quarta-feira, 30 de novembro de 2016

(Continuação 12)

PATRIMÓNIO MONUMENTAL E RELIGIOSO


A azulejaria do Porto, recebe elevada expressão nos templos desta freguesia.
Existem nesta freguesia, além da Igreja Paroquial de Santo Ildefonso, as igrejas dos Congregados, Trindade e do Recolhimento das Meninas Órfãs de Nossa Senhora da Esperança.
Na área desta freguesia há ainda as capelas seguintes: Capela das Almas, Senhora da Boa Hora de Fradelos, Divino Coração (Capela dos Pestanas) e do Hospital de Santa Maria.





Capela Nossa Senhora da Boa Hora de Fradelos actualmente



Historicamente data de 1283 a mais antiga referência a este lugar de Fradelos. Naquela época, Fradelos, então considerado como um arrabalde do Porto, era um lugar muito acidentado e pedregoso, repleto de terras férteis por entre as quais corria um pequeno ribeiro, o chamado Ribeiro de Fradelos, que ia desaguar um pouco mais à frente, no Rio da Vila, junto da Porta dos Carros, ou seja, na actual Praça de Almeida Garrett.
Fradelos confrontava a Norte, com o alto monte de Santo António do Bonjardim, uma enorme pedreira que foi totalmente arrasada aquando da abertura da Rua de Gonçalo Cristóvão.



“No largo de Fradelos (na actual Rua Sá da Bandeira), em frente da antiga fonte de Fradelos e lavadouros públicos, próximo da Rua de Santa Catarina está a Capela de Fradelos. É um bonito templo e faz-se à sua padroeira uma boa festividade no dia próprio, em 9 de Julho.
Em Fradelos existia uma fonte, em cujo frontispício figurava a imagem de Nossa Senhora da Boa Hora … e um hospício de monges beneditinos, e daqui a razão de ser do nome de fradelos ou fradinhos. Aquela fonte ficava situada à beira do caminho, muito próximo da rua e em local demasiado baixo, motivo pelo qual a imagem de Nossa Senhora da Boa Hora, “era facilmente exposta a várias indecências".
É assim que, não contentes com esta revoltante realidade, e no sentido de evitarem tais “indecências” os devotos de Nossa Senhora da Boa Hora (padroeira dos doentes e moribundos), entenderam ser necessário e urgente construir uma pequena ermida, junto da fonte de Fradelos, na qual com a “desejada decência” a imagem de Nossa Senhora continuasse a ser venerada e objecto de culto.
Foi a capela, construída (ou reedificada) no princípio do Século XIX, em 1804.
A 3 de Setembro de 1804, foi fundada a Irmandade de Nossa Senhora da Boa Hora, que recebeu o título de "Irmandade Pia"”.
De autor desconhecido



“Portanto em 1804, por iniciativa do padre Manuel Pinto Barbosa, um grande devoto de Nossa Senhora da Boa Hora, foi inaugurada junto à fonte de Fradelos uma capela, para "com a desejada decência", recolher no seu inte­rior a imagem da padroeira, a fim de aí lhe ser prestada "a devida veneração e, em seu louvor, serem celebrados os ofícios divinos". 
Com a devida vénia  a Germano Silva

Como é óbvio a fonte de Fradelos já não existe.




Fonte de Fradelos em 1908 – Fonte: J. Bahia Júnior, 1908



Capela de Nossa Senhora da Boa Hora de Fradelos em 1808



Capela de Fradelos com um acrescento à esquerda, talvez uma sacristia. 



