quinta-feira, 10 de novembro de 2016

8. Hospitais - Actualização em 09/11/2017,17/10/2018, 31/10/2019, 06/02/ e 10/06/2020



Hospitais Primitivos

Nesses tempos recuados os hospitais, fora a vertente assistencial de ajuda aos enfermos, tinham uma outra com um funcionamento próprio de hospedaria ou albergaria, dirigido aos caminhantes e viajantes.
No tempo do reinado de João I, os hospitais ficavam junto ao rio Douro.
Assim, tínhamos no que é agora o Largo do Terreiro o Hospital de Nossa Senhora da Piedade do Cais que em 1501 se chamava Hospital da Senhora do Cais, fundado por Catarina Anes Ramalha.
Este hospital conhecido como o Hospital da Ramalha consta de um documento da Câmara de 1484.
Junto a este hospital, de que hoje não há quaisquer vestígios, existia (ainda existe) uma capela da invocação de Nossa Senho­ra da Piedade mas que antes se chamou de Nossa Senhora do Cais. No século XVII (1608) a ermida denominava-se de Nossa Senhora do Terreiro da Alfândega. 
Tanto o hospital como a capela eram ad­ministradas pela Câmara que nomeava um provedor que, por imposição dos esta­tutos tanto da capela como do hospital, ti­nham "que ser vizinhos" isto é, morarem por ali perto. 
Nos finais do século XVII a Câmara man­dou fazer obras de remodelação na capela e no hospital por "ambos se acharem em ruínas". Os trabalhos decorreram entre 1699 e 1700.
Nas imediações do Hospital da Ramalha mais propriamente na Reboleira, desde o século XIII, existiam o Hospital da Senhora da Guia ou Hospital de Santa Catarina e o Hospital de Santiago, para apoio aos peregrinos e ainda o Hospital de S. Lourenço que ficava junto a S. Nicolau.
Camilo Castelo Branco escreveu no seu “Cousas Leves e Pesadas” que ” no meado do século XIII foram estabelecidos os dois hospitais de Santiago e de Santa Catarina na Reboleira e daí transferidos para o Largo de S. João Novo e mais tarde para a Ferraria de Cima”.
Na Ferraria de Cima, o hospital de Santa Catarina tinha a entrada pela Rua de Trás.
Então o hospital de Santiago e o hospital de Santa Catarina acabaram por se juntar e passaram a ser o Hospital de São Nicolau, por ficar junto à ermida do mesmo nome, referida no romance de Arnaldo Gama “A Última Dona de S. Nicolau”.
Na Rua da Reboleira houve ainda o Hospital dos Gafos.
Mas os exemplos de proliferação de hospitais na cidade são muitos. Por volta de 1350 no local que os Judeus tinham habitado na Judiaria velha, na Cividade, junto à Sé, há documentos que falam no Hospital dos Coreiros da Sé.
O Hospital dos Coreiros ficava defronte da capela de Nossa Senhora do Ferro onde havia umas casas que serviram de cárcere da Inquisição.
A capela da Senhora do Ferro situava-se na esquina da Rua Escura com a Travessa de S. Sebastião, a antiga Viela dos Gatos
O Hospital dos Coreiros já existia no ano de 1320. Mas um docu­mento de 1440 localiza esse mesmo hospi­tal "na judiaria velha a cerca da Cividade". Sabemos que houve, de facto, uma judia­ria e a respetiva sinagoga, "no monte da Sé", muito antes, claro, da judiaria de Mon­chique que D. João I mandou transferir (1385-1388) para o alto do monte da Vitó­ria, junto à porta do Olival. 
Não se sabe ao certo quando, mas parece que, em meados do século XIV um outro hospital (que se terá ficado a dever a D. Martim Domingues de Barcelos) existiu, o Hospital do Salvador do Mundo com a sua capela anexa na Rua das Congostas.
Dele será, ainda, um singelo vestígio o Pátio de S. Salvador confrontando a Rua Mouzinho da Silveira.
Este hospital foi conhecido também por Hospital dos Ganhadores.
Pouco antes de morrer em 1521 o rei D. Manuel I determinou que a Santa Casa da Misericórdia do Porto que existia desde o ano de 1499 ficasse com a administração do Hospital Rocamador que se situava ao fundo da Rua dos Caldeireiros (fundado ainda no tempo de D. Sancho I) e com o Hospital-Albergaria de Santa Clara que ficava na Rua dos Mercadores, também conhecido por Hospital dos Velhos Inválidos de Santa Clara.
Em 10 de Fevereiro de 1750, o hospital seria expropriado para a abertura da Rua de S. João.
Por sua vez, o velho hospital Rocamador daria, mais tarde, origem ao Hospital D. Lopo e, este, em 1799, devido à sua exiguidade, ao Hospital de Santo António.


