quarta-feira, 3 de outubro de 2018

(Conclusão)


Outras empresas do ramo livreiro, recentemente formadas
(Texto de Filomena Abreu In JN 25 Dez 2016)

«Elas reinventaram o negócio dos livros

Amélia: Um amor aos livros difícil de imaginar

Amélia Coelho tinha 22 anos quando começou a trabalhar na Livraria Académica. Por lá ficou 25 anos, mas em 2009 decidiu abrir um espaço só seu. "Esta livraria é como se fosse o filho que eu nunca tive". E é por isso que afirma: "Todos os dias me levanto com uma vontade enorme de começar a trabalhar. Se me tirassem isto, eu morria rapidamente. É que tenho um amor aos livros que ninguém imagina". Já com a gata Pucca nos braços, que é a mascote da loja, Amélia faz um balanço à Paraíso dos Livros, que tem morada na Rua de José Falcão.
"Para mim, o negócio não está mau, graças a Deus. Até no Natal consigo vender para troca de prendas. Se ficasse melhor não me importava, mas dá-me para não dever nada a ninguém e para comer". Além disso, gaba-se de muitos dos seus clientes serem jovens. "Eu vivo do balcão e tenho muita juventude a vir cá comprar, principalmente banda desenhada". Com um grande sorriso termina como deve ser: "Isto é um negócio bonito".


À direita, na Rua José Falcão, nº 214, a Livraria Paraíso do Livro – Fonte: Google maps



Cláudia e Alexandra: Ficar com o bichinho e começar do zero

Durante quatro anos, Cláudia Ribeiro trabalhou na Livraria Zarco, no Porto. Foi lá que ganhou o gosto pelos livros. Em 2001, decidiu investir num espaço seu. Assim nasceu a Lumière. Depois de várias moradas assentaram, desde agosto deste ano, na Rua Formosa. "Nunca me imaginei a trabalhar nesta área, mas depois de ficar com o bichinho não me imagino a fazer outra coisa", assegura. Para este mundo arrastou a sua irmã Alexandra, há nove anos. "Começámos tudo do zero". Nas estantes da livraria cabem todos os títulos, mas não o "arrependimento", apesar de o "negócio andar parado", garantem. "A venda de livros banalizou-se por causa das muitas feiras e mercados. As pessoas já não precisam de entrar numa livraria para comprar livros". E isso, elas lamentam.


Livraria Lumière na Rua Formosa nº 197 – Ed. Sérgio Ribeiro


Paula e Fátima: Do "deves estar louca" ao "estou contigo"

Foi há 18 anos, quando Paula Cântara tinha 19. A fundadora da alfarrabista Varadero, na Rua da Boavista, chegou a casa e comunicou à mãe, Fátima Branco: "Vou abrir uma livraria com os teus livros". A jovem não queria apenas estudar, queria também trabalhar. Do "tu deves estar louca" ao "estou contigo" foi um instante, conta a mãe. "Ela é muito aventureira e arriscou. Foi a primeira mulher neste negócio, na cidade". Fátima Branco, que tinha sido empregada na Livraria Académica pegou em tudo que aprendeu e passou à sua filha. Paula conta que nessa altura os alfarrabistas já instalados até achavam piada por ela ser "tão novinha". Boas relações que se mantiveram. Atualmente, diz que o negócio vai parado. "As pessoas dedicam-se mais aos livros novos". Contudo, mãe e filha asseguram que por terem tudo informatizado, "85% das vendas são feitas pela Internet", o que tem ajudado muito ao negócio».


Livraria Varadero na Rua da Boavista nº 227 – Fonte: Google maps


Alguns outros estabelecimentos abertos nas últimas décadas do século passado vão-se aguentando com muito esforço e dedicação dos seus proprietários.