Posteriormente, em 1849, por iniciativa de Manuel Ramos Chaves Lameiro, secretário da Irmandade que entretanto se constituíra, o primitivo tem­plo foi objecto de obras de remodelação e ampliação, que só terminaram em 1851.
Na última década do século XIX, a capela viria a ser removida com o auxílio da Câmara, do seu local primitivo junto da Fonte de Fradelos, para o lugar onde se encontra nos dias de hoje.
Devido ao seu estado de ruína, essa capela seria então substituída por outra, no mesmo local, cujo projecto obteve a licença nº 649/1889, de 20 de Dezembro, tendo sido anunciado na imprensa da época os termos do concurso de construção, em 4 de Março de 1890, e inaugurada pelo bispo do Porto, a 9 de Julho de 1893.
Para a recuperação da capela foi essencial a doação de verba importante do capitalista João Guedes de Azevedo.
 
 
“No dia 12 de Março, a Irmandade procedeu à abertura de cinco propostas para a execução dos alicerces da nova capela, sendo esta última, de Manuel Francisco Ferreira, aprovada pela comissão.
Os trabalhos devem principiar no prazo de oito dias.”
In jornal “A Palavra” de 15 de Março de 1890
 
 
 
“Esteve imponente a festividade da inauguração da capela de Fradelos feita em 9 de Julho.
Na capela-mor estavam duas imagens novas de S. Vicente e Santa Luzia, que foram dadas pelo sr. Domingos Ribeiro de Freitas”.
In jornal “A Palavra” de 11 de Julho de 1893
 
“A expensas de alguns devotos realiza-se domingo, 23 de Julho, na nova capela de Fradelos, uma festa a Nossa Senhora do Carmo.
A imagem festejada é a que estava, há muitos anos, em um nicho na Rua de Santa Catarina, a qual, a pedido do sr. Conselheiro Costa Almeida, ilustre presidente do município, foi mudada para a capela de Fradelos, onde tem um altar”.
In jornal “A Palavra” de 20 de Julho de 1893
 
 
A nova capela de Fradelos é uma construção rectangular de uma só nave, de arquitectura religiosa neoclássica.
Nela se venerou a primeira imagem de Santa Teresinha que veio para Portugal.
À Rua de Fradelos, que ia da capela à Rua do Bonjardim e que estava por concluir, seria dado o nome do benemérito João Guedes de Azevedo, após a sua conclusão.



Capela de Fradelos e Rua Guedes Azevedo ainda incompleta




Capela de Fradelos




Olhando com atenção vemos na foto acima, a cúpula da torre da capela da Senhora da Boa Hora, também conhecida por capela de Fradelos e, em plano recuado a torre da casa esqueleto, para exercício dos bombeiros quando os Sapadores tinham o seu quartel na Rua de Gonçalo Cristóvão.
A foto é anterior a 1929, pois, a capela, já na Rua Guedes de Azevedo, ainda não tem azulejos na frontaria.
A azulejaria interior desta capela que representa sobretudo, cenas da vida de Santa Teresinha é da autoria de Jorge Colaço.



Capela dos Pestanas



A Capela dos Pestanas anexa ao palacete do mesmo nome na Praça da República dedicada ao Divino Coração de Jesus, foi mandada executar pelo engenheiro José Joaquim Guimarães e é um curioso exemplar do estilo neogótico (1878-1888). Na frontaria, ladeando a torre, estão colocadas as esculturas de S. José e S. Joaquim (pai da virgem Maria), de Soares dos Reis.




