24.4 Cheias
É curioso o facto de que, em todas as descrições destas
catástrofes naturais, se mencionar o carácter repentino da sua formação como,
por exemplo, o registo do Padre Rebelo da Costa (1789, p.299), referindo-se a
esta cheia de 1727, considerada como a maior de todos os tempos, até àquela
data:
“O caudaloso rio Douro
no dia vinte e oito de Dezembro de mil setecentos e vinte e sete formou uma
enchente tão grossa, repentina, e precipitada…”
Convento Corpus Christi, em V. N. Gaia, que já estava neste
seu novo local, aquando da cheia de 1727
Uma outra cheia, de 5 de Dezembro de 1739, terá atingido, na
Régua, um caudal de 18000 m3/s.
Referem-se diversos documentos, que abordam esta cheia
extraordinária em dimensão e efeitos, descrevendo-a nos seguintes termos:
«Foi muito superior à
de 1729, e em todas as suas funestas consequências perfeitamente igual, ou
excedente àquela de 1727; pois consta por todas as tradições, que esta cheia
fora a maior, de que há memória».
Esta situação foi confirmada, em meados do século XX, por
TATO, J.F. (1966, p.157) quando refere:
«Célebre cheia de
1739, aquela que até agora ainda não foi ultrapassada».
Esta enchente subiu aos 6 metros acima do cais da Ribeira,
pelo que, teria ultrapassado em vinte centímetros, a ponte Pênsil (que ainda
não existia) e quase atingiria hoje, a ponte Luís I.
A impetuosidade desta cheia varreu o Cabedelo trezentos
metros para Sul.
Outras cheias importantes ocorreram a 10 de Abril de 1769 e
11 de Dezembro de 1774.
De uma cheia ocorrida em 1785, nos dá conta Pinho Leal na
sua obra “Portugal Antigo e Moderno” (7º vol.).
Em 25 de Fevereiro de 1788, durante uma cheia no rio Douro,
começada no dia 22 do dito mês e, em que, o seu maior caudal, acima dos 31
palmos, ocorreu nos dias 24 e 25, foram três navios portugueses pela barra fora,
e despedaçaram-se na costa. Denominavam-se “Socorro”, “Monsarrate” e “Manoelinho”, tendo a primeira embarcação 360
toneladas.
Sobre o episódio se disse:
Sobre o episódio se disse:
“ (…) um daqueles navios se viu ir pelo rio abaixo com a quilha para o ar.”
Acabaria essa marca de navegação por ser reposta com a intervenção do arquitecto militar português com origens francesas, José Champalimaud de Nussane.
Em 10 e 11 de Janeiro de 1821, uma cheia ficaria na
história, não pelos caudais que transportava, mas por ter impedido os deputados
eleitos da região Norte de tomar o barco para Lisboa que, como se sabe,
naqueles tempos, subiam a bordo de barcos, no Cais da Estiva, dado não
existirem ainda estradas ou o comboio a unir o Porto a Lisboa.
As cheias no final desse ano foram, também, muito destrutivas, como se pode ler no artigo publicado no dia 26 de Dezembro de 1821, dando nota
do inverno rigoroso, que se fazia sentir, na época natalícia daquele ano.
Os próprios barcos a vapor a unir as duas cidades só, mais
tarde, seriam um facto, embora, no Verão daquele ano, tenham sido feitos uns
primeiros ensaios experimentais.
Esta cheia no rio Douro que ficou célebre, não sendo das
maiores provocou, no entanto, que os deputados à assembleia constituinte,
provenientes da região, se tenham atrasado na sua chegada à capital, para a
importante sessão das Cortes que daria origem ao primeiro texto constitucional
português.
Numa carta enviada por uma personagem oriunda do Porto,
identificada por J.B.G., a um seu amigo de Lisboa, que
“osaldahistoria.blogs.sapo.pt” deu a conhecer, era descrita a tempestade
ocorrida em 10 e 11 de Janeiro de 1821:
“Todos os navios que
se achavam surtos neste rio estiveram em iminente perigo de se perderem”, diz,
esclarecendo que pelo menos seis tiveram um “desgraçado fim”. Na funesta lista
estão os bergantins ingleses Fair-Hibernian e Mathilda, ambos já carregados com
vinho para zarparem, que forram arrastados pela corrente, despedaçando-se. O
mesmo aconteceu à galeota alemã Anna-Margaretha, aos hyates portugueses Senhor da
Pauta e Triunfo da Inveja; ao espanhol San Josef el Vencedor, a inúmeros botes,
lanchas e barcas.
