheia de 1739, aquela que até agora ainda não foi ultrapassada».

Esta enchente subiu aos 6 metros acima do cais da Ribeira, pelo que, teria ultrapassado em vinte centímetros, a ponte Pênsil (que ainda não existia) e quase atingiria hoje, a ponte Luís I.
A impetuosidade desta cheia varreu o Cabedelo trezentos metros para Sul.
Outras cheias importantes ocorreram a 10 de Abril de 1769 e 11 de Dezembro de 1774.
De uma cheia ocorrida em 1785, nos dá conta Pinho Leal na sua obra “Portugal Antigo e Moderno” (7º vol.).


 





Em 25 de Fevereiro de 1788, durante uma cheia no rio Douro, começada no dia 22 do dito mês e, em que, o seu maior caudal, acima dos 31 palmos, ocorreu nos dias 24 e 25, foram três navios portugueses pela barra fora, e despedaçaram-se na costa. Denominavam-se “Socorro”, “Monsarrate” e “Manoelinho”, tendo a primeira embarcação 360 toneladas.  
Sobre o episódio se disse:

 
“ (…) um daqueles navios se viu ir pelo rio abaixo com a quilha para o ar.”


Foi nesta cheia que ficou arruinada a baliza da Cruz de Ferro, um importante sinal de orientação da navegação para quem entrava na barra do Douro. Estava situada num rochedo em frente da capela/farol do Anjo, onde, antes, já tinha estado uma estátua togada mandada erigir para o mesmo fim pelo Bispo D. Miguel da Silva.
Acabaria essa marca de navegação por ser reposta com a intervenção do arquitecto militar português com origens francesas, José Champalimaud de Nussane.









Em 10 e 11 de Janeiro de 1821, uma cheia ficaria na história, não pelos caudais que transportava, mas por ter impedido os deputados eleitos da região Norte de tomar o barco para Lisboa que, como se sabe, naqueles tempos, subiam a bordo de barcos, no Cais da Estiva, dado não existirem ainda estradas ou o comboio a unir o Porto a Lisboa.
As cheias no final desse ano foram, também, muito destrutivas, como se pode ler no artigo publicado no dia 26 de Dezembro de 1821, dando nota do inverno rigoroso, que se fazia sentir, na época natalícia daquele ano.





Cheia de Dezembro de 1821 - In "Borboleta Constitucional"



Os próprios barcos a vapor a unir as duas cidades só, mais tarde, seriam um facto, embora, no Verão daquele ano, tenham sido feitos uns primeiros ensaios experimentais.
Esta cheia no rio Douro que ficou célebre, não sendo das maiores provocou, no entanto, que os deputados à assembleia constituinte, provenientes da região, se tenham atrasado na sua chegada à capital, para a importante sessão das Cortes que daria origem ao primeiro texto constitucional português.
Numa carta enviada por uma personagem oriunda do Porto, identificada por J.B.G., a um seu amigo de Lisboa, que “osaldahistoria.blogs.sapo.pt” deu a conhecer, era descrita a tempestade ocorrida em 10 e 11 de Janeiro de 1821:


“Todos os navios que se achavam surtos neste rio estiveram em iminente perigo de se perderem”, diz, esclarecendo que pelo menos seis tiveram um “desgraçado fim”. Na funesta lista estão os bergantins ingleses Fair-Hibernian e Mathilda, ambos já carregados com vinho para zarparem, que forram arrastados pela corrente, despedaçando-se. O mesmo aconteceu à galeota alemã Anna-Margaretha, aos hyates portugueses Senhor da Pauta e Triunfo da Inveja; ao espanhol San Josef el Vencedor, a inúmeros botes, lanchas e barcas.
(…) A enchente foi muito grossa e subiu a grande altura”, comunicando “da porta da Ribeira com o postigo da Lingueta; e do postigo dos Banhos com a porta Nobre”, afetando por isso muitas pessoas e edifícios: a casa do despacho do Cais da Alfândega “veio a terra”, porque um bergantim inglês encalhou sobre ela; o cais novo de Sobreiras e outros aluíram e, em Vila Nova de Gaia, “houve grande perda de vinhos”.