Palacete dos Pestanas


Capela das Almas


«A capela tem a sua origem numa antiga capela feita em madeira erguida em louvor de Santa Catarina. A construção do edifício que hoje existe remonta aos finais do século XVIII, altura em que a Irmandade das Almas e das Chagas de São Francisco passou do Mosteiro de Santa Clara para a Capela de Santa Catarina.
“Com a anexação da irmandade cresceu também a fama e o culto de Santa Catarina, atraindo grande número de fiéis, o que obrigou os responsáveis da irmandade, que superintendiam o culto, a pensar numa nova construção.”
A capela tem dois corpos, sendo o segundo mais baixo, e sofreu obras de ampliação e restauro que modificaram o estilo original, em 1801.
A fachada principal tem uma porta emoldurada e rematada por um frontão circular. No tímpano fixa-se um brasão, bipartido, com as armas de São Francisco de Assis e de Santa Catarina. À esquerda ergue-se a torre sineira que tem dois andares: o primeiro tem uma porta com uma pequena janela, e o segundo quatro janelas rematadas por um varandim. A cúpula é rematada por uma cruz de ferro.
Dá-se ainda destaque para o vitral que representa as almas, executado no século XIX, pelo pintor Amândio Silva.
Até ao ano de 1929, as superfícies exteriores da capela estavam rebocadas e caídas de branco sem azulejos. O revestimento da capela é hoje em dia constituído por 15.947 azulejos que cobrem cerca de 360 metros quadrados de parede. Os azulejos que revestem a capela são da autoria de Eduardo Leite e foram executados pela Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego, em Lisboa. Datam de 1929 e representam os passos da vida de São Francisco de Assis e de Santa Catarina, que são venerados na capela.»
Fonte: “pt.wikipedia.org”


 

A capela primitiva, em madeira, de invocação a Santa Catarina, que deu origem à capela das Almas, fazia parte da quinta que é dada como existente já em 1662, em Fradelos, cujo senhorio directo era o Dr. João Freire de Melo.
Essa quinta partia de banda de nascente, ma margem esquerda da ribeira de Fradelos, “com o caminho que ia de Fradelos para a Porta de Cima de Vila”.