(…) A enchente foi
muito grossa e subiu a grande altura”, comunicando
“da porta da Ribeira com o postigo da
Lingueta; e do postigo dos Banhos com a porta Nobre”, afetando por isso muitas
pessoas e edifícios: a casa do despacho do Cais da Alfândega “veio a terra”,
porque um bergantim inglês encalhou sobre ela; o cais novo de Sobreiras e
outros aluíram e, em Vila Nova de Gaia, “houve grande perda de vinhos”.
Bergantim (Barco a remos e vela)
Galeota (Barco a remos e vela)
Em 2 de Fevereiro de 1823, segundo AZEVEDO, J.M. (1881), a enchente,
de «imensas areias» subiu mais alguns
palmos que o ocorrido em 1821, embora com crescimento mais vagaroso e corrente
menos impetuosa.
Na Régua, o caudal de cheia atingiu os 15600 m3/s (LNEC,
1994; ap. MINISTÉRIO DO AMBIENTE, 1996).
Segundo TATO, J.F. (1966), esta cheia atingiu os 3,74 metros
sobre o cais da Ribeira e cerca de 14 milhas/s de velocidade.
Uma cheia ocorrida em 1829 foi marcante pelo facto de ter
destruído a ponte então existente na Ribeira - a ponte das Barcas.
«Subiram as águas tão
inesperadamente, [...] foi por último arrebatador pela furiosa corrente,
largando as barcas do seu ponto umas depois d'outras sem governo» (AZEVEDO,
J.M., 1881, p.138).
Em 20/21 Novembro de 1837, a cheia obrigou à retirada da
Ponte das Barcas (AZEVEDO, J.M.,1881).
Em 17 Fevereiro de 1843, a enchente levou à retirada da Ponte
das Barcas, obrigando à abertura precipitada da circulação na nova ponte
Pênsil, sem as formalidades adequadas.
A água chegou a estar a um metro da ponte Pênsil (COSTA, C,
1938; OLIVEIRA, J.M., 1973). Os estragos foram avultados e o Cabedelo foi destruído
quase na totalidade (COSTA, C, 1938). Segundo TATO, J.F. (1966), esta cheia
atingiu 22,95 metros na Régua e 4,38 na Ribeira, deslocando-se a uma velocidade
de cerca de 15 milhas/s e acarretando grandes prejuízos. O caudal de cheia terá
chegado aos 15100 m3/s na Régua (LNEC, 1994).
No dia 2 de Janeiro de 1856, levantar-se-ia um grande temporal, razão pela qual, o vapor D. Pedro V não pode entrar na barra do Douro, e com os seus passageiros em perigo, teve que zarpar para Vigo, pois não foi obtida a necessária autorização, para desembarcarem os passageiros, em "catraias".
Nos dias seguintes, o caudal do rio Douro atinge valores elevados, com o galgamento das margens pelas suas águas no dia 7 de Janeiro.
Assim, os tubos de canalização do gás de abastecimento à cidade ficam submersos e a cidade fica às escuras e os teatros com as portas fechadas. Passados quatro dias, a água desce 4 palmos, e o abastecimento de gás é restabelecido.
Na costa, o temporal continuou e, em 22 de Janeiro, o caixamarim "Santo António e Almas", que caiu sobre o vapor "Cid", vai a pique e nas praias de V. N. de Gaia o "Hiate Camões 2º", varou, salvando-se os seus 11 tripulantes.
Com o rio a continuar a descer, no último dia daquele mês, o vapor D. Pedro V, o vapor "Duque do Porto", mais quatro embarcações de bandeira estrangeira, entram na barra do Douro vindos de Vigo.
Na zona da actual ponte de Luís I (Porto), a cheia de 1860 alcançou
os 10,38 metros (ap. MINISTÉRIO DO AMBIENTE, 1996).
Das cheias do século XIX marcadas a picão nos "Arcos da
Ribeira", a maior é, sem dúvida, a de 1860, seguindo-se-lhe a de 1823.