Desenho do Rocamador


Albergaria Rocamador - Desenho Luís de Pina



Desenho do Hospital D. Lopo no local do Rocamador



Claustros do Rocamador nas traseiras de um edifício na Rua das Flores


Largo dos Lóios, nº 43




Pela porta em arco, da foto acima, se entrava para o pátio dotado com uns claustros observáveis nas fotos anteriores. 
Desconhece-se a data da criação do hospital Rocamador que começou por se chamar de Santa Maria do Rochedo.
Sabe-se, no entanto, que era muito antigo e há quem diga que reportava a 1189 com a chegada ao País dos Eremitas de Nossa senhora de Roca de Amador, que instituíram os hospitais de Lisboa, Porto, Coimbra, Santarém, Leiria, Torres Vedras, Guimarães, Braga, Lamego e Chaves.
Corria o ano de 1499 (14 de Março) quando D. Manuel I institui, por Carta Régia, a Irmandade da Misericórdia do Porto.
Em 1521 D. Manuel I atribuiu a esta instituição o Hospital-Albergaria de Rocamador, cuja origem parece remontar a D. Sancho I. Era, na época, a maior instituição com este tipo de missão. Localizava-se na Rua do Souto (mais tarde Rua da Ferraria de Cima,  actual Rua dos Caldeireiros) e ia da Rua de Santa Catarina das Flores à Porta do Olival.
A entrada fazia-se em frente ao Padrão de Santo Elói (actual Largo dos Lóios).
A partir de 1671, começava o bispado de D. Nicolau Monteiro que como grande protector da obra da Santa Casa da Misericórdia do Porto, mandou construir no Rocamador uma enfermaria de convalescentes.
Este hospital possuía cemitério próprio que está identificado como tendo-se situado, no que são hoje, as traseiras de uns prédios da Rua das Flores.
O hospital acabaria por adoptar o nome de D. Lopo, pelos avultados bens que o clérigo Lopo de Almeida legou à instituição quando faleceu em 1584. Tais verbas permitiram a reconstrução e alargamento do antigo Rocamador, construindo-se uma nova ala com frente para a Rua das Flores.
Houve ainda antigamente uma Albergaria-Hospital de Santo Alifon (Santo Ildefonso) e que depois se chamou Hospital do Santo Espírito ou Hospital do Santo Cristo ou ainda Hospital das Entrevadas, situado próximo da Igreja de Santo Ildefonso (fora das muralhas), que resultou de uma separação de sexos do Hospital dos Entrevados situado em  Cima de Vila (interior das muralhas), perto da porta do mesmo nome e da capela de Nossa Senhora da Ba­talha.
Estes dois hospitais viram a sua gestão ser entregue pelo rei D. Manuel à Santa Casa da Misericórdia, na altura em que aconteceu, resolução semelhante, para o Hospital Rocamador.
Inicialmente albergando pobres dos dois sexos, após a separação, os utentes do sexo feminino, iriam ocupar então as novas instalações.
Em Cima de Vila começou então, por existir um hospital, que era o Hospital dos Entrevados fundado sob a pro­tecção de Nossa Senhora do Amparo, que daria origem "cerca de Santo Ildefonso", ao Hospital das Entrevadas (que já constava de um documento de 1467) e que, em 1855, foi transferido para a Rua do Regato, hoje Rua das Fontainhas.
Estes hospitais localizavam-se numa artéria, perto de um campo lavradio, chamado "Campo do Pombal", que corres­ponde à actual Praça da Batalha, contíguo à Rua de Cima de Vila. A pequena artéria ainda hoje existe com o nome de Travessa de Cima de Vila e chamava-se então, Travessa dos Entrevados.
O Hospital dos Entrevados sofreu obras de vulto em 1639 e ainda funcio­nava aqui em 1838 porque, neste ano, a Câma­ra do Porto atribuiu-lhe "meia pena de água" que devia ser retirada do aqueduto" que passa de trás da capela (era a capela de Nossa Senhora da Batalha) junto ao mes­mo hospital...".
Em 1891 o edifício estava em ruínas e é transferido para a zona da Sé, para trás da Catedral onde funcionaram as oficinas de S. José e depois de ter passado pelo Estabelecimento Humanitário do Barão de Nova Sintra, acaba nos chamados Hospitais Menores pelo qual é conhecido o Asilo de S. Lázaro.
Além dos acima citados hospitais, existiram ainda:
O Hospital dos Clérigos na Rua Escura;

Hospital dos Palmeiros – Desenho de J. Villanova em 1833


Na gravura acima vê-se Capela e Hospício de S. Crispim, sendo este também conhecido por Hospital dos Palmeiros.
O Hospital dos Palmeiros ao cimo da Rua das Congostas que já existia em 1398, administrado pelos sapateiros e anexado a um outro que eles já detinham (a capela anexa aos Palmeiros ficava ao cimo da Rua Nova de S. João, em frente da Calçada de S. Crispim, vulgarmente Calçada de S. Domingos com entrada pela Rua da Biquinha por onde corria o Rio da Vila);
O Hospital da Tareija Vaz Daltaro para mulheres pobres na Rua da Bainharia;
O Hospital de S. João Baptista, da confraria da nossa Senhora da Silva na Rua do Souto;
O Hospital do Espírito Santo e Albergaria do Remoynho em Miragaia, dos marinheiros e pilotos e de apoio aos mareantes.
Foram três senhoras benfeitoras, de quem se desconhecem os nomes, que fundaram o hospital tendo ainda doado o terreno, onde o hospital foi construído como era seu desejo, tendo ficado o mesmo concluído em 1443, mas, julga-se que a capela adstrita, já existiria em 1405 quando começou a ser construído, pelo que, teria nesta óptica, demorado 38 anos a ser levantado.
Naquela capela assentaria lugar a Confraria do Espírito Santo de S. Pedro de Miragaia que constituiria um compromisso das gentes do mar, e além da vertente religiosa e assistencial, também promoviam o espírito de grupo entre os seus membros, estando estes objectivos, consignados no respectivo compromisso.

“A administração do hospital do Espírito Santo foi, entregue inicialmente, a um frade do convento de S. Domingos de nome Frei Vasques Anes.
No documento da fundação lê-se que se destinava a agasalhar pobres, peregrinos, envergonhadas e caminhantes.
Certo é que os dominicanos, por qualquer razão desconhecida, cedo deixaram de administrar o dito hospital.
É opinião de alguns, que, em 1450 (quando ainda não existiam mosteiros no Porto) um abade de nome Afonso Martins assinou o título paroquial que trespassava aos mareantes de Miragaia a administração deste hospital, passando este a ser "directamente dirigido por quem o tinha criado".
Fonte: aportanobre.blogspot.pt

Miragaia – Ed. aportanobre.blogspot.pt


Na foto acima, muito antiga, seguramente de meados do século XIX, assinalada com o rectângulo laranja está a capela do Santo Espírito.


A administração estava confiada à Confraria dos mareantes. A sua finalidade seria a de socorrer os pobres da freguesia, pois os de fora só poderiam estar lá 3 dias. Tinham, ainda, obrigação de dar sepultura condigna aos cadáveres que chegavam nas águas do Douro. Era uma das instituições mais ricas da cidade, pois recebia avultadas dádivas e testamentos de ricos mareantes. Na praia de Miragaia havia estaleiros navais que pagavam por cada “assento” de navios que aí construíam. Tinha também muitos devotos que ofereciam esmolas e rendimentos de prédios de sua propriedade. Em meados do séc. XVII o hospital foi anexo ao Hospital de Santa Catarina na Rua da Reboleira”.
Fonte: portoarc.blogspot.

Do conjunto ainda resta, hoje, algo da capela que já foi Museu e teve à sua guarda, entre outras peças valiosas, o tríptico de Pentecostes ou do Espírito Santo.