Livrarias Desaparecidas

Livraria ASA (Encerrada) – Edições ASA

As Edições ASA foram criadas em 1951 por Américo Silva Areal, e integradas desde 2007 no grupo LeYa.
Sobre Américo Areal diz o texto seguinte:


“De origem social humilde, era filho de um professor primário e de uma lavradeira. Estudou dez anos no Seminário do Porto e, ao descobrir a sua vocação para o magistério, de modo a poder prosseguir os seus estudos, empregou-se como prefeito no Colégio Brotero, na foz do rio Douro.
A trabalhar e a estudar, sempre com as mais elevadas classificações, concluiu o curso do Magistério Primário. Enquanto lecionava, obteve a sua primeira licenciatura, em Geologia. Desde logo começou por publicar as sebentas das aulas que frequentava na Universidade, obtendo assim os recursos de que necessitava para custear os cursos de duas irmãs, uma que viria a ser professora primária durante 42 anos e outra, Engenheira Química.
Foi autor de vasta obra, que abrange desde títulos para o Ensino Primário até ao Superior, das Línguas às Ciências Exatas. Tendo pertencido à oposição ao Estado Novo Português, valeu-se de diversos pseudónimos para que as suas obras não fossem apreendidas pela polícia política à época.
Fundou dois externatos e, em 1951, as Edições ASA”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”

Antes do 25 de Abril de 1974, os livros de Américo Areal, que constituíam resumos dos livros oficialmente adoptados, para o ensino secundário, tinham uma grande saída e aceitação, entre os estudantes.

A Livraria ASA funcionou neste prédio situado na esquina da Rua da Fábrica e a Rua de Avis – Fonte Google maps


Capa de livro de Cálculo Integral, 1973


Como se vê pela digitalização acima, as Edições ASA tinham tipografia na Rua dos Mártires da Liberdade 77-83, onde faziam também, venda ao público.
Presentemente, nesta morada, está o conhecido alfarrabista “Homem dos Livros” de A. Duarte.


Na Rua Mártires da Liberdade o “Homem dos Livros” de A. Duarte



Livraria Figueirinhas (Encerrada)


“Editor literário e livreiro português, Mário Figueirinhas, nascido em 1926, no Porto e falecido a 21 de agosto de 2004, na mesma cidade.
Com apenas 18 anos, teve de deixar o curso de Medicina devido a um problema na vista e resolveu ir trabalhar com o pai na livraria que este havia acabado de montar na Praça da Liberdade, no Porto, depois de já ter ocupado um espaço na Rua das Oliveiras.
Mário Figueirinhas iniciou assim uma carreira de grande sucesso como editor e livreiro, tendo sido o responsável pelo lançamento de obras de escritores como António Gedeão, António Correia de Oliveira, Alice Gomes, Ilse Losa, Teresa Rita Lopes, Luísa Dacosta, Irene Lisboa e Sophia de Mello Breyner Andersen, de quem editou os contos infantis. Notabilizou-se também na edição de dicionários, como o Dicionário da Língua Portuguesa, de Eduardo Pinheiro, o Dicionário de Literatura, de Jacinto Prado Coelho, e o Dicionário de História de Portugal, de Joel Serrão.
Em 1993, a família Figueirinhas vendeu a livraria e a editora, e Mário Figueirinhas passou a editar em nome próprio. Já perto de fazer setenta anos, montou um escritório na Rua das Flores e passou a editar apenas aquilo que lhe dava gosto.
O último livro editado por Mário Figueirinhas foi uma fotobiografia do cineasta portuense Manoel de Oliveira lançada em 2002.
Mário Figueirinhas chegou a tentar uma carreira na política, tendo sido durante algum tempo vereador na Câmara Municipal do Porto. No entanto, não gostou da experiência e ao fim de pouco tempo deixou as funções. Sempre se interessou pela política e na época do Estado Novo organizava tertúlias clandestinas, na sua livraria, que chegaram a reunir três centenas de participantes. Na altura discutia-se religião, política e eram feitas críticas ao presidente António de Oliveira Salazar”.
Fonte: “infopedia.pt”



Publicidade a obra literária lançada pela A. Figueirinhas, Lda, sita na Rua das Oliveiras, em 16 de Maio de 1931 – In semanário Pirolito




Montra da Livraria Figueirinhas, na Rua das Oliveiras, decorada por Cruz Caldas para o concurso de montras organizado pelo Jornal de Notícias
 
 
 
 
Depois de passar pela esquina das ruas da Fábrica e da Rua do Almada, a Livraria e Papelaria Figueirinhas acabaria por se alojar na Praça da Liberdade, junto ao edifício da sucursal do Porto do Banco de Portugal.

