quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

(Continuação 18)

10.13 Nascentes, Fontes e Chafarizes Diversos


Comecemos por definir a diferença entre  fonte e chafariz.
As fontes, são abastecidas directamente da mina para a bica e, daí, para o cântaro, ou outro elemento em que se possa transportar o precioso líquido tão importante para a vida humana e animal, sendo evidente o seu carácter utilitário e funcional.
chafariz embora seja alimentado por água, esta pode ser ou não encanada, pode ou não, ser originária de uma mina. Poderá ter mais monumentalidade ou ser decorado, acolher simbologias, encenando jogos de água, ou ter diversas taças.
O chafariz poderá ser mais dedicado à fruição, do que à necessidade e utilidade que uma tradicional fonte comporta. De qualquer forma, entendemos curioso, darmos a conhecer algumas ambiguidades e dúvidas de estudiosos nesta matéria que, ao longo dos anos, mostraram a sua perplexidade… É neste âmbito que transcrevemos algumas opiniões.
Segundo F. J. da Silva, Dicionário da Língua Portuguesa, Livraria Simões Lopes, Porto, 1956, podemos perceber que:
Fonte: nascente de água; manancial.
Chafariz: bica artificial donde corre água para uso doméstico; tanque; obra em alvenaria, com uma ou mais bicas por onde corre água para utilização pública.
Joaquim Jaime B. Ferreira-Alves diz sobre este assunto:


 “ Em Portugal, as estruturas que fornecem a água aos núcleos urbanos dividem-se em dois grandes tipos: os chafarizes e as fontes. Estas duas palavras aparecem muitas vezes referidas como sinónimo, ou então não existe uma distinção muito clara entre chafariz e fonte, predominando nuns casos o primeiro termo e noutros casos o segundo. Procuraremos então explicar os dois termos.
Para Rafeel Bluteau chafariz é «palavra arábica» que significa «fonte com bica, e posto, que algumas fontes, que não tem bica […] se chamarão Chafarizes, este nome foi introduzido por abuso […]. Na opinião de outros, Chafariz é palavra, que nos deixaram os mouros, particularmente em Lisboa e que quer dizer: Fonte pública alta e de bicas». Se, através de Bluteau, continuamos sem uma distinção precisa entre chafariz e fonte, o mesmo irá acontecer com aquilo que podemos ler nos Grandes Dicionários de Língua Portuguesa de António Morais e Silva e de João Pedro Machado onde podemos ler que chafariz é «obra de pedra, mais ou menos artificiosa, onde há bicas que lançam água para utilidade pública». Também não é clara a definição que encontramos na Enciclopédia Luso-Brasileira da Cultura, onde chafariz é uma «peça arquitectónica de dimensões e composição variável, mas cujo fim é sempre o de constituir um terminal duma conduta de água. A distinção precisa entre chafariz e fonte vamos encontrá-la nalgumas das relações que existem das duas formas de arquitectura da água, onde o chafariz aparece como uma estrutura isolada (por exemplo no meio de uma praça), mais ou menos monumentalizada, e constituída por um tanque que recebe água de uma bica (ou bicas) que pode lançar directamente no tanque, ou este recebê-la através da taças dispostas em diversos níveis e de tamanho e formas diferentes. A ideia de chafariz como estrutura isolada é também dada pela Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira quando, em relação às fontes, nos informa que aquelas «quando destacadas a meio de uma praça constituem os chafarizes».
O termo fonte está associado essencialmente a nascente de água. Rafael Bluteau define fonte como um «perene manancial de agoa nativa»”.



Era frequente no frontispício de muitas e fontes e chafarizes observarem-se uns triângulos negros, que eram um aviso de que a água era imprópria para consumo.
Em 31 de Agosto de 1890, era através da imprensa que era feito o aviso sobre as fontes cuja água era imprópria para uso “interno”.
 
 

In “Jornal do Porto” de 31 de Agosto de 1890



Triângulo negro sobre cada uma das bicas da Fonte da Vila Parda





Parece ter sido, em 1788, que o juiz Vidal da Gama, idealizou a construção da Fonte do Ribeirinho, na então Rua de Cedofeita, num troço desta rua, que hoje é a Rua de Barão de Forrester, a cerca de uma centena de metros da Rua da Boavista. A sua conclusão só se deu em 1790, no reinado de D. Maria I.
Actualmente, encontra-se nos jardins dos SMAS, sendo aí instalada, em 1933. 




Fonte dos Ablativos ou Fonte do Ribeirinho no local primitivo



A gravura anterior é uma prova em papel salgado, a partir de um calótipo de Frederick William Flower.