Tríptico de Pentecostes

“O Tríptico, flamengo, do Espírito Santo foi encomendado em 1515 por um cidadão chamado João de Deus, que o ofereceu à Confraria. Diz-se que o personagem ajoelhado, que se vê no volante esquerdo do tríptico, será o retrato do próprio doador. Também há quem afirme que o retrato será o de outro João de Deus e que o Tríptico terá sido pago com dinheiro deixado em testamento por este, embora encomendado pelo primeiro, que terá mandado pintar o retrato do João de Deus falecido, em sua homenagem. Esta obra notável encontra-se actualmente no Museu de Arte Sacra da Confraria do Espírito Santo, ao lado da Igreja de S. Pedro de Miragaia”
Fonte: portoarc.blogspot.


Capela do Santo Espírito


A construção da foto acima, é o que resta da capela do Santo Espírito do hospital da confraria do Espírito Santo.
Foi reedificada em 1802 e as duas torres que lhe pertenciam demolidas por ameaçar ruína e serem desnecessárias, presumindo-se que estas, fossem as casas do hospital.


Acesso actual à capela


O Hospital do Santo Espírito estava ligado à Igreja de S. Pedro de Miragaia, notando-se ainda paredes e caminhos, na foto acima;
O Hospital de S. João Baptista, por sua vez, começou por funcionar em Cima de Vila, de onde transitou para a Rua do Souto, no começo da actual Rua dos caldeireiros.




Confraria de Nossa Senhora da Silva



Interior da Capela da Senhora da Silva



Era a Confraria da Nossa Senhora da Silva na Rua dos Caldeireiros, dos ferreiros e anzoleiros que administrava o hospital de S. João Baptista e ainda os hospitais de Santiago, de Santa Catarina, tendo a confraria reunido em 1685, num só hospital as suas instituições de assistência na Rua de Trás com comunicação para a sede da irmandade na Rua dos Caldeireiros.
O hospital de Santiago funcionava, principalmente, como albergaria para apoio aos peregrinos e tinha como obrigação "dar camas boas e limpas em que se possam albergar nove desses peregrinos aos quais serão dadas rações de entrada e saída, e lume, água e sal quanto lhes fizer mister".
A capela da confraria situava-se num 1º andar e prestava culto a S. João Baptista e Santa Catarina, os santos da devoção de cada um dos hospitais.
 
 

Imagem de S. João Baptista presente na capela de Nossa Senhora da Silva


 

Imagem de Santa Catarina presente na capela de Nossa Senhora da Silva



Em tempos (começo do século XX) teve existência o Hospital de Santa Clara, anexo ao convento do mesmo nome. 




Hospital de Santa Clara




A Torre de Pedro Sem, em 1486, também passaria a funcionar esporadicamente como hospital, em virtude da peste que começou na Rua das Taipas.




Outros Estabelecimentos Hospitalares


Os Hospitais dos Lazáros e os Hospitais das Ordens Terceiras (sempre pugnaram por ter o respectivo hospital associado) foram sempre, uma referência na assistência na saúde.
A notícia mais antiga que se conhece sobre a actividade de uma gafaria dá-a como tendo funcionado, já em 1247, na Ribeira onde hoje está a igreja de S. Nicolau. Só no século XIV se fez a transferência do hospital para a parte de fora das muralhas com a fundação de uma ermida e hospital que tomaram como padroeiro S. Lázaro e que já não existem. Daí adveio o nome ao local que abrangia o actual jardim e artérias circundantes. Uma descrição desses sítios dos meados do século XIX diz-nos que «o campo ou terreiro de S. Lázaro, em frente da capela e da gafaria, se assemelhava a um vulgar largo de feira em terra provinciana…».
Manuel de Passos Castro, que foi tesoureiro-mor da Colegiada de Cedofeita, morreu em 1718. No seu testamento legou uma avultada soma em dinheiro à Santa Casa da Misericórdia para que esta instituição mandasse construir um recolhimento destinado a meninas órfãs e pobres, «de boas famílias…». A Misericórdia aceitou a incumbência e deu cumprimento à vontade do clérigo mandando erguer, no local onde antes estivera a capela e gafaria de S. Lázaro, a igreja e o Recolhimento de Nossa Senhora da Esperança, obra de Nasoni.


 Hospital dos Lázaros

Em 1850 a doença da lepra não possuía, no Porto, a dimensão que atingira durante a Idade Média. Mas ainda era considerada um verdadeiro flagelo. E para o combater a Santa Casa da Misericórdia do Porto mandou construir, na Rua das Fontainhas, o hospital dos Lázaros e das Lázaras, destinado a recolher os portadores da doença. No edifício funcionaram depois os hospitais menores de que aquela instituição era administradora. Tudo feito em terrenos que, no século XVII, pertenciam a uma propriedade chamada Quinta de S. Lázaro.



Hospital dos Lázaros, na Rua das Fontainhas, no início do século XX




Asilo de S. Lázaro ou Hospitais Menores



Hospitais dos Ingleses



A numerosa comunidade britânica teve, desde cedo, as suas estruturas hospitalares próprias.




O hospital dos Ingleses (1) junto à Porta dos Banhos


Na gravura acima, de Teodoro de Sousa Maldonado (1789) vê-se, ao lado da Porta dos Banhos, o primeiro hospital inglês no Porto, conhecido como o Hospital dos Marinheiros Ingleses, que hoje situaríamos no parque auto da Alfândega.
O hospital que ficava na Porta dos Banhos, acabou por ser demolido e transferido para a zona de Monchique, mais propriamente, para a Rua da Bandeirinha. 
Após a confluência da Rua Monte dos Judeus com a Rua da Bandeirinha, subindo esta, encontrávamos pelo lado direito, um pouco mais à frente, a entrada, por um portão, para o British Hospital, ao qual se seguia um outro pertencente à colónia inglesa, cuja propriedade, toda murada, em meados do século XIX, era de José Maria Ribeiro Valente.
Foi médico-director do hospital dutante muitos anos o conhecido, à época, Dr. Rodrigo Albano de Magalhães.