Mas ao longo do século muitas outras cheias se sucederam,
até que já entrados no século XX e a 1909, ocorreu aquela que se diz ter sido
das maiores.
“A de Dezembro de
1727 foi a maior do século XVIII. A água subiu a tal ponto que de cima do muro
da Ribeira chegava-se com as mãos à água. Foi nesse ano que o Douro galgou a
margem esquerda e inundou o mosteiro do Corpus Christi não obstante este ter
sido alteado cem anos antes… por causa das cheias. Mas a cheia de maiores
proporções, aquela que mais estragos causou e em que as águas atingiram alturas
até aí inimagináveis, foi a de 1739.
A água atingiu
alturas tais que cobriu o cimo do muro da Ribeira e chegou ao até ao altar-mor
da capela de Nossa Senhora da Piedade, vulgarmente conhecida por Senhora do Ó,
que fica no Largo do Terreirinho. Foi, exactamente há um século, nos começos do
Inverno de 1909, que no rio Douro se verificou uma das maiores cheias de
sempre. Para se avaliar do que foi o volume dos estragos, causados pela
violência da corrente registada no rio, por essa altura, bastará referir que
entre vapores de carga, chalupas, iates, patachos, barcos de pesca e de
recreio, afundaram-se ou saíram barra fora, desgovernados, por efeitos da enchente,
nada mais nada, menos do que quarenta embarcações e mais treze rebocadores.”
Já, em tempos, lemos que foram arrastados barcos e uma grande quantidade de
destroços até Leixões e alguns mesmo até Vila do Conde.
Fonte: Germano Silva
“Através dos tempos foram muito frequentes as
cheias do Rio Douro. Há registos pelo menos desde o séc. XIII. Consideram-se
cheias extraordinárias às que ultrapassam a cota de 6,00 metros junto da ponte
Luis I. Nesta cota já Miragaia, a Ribeira e a baixa de Gaia estão inundados.
Segundo se sabe as cheias de 1526, a primeira de que há registo,
1585,1625,1727,1729, 1739 (violentíssima), 1769, 1788, 1860 e 1909, esta, uma
das mais altas de que há memória. A do nosso tempo, 1962, foi muito alta e
destrutiva”.
Com o devido crédito
a Rui Cunha de “portoarc.blogspot.pt”
In jornal “O Commercio do Porto” de 7 de Janeiro de 1856 –
2ª Feira
A grande cheia de 1860 ficaria 1 m abaixo da de 1909. Mesmo
assim, no dia 26 de Dezembro de 1860, atingiria a sua cota máxima e provocaria
uma grande devastação nas margens do Douro e, ainda, na Vila da Régua, onde o
seu teatro seria arrasado. Esta sala de espectáculos funcionava numa casa
situada ao fundo da rampa João Macedo, hoje Rua 1.º de Dezembro.
Manuel Pinheiro Chagas numa sua viagem ao Porto, no
longínquo mês de Janeiro (e Fevereiro) de 1865, escreve in Contos e descrições
- Leitura para Caminhos de Ferro:
“O Douro galgou por
cima do cais, tomou as ruas, e intercetou em muitos pontos as comunicações.
Como um leão, que se espreguiça sem a mínima intenção feroz, e que não outro
direito senão o de estar à vontade, o Douro, sentido-se incomodado pela
estreiteza do seu leito, invadiu pacifica mas irresistivelmente os sítios, que
encontrou mais à mão, estabeleceu-se ali serenamente, lambendo com toda a
amabilidade as paredes das casas, dando mostras de se querer portar como bom
vizinho, de estar até resolvido a respeitar as posturas da cãmara municipal,
contanto que nestas não haja alguma disposição, que o contrarie.
Se o Douro fosse menos
bem educado, o que seria feito das árvores e dos candeeiros do cais! Podia
muito bem arranca-los brutalmente, e ir oferece-los ao oceano próximo. Era
possível que o fizesse, se estivesse de mau humor; não estava. As árvores
bracejam sossegadamente os seus ramos por sobre as águas. Os candeeiros
contemplam com serenidade, e até com certo orgulho, os seus irmãos da terra
firma, como pacíficos burgueses, que, ao princípio, todos apavorados por se
verem metidos num barco entre as ondas, se recobram afinal do susto,
reconhecendo a pacatez do mar, e olham desdenhosamente para os seus companheiros,
que se ficaram na praia.