Encravada mesmo na baixa da cidade, onde palpita febril o coração duma urbe plena de movimento e de vida, situa-se a Capela das Almas ex-libris da velha e gloriosa cidade do Porto. É um pequeno-grande templo com traça de estilo neoclássico do século XVIII (fins). Correia de Azevedo na sua "Enciclopédia da Arte Portuguesa" escreve assim, resumidamente, mas com uma apreciação muito equilibrada, a Capela das Almas. "Situa-se no ângulo das ruas de Santa Catarina e Fernandes Tomás. Tanto a fachada como a nave são muito equilibradas e sóbrias.
Mas o que neste templo interessa distinguir é o seu completo revestimento exterior a azulejos da fachada e parede lateral Sul. Tais azulejos são da autoria de Eduardo Leite. A fama dos painéis de azulejo da Capela das Almas atravessou fronteiras e espalhou-se pela Europa e pelas Américas. Para confirmar esta asserção citam-se apenas dois casos. A revista de maior tiragem do mundo a "National Geographic", órgão oficial da National Geographic Society, com sede em Washington (Estados Unidos) chamou a atenção do mundo culto para os azulejos em causa, reproduzindo a cores, de toda a parede do lado Sul da Capela das Almas. Esta reportagem vem no volume 158, n.º 6, de Dezembro de 1980. A Televisão Francesa já estabeleceu contactos para filmar um documentário dos azulejos da Capela das Almas. Pois os preciosos azulejos da Capela das Almas correram o sério risco de se degradarem, de se perderem para sempre. Foi uma preocupação séria a sua recuperação, que felizmente se fez. Trabalho moroso, difícil, dispendioso, mas que está feito. O restauro começou no dia 1 de Setembro de 1982. Foram levantados e recolocados 2 400 azulejos. Foram feitos de novo, na Fábrica Viúva Lamego, em Lisboa,28 azulejos que se tinham partido quando caíram no pavimento da Rua Fernandes Tomás. No dia 17 de Dezembro de 1982 terminava esta obra delicada e difícil da recuperação dos azulejos.
Para se fazer uma pequena ideia da importância destes painéis, basta ter em conta que, no conjunto, foram empregues pintados e cozidos) 15 947 azulejos que cobrem cerca de 360 metros quadrados de parede. Na fachada (do lado da Rua de St., Catarina) são de realçar a imaginação de cenas das "Almas do Purgatório", decorações e quadros alusivos à Eucaristia e composições sobre a vida de Santa Catarina. O painel da parede lateral voltado para a Rua de Fernandes Tomas, tem várias cenas da vida de Santa Catarina e S. Francisco de Assis. Dedicados a Santa Catarina, virgem egípcia de sangue real, martirizada no Monte Sinai, os azulejos apresentam as seguintes cenas:
"Coroação de Santa Catarina", "Santa Catarina discute com os sábios de Alexandria" (18 dos quais conseguiu converter), "a vitória de Santa Catarina anunciada por um anjo" e "súplica de Santa Catarina no acto de ser degolada". Dedicado a S. Francisco de Assis, que antes de se entregar ao apostolado de Deus e dos pobres foi guerreiro, filho insubmisso, extravagante, gozador da vida, impulsivo, rebelde, mas sempre generoso, merecem ser admirados com especial atenção as composições: "Cristo solta-se da Cruz para abraçar S. Francisco", "S. Francisco a pregar na presença do Papa Honório III", "S. Francisco faz um milagre" (o da água a brotar duma pedra), "A morte de S. Francisco" e "S. Francisco a ser levado pelos anjos". Tamanha grandeza e beleza que quer queiram quer não faz parte da história da nossa azulejaria e é uma preciosa jóia da azulejaria portuguesa - esteve em perigo de se perder para sempre. Os malefícios do tempo fizeram-se sentir com agressividade ameaçando drasticamente, perigosamente, os magníficos painéis de azulejo da Capela das Almas. O perigo passou, a recuperação foi possível e os azulejos ali estão patentes em toda a sua frescura e beleza.
Para se avaliar quanto os azulejos enriqueceram a Capela das Almas basta ver, com atenção, e interesse uma das últimas gravuras deste templo, em reboco, sem os azulejos que hoje possui. É um desenho, por sinal muito bem executado, de Victoria Vila Nova, pseudónimo de Joaquim Carvalho, existente na Biblioteca Municipal do Porto. Por esta gravura se pode verificar que a Capela das Almas sem os seus painéis, parece não ultrapassar a dimensão artística duma vulgar e humilde igreja das nossas aldeias. Mas com os azulejos a Capela das Almas situa-se, sem favor, ao nível dos ex-libris que possui a nossa cidade. E na verdade um pequeno-grande templo.
Nesta Igreja (Capela das Almas) além dos azulejos há ainda valores artísticos que convém não esquecer ou subestimar. O painel do altar-mor é digno de ser admirado pela sua beleza, pelo seu equilíbrio, pela suavidade e leveza das figuras que nele aparecem, Nossa Senhora e os Apóstolos. O painel que representa a Ascensão do Senhor é obra do pintor Joaquim Rafael. Mede 5,61 m x 2,13 m. Foi pintado em 1815. Joaquim Rafael nasceu no Porto em 1783 e faleceu em 1864. Foi discípulo de Vieira Portuense e professor de desenho da Academia de Belas-Artes de Lisboa. Pintou também os painéis de Santa Clara, dos Clérigos e da Lapa.
O vitral da fachada também merece uma referência. Está assinado pelo pintor e professor da Escola de Belas--Artes do Porto, Amândio Silva. Tem uma simbologia perfeitamente enquadrada no dogma da redenção dos homens pelo sangue de Cristo. Representa um braço de Cristo, pregado na cruz, brotando da chaga da mão várias gotas de sangue que caem sobre as almas do purgatório. É um vitral no qual o artista pôs um carinho e interesse especiais (eu acompanhei a obra e a sua feitura) e que resultou muito bem. Para além destes motivos artísticos enumerados julgo dever assinalar duas imagens de Nossa Senhora: Nossa Senhora da Hora e Nossa Senhora das Almas.
Esta imagem de Nossa Senhora das Almas, é obra do século XVIII, tem muita beleza e sobriedade. É curioso que esta representação icnográfica, bastante usada na época, aparece-nos na imagem de Nossa Senhora da Lapa, muito semelhante a esta e numa imagem que existe na igreja paroquial de Castro Laboreiro que é perfeitamente igual à da Capela das Almas, excepto na peanha que não tem qualquer representação das almas do purgatório. O documento mais antigo que se encontra no arquivo da Capela das Almas é uma referência ao Breve Pontifício do Papa Pio VI, datado de 26 de Agosto de 1795, com Beneplácito Régio da Senhora D. Maria l em que se concede "uma indulgência plenária a todos os fiéis de ambos os sexos, que com as devidas disposições receberam o Santíssimo Sacramento da Eucaristia no dia em que entrarem para Irmãos da Venerável Irmandade das Almas do purgatório, erecta na Capela de Santa Catarina desta cidade".
A entidade que superintende na Capela das Almas é a Venerável Irmandade das Almas e Chagas de S. Francisco. Erecta na igreja de Santa Clara, nos fins do século XVIII, passou para a Capela de Santa Catarina. A festa principal é a do aniversário da Instituição do Sagrado Lausperene no dia da Ascensão do Senhor. O Lausperene era (e é ainda) em todas as Quintas Feiras do ano e foi autorizado por Breve Pontifício de 1804. A Festa principal desta Igreja é a Ascensão do Senhor, motivo pictórico do painel do artista Joaquim Rafael”.
Com a devida vénia à memória do Reitor da capela das Almas, Padre Alexandrino Brochado (1920-2016)