Descendo, pela esquerda, se ia para o British Hospital, à Bandeirinha


Prédio onde esteve o Hospital Inglês - Ed. Manuela Campos



“…fundado em casas e terrenos de José Maria Rebelo Valente, tinha farmácia privativa, claro que dirigida por um farmacêutico inglês, e era dedicado exclusivamente aos súbditos de Sua Majestade Britânica. Só que a colónia inglesa aqui residente tinha sólidos meios de fortuna. Dai que o Hospital só servia ocasionalmente algum marinheiro inglês que viesse doente em barco por cá arribado ou que por cá adoecesse. Um remansoso local, com óptimas vistas sobre o Douro e Gaia, não dava para manter muito tempo os doentes.” 
Fonte: Júlio Couto, In "Guia de Miragaia”





Hospital Joaquim Urbano


Em frente à Capela do Senhor Jesus da Boavista, no antigamente chamado Montebelo, próximo do cruzamento da actual Rua de Barros Lima e a Avenida Fernão de Magalhães, fica o Hospital Joaquim Urbano, mandado levantar no fim do séc. XIX por Ricardo Jorge como provisório, mas que se tornou definitivo. Teve o aparecimento desta unidade de saúde, a ver com uma decisão preventiva contra uma epidemia de cólera que grassou na Europa, mas que acabou por não nos atingir.
Médico, Professor Universitário e Escritor, Ricardo Jorge (1858/1939) frequentou com brilhantismo a Escola Médico-Cirúrgica do Porto de 1874 a 1879, tendo concluído, aos 21 anos de idade, a licenciatura em Medicina com a dissertação “Um Ensaio sobre o Nervosismo”.
Após umas viagens de estudo ao estrangeiro, regressou a Portugal e deu início a um curso de Anatomia dos Centros Nervosos e criou o pioneiro laboratório de microscopia e fisiologia do Porto. Dedicou-se à Saúde Pública e também à Hidroterapia, tendo publicado vários estudos e especialmente sobre as Caldas do Gerês.
A 7 de Dezembro de 1888, o governo adjudicou por contrato provisório, as águas medicinais do Gerês a uma empresa formada pelo Dr. Ricardo de Almeida Jorge e Dr. Paulo Marcelino Dias Freitas, distintos médicos e professores pelo prazo de 50 anos. O contrato definitivo é de 25 de Julho de 1889, mas em Março de 1890 por escritura a concessão foi vendida a uma sociedade anónima, “A Companhia das Caldas do Gerês”, de que eram sócios o Dr. Ricardo Jorge e o capitalista bracarense Manuel Joaquim Gomes, já que o Dr. Paulo Marcelino se afastou.
Esta sociedade abriria falência em 1893 e, no tempo que existiu, limitou-se praticamente a encanar as águas da Fonte, para o hotel Universal.
A concessão iria então ser entregue à “Empresa das Águas do Gerês”, que em 1899 abriu os novos balneários.


Publicidade às Caldas do Gerês em 1890


Bica e Poços das termas do Gerês demolidos em 1897



Por convite da Câmara Municipal do Porto, em 1892, com quem já tinha colaborado sobre questões de Higiene Pública, dirigiu os Serviços Municipais de Saúde e Higiene da Cidade do Porto e chefiou o Laboratório Municipal de Bacteriologia. No âmbito destas actividades publicou a série do respectivo Anuário e um Boletim Mensal de Estatística Sanitária do Porto, que fizeram dele o introdutor da moderna estatística demográfica em Portugal.
Abandonou a Cidade do Porto em 1899, aquando da Peste Bubónica, descontente com a população, violenta e instigada por forças políticas contra a sua orientação pelas medidas profiláticas que tentou implementar.
Alguns órgãos da comunicação social foram os que mais reclamaram das medidas que foram sendo tomadas face ao avançar da epidemia.
Durante a instauração do cordão sanitário ao Porto, durante a crise provocada pela peste bubónica em 1899, os jornais  “O Comércio do Porto”, “Jornal de Notícias” e “Voz Pública” instigavam os portuenses a resistir, ao cerco sanitário que tinha sido montado em volta da cidade e alimentavam a polémica, em artigos jornalísticos de vitimização face à capital.
O governo de Lisboa considerou “urgente” a necessidade de repressão daqueles “desmandos”. Aos processos juntou-se a suspensão. Para ultrapassar a suspensão que foi então ordenada, o JN mudou de nome duas vezes, para Notícias, primeiro, e Diário da Manhã, depois e a sua tiragem passaria dos 16000 para 22000 exemplares, no fim de 1899.
Por outro lado, o governo central nomearia Câmara Pestana, um higienista e professor universitário, que exercia a sua profissão em Lisboa, que se destacava como um dos pioneiros da bacteriologia, em comissão de serviço público para estudar com o director do posto de saúde municipal portuense e com alguns médicos estrangeiros, o valor dos soros contra a peste.
Durante a sua estadia no Porto, Câmara Pestana contrairia a doença que investigava, tendo, sem saber que estava contaminado, partido para Lisboa. Acabaria por falecer no dia 15 de Novembro de 1899, no Hospital de Arroios, onde tinha sido isolado.
O nome de Câmara Pestana haveria de ser atribuído à rua que dá acesso ao Hospital Joaquim Urbano, em sua homenagem póstuma.



Brigada de desinfecção preparando-se para entrar numa casa Ed. Aurélio da Paz dos Reis; Fonte:CPF


Por sua vez, Ricardo Jorge, em Lisboa, desenvolveria intensa actividade criando organismos de estudo, presidindo a instituições e representando Portugal em conferências no estrangeiro, sendo nomeado Inspector-Geral de Saúde e, depois, professor de Higiene da Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa.
Em 1903, foi incumbido de organizar e dirigir o Instituto Central de Higiene, que passaria a ter o seu nome a partir de 1929 e, hoje, é o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge.