Bergantim (Barco a remos e vela)



Galeota (Barco a remos e vela)




Em 2 de Fevereiro de 1823, segundo AZEVEDO, J.M. (1881), a enchente, de «imensas areias» subiu mais alguns palmos que o ocorrido em 1821, embora com crescimento mais vagaroso e corrente menos impetuosa.
Na Régua, o caudal de cheia atingiu os 15600 m3/s (LNEC, 1994; ap. MINISTÉRIO DO AMBIENTE, 1996).
Segundo TATO, J.F. (1966), esta cheia atingiu os 3,74 metros sobre o cais da Ribeira e cerca de 14 milhas/s de velocidade.
Uma cheia ocorrida em 1829 foi marcante pelo facto de ter destruído a ponte então existente na Ribeira - a ponte das Barcas.
«Subiram as águas tão inesperadamente, [...] foi por último arrebatador pela furiosa corrente, largando as barcas do seu ponto umas depois d'outras sem governo» (AZEVEDO, J.M., 1881, p.138).
Em 20/21 Novembro de 1837, a cheia obrigou à retirada da Ponte das Barcas (AZEVEDO, J.M.,1881).
Em 17 Fevereiro de 1843, a enchente levou à retirada da Ponte das Barcas, obrigando à abertura precipitada da circulação na nova ponte Pênsil, sem as formalidades adequadas.
A água chegou a estar a um metro da ponte Pênsil (COSTA, C, 1938; OLIVEIRA, J.M., 1973). Os estragos foram avultados e o Cabedelo foi destruído quase na totalidade (COSTA, C, 1938). Segundo TATO, J.F. (1966), esta cheia atingiu 22,95 metros na Régua e 4,38 na Ribeira, deslocando-se a uma velocidade de cerca de 15 milhas/s e acarretando grandes prejuízos. O caudal de cheia terá chegado aos 15100 m3/s na Régua (LNEC, 1994).
No dia 2 de Janeiro de 1856, levantar-se-ia um grande temporal, razão pela qual, o vapor D. Pedro V não pode entrar na barra do Douro, e com os seus passageiros em perigo, teve que zarpar para Vigo, pois não foi obtida a necessária autorização, para desembarcarem os passageiros, em "catraias".
Nos dias seguintes, o caudal do rio Douro atinge valores elevados, com o galgamento das margens pelas suas águas no dia 7 de Janeiro.
Assim, os tubos de canalização do gás de abastecimento à cidade ficam submersos e a cidade fica às escuras e os teatros com as portas fechadas. Passados quatro dias, a água desce 4 palmos, e o abastecimento de gás é restabelecido.
Na costa, o temporal continuou e, em 22 de Janeiro, o caixamarim "Santo António e Almas", que caiu sobre o vapor "Cid", vai a pique e nas praias de V. N. de Gaia o "Hiate Camões 2º", varou, salvando-se os seus 11 tripulantes.
Com o rio a continuar a descer, no último dia daquele mês, o vapor D. Pedro V, o vapor "Duque do Porto", mais quatro embarcações de bandeira estrangeira, entram na barra do Douro vindos de Vigo.
Na zona da actual ponte de Luís I (Porto), a cheia de 1860 alcançou os 10,38 metros (ap. MINISTÉRIO DO AMBIENTE, 1996).
Das cheias do século XIX marcadas a picão nos "Arcos da Ribeira", a maior é, sem dúvida, a de 1860, seguindo-se-lhe a de 1823.
Mas ao longo do século muitas outras cheias se sucederam, até que já entrados no século XX e a 1909, ocorreu aquela que se diz ter sido das maiores.