Capela das Almas em 1833 – Desenho de J. Villanova; Fonte - sabercultural.com 




Igreja de Santo Ildefonso



“Edificada sobre os alicerces da vetusta Ermida de Santo Alifon, nos princípios do século XVIII, tem a fachada, barroca, dividida em três corpos por pilastras, sendo a parte central ligeiramente avançada. Os corpos laterais ostentam em linha vertical, duas janelas sobrepujadas por frontões e terminam em torres sineiras rematadas, em cada face, por esferas e frontões, erguendo-se a meio pirâmides ornamentais. No corpo central rasga-se a porta, rematada por um frontão triangular. O tímpano ostenta uma inscrição e é encimado por um entablamento denticulado. Sobre ele rasga-se um nicho com uma escultura do padroeiro.
Nas paredes admiram-se alguns painéis de azulejos com cenas da vida de Santo Ildefonso e alegorias à Eucaristia, da autoria de Jorge Colaço com data de 1932.
O interior é de uma só nave, coberta por um tecto de masseira com estuques. Suspensos ao centro figuram dois grandes quadros, atribuídos a Domingos Teixeira. Nos lados menores rasgam-se nichos com esculturas de gesso. Os altares laterais são neoclássicos, e os colaterais, de talha rococó.
A capela-mor tem o tecto e paredes cobertos por estuques e é rematada superiormente em lanterna. O retábulo, de talha barroca e rococó, data, provavelmente, de 1730. Nele se enquadra um painel representando o padroeiro adorando a Custódia, pintura da autoria de João António Correia (Paris, 1858).
A fachada, embora correcta de linhas, é desgraciosa. Pertence ao barroco rígido, sóbrio, próximo do classicismo de Herera, pelo que a sua construção em 1724-30 representa uma singular anomalia. Haupt achou-a interessante pela profusão de trechos barrocos do tipo da época de D. Filipe III. Pilastras incaracterísticas dividem-na em três partes, das quais um tanto sobressai a do meio. Sobre o entablamento ergue-se o nicho do padroeiro, ladeado por pirâmides.
Aos lados, as torres sineiras, com dentilhões nas cornijas, rematadas em cada face por esferas e frontão de fantasia; do meio delas rompem pirâmides ornamentais.
Guarnecem as paredes uns 11.000 azulejos de Jorge Colaço, com passos da vida de Santo Ildefonso e alegorias da Eucaristia. Acentuada é a singelez da nave, octogonal, de tecto em masseira com estuques ornamentais, repetidos nas paredes. Nestas se fixam dois grandes quadros, emoldurados pomposamente em rocócó; atribuem-se a Domingos Teixeira e representam O Triunfo da Eucaristia e O Antigo Sacrifício. Em 1925 habilmente os restauraram Joaquim Lopes e Victorino Ribeiro. Nos lados menores, nichos com estátuas de gesso. São recentes os altares da entrada. Os laterais, obras do neó-clássico e de talha rocócó os colaterais, todos modestos; nos da esquerda dois painéis fracos - uma Crucifixão e uma Piedade. O painel do baptismo, um Baptismo de Cristo, é de Domingos Teixeira.
A capela-mor dispõe de algum aparato, embora pesado. Bons estuques ornamentais cobrem as paredes e o tecto, aberto em lanterna. A meio das paredes, em nichos emoldurados com estuques abrigam-se as estátuas de gesso, em tamanho avultado, dos evangelistas e de S. Pedro e S. Paulo. No alto, duas tribunas com grades entalhadas e doiradas. Excelente é o retábulo, de talha barroca e rocócó (séc. XVIII, 2º quartel), com anjos, serafins e emblemas no frontão. O painel, apreciável, representa o padroeiro adorando a custódia, segura por uma alegoria de anjos. Foi pintado em Paris e em 1858 por João António Correia. Dos paramentos distinguem-se: véo de hombros de lhama, bordado a oiro, com minas novas; sete pluviais de cetim bordado a oiro. Frontal de lhama de bordado a oiro, em relevo. Jogo de sacras de boa talha.
Peças de ourivesaria, das melhores: custódia de prata, rocócó, interessante pelo desenho da haste; cálice de prata doirada, relevada, com os instrumentos da Paixão na copa e na base - em medalhões, a fénix, o cordeiro, o pelicano e a arca da aliança, obra de Francisco Moreira, séc. XIX, princípios; píxide do mesmo género, com serafins, o pelicano e a arca de aliança, em medalhões, no bojo, e uvas, espigas do trigo e flores na base, do dito ourives, decerto; bacia e gomil de prata de esbelto desenho de princípios do séc. XIX”.
Fonte - site: j-f.org/jf-stildefonso