Casa onde nasceu Ricardo Jorge na Rua Mártires da Liberdade


O Hospital de Joaquim Urbano foi fundado em 1884 com o fim de isolar e tratar doentes com cólera, pois, na França e Espanha grassava uma epidemia e temia-se que ela chegasse a Portugal, o que, não chegou a acontecer.
Tinha então o nome de Goelas de Pau.
O Hospital Joaquim Urbano começou por ser Hospital do Senhor do Bonfim em 1899 com administração da Santa Casa da Misericórdia e acabou, inesperadamente, nesse ano, por ser totalmente ocupado com os doentes que foram alvo da peste bubónica que entretanto surgiu.
Ricardo Jorge, o responsável-mor do Reino na Área da Saúde, acabaria por nomear Joaquim Urbano para director do estabelecimento, no início do século XX, sucedendo-lhe como director, de 1915 a 1951, o Dr. Álvaro Pimenta.
Nele se instala um laboratório bacteriológico dirigido pelo Prof. Sousa Júnior, que entretanto elaborara uma valiosa tese de Anatomia Patológica com o estudo das peças obtidas em doentes de peste bubónica. Este laboratório é anexado em 1915 à Faculdade de Medicina, embora continue sedeado nas Goelas de Pau e entregue ao Prof. Carlos Ramalhão que, em 1917, passa a catedrático de Bacteriologia.
O hospital tomaria o nome de Joaquim Urbano após a morte deste médico em 1914, tendo, no entanto, ele sempre sido mais conhecido por Goelas de Pau, nome que advém da alcunha do proprietário (Francisco Peixoto da Gama, natural de Bragança) que deu ainda, por essa via o nome à quinta (Quinta do Goelas de Pau) e que seria conhecida também como Quinta do Fojo, nos terrenos da qual foi instalado.
A propriedade em questão pertencia a um tal Francisco Alves Peixoto da Gama, um bem-sucedido industrial de seda que, por meados do século XVIII, se fixara naquela zona do Bonfim. Era oriundo de Chacim, terra transmontana do concelho de Bragança, onde a indústria da seda teve um grande desenvolvimento. 
Francisco da Gama era um homem de ele­vada estatura, "esgalgado", com um pescoço muito alto e, por causa destas características, o povo tratava-o pelo apelido do "Goelas de Pau", denominação que também era dada à sua pro­priedade. E o hospital, por tabela, apanhou a mesma designação. 
Outros autores dizem que o estranho topónimo, seria devido a canais em madeira (pau) que serpenteavam entre os socalcos da elevada quinta e que transportavam a água de irrigação dos terrenos.
João G. O. Torres, apreciado cronista do Porto, em artigo que publicou na revista "O Tripeiro" de Setembro de 1910, evoca a quinta, a casa e o mirante do Goelas de Pau nestes termos:

"conheci bem (o mirante e a quinta) na minha meninice. Era por esse tempo uma velha e arruinada casa, assim a modos de propriedade sem dono e aban­donada. No deplorável estado de ruína em que jazia, tinha criado em volta de si a tra­dição de mistério entre o povo como um lu­gar onde habitavam bruxas e espíritos ma­lignos, pelo que ninguém se aproximava do sítio sem que não fosse, como costuma dizer-se, com o credo na boca".

Casa da Quinta do Goelas de Pau e respectivo mirante c. 1910 - Ed. JN

Em 2016 os serviços hospitalares prestados pelo hospital Joaquim Urbano seriam transferidos para o hospital de Santo António, aguardando-se pelo anúncio do destino que será dado às instalações abandonadas.
O “Goelas de Pau” deixou de existir!


Hospital-Sanatório Rodrigues Semide


Manuel José Rodrigues Semide, natural da freguesia de Semide, concelho de Miranda do Corvo, nasceu em 24 de Abril de 1825. Era filho de José Rodrigues Novo e D. Antónia Rodrigues da Conceição. Casou com Adelaide Augusta Pinto de Faria Semide e não teve descendentes.
Legou a sua fortuna à Santa Casa da Misericórdia do Porto para construção de um sanatório de doentes tuberculosos no Porto, quando a tuberculose era uma terrível enfermidade que, por todo o lado e todos os anos, fazia milhares de vítimas.
Faleceu em 1910.
No entanto, a sua vontade só foi possível ser satisfeita dezasseis anos depois, quando o hospital foi inaugurado em 1926, não por incúria da Instituição, mas tão-somente pela instabilidade da época e, porque entretanto, se iniciara a 1.ª Grande Guerra.
O hospital foi levantado nos terrenos da denominada Bouça de Currais, que por escritura celebrada em 14-10-1914, foi comprada pela Santa Casa a D. Maria Augusta dos Santos Fontes e seus filhos, pela quantia de 10.000$00.
Em 1976, o Sanatório Rodrigues Semide passou à administração do Estado, que o geriu até 1989. 



Edifício principal do Hospital Rodrigues Semide



Pavilhões do sanatório


No ano lectivo de 1991/92, a Universidade Lusíada instalou-se na Quinta do Semide, onde funcionava o antigo Hospital Rodrigues Semide, local onde se encontra até hoje. 



Instalações anexas ao edifício principal do Hospital Rodrigues Semide e capela

A Universidade viu-se obrigada a fazer remodelações ao longo dos anos, visto que o estado dos edifícios era muito precário. 


Hospital Geral de Santo António

O Hospital Geral de Santo António, antigamente Hospital Real de Santo António, localiza-se na freguesia de Miragaia.
O Hospital Geral, Central e Universitário, é responsável pelo ensino do Mestrado Integrado em Medicina do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) da Universidade do Porto. Apesar de instalado em um edifício de grande valor histórico e arquitectónico, é um dos mais modernos e equipados hospitais do país, sendo uma referência de qualidade na prestação de cuidados de saúde.

Fachada principal

Na segunda metade de setecentos, o Hospital de D. Lopo já não era suficiente para recolher os doentes que, de toda a cidade e arredores, a ele acorriam.
Em 1769, o arquitecto inglês John Carr conclui o projecto do novo Hospital Real de Santo António, encomendado pela Mesa da Misericórdia. No ano seguinte, a 15 de Julho, foi benzida e lançada a primeira pedra. O projecto não chegou a executar-se sequer em metade, pois era de uma grandiosidade extraordinária. Em 1799 estava terminado o corpo sul, que foi ocupado por 150 mulheres doentes provenientes do Hospital de D. Lopo.
Entretanto o Hospital D. Lopo só encerraria definitivamente em 1824.
Nesta época, além do Hospital de Santo António, a Misericórdia tinha à sua responsabilidade outros hospitais:
- Hospital de D. Lopo, na Rua das Flores;
- Hospital dos Entrevados, em Cima de Vila;
- Hospital das Entrevadas, junto à igreja de Santo Ildefonso;