 
 

Projecto para as fachadas da Livraria e Papelaria Figueirinhas na esquina das ruas da Fábrica e da Rua do Almada que obteve, em 1 de Maio de 1935, a licença de obra nº 1375


 
 

À direita, a fachada actual voltada para a Rua do Almada, do prédio onde esteve a Livraria Figueirinhas, com a Rua dos Clérigos, em fundo




Frente de Horário Escolar da livraria Figueirinhas em 1952



Verso de Horário Escolar da livraria Figueirinhas em 1952


A Livraria Figueirinhas na Praça da Liberdade junto do Banco de Portugal



Livraria Portugália (Encerrada)


A Livraria Portugália como sucursal da livraria de lisboa com o mesmo nome, fundada em 1918 por Heitor Nunes e José António Correia e sita na Rua do Carmo, seria adquirida em 1937 por Pedro de Andrade e Raúl Dias, abriria no porto em 21 de Março de 1945 e fecharia para sempre em 1951.
Por sua vez a casa mãe seria encerrada em 1954.



Publicidade à Livraria Portugália em 1945


Montra da Livraria Portugália na Rua de Santo António


Interior da Livraria Portugália na Rua de Santo António



Livraria Simões Lopes (Encerrada)

Há muito que desapareceu uma conhecida livraria que tinha morada na Rua do Almada, nº 119 e, cujo proprietário, Manuel Barreira, era uma referência do meio.



Livraria Simões Lopes, na esquina das ruas da Fábrica e do Almada



“Roteiro da Cidade do Porto” – Ed. Livraria Simões Lopes, 1930



“O Romanceiro” de Garrett – Ed. Livraria Simões Lopes, 1949



Livraria Progredior – Editora (Encerrada)


Esta firma ligada ao sector livreiro, teve morada na Avenida Rodrigues de Freitas, 383, e Rua de Passos Manuel, 158-162.


“Gramática Portuguesa” – Ed. Livraria Progredior, 1932


“Descrição Topográfica e Histórica da Cidade do Porto” de Agostinho Rebelo da Costa  - Ed. Livraria Progredior, 1945




Livraria Leitura (Encerrada)


A Livraria Leitura que começaria por se chamar Divulgação, foi fundada em 1968, e acabaria por mudar-se, já fruto de algumas dificuldades financeiras que enfrentou, para instalações na Rua José Falcão nº 78, contíguas às que primitivamente tinha ocupado, na esquina daquela mesma rua com a Rua de Ceuta, acabando, em 2018, por encerrar definitivamente.