Depois das copiosas
chuvas de janeiro, amanheceu finalmente, sereno e esplêndido, o dia vinte e
oito, sábado. Toda a cidade soltou um suspiro de satisfação. Despovoaram-se as
casas, e, como as lajes das ruas se enxugaram com uma rapidez verdadeiramente maravilhosa,
as senhoras, não temendo macular as suas galas, correram pressurosas a visitar
o Douro, que se dignara hospedar-se no Porto, determinado a espairecer algum
tempo por aqui.
Aproveitemos o dia,
leitor, e vamos ver a cheia.
Prepare-se para
algumas surpresas. (...)
(...). Se formos
renovar a nossa excursão a Miragaia, e quisermos passar pela Porta Nobre, antes
de lá chegarmos, encontraremos o rio, que, sabendo talvez do que intentávamos,
se deu pressa em vir ao nosso encontro. Agradeçamos-lhe a amabilidade, e
voltemos para trás. Vamos a Cima do Muro, e vejamos isto.
O Douro, trepando até
pouca distância dos primeiros andares, proibiu o uso das portas, e pôs fora os
habitantes das lojas. Sumamente romanesco, só consente que se saia pelas
janelas. A escada de corda, a aventurosa companheira dos ladrões e dos
namorados, tem agora foros de legalidade. As escapades estão agora autorizadas.
Oh arrojo dos
galanteadores! Escadas aéreas que as auras baloiçam! Capas flutuantes ao vento!
Vultos gentis de mulheres, encostadas ao peitoril das janelas, esperando
ansiosamente o resultado da intrépida excursão, empreendida pelos seus galãs!
Oh! Mistério suavíssimo destas entrevistas! Lições ocultas de amor, cujos
segredos enlevam tanto mais, quanto mais a furto se revelam! Afoitezas de
amantes, perdestes o vosso prestígio!
Sobem e descem os
Bartolos pela escada dos Almavivas! Nas varandas das Rosinas encostam-se as
cozinheiras! Os vultos, que deslizam ao longo das muralhas, não usam capa, usam
capote de barregana! Tem obesidade, em vez da proverbial magresa! É nas
bochechas do sol, indignado com tamanha audácia, que se executam estas
façanhas, que só a lua costuma iluminar! É à face dos regedores, e dos tios,
que estas coisas se praticam! Que digo? São os mesmos regedores, são os
próprios tios, que perpetram estes descomedimentos! E descem para os barcos, e
os barqueiros cortam a água com os remos, e o bote lá voga, lá foge, como se
aquela casa esguia fosse um castelo roqueiro com os fossos profundíssimos,
aquela janela uma gótica ventana, aquela rubicunda senhora uma pálida castelã,
aquela casca de noz uma ligeira gôndola, aquele negociante um enamorado
trovador!
(...)
Se o leitor está
disposto a continuar a digressão, tem ainda muito que ver! Paremos aqui.
Há neste ponto uma
prancha, que dá passagem de Cima do Muro para uma janela do primeiro andar!
Ponte levadiça! Lá passa um vulto com passo firme.
(...)
Correi, homens de
armas! Apressai-vos, dom castelão, vinde receber o nobre visitante! Pagens e
donzeis, fazei honra! Pouco se demorou o cavaleiro! E ei-lo sai!... Trás um
pacote de de velas de sebo!
Agora a explicação do
enigma!
Na loja deste prédio
havia uma mercearia. O Douro exigiu do merceeiro que lhe trespassasse a casa, e
não houve remédio senão ceder! Mas o merceeiro não era homem que descoroçoasse
por tão pouco. Viu-se expelido do rez-de-chaussée,
estabeleceu-se no primeiro andar! Se o Douro continuasse a subir, o digno
portuense iria para o telhado, e faria concorrência aos gatos! No primeiro
andar improvisou um balcão, e armou a tenda. Os fregueses, não menos intrépidos
do que ele, não o abandonaram. A ponte levadiça foi estabelecida. A frágil
tábua chamou os habituais compradores, e, daqui por diante, a par do denodo
militar e do denodo civil, há-de fulgurar com igual brilhantismo o denodo
merceeiro!