“Começado a construir em 15 de julho de 1770 em terrenos vagos, na época, nos arrabaldes da cidade, o Hospital de Santo António é o mais paladiano dos edifícios portugueses, projeto do arquiteto inglês John Carr. Desenvolve-se em vários andares, de modo sóbrio, simples e simétrico, mas com volumes bem definidos animando a superfície. Possui arcada e aparelho no piso térreo, formando um embasamento. Corpo central com colunas, simulando um templo clássico, ladeado por vários corpos que avançam e recuam até aos torreões nas esquinas. O primeiro piso é recuado, possuindo varanda e balaustrada, lateralmente ao corpo central, com várias portas coroadas por frontões triangulares e curvos. A decoração é muito resumida, limitando-se a algumas (poucas) esculturas, urnas e elementos arquitetónicos clássicos.
O arquitecto previra a construção das paredes em tijolo. Porém, ignorando esse pormenor, os executantes fizeram-nas de granito. As obras foram, por isso, muito demoradas e dispendiosas. Segundo o projecto de Carr o edifício seria quadrangular e de quatro fachadas, de 172,26 metros as situadas a oeste e a este e de 177,54 metros, as de norte e sul, ocupando uma área total de 29.721 metros quadrados. No meio do pátio ficaria a capela, de planta circular no interior e quadrangular exteriormente, tendo de lado 29,26 metros, com um zimbório, 32 colunas e 4 estátuas. Tudo ficou, no entanto, só em projecto, devido às disponibilidades limitadas. O edifício ficou assim com planta em U por não se ter executado a fachada poente e haverem sido encurtados os corpos do norte e do sul”.
Fontes – Sites: monumentos.pt; pt.wikipedia.org 


Fachada Sul e construção de muro de suporte da Rua da Restauração – J. Villanova 1833


Pormenor da planta de José Francisco de Paiva c. 1822 (antes de 1824), onde está salientada com o contorno a amarelo, a parte do edifício projectada

Por ter sido erguido em terrenos alagadiços as dificuldades encontradas ao longo da sua construção foram imensas, levando ao aparecimento de um coro de críticas de vários sectores da sociedade civil.
Em 1872 em “As Farpas” Ramalho Ortigão retoma as críticas ao Hospital de Santo António.


“Collocado na depressão de duas encostas, cujas vertentes se empoçam no ponto em que elle está construído, o hospital de Santo António do Porto assenta n’um pântano. Em 1868 tratando-se de estabelecer ali uma lavanderia, abriu-se um poço na cerca do edifício. O relatório oficial d’esta obra diz que a 16m,28 o poço produzia 54 pipas d’agua em vinte e quatro horas!
Os alicerces do edifício, imensa mole de granito, com abobadas e paredes de três metros de espessura, - mergulham-se em agua através de oito metros de entulho poroso e movediço. As águas subterrâneas, em virtude da pressão e da capillaridade, sobem pelas paredes junctamente com as exalações da drenagem e evaporam-se em miasmas aquosos e pútridos dentro do edifício. Tem este hospital por vizinhança íntima, os seguintes estabelecimentos: o quartel da guarda municipal, o mercado de peixe, o hospital do Carmo e as cadeias da relação. Está a cavaleiro do rio, cujos nevoeiros letaes o envolvem e penetram. De resto no coração da cidade”.
Fonte: “doportoenaoso.blogspot.pt”

Projecto do Aqueduto do Rio Frio atravessando Hospital de Santo António em 1851

“Neste hospital começou o ensino da medicina no Porto, cujas origens foram a Régia Escola de Cirurgia, instituição criada em 1825, ao mesmo tempo que a congénere de Lisboa. A criação da instituição destas escolas era assim justificada:
“Sendo indispensável e da mais absoluta necessidade que os Cirurgiões adquiram os precisos conhecimentos para bem e dignamente prehencherem, e com publica utilidade, os empregos de Cirurgiões no Exército e na Armada; assim como para poderem socorrer os Povos, tanto nos lugares onde não existirem Medicos, como naqueles cujo número não for sufficiente para ocorrer a todas as affecções do seu foro”.
Depois de ter aberto as portas pela primeira vez a 25 de Novembro de 1825, a Escola funcionou com normalidade durante dez anos, no Hospital da Misericórdia (depois Hospital de Santo António).
Em 1836, uma reorganização do ensino médico, que procurou melhorar “não só com proveito do ensino público, mas também com utilidade dos hospitais de ambas as cidades”, resultou numa reforma das escolas de cirurgia do Porto e na consequente criação da Escola Médico-Cirúrgica do Porto.
Texto adaptado de Cândido dos Santos - Universidade do Porto



Entrada da Régia Escola de Cirurgia (fachada principal do hospital) 



A Escola Médico-Cirúrgica do Porto sucedendo à Régia Escola de Cirurgia com existência desde 1825, foi então criada em 1836, funcionando no interior do Hospital de Santo António e só, em 1883, se irá instalar no edifício próprio junto ao quartel da Guarda no antigo convento do Carmo. 



Em 1884, uma gravura mostrando o Observatório Meteorológico da Escola Médico-Cirúrgica (elevando-se do telhado) e a estátua de Hipócrates; ao longe, em simetria, a estátua de Galeno - Fonte: Hemeroteca de Lisboa



Escola Médico Cirúrgica, junto do convento dos carmelitas c. 1900




 Hospital de Santa Maria



“Em 1888, uma simples vendedeira do mercado do Anjo, levou para casa uma mulher muito pobre e doente que se encontrava na rua. A partir daí, a simples vendedeira continuou a recolher pessoas no mesmo estado, mas vendo-se sem recursos para ajudar toda a gente, decide pedir auxílio às Irmãs Franciscanas de Calais.
As Irmãs acabaram por aceitar recolher os enfermos numa casa de arrendamento na rua da Bandeirinha, designando-a de Hospital de Nossa Senhora de Lurdes, destinado a pessoas idosas, pobres e vítimas de doença.
Em maio de 1897 a Congregação, adquiriu um terreno na rua de Camões, por dois contos de réis, onde mandaram construir um edifício para instalar o Hospital de Santa Maria, algo concretizado entre 1900 e 1901”.
In ” PortoDesaparecido-facebook”


Hospital de Santa Maria - Fonte: ” PortoDesaparecido-facebook”