“A de Dezembro de 1727 foi a maior do século XVIII. A água subiu a tal ponto que de cima do muro da Ribeira chegava-se com as mãos à água. Foi nesse ano que o Douro galgou a margem esquerda e inundou o mosteiro do Corpus Christi não obstante este ter sido alteado cem anos antes… por causa das cheias. Mas a cheia de maiores proporções, aquela que mais estragos causou e em que as águas atingiram alturas até aí inimagináveis, foi a de 1739. 
A água atingiu alturas tais que cobriu o cimo do muro da Ribeira e chegou ao até ao altar-mor da capela de Nossa Senhora da Piedade, vulgarmente conhecida por Senhora do Ó, que fica no Largo do Terreirinho. Foi, exactamente há um século, nos começos do Inverno de 1909, que no rio Douro se verificou uma das maiores cheias de sempre. Para se avaliar do que foi o volume dos estragos, causados pela violência da corrente registada no rio, por essa altura, bastará referir que entre vapores de carga, chalupas, iates, patachos, barcos de pesca e de recreio, afundaram-se ou saíram barra fora, desgovernados, por efeitos da enchente, nada mais nada, menos do que quarenta embarcações e mais treze rebocadores.” Já, em tempos, lemos que foram arrastados barcos e uma grande quantidade de destroços até Leixões e alguns mesmo até Vila do Conde.
Fonte: Germano Silva


“Através dos tempos foram muito frequentes as cheias do Rio Douro. Há registos pelo menos desde o séc. XIII. Consideram-se cheias extraordinárias às que ultrapassam a cota de 6,00 metros junto da ponte Luis I. Nesta cota já Miragaia, a Ribeira e a baixa de Gaia estão inundados. Segundo se sabe as cheias de 1526, a primeira de que há registo, 1585,1625,1727,1729, 1739 (violentíssima), 1769, 1788, 1860 e 1909, esta, uma das mais altas de que há memória. A do nosso tempo, 1962, foi muito alta e destrutiva”.
Com o devido crédito a Rui Cunha de “portoarc.blogspot.pt”




In jornal “O Commercio do Porto” de 7 de Janeiro de 1856 – 2ª Feira




A grande cheia de 1860 ficaria 1 m abaixo da de 1909. Mesmo assim, no dia 26 de Dezembro de 1860, atingiria a sua cota máxima e provocaria uma grande devastação nas margens do Douro e, ainda, na Vila da Régua, onde o seu teatro seria arrasado. Esta sala de espectáculos funcionava numa casa situada ao fundo da rampa João Macedo, hoje Rua 1.º de Dezembro.
Manuel Pinheiro Chagas numa sua viagem ao Porto, no longínquo mês de Janeiro (e Fevereiro) de 1865, escreve in Contos e descrições - Leitura para Caminhos de Ferro:


“O Douro galgou por cima do cais, tomou as ruas, e intercetou em muitos pontos as comunicações. Como um leão, que se espreguiça sem a mínima intenção feroz, e que não outro direito senão o de estar à vontade, o Douro, sentido-se incomodado pela estreiteza do seu leito, invadiu pacifica mas irresistivelmente os sítios, que encontrou mais à mão, estabeleceu-se ali serenamente, lambendo com toda a amabilidade as paredes das casas, dando mostras de se querer portar como bom vizinho, de estar até resolvido a respeitar as posturas da cãmara municipal, contanto que nestas não haja alguma disposição, que o contrarie.
Se o Douro fosse menos bem educado, o que seria feito das árvores e dos candeeiros do cais! Podia muito bem arranca-los brutalmente, e ir oferece-los ao oceano próximo. Era possível que o fizesse, se estivesse de mau humor; não estava. As árvores bracejam sossegadamente os seus ramos por sobre as águas. Os candeeiros contemplam com serenidade, e até com certo orgulho, os seus irmãos da terra firma, como pacíficos burgueses, que, ao princípio, todos apavorados por se verem metidos num barco entre as ondas, se recobram afinal do susto, reconhecendo a pacatez do mar, e olham desdenhosamente para os seus companheiros, que se ficaram na praia.
Depois das copiosas chuvas de janeiro, amanheceu finalmente, sereno e esplêndido, o dia vinte e oito, sábado. Toda a cidade soltou um suspiro de satisfação. Despovoaram-se as casas, e, como as lajes das ruas se enxugaram com uma rapidez verdadeiramente maravilhosa, as senhoras, não temendo macular as suas galas, correram pressurosas a visitar o Douro, que se dignara hospedar-se no Porto, determinado a espairecer algum tempo por aqui.
Aproveitemos o dia, leitor, e vamos ver a cheia.
Prepare-se para algumas surpresas. (...)
(...). Se formos renovar a nossa excursão a Miragaia, e quisermos passar pela Porta Nobre, antes de lá chegarmos, encontraremos o rio, que, sabendo talvez do que intentávamos, se deu pressa em vir ao nosso encontro. Agradeçamos-lhe a amabilidade, e voltemos para trás. Vamos a Cima do Muro, e vejamos isto.
O Douro, trepando até pouca distância dos primeiros andares, proibiu o uso das portas, e pôs fora os habitantes das lojas. Sumamente romanesco, só consente que se saia pelas janelas. A escada de corda, a aventurosa companheira dos ladrões e dos namorados, tem agora foros de legalidade. As escapades estão agora autorizadas.
Oh arrojo dos galanteadores! Escadas aéreas que as auras baloiçam! Capas flutuantes ao vento! Vultos gentis de mulheres, encostadas ao peitoril das janelas, esperando ansiosamente o resultado da intrépida excursão, empreendida pelos seus galãs! Oh! Mistério suavíssimo destas entrevistas! Lições ocultas de amor, cujos segredos enlevam tanto mais, quanto mais a furto se revelam! Afoitezas de amantes, perdestes o vosso prestígio!
Sobem e descem os Bartolos pela escada dos Almavivas! Nas varandas das Rosinas encostam-se as cozinheiras! Os vultos, que deslizam ao longo das muralhas, não usam capa, usam capote de barregana! Tem obesidade, em vez da proverbial magresa! É nas bochechas do sol, indignado com tamanha audácia, que se executam estas façanhas, que só a lua costuma iluminar! É à face dos regedores, e dos tios, que estas coisas se praticam! Que digo? São os mesmos regedores, são os próprios tios, que perpetram estes descomedimentos! E descem para os barcos, e os barqueiros cortam a água com os remos, e o bote lá voga, lá foge, como se aquela casa esguia fosse um castelo roqueiro com os fossos profundíssimos, aquela janela uma gótica ventana, aquela rubicunda senhora uma pálida castelã, aquela casca de noz uma ligeira gôndola, aquele negociante um enamorado trovador!
(...)
Se o leitor está disposto a continuar a digressão, tem ainda muito que ver! Paremos aqui.
Há neste ponto uma prancha, que dá passagem de Cima do Muro para uma janela do primeiro andar! Ponte levadiça! Lá passa um vulto com passo firme.
(...)
Correi, homens de armas! Apressai-vos, dom castelão, vinde receber o nobre visitante! Pagens e donzeis, fazei honra! Pouco se demorou o cavaleiro! E ei-lo sai!... Trás um pacote de de velas de sebo!
Agora a explicação do enigma!
Na loja deste prédio havia uma mercearia. O Douro exigiu do merceeiro que lhe trespassasse a casa, e não houve remédio senão ceder! Mas o merceeiro não era homem que descoroçoasse por tão pouco. Viu-se expelido do rez-de-chaussée, estabeleceu-se no primeiro andar! Se o Douro continuasse a subir, o digno portuense iria para o telhado, e faria concorrência aos gatos! No primeiro andar improvisou um balcão, e armou a tenda. Os fregueses, não menos intrépidos do que ele, não o abandonaram. A ponte levadiça foi estabelecida. A frágil tábua chamou os habituais compradores, e, daqui por diante, a par do denodo militar e do denodo civil, há-de fulgurar com igual brilhantismo o denodo merceeiro!
Desçamos a escada que de Cima do Muro conduz à Porta Nobre, transformando-a em gruta aquática. Saltemos para um bote, e demo-nos ao prazer de passearmos embarcados no sítio onde, há pouco tempo andamos a pé.”
Com o devido crédito a Nuno Cruz, admin. do blogue” A Porta Nobre”



Cheia de 1860, na Ribeira – Cliché Alvão


Cheias de 1860 e de 1909 (um pouco mais acima)



Em 16 de Fevereiro de 1880, ocorreu um tremendo temporal que derrubou muitas árvores e com o caudal do rio Douro a atingir no dia seguinte, 9 milhas por hora. Houve desabamentos e interrupções na circulação do comboio na linha do Douro.