“Eu não sabia nada, quando me pediram que fizesse um trabalho sobre o espaço de trabalho que o livreiro Fernando Fernandes estava prestes a abandonar, na Leitura, na Rua de Ceuta. Mas, quando me pediram o trabalho, os chefes lá me explicaram que a livraria era mítica durante os anos de ditadura, o local onde se podiam encomendar os livros proibidos e discuti-los, abertamente. E isso foi o suficiente para que eu partisse para a Leitura entusiasmada, com a certeza de que aquele era um artigo que valeria a pena escrever.
Não me recordo da conversa que tivemos, mas sei que foi longa. E que, de certeza, fiz muitas perguntas ingénuas, talvez parvas até, porque, como já disse, eu sabia muito pouco. Mas o livreiro foi paciente, respondeu a tudo, sem sobressaltos, e meses depois, quando foi publicado um livro que o homenageava, enviou-me um exemplar, com um cartão que guardo até hoje e que faz parte daquele repositório de pequenos orgulhos que escondemos na gaveta. Eu, pelo menos, escondo.
A Leitura nasceu em Setembro de 1968, com morada na Rua de Ceuta, pela mão de Fernando Fernandes e do editor José Carvalho Branco. Dez anos antes, o livreiro já tinha sido o fundador da Divulgação, que muitos recordam no tal livro de homenagem, editado em 1999, escassos meses depois de o rosto da Leitura ter anunciado que se reformava e que vendera a sua metade da livraria ao sócio. 
De todos os testemunhos que ajudam a perceber o que Fernando Fernandes significou para uma geração portuense, reproduzo apenas a frase do professor e escritor Albano Estrela, porque acho que ela diz tudo. “Evidentemente, ele tinha o que mais ninguém tinha e, coisa ainda mais espantosa, sabia o que não tinha e… o que eu precisava de ter!”
Tenho pena de não ter um livreiro como amigo. Adorava ter assim um amigo que, como escrevia Manuel António Pina, na mesma obra, me levasse “pela mão ao encontro das coisas essenciais”. Ainda que, confesso, goste de me perder na confusão das prateleiras cheias de livros, de pegar num ou noutro de que nunca ouvi falar, perder algum tempo com ele, e decidir comprá-lo, porque sim. Porque acho que talvez valha a pena.
Depois daquela conversa com Fernando Fernandes quando ele já estava de partida, voltei à Leitura. Gostava daquela livraria com duas entradas, uma pela Rua de Ceuta e outra pela Rua de José Falcão, dos pequenos degraus que ligavam uma sala à outra, de pegar em livros que ainda mantinham o preço com que haviam sido marcados no dia em que ali entraram, não importava quantos anos tinham passado. 
Em 2006, a Leitura foi vendida e hoje se a procuramos na Internet ela aparece identificada como Leitura Books & Living. Mudou de nome e, com isso, parece ter também mudado de sabor. Ou talvez não, se calhar continua a ser a mesma. Se calhar, ainda ninguém nos diz um “não tenho”, quando lhe perguntamos por um livro, sem esperança de que o venham a conseguir. Já não ia à Leitura há algum tempo e decidi passar por lá.
A Leitura já não tem duas entradas. Agora, na esquina da Rua de Ceuta (que sempre foi a morada oficial da livraria) com a de José Falcão, há um cabeleireiro. A Leitura perdeu a origem, ficou apenas com a parte — maior, é certo — do seu acrescento em José Falcão. Entrei, procurei um livro e não o encontrei. Disseram-me que não havia e saí desconsolada. Eu gosto de livrarias e não posso deixar de continuar a gostar da Leitura. Mas senti falta de quando naquela esquina se vendiam livros. E muita falta de sentir que estava na casa de um dos maiores livreiros do país”.
Com o devido crédito a Patrícia Carvalho, In Jornal Público, 28 Set, 2014


Fachada da Livraria voltada para a Rua de Ceuta - Desenho de Nuno Sousa (Ilustração de 28 Set. 2014)



Fachada da Livraria voltada para a Rua José Falcão - Desenho de Nuno Sousa (Ilustração de 28 Set. 2014)


Instantâneo idêntico ao do desenho anterior, vendo-se a Leitura nas suas últimas instalações, na Rua José Falcão



“Com quase 50 anos de vida cultural, fechou portas a livraria portuense frequentada por Mário Soares, Marcelo Rebelo Sousa, Manuel Alegre, José Saramago, Agustina Bessa-Luís, entre outros. Perde-se, assim, um clube de pensadores e um baluarte de resistência contra o Estado Novo.
Quem por esta semana passou na Rua de José Falcão, no Porto, podia assistir à azáfama: caixas de livros empilhadas eram levadas para o interior de camiões. Escrevia-se o último capítulo da Livraria Leitura. O mítico espaço fechou e um vazio incomensurável fica por preencher. Como uma cicatriz na cidade. Insanável. No ano em que comemoraria 50 anos de uma existência dedicada à proliferação do pensamento e à produção de massa crítica, o momento é de “luto”. O Porto diz adeus à Leitura, onde foram escritas páginas douradas da cultura portuguesa da segunda metade do século XX.
O desfecho é o resultado da insolvência da empresa Bulhosa Livreiros, decretada a 15 de janeiro pelo Tribunal Judicial da Comarca de Braga. Inaugurada em setembro de 1968, pelo livreiro Fernando Fernandes e pelo editor José Carvalho Branco, a Leitura tornou-se numa das mais emblemáticas livrarias da Invicta, adquirindo um significado cultural inestimável a nível regional e nacional. Destacava-se pelo vasto catálogo, onde constavam nas prateleiras aproximadamente 120 mil obras.
Atualmente, na Leitura trabalhavam quatro pessoas - alegadamente sem salários desde há um ano. Em 2006, houve um virar de página. A livraria foi vendida, mudando o nome para “Leitura Books & Living”, já sem Fernando Fernandes - aposentado desde 1999 - à frente do estabelecimento.
Diz a sabedoria popular que é o homem quem faz o barco e, assim sendo, é impossível falar da Leitura sem enaltecer o papel do seu histórico timoneiro. Atualmente com 84 anos, Fernando Fernandes foi um dos últimos livreiros na verdadeira aceção da palavra e assumiu-se como figura de relevo no panorama cultural portuense da segunda metade do século XX, como explica Mário Cláudio, à conversa com o Expresso”.
Com o devido crédito a André Manuel Correia, In Semanário Expresso em 26.01.2018