“Em 1924 o Hospital assina o primeiro contrato com a Companhia Mutual do Norte, que foi posteriormente seguida por outras seguradoras e em 1929 são instalados aparelhos de Raios x para radiodiagnóstico e são criados os serviços de radiologia, diatermia e fisioterapia.
Em 1931 a instituição passa a dispor de luz elétrica, incluindo as arrecadações e lavandarias e em 1941 o Hospital passa a dispor de serviços de radiologia, oftalmologia, ginecologia e obstetrícia, urologia, ortopedia e cirurgia geral
Os primeiros passos para a abertura da Escola de Enfermagem, são dados em 1942, o que veio a acontecer com a Instituição do Curso para Auxiliares de Enfermagem em 1952 e do Curso Geral de Enfermagem Geral em 1954.
Nos três últimos anos da década de 50, o Hospital renova mais uma vez as suas instalações: construção de um Pavilhão para Senhoras, do Pavilhão da Sagrada Família com oito quartos e de uma nova sala de operações dotada de modernos equipamentos e instrumentos cirúrgicos, incluindo um amplificador de imagem.
Construção da A Escola Superior de Enfermagem é finalmente construída em 1960, junto do Hospital.
Actualmente o Hospital conta com sete pavilhões de internamento e um total de 179 camas, 6 salas de bloco operatório, 44 gabinetes de consulta, um Serviço de Esterilização, um Serviço de Medicina Física e Reabilitação, um Serviço de Imagiologia e um Serviço de Atendimento Médico Permanente. Recebe diariamente 2.000 pessoas para consultas, cirurgias e exames, e realiza anualmente 6.000 cirurgias, 97.000 consultas e 155.000 exames de diagnóstico”.
Fonte – Site: hsmporto.pt



Hospital do Conde de Ferreira



A Cruz das Regateiras ficava num largo fronteiro ao Hospital de Conde Ferreira, actual Largo da Cruz.
Foi em terras do casal do Vale, da Quinta do Paço, chamada também Quinta da Cruz das Regateiras que foi comprada uma área de 12 hectares, onde se construiu, por iniciativa do conde de Ferreira, Joaquim Ferreira dos Santos, nascido em 1782 em Azevedo, Campanhã, o hospital dos alienados que mais tarde tomou o nome daquele titular.
Quinto filho de uma família pobre chega a estudar no seminário, mas não mostra qualquer vocação e entusiasmo.
Cedo embarca para o Brasil dedicando-se ao comércio e acaba por tornar-se traficante de escravos.
Volta a Portugal onde continua com as suas actividades comerciais e bancárias e, torna-se ainda, um apoiante de D. Maria II que o nomeia, barão, visconde e conde.
Morre em 1866 sendo sepultado no cemitério de Agramonte.
Entretanto em 21 de Setembro de 1877 o escultor Soares dos Reis entrega uma estátua do Conde de Ferreira, sendo-lhe pago, no dia seguinte, 600 mil réis, após aprovação da estátua pela Academia Portuguesa de Belas-Artes, de acordo com o contrato da empreitada assinado em 2 de Setembro de 1875.
Essa estátua ficará em exposição no Museu Soares dos Reis e, uma outra réplica em bronze, no Cemitério de Agramonte (Secção da Ordem da Trindade).
Não tendo descendentes directos o Conde de Ferreira, deixa a sua fortuna a uns poucos amigos, uns sobrinhos, à Santa Casa da Misericórdia, à Ordem Terceira da Trindade, Ordem Terceira do Terço, Ordem Terceira de S. Francisco e Ordem Terceira do Carmo.
Uma verba considerável destina-a ao ensino primário destinando 144 contos de réis, para que o estado construa 120 escolas primárias, para ambos os sexos, construídas em vilas sede de concelho e obedecendo a um mesmo projecto e dotadas, ainda, de residências para os professores.
Quando morreu, em 1866, o conde de Ferreira nomeara seu testa­menteiro um tal José Gaspar da Graça que de­via dar cumprimento ao seu desejo de que com o remanescente da herança, que era 600 contos de réis, se procedesse à constru­ção de um hospital de alienados.
Os testamenteiros acabariam por adquirir, a 26 de Novembro de 1867, um terreno, cuja escritura de venda mencionava uma quinta situada na Cruz das Regateiras ou Rua de Costa Cabral vendida por José Ferreira Pinto Basto, filho do fundador da Vista Alegre, com o mesmo nome.
Em 25 de Julho de 1869, realizou-se no Porto uma manifestação exigindo o cumprimento do legado, pois passados três anos sobre a morte do conde o hospi­tal continuava sem ver a luz do dia.
Por fim, o hospital seria inaugurado em Março de 1883 e entre­gue à Santa Casa da Misericórdia do Porto, que ainda hoje o administra.
O projecto do hospital é entregue inicialmente ao professor de arquitectura da Escola de Belas Artes do Porto, Manuel Ribeiro, mas devido ao seu falecimento durante a construção o projecto acabará por ser entregue a Faustino Vitória, Director Geral de Obras Públicas do Norte.
Diz-se que, a arquitectura do hospital do Conde de Ferreira foi inspirada no Hospício Pedro II, ou Hospital da Praia Vermelha, inaugurado no Rio de Janeiro em 1852 e que foi o primeiro hospital psiquiátrico do Brasil e o segundo da América Latina.

Vista aérea do Hospício Pedro II - Fonte: Wikipédia

Uma estátua do Conde Ferreira, da autoria de Teixeira Lopes, pai, (José Joaquim Teixeira Lopes) esteve, inicialmente, sobre a frontaria do hospital.
Em 1908 foi apeada para um plinto colocado em frente do edifício, tendo, o lago que aí se encontrava, sido levado para junto de arruamento na lateral norte do edifício.

Hospital do Conde de Ferreira

Na foto anterior é possível ver o pequeno lago redondo e a estátua do conde por cima do frontão.

Hospital do Conde de Ferreira


Na foto acima a estátua está onde antes estava o lago entretanto removido.

O lago está hoje num outro arruamento lateral


O primeiro director do hospital foi António Maria Sena, que se notabilizaria como médico e ainda como político e, a quem se fica a dever, a publicação da primeira lei psiquiátrica.
Outras figuras notáveis na área da psiquiatria como o director Júlio de Matos ou Magalhães Lemos que tinha sido contratado para exercer funções como médico no hospital, por aí passaram.



Casas na Rua da Cruz


As três casas da foto acima de 1900 estavam situadas na Rua da Cruz em frente ao hospital do Conde de Ferreira e destinavam-se ao alojamento do pessoal superior do hospital, inclusive para o seu administrador.
Foram estas casas demolidas depois de várias décadas de abandono e degradação e hoje só resta a fachada suportada por escoras.
Até à construção, a Sul do hospital, da Avenida D. João II e da Via de Cintura Interna, que lhe sucederia, esses terrenos eram do logradouro do hospital que possuía, ainda, uma extensa bouça que se estendia pela área onde hoje está o clube “Estrela e Vigorosa Sport” e que, em 1910, era um campo de tiro do “Élite Sport Club”.