Desçamos a escada que
de Cima do Muro conduz à Porta Nobre, transformando-a em gruta aquática.
Saltemos para um bote, e demo-nos ao prazer de passearmos embarcados no sítio
onde, há pouco tempo andamos a pé.”
Com o devido crédito a Nuno Cruz, admin. do blogue” A Porta Nobre”
Cheia de 1860, na
Ribeira – Cliché Alvão
Cheias de 1860 e de 1909 (um pouco mais acima)
Em 16 de Fevereiro de 1880, ocorreu um tremendo temporal que
derrubou muitas árvores e com o caudal do rio Douro a atingir no dia seguinte,
9 milhas por hora. Houve desabamentos e interrupções na circulação do comboio
na linha do Douro.
“Temporal: na Ribeira
usaram-se pranchas para passar para o Cimo do Muro. O rio anda a 9 milhas por
hora.”
In “Jornal da Manhã”, 18 de Fevereiro de 1880, p. 2
Uma das maiores cheias de que há memória ocorreu no dia 21
de Dezembro de 1909 quando, pela madrugada, já a ribeira se encontrava
inundada.
Durante a tarde, 2 barcaças afundam-se, em V.N. de Gaia, com
toros de pinheiro e carvão. Mais tarde, 11 barcas de carga na mesma margem vão
soltar-se e embater com uns navios estacionados no Cais do Cavaco.
No dia 22, a Ribeira está completamente submersa.
Ribeira, na cheia de 1909 – Ed. Alvão
Ribeira, em 1909 – Cliché Alvão
Cheia de 1909
Ribeira, no dia 23 de Dezembro de 1909
No dia 23, o rio galgou o Muro dos Bacalhoeiros e a Foz era
um cemitério de embarcações. O rio ficou, então, a 0,80 m do tabuleiro da ponte
Luís I.
Na manhã do dia 24, as águas param de subir. Dia 25, está
sol e é Natal. Amargo para muitos que perdem os seus bens, enquanto outros
perderam a vida.
No dia seguinte, chega à cidade o rei.
“A 26 chega de
surpresa o rei D. Manuel II ao Porto, acompanhado de alguns ministros do seu
governo, para averiguar estragos e tomar primeiras providências. À chegada,
dirige-se imediatamente para Carreiros, a verificar o desolador espectáculo,
seguindo depois para os Pilotos onde felicita os esforços dos mestres da barra
no salvamento dos tripulantes do «Cintra» e segue para Miragaia, Ribeira e
Barredo onde visita algumas famílias e verifica os estragos. De imediato dá
início à constituição de um fundo para apoio aos mais necessitados e o governo
em Lisboa toma as primeiras medidas de emergência, as quais incluem o envio de
alimentos e afectação de verbas de emergência para obras mais urgentes. A
vereação da cidade recorda ao rei a absoluta necessidade de dar seguimento
rápido à construção dos acessos viários ao Porto de Leixões, para salvaguarda
dos bens e comércio em geral de toda a região, evitando-se dessa forma, «os
humores do rio».
A cidade, mesmo
fortemente abalada, recompôs-se. O rio voltou, mesmo quando depois foi
«regulado» pelas barragens, a fazer estragos na décadas seguintes. Mas nunca
como em 1909, naquele que foi certamente o momento de maior fúria destruidora
do rio da sua história, mas que, apesar disso, manteve o Douro a marca de
personalidade imprescindível da cidade”.
Fonte: Grande Porto, 24/12/2009
O rio Douro, nos Guindais, nas cheias de 1909
Cheia de 1909, em Miragaia
Estragos da cheia de 1909, junto à Alfândega Nova – Fonte:
AHMP
Vapor Cintra, na cheia de 1909
Lista da reparação e quantificação, em moeda da época, dos
estragos da cheia de 1909, – Fonte: António Avelino Batista Vieira e Francisco
da Silva Costa
Comparação da cheia de 1909 com a mais recente, de 1962 –
Fonte: Américo Brandão
Em 1946, ocorreram graves cheias no rio Douro. Decorrente das mesmas, a 1de Maio desse ano, o
navio inglês Izarra foi apanhado pela corrente na ponte Luís I e só é apanhado, na Afurada, pelos rebocadores.
Durante o resto do século, muitas outras cheias aconteceram
com prejuízo em bens e vidas humanas.
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