“Temporal: na Ribeira usaram-se pranchas para passar para o Cimo do Muro. O rio anda a 9 milhas por hora.”
In “Jornal da Manhã”, 18 de Fevereiro de 1880, p. 2


Uma das maiores cheias de que há memória ocorreu no dia 21 de Dezembro de 1909 quando, pela madrugada, já a ribeira se encontrava inundada.
Durante a tarde, 2 barcaças afundam-se, em V.N. de Gaia, com toros de pinheiro e carvão. Mais tarde, 11 barcas de carga na mesma margem vão soltar-se e embater com uns navios estacionados no Cais do Cavaco.
No dia 22, a Ribeira está completamente submersa. 



Ribeira, na cheia de 1909 – Ed. Alvão


Ribeira, em 1909 – Cliché Alvão


Cheia de 1909



Ribeira, no dia 23 de Dezembro de 1909


Cheia de 1909, junto da ponte Luís I



No dia 23, o rio galgou o Muro dos Bacalhoeiros e a Foz era um cemitério de embarcações. O rio ficou, então, a 0,80 m do tabuleiro da ponte Luís I.
Na manhã do dia 24, as águas param de subir. Dia 25, está sol e é Natal. Amargo para muitos que perdem os seus bens, enquanto outros perderam a vida.
No dia seguinte, chega à cidade o rei.

 
“A 26 chega de surpresa o rei D. Manuel II ao Porto, acompanhado de alguns ministros do seu governo, para averiguar estragos e tomar primeiras providências. À chegada, dirige-se imediatamente para Carreiros, a verificar o desolador espectáculo, seguindo depois para os Pilotos onde felicita os esforços dos mestres da barra no salvamento dos tripulantes do «Cintra» e segue para Miragaia, Ribeira e Barredo onde visita algumas famílias e verifica os estragos. De imediato dá início à constituição de um fundo para apoio aos mais necessitados e o governo em Lisboa toma as primeiras medidas de emergência, as quais incluem o envio de alimentos e afectação de verbas de emergência para obras mais urgentes. A vereação da cidade recorda ao rei a absoluta necessidade de dar seguimento rápido à construção dos acessos viários ao Porto de Leixões, para salvaguarda dos bens e comércio em geral de toda a região, evitando-se dessa forma, «os humores do rio».
A cidade, mesmo fortemente abalada, recompôs-se. O rio voltou, mesmo quando depois foi «regulado» pelas barragens, a fazer estragos na décadas seguintes. Mas nunca como em 1909, naquele que foi certamente o momento de maior fúria destruidora do rio da sua história, mas que, apesar disso, manteve o Douro a marca de personalidade imprescindível da cidade”.
Fonte: Grande Porto, 24/12/2009


O rio Douro, nos Guindais, nas cheias de 1909


Cheia de 1909, em Miragaia


Estragos da cheia de 1909, junto à Alfândega Nova – Fonte: AHMP


Vapor Cintra, na cheia de 1909


Lista da reparação e quantificação, em moeda da época, dos estragos da cheia de 1909, – Fonte: António Avelino Batista Vieira e Francisco da Silva Costa



Comparação da cheia de 1909 com a mais recente, de 1962 – Fonte: Américo Brandão



Em 1946, ocorreram graves cheias no rio Douro.  Decorrente das mesmas, a 1de Maio desse ano, o navio inglês Izarra foi apanhado pela corrente na ponte Luís I e só é apanhado, na Afurada, pelos rebocadores.
Durante o resto do século, muitas outras cheias aconteceram com prejuízo em bens e vidas humanas.


Miragaia durante a cheia de 1962



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