Com o Café Ceuta bem perto a Livraria Divulgação, depois, Livraria Leitura, dividia com aquele café, a atenção e o convívio de gente conotada com o meio artístico, como nos narra o texto seguinte.

“Durante os tempos da Livraria Divulgação, ali bem perto, foi palco de tertúlias literárias, animadas por Fernando Fernandes, Manuel Pereira da Silva, Carlos Porto, Vítor Alegria, Luís Veiga Leitão, António Emílio Teixeira Lopes, Orlando Neves que, com a sua esposa, Maria Virgínia de Aguiar, fundou e dirigiu a revista "A Cidade - do Porto e pelo Norte", o jornalista Pedro Alvim, os actores Dalila Rocha e João Guedes, o Mestre António Pedro, Manuel Baganha, Luís Ferreira Alves, Jorge Baía da Rocha, Carlos Ispaim e Eugénio de Andrade”.
Com o devido crédito a “pereira-da-silva.blogspot.com”


“Chamaram-lhe “o Sr. Livro”, “o poeta do livro”, e Agustina Bessa-Luís considerou-o mesmo "o maior dos livreiros de Portugal”. Mário Cláudio não tem dúvidas de que ele foi “o último grande livreiro da cidade do Porto” – Fernando Fernandes morreu na manhã deste domingo na sua casa no Porto, aos 84 anos. Desapareceu duas décadas depois de se ter reformado e abandonado a direcção da Livraria Leitura, que durante quase meio século foi paragem obrigatória para quem queria colocar-se a par da actividade editorial nacional e não só, principalmente nas áreas da literatura, da arte, do cinema, do teatro, da arquitectura, da filosofia ou da história.
A derradeira homenagem a Fernando Fernandes pôde ser prestada esta segunda-feira no Palacete dos Viscondes de Balsemão, mas sem a realização de qualquer cerimónia fúnebre, já que o livreiro decidira doar o seu corpo ao Instituto de Anatomia Patológica da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto”.
SÉRGIO C. ANDRADE, 1 de Outubro de 2018, In Jornal Público



Livraria Sousa & Almeida / Alfarrabista (Encerrada)


Na Rua da Fábrica nº 40 ficava esta livraria.
Joaquim de Oliveira Almeida, hoje com 90 anos foi o seu fundador em 1956.


“A loja foi vendida aos proprietários do Hotel Infante Sagres, que fica do outro lado do quarteirão. "Querem abrir aqui uma ligação para o hotel", revela o livreiro. As negociações formais ainda não começaram, mas Joaquim já foi informado que querem que saia até novembro. "Que nos vão por fora, isso é uma certeza", garante, enquanto percorre com os olhos as prateleiras cheias de livros que cobrem as paredes. "Temos mais de 20 mil livros. Não sei o que fazer com eles", confessa, com visível tristeza nos olhos.
A Sousa & Almeida abriu as portas em 1956. A sua especialidade sempre foi os livros galegos e portugueses, especialmente os dedicados à África Lusófona. O número 42 da Rua da Fábrica também se tornou paragem obrigatória para quem procura livros com maior pendor local e regional. E ainda hoje fornece regularmente algumas das principais universidades mundiais como Harvard, nos Estados Unidos da América, ou a Universidade de Santiago de Compostela. E o livreiro faz questão de mostrar com orgulho os livros já embalados e prontos para serem despachados pelos correios enquanto enumera destinos.”
Fonte: Tiago Rodrigues Alves, In JN, Fevereiro 2017