Pela área ajardinada, em primeiro plano, passa agora a Via de Cintura Interna





Sanatório Marítimo do Norte e Clínica Heliantia


O Sanatório Marítimo do Norte foi um sonho tornado realidade do médico Joaquim Gomes Ferreira Alves.


“Com projeto do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira, foi fundado por Joaquim Gomes Ferreira Alves, sendo inaugurado em agosto de 1917. O sanatório estava vocacionado à época para o tratamento de diversas doenças, nomeadamente a tuberculose, pelo aproveitamento dos efeitos benéficos da água do mar (talassoterapia) e da luz do sol (helioterapia).
Em 1978, por doação efetuada pelo filho do fundador, Dr. Álvaro Ferreira Alves, transitou para a posse do Estado, condicionada à integração do pessoal nos quadros da função pública e à utilização do espaço para instalação de equipamentos de saúde. A partir dessa data deixou de funcionar, sendo posteriormente cedido à Associação S. João de Deus, ligada ao Presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses e para efeito de ali instalar um equipamento de apoio a enfermeiros aposentados, o que também nunca se concretizou, limitando-se o seu uso a servir como residência para o presidente daquele Sindicato e sua família, o que motivou diversas ações judiciais que culminariam com a cessação da cedência.
Sem ocupação, o edifício foi-se degradando, situação que só foi travada com a decisão governamental de instalar ali o Centro de Reabilitação Física do Norte. A cerimónia de lançamento da "primeira pedra" desta nova fase teve lugar em 26 de junho de 2010”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”

O arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira tem o seu nome também ligado ao Café Brasileira, Clube Fenianos Portuenses e Câmara Municipal de V. N. de Gaia, entre outros.


“Joaquim Gomes Ferreira Alves nasceu no Porto a 9 de abril de 1883. Entrou na Escola Médico-Cirúrgica do Porto em 1904.
Em 1911, apresentou a dissertação de licenciatura, intitulada “A helioterapia no tratamento da tuberculose”, à Faculdade de Medicina do Porto.
Defensor da helioterapia como tratamento de numerosas doenças, foi Diretor Clínico da Colónia Sanatorial Marítima da Foz do Douro, onde se recolhiam crianças das escolas municipais com problemas de saúde.
Fundou em 1917 o Sanatório Marítimo do Norte, em Valadares, Vila Nova de Gaia, que funcionava como uma instituição de beneficência onde se tratavam sobretudo crianças pobres, afetadas por tuberculose e raquitismo.
Em 1930 criou a Clínica Heliantia, na mesma localidade e também dedicada, entre outras enfermidades, ao combate da tuberculose através da terapêutica helio-marítima, seguindo o modelo de uma clínica suíça.
Faleceu em Francelos em 10 de novembro de 1944, no mesmo acidente de automóvel que vitimou o Dr. Pedro Vitorino”.
Fonte: “balcaovirtual.cm-porto.pt”



“ (…) Foi neste contexto que surgiram em Vila Nova de Gaia o Sanatório Marítimo do Norte (1917) e a Clínica Heliantia (1930), vocacionados para o tratamento da tuberculose óssea, apoiado na cura pelo sol, ar do mar e dos pinhais envolventes e na disciplina médica. Estes factores fizeram com que este conjunto de edifícios se localizasse numa zona relativamente isolada, nas proximidades da praia, no meio do Pinhal de Francelos, freguesia de Valadares . A construção e fundação deste conjunto foram promovidas pelo médico Dr. Joaquim Gomes Ferreira Alves (1883-1944), sob influência do médico suíço Dr. Auguste Rollier (1874-1954) e auxílio do benemérito Manuel Pinto de Azevedo. O projecto de ambos os edifícios é da responsabilidade do arquitecto Francisco de Oliveira Ferreira (1884-1957)3, tendo contado com a colaboração do construtor Domingues de Almeida e de Bernardo Moreira de Sá no projecto das lajes dos pavimentos do Sanatório e Domingues de Almeida na Clínica. O projecto das estruturas da Heliantia foi da responsabilidade do Engenheiro Civil José Praça”.
Fonte: Mestre Nuno Ferreira


Sanatório Marítimo do Norte em 1917



Sanatório Marítimo do Norte em 1917


Centro de Reabilitação Física do Norte e antigo sanatório


Clínica Heliantia – Fonte: Arquivo Histórico Municipal, CMP



Durante os anos 70, a clínica foi comprada pelo BPA (Banco Português do Atlântico) à Família Pinto de Azevedo e readaptada pelos arquitetos Manuel Magalhães e F. Abrunhosa de Brito para albergar o IESF (Instituto de Estudos Superiores Financeiros e Fiscais).
Joaquim Gomes Ferreira Alves, médico visionário, maçon, e benemérito, muito querido da população gaiense, morreu de forma trágica no dia 10 de Novembro de 1944, num acidente viário resultante da colisão do seu automóvel com um comboio de mercadorias, na passagem de nível de Francelos. O acidente também vitimou Pedro Vitorino, colaborador e amigo do médico desde os tempos da Academia Politécnica, que com ele viajava, quando ambos se dirigiam à Clínica Heliântia.
Este desastre provocou que a passagem de nível em Francelos fosse eliminada. 
O pinhal de Francelos, acima mencionado, e a praia de Francelos sempre foram referenciados como locais de excelência para revigoramento físico, dizia-se, pelos ares de iodo que, por lá, é possível exalar.

 
 
Perspectiva sobre o norte da Praia de Francelos, c. 1973, com o “BAR SOL”, o seu típico bar de apoio, ao fundo, à direita, e rio da Velha ou ribeira de Francelos (nasce em Canelas)


 
 

Perspectiva sobre o sul da Praia de Francelos, c. 1973, com as traseiras do “BAR SOL”, o seu típico bar de apoio, em primeiro plano
 
 
 
Mais tarde, em terrenos nas traseiras do “BAR SOL”, muito frequentado, nomeadamente, por estar dotado de uma muito requisitada “jukebox”,  nasceria o “Iodo” - restaurante, residencial, café e snack-bar.
Em 1979, foi inaugurada uma discoteca nas instalações do “IODO”.

 
 

O “IODO” - restaurante

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