Fonte do Ribeirinho aquando da sua transladação



Fonte do Ribeirinho actualmente nos jardins dos SMAS - Ed. Manuela Campos (2019)




Esta fonte esteve primitivamente instalada na Rua de Cedofeita (actualmente, Rua Barão de Forrester), do seu lado nascente, num local, bem próximo, do pontão ferroviário que atravessa aquela rua.  Na opinião de Américo Costa, in «Dicionário Coreográfico de Portugal Continental e Insular»  o nome de Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos, deve-se a dois factos.
A primeira razão seria porque perto de onde estava colocada, ao lado norte passava um ribeiro que se formava de várias nascentes que se localizavam no Monte Cativo e na Lapa.
Em segundo lugar, também foi designada por Fonte dos Ablativos, devido a inscrição nela existente ser composta por vinte e quatro Ablativos. São vários os autores que transcrevem essa inscrição, assim como o seu significado.
No entanto, a que se transcreve abaixo, é da autoria de Horácio Marçal – “O Antigo Sítio do Laranjal” - in - O Tripeiro, Março de 1966, VI série, ano VI.  
Horácio Marçal afirma, então, que a inscrição lhe parece ter algumas palavras que não são latinas, e que a tarefa de tradução não é fácil. Contudo, dá-nos a tradução da dita inscrição que é a seguinte:


“ Com aprazimento muitos e desagrado de outros, foram reunidas as águas que corriam sujas e desaproveitadas, pelas lajes da rua, e pelas margens do ribeiro, formando charcos imundos, e dificultando a passagem de transeuntes. Assim as águas conduzidas para esta fonte, tornavam o sito, até então incómodo e sujo, em belo e comodíssimo; e as águas agora limpíssimas, desalteraram os suburbanos sequiosos. Foi feita esta obra no reinado da piedosa, feliz e augusta Rainha D. Maria I, por diligências de José Ribeiro Vidal da Gama, dos Conselhos de sua Real Majestade, Chanceler Portuense, servindo de Presidente do Tribunal de Justiça, no ano de 1790”.


Segundo Horácio Marçal, o ribeiro situado junto desta fonte, tinha o seguinte percurso:


“Passava em Salgueiros, atravessava a Quinta Do Melo ou Águas-Férreas (Dos Viscondes de Veiros), a rua de Cedofeita e a Ponte de Vilar, desaguando no Douro, na Praia de Massarelos”.



A Fonte do Ribeirinho, em destaque na planta de Perry Vidal de 1844, a Fonte das Águas Férreas e algumas linhas de água da área




Na planta de Telles Ferreira, de 1892, pode observar-se, em destaque, a localização da Fonte do Ribeirinho ou dos Ablativos, a cerca de 75 metros da embocadura da Travessa das Águas Férreas com a Rua de Cedofeita, no troço que hoje é a Rua de Barão de Forrester



De notar que em relatório de inspecção às diversas fontes da cidade do Porto, J. Bahia Junior, em 1909, escrevia sobre as fontes da freguesia de Cedofeita:


“Tem esta freguesia sete fontes de nascente privativa que são: Primeira Fonte da Rua do Almada, segunda Fonte da Rua do Almada, Fonte da Lapa, Fonte do Monte Captivo, Fonte do Ribeirinho e fonte das Águas Férreas, composta de duas bicas, tendo cada uma d’ellas a sua nascente própria.
(…) A Fonte do Ribeirinho apenas fazemos menção d’ella por ter sido uma das fontes que estava secca na ocasião das nossas colheitas”.


Do texto anterior, pode inferir-se de que, passados 17 anos sobre a planta de Telles Ferreira, a Fonte do Ribeirinho estava seca e sem serventia.







“Como o nome indica foi a primeira fonte pública do Monte da Arrábida. Situava-se abaixo da Fundição da Arrábida junto de uma pedreira na qual a fonte tem a sua nascente, abaixo do lugar do Bicalho, quase na confluência do ponto em que se divide as freguesias de Lordelo do Ouro e de Nossa Senhora da Boa Viagem de Massarelos, junto portanto da estrada marginal do Rio Douro, nas fraldas do referido monte. Encontrava-se primitivamente entre dois barracões próprios para oficinas de serralheiro e ferreiro. Explorando-se a pedreira daquele monte, no sítio próximo às dezoito braças, afim da Companhia Geral dos Vinhos do Alto Douro prosseguir com as obras da barra do ouro, que por lei estavam a seu cargo, rebentou espontaneamente da rocha viva, uma porção de água puríssima e fresca, a qual por ordem da citada Companhia foi desde logo aproveitada para se construir uma fonte pública. Assim apareceu a primeira Fonte da Arrábida. O seu frontispício, de arquitectura simples, tinha uma bica de ferro chumbada, onde a água chegava através de uma caleira de pedra a qual caia dentro de um pequeno tanque, aos lados do qual estavam dois assentos de pedra, cuja finalidade seria o descanso dos viandantes que por ali passavam. Aponta-se para o ano de 1863 o ano da sua construção e tendo sido removida para os Jardins do SMAS em 1948 ano em que foi reconstruída”.
Fonte: pt.wikipedia.org




A Primeira Fonte da Arrábida instalada nos jardins dos SMAS, na Rua de Nova Sintra – Ed. MAC



A Primeira Fonte da Arrábida, situada bem perto da Fundição da Arrábida – Ed. J. Bahia Junior, 1909







Sobre esta fonte diz J. Bahia Junior, em 1909:
“A Segunda Fonte da Arrábida está logo pouco abaixo da precedente, mesmo junto da Fabrica d'energia eléctrica da Companhia Carris de Ferro e compõe-se, como a precedente, de que é muito semelhante, d'uma bica e tanque de pequenas dimensões, tendo também na pedreira que lhe fica superiormente e nas suas costas, a nascente que a abastece”.



A Segunda Fonte da Arrábida, junto da Central de Produção de energia da companhia Carris de Ferro – Ed. J. Bahia Junior, 1909


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