Livraria Sousa & Almeida – Ed. Teodósio Dias, 2017


Interior da Livraria Sousa & Almeida




Editora Educação Nacional, de Adolfo Machado (Livraria encerrada)


Tudo começou em Outubro de 1896, quando António Figueirinhas fundou o hebdomadário “A Educação Nacional”, que tinha como principal objectivo “a defesa da causa da instrução popular e dos legítimos interesses do professorado primário”. Com este jornal, António Figueirinhas, promoveu o manifesto à “Imprensa Portuguesa”, diversos congressos pedagógicos e a criação da Associação Montepio do professorado primário. O Jornal passou a ser diário, mas não correspondeu ao êxito pretendido, portanto cessou. Durante o período em que “A Educação Nacional” desapareceu António Figueirinhas criou um outro, “O Meu Jornal”, para o substituir. António Figueirinhas fundou a Casa Editôra A. Figueirinhas em 1896 e, junto à livraria, montou a Tipografia Universal (SILVA, 2010). No entanto, passado algum tempo desfez-se da casa editora e fundou, desta vez na rua do Almada, a Livraria Editôra A Educação Nacional, que passou a abranger o jornal, a livraria e a tipografia.
Em 1902, António Figueirinhas viajou até ao Brasil, numa tentativa de fazer face a “uma precária situação económica”pessoal e da editora. A casa editora ficou confiada ao Dr. José Figueirinhas, seu irmão, e o jornal ficou a cargo de A. Justino Ferreira.
À data da morte da esposa de António Figueirinhas, este pediu a colaboração do seu genro António Lopes Pinto que passou a ser gerente da editora.
Os livros editados até então, década de 30, são caracterizados do seguinte modo por Tiago Fonseca: “obras de natureza didáctica, umas visando desenvolver e aumentar o cabedal científico do professorado, outras a transmitir aos escolares as noções que necessitam”. António Figueirinhas defendia que os seus leitores só apreciavam livros estrangeiros e que não gostavam de livros nacionais – uma das suas “superstições”. Um dos contactos a que frequentemente recorria era as edições Bonne Press, e ainda outras editoras a que se referia como defensoras de “ sã doutrina”. Em 1933, o Dr. Figueirinhas separa-se do seu sócio Adolfo Machado, e este fica com a Editora Educação Nacional por sua conta. A Editora passa a contar com três sócios, o Dr. Machado, com a quota maioritária, o seu irmão, com uma quota insignificante e ainda o Dr. Cristo.
Neste período, e sensivelmente até à década de 40, a Editora teve um crescimento bastante significativo. À data, era um dos principais fornecedores de manuais escolares para Portugal e para as colónias, de tal modo que se formavam grandes filas à porta da editora para a compra dos livros escolares. O Dr. Machado geriu a editora até 1970, altura em que adoeceu e teve problemas com um filho. Este, terá dado um mau uso à fortuna do pai, causando a paralisação da empresa.
Com o devido crédito a Rute Margarida Rebelo de Figueiredo (Relatório de Estágio da Universidade de Aveiro)


Livro de Ciências Naturais


Sobre o livro escolar acima é a narrativa seguinte:


“Autor: Tomas de Barros
Editora: Educação Nacional de Adolfo Machado: Porto
Data: S/D
O livro debruça-se sobre diferentes temas desde a constituição do corpo humano ao longo de 12 capítulos, até à formação dos solos passando pela divisão dos animais e a reprodução das plantas.
Nesta época o ensino tinha por base a memorização pelo que os temas apresentados eram variados sem a preocupação de estabelecer relações entre eles.
Neste livro o capítulo I descreve de forma elementar o corpo humano; o capítulo II apresenta o esqueleto humano, o III as articulações, o IV os músculos, o V o tórax e o abdómen, o VI a digestão, o VII a circulação, o VIII a respiração, o IX o aparelho urinário, o X a pele, o XI sistema nervoso, o XII uma síntese com os órgãos dos diferentes sistemas.
O livro fala também sobre a raça humana (no capítulo XIII) distinguindo-a dos outros animais (capítulo XV). O capítulo XIV apresenta a divisão e classificação do reino animal para referir no XVI a higiene, no XVII o estado descritivo das plantas, no XVIII reprodução ou multiplicação das plantas, no XIX as plantas úteis, plantas nocivas e no XX estudo dos terrenos – Rochas – solo arável e subsolo, no XXI os minérios metálicos mais importantes; e por fim e no capitulo XXIII Matéria – Corpo – Massa – Substancia e respectivos apêndices”.
Fonte: “oslivrosdeoutrostempos.blogspot.com”