Destaca-se, em relação a esta Igreja, onde foi baptizado Almeida Garrett, o que se escreveu em "Guia Histórico e Artística do Porto", obra de autoria de Carlos de Passos:
"De fundação ignorada e remota é a ermida de Santo Alifon, que, no juízo do Padre Novais (autor do Episcopológico, escripto próximo de 1690), ascendia ao tempo dos godos, cuja opinião formulou por na sua juventude ter visto no cemitério contíguo sepulturas com emblemas dos mesmos. Exagerou, de boa- fé, talvez”.



“Ildefonso, forma original de Afonso, é nome de um bispo que terá nascido, no ano de 605, em Toledo, originário de uma família de sangue real.
Santo Ildefonso nasceu, então numa família ilustre, no ano de 605 e morreu a 23 de Janeiro de 667. Sobrinho de Santo Eugénio, a quem sucedeu na Sé de Toledo, Santo Ildefonso escolheu a vida religiosa muito cedo, apesar da oposição do seu pai. Estudou no mosteiro de Agali, perto de Toledo, e depois em Sevilha, onde teve como mestre Santo Isidoro. Quando era ainda um simples monge fundou um mosteiro de monjas em Deibiensi villula. Em 630 foi ordenado diácono por Heládio, abade de Agali, e posteriormente nomeado arcebispo de Toledo. Santo Ildefonso tornou-se abade de Agali e nessa qualidade foi um dos signatários do VIII (653) e IX (655) Concílios de Toledo. Nomeado arcebispo de Toledo em 657, pelo rei Recesvindo, ocupou este cargo eclesiástico até à sua morte, em 23 de Janeiro de 667, tendo sido enterrado na Basílica de Santa Leocádia”.
Fonte: infopedia.pt