Livro para a 4ª classe do Ensino Primário – Ed. Editora Educação Nacional (c.1960)


A empresa Educação Nacional, de Adolfo Machado, depois do 25 de Abril, seria vendida a um empresário retornado das ex-colónias e, em 1986, o Dr. Leonel M. Costa adquiriu a editora.
De 1986 a 1991 houve uma evolução gradual, no entanto, em 1991, ocorreu uma estagnação de investimento, devido a alguns contratempos que se prenderam com um investimento feito numa gráfica. O Dr. Leonel M. Costa começou então a afastar-se da gerência, por motivos de saúde, delegando-a no seu filho, o Dr. Leonel Marques da Costa.
A grande expansão propriamente dita deu-se a partir de 2000, quando a empresa começou a apostar nas co-edições e houve a decisão de abrir o catálogo.
Em Agosto de 2010 a empresa mudou de instalações para um armazém na Rua das Ameixoeiras, 464, Gulpilhares, Vila Nova de Gaia, junto à A29.
Em armazém está também arrecadado um considerável espólio de livros antigos que remontam ao início da editora e, ainda, até há pouco tempo, funcionou uma livraria no coração do Porto, situada na Rua do Almada, n.º 125, que, entretanto, já encerrou.
Nos últimos anos a editora apostou em alguns projectos um pouco diferentes, a que chamam “experiências editoriais” (como os guias turísticos, os mapas e “O atelier do pão”).


Livraria Educação Nacional na Rua do Almada nº 125




Outras livrarias que encerraram recentemente

Publicações Europa América (Encerrada)


À esquerda da foto em 2014 as “Publicações Europa América” na Rua 31 de Janeiro nº 225 – Fonte: Google maps


Esta editora foi fundada em 1945 por Francisco Lyon de Castro, um conhecido militante antifascista e do Partido Comunista Português, natural de Lisboa e que faleceu em 2004, em conjunto com o seu irmão Adelino Lyon de Castro, um editor e fotógrafo amador de mérito.
Presentemente, a Publicações Europa-América, é uma pequena empresa que funciona na Rua Francisco Lyon de Castro, nº 2 , em Lisboa.



“Foi em conjunto com este seu irmão, Francisco Lyon de Castro, que fundou, em 1945, as publicações Europa-América, naquela que viria a tornar-se uma das editoras de referência no panorama editorial português do pós-guerra. A sua linha editorial assentou na defesa da publicação de muitos autores proibidos pela Censura, além de ter apostado na importação de autores estrangeiros, o que levou a incidentes frequentes com a Censura e a PIDE. Em 1952, fundam o projecto do periódico LerJornal de LetrasArte e Ciências, de que Adelino Lyon de Castro viria a ser o editor, com a participação regular de nomes como Piteira Santos, José Cardoso Pires, Maria Lamas, Mário Dionísio, António Quadros, José Régio ou Orlando Ribeiro. Tendo usado como pretexto a morte prematura do seu editor, Adelino Lyon de Castro, em 1953, a Censura viria a proibir a publicação do jornal ainda nesse ano.”
Fonte: “museuartecontemporanea.gov.pt”



Livraria Lopes da Silva (Encerrada)





Livraria Lopes da Silva, em 1937



Livraria Lopes da Silva na Rua Chã 101-103 – Fonte: Google maps




Livraria Nelita (Encerrada)



Livraria Nelita na esquina da Rua do Almada e de Ramalho Ortigão em 2014 – Fonte: Google maps



Livraria-Papelaria Aviz (Encerrada)


Esta livraria foi fundada por Manuel Camanho da Mata Júnior (1896-1985), nascido na freguesia da Sé. Fora ter sido editor e livreiro foi, durante toda a sua vida, solicitador de profissão.
Com 18 anos, foi o fundador da “Folha Sport”, na qual divulgava os acontecimentos desportivos acontecidos no Porto e região Norte.
A Livraria Aviz era conhecida pelas suas publicações escolares e na qual surgiram os primeiros dicionários bilingues escolares para o ensino secundário.
Ficava esta livraria na Rua de Avis nº 10. Em 2014 as suas instalações já funcionavam como restaurante.