No local onde está agora a igreja paro­quial existia já no século XII uma capela de remota origem e da invocação de Santo Il­defonso. A referência à existência do pe­queno templo naquele século assenta num documento em que se alude à sua consagração pelo bispo D. Pedro Pitões que governou a diocese entre 1146 e 1152. 
Um documento dos começos do século XV localiza "o pequenino templo fora das portas de Cima de Vila, junto ao Lugar do Pinheiro, antes chamado de João de Ramalde". Anexa ao pequeno templo funcionava a albergaria ou “Hospício das Entrevadas de Santo Alifon”.
Em princípios do séc. XVI estava na posse da confraria do Senhor Jesus. Rodeava-a, então, um vasto souto de carvalhos, no qual, debaixo de um dos maiores, se expunha o SS. Sacramento à adoração dos fiéis na procissão de Corpus Christi.
Constituía esse lugar o burgo de Santo Alifon, como o registam as vereações da época. Em 1727, "a capela de Santo Alifon" es­tava em ruínas e volvidos três anos, tinha mesmo desaparecido, tendo-se construí­do no mesmo local o templo que ainda hoje existe. 
A actual Igreja de Santo Ildefonso (numa primeira fase, sem torres sineiras) começou a ser edificada em 1709 e acabou em 1730. Desde esse ano até 1739, a comunidade paroquial e as suas instituições ganharam fôlego para a construção das torres sineiras e transpôs-se o pórtico de 1730 para a frontaria da Igreja, criando-se um nártex.
Portanto, a leitura de 1730 (em numeração romana) na porta principal da Igreja corresponde à primeira fase que se completou em 1739. Daí a razão da Igreja ter no fecho do seu telhado fronteiriço uma cruz atrás da outra, correspondendo às datas 1730 e 1739 – o que se pode constatar a partir da Praça da Batalha.
Durante a reconstrução, em 1724, o S.S. mudou-se para a capela de Nossa Senhora da Batalha, já pertencente à Câmara.




Igreja de Santo Ildefonso em 1833 por J. Villanova



“Todavia, houve necessidade, em 1857, de ampliar a capela-mor, à custa da confraria do SS. Sacramento, instituída em 1634 e logo fundida com a do Senhor Jesus. Então se renovou todo o interior: as paredes foram pintadas com várias figurações pelo cenógrafo Paulo Pizzi, douraram-se os altares, fizeram-se os altares laterais, os estuques ornamentais e as estátuas, de gesso, dos evangelistas e S. Pedro e S. Paulo da capela-mor. Consta que a abóbada fora pintada por Joaquim Rafael (fins do séc. XVIII a princípios do XIX)”.
Carlos de Passos In "Guia Histórico e Artística do Porto"



Igreja de Santo Ildefonso e Largo de Santo Ildefonso - Ed. Photo Guedes



Na foto acima se observa que a fachada da igreja ainda está despida de azulejos e à direita, vemos parte da fachada do cinema High Life.

Igreja de Santo Ildefonso - Ed. Alvão



Na foto acima vê-se que precede a igreja (ainda sem azulejos) uma larga escadaria, em cujo patamar fronteiro à Rua de Santo António, voltado para um amplo espaço, que até ao final do século XIX se chamou de Largo de Santo Ildefonso, se ergueu um obelisco em 24-12-1794, de significado ignoto e que, está recolhido em pátio interior, constituindo, talvez, uma memória da abertura daquela rua e onde, imponente cascata nela se montou no dia 24 de Junho de 1810.
O obelisco seria removido para um pátio interior, contíguo à igreja, na década de 1920.
Em 14 de Outubro de 1869 recolheram-se no seu cemitério treze cruzeiros pintados com a Crucifixão, de várias invocações, os quais a Câmara retirou das ruas do Bonjardim e Calvário, não sem vivos clamores dos devotos. No local se benzeram no dia 1 de Novembro, motivo de gáudio e rija festa com iluminação, fogo, embandeiramentos e filarmónicas.

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