Restaurante Book – Ed. “viajecomigo.com”




Breve História da Feira do Livro no Porto


A Feira do Livro do Porto é um certame que se realiza anualmente, desde 1930, na cidade do Porto.

Desde 2014, a Câmara Municipal do Porto chamou a si a organização da feira, que passou a realizar-se nos jardins do Palácio de Cristal. Antes, até 2012, era organizada pela Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL).
A feira tem passado, desde o seu início, por diversos locais da cidade do Porto, tais como os Jardins do Palácio de Cristal, a Praça da Liberdade, a Praça do General Humberto Delgado, a Praça de Mouzinho de Albuquerque, o Pavilhão Rosa Mota e a Avenida dos Aliados.
Em inúmeros stands, editores e livreiros apresentam anualmente desde as últimas novidades, até fundos de catálogo e restos de armazém, às vezes, a preços quase simbólicos. No decorrer da feira há também, com frequência, espectáculos, concertos, lançamento de livros e sessões de autógrafos.
A Feira do Livro do Porto decorria, em geral, entre os últimos dias de Maio e os primeiros de Junho.
Em 2013, a Feira do livro não se realizou pela primeira vez, desde a sua primeira edição em 1930, depois de um diferendo entre o presidente da câmara Rui Rio e a Associação Portuguesa de Editores e Livreiros (APEL), depois do Presidente da Câmara se ter recusado a avançar com financiamento, e depois da associação se ter recusado a obter outros modos de financiamento.
Em substituição da feira do Livro, nesse ano, funcionou um simulacro de feira, denominado “Letras na Avenida”, que apenas contou com a presença dos livreiros.
No ano de 2014, depois de novo desentendimento, agora entre o novo executivo camarário da cidade do Porto e a APEL, o novo presidente Rui Moreira, decidiu realizar a Feira do Livro sob organização da Câmara Municipal.
Ao contrário do habitual, a feira passou a realizar-se no mês de Setembro nos jardins do Palácio de Cristal.
A Feira do Livro do Porto passou, também, a ser um grande festival literário, com um extenso programa cultural e de animação que inclui debates com autores conhecidos, sessões de "spoken words", exposições, um ciclo de cinema e uma área infantil, com o apoio da Biblioteca Municipal Almeida Garrett e da Galeria Municipal.
De 27 de Junho a 6 de Julho de 1931, decorreria junto à estátua de D. Pedro IV, na Praça da Liberdade a “Semana do Livro do Porto”, por iniciativa do livreiro José Augusto da Costa, da Companhia Portuguesa Editora que, juntamente com Guedes da Silva e José Martins formaram a comissão organizadora desse certame. 

“Na altura estavam na moda as semanas disto e daquilo. Ainda se realiza anualmente com o nome de Feira do Livro, tendo sido a 1ª vez que se realizou em Portugal tal iniciativa”.
Fonte:  “O Tripeiro” de Novembro de 1959, pag 224 (António M. Barbosa)


A primeira "Feira do Livro" do Porto, em 1931, realizada debaixo de um toldo de lona, junto da estátua equestre de D. Pedro IV - Col. de J. Guedes da Silva




Livraria Moreira da Costa numa das primeiras "Feira do Livro" na Praça da Liberdade




Livraria Moreira da Costa na Feira do Livro de 1936 na Praça da Liberdade


Livraria Moreira da Costa na Feira do Livro de c. 1944, na Praça da Liberdade


Feira do Livro (36ª edição), em 1966, na Praça da Liberdade - Fotograma de filme da RTP


Feira do Livro, em 1973, na Praça Mouzinho de Albuquerque (Rotunda da Boavista) - Fotograma de filme da RTP




Feira do Livro na Praça da Liberdade



Feira do Livro na Avenida dos Aliados


Feira do Livro no Palácio de Cristal

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