O eclipse de 1912 no Porto foi apenas parcial, mas, em
Milhundos, Penafiel, ele foi total. A comunidade científica escolheria, como num
outro eclipse ocorrido anos antes em 1900, para a sua observação, a vila de Ovar.
“O eclipse solar de 17
de Abril de 1912 podia ser visto no norte do País pelo que acorreram ao Porto
vários astrónomos estrangeiros como Ross, Blackline e James Wortvington. O
fenómeno, que na cidade do Porto foi apenas parcial, iniciou-se às 10:00h, atingiu
o máximo às 11:25h e terminou às 13h. O eclipse total pôde ser observado em
Milhundos, concelho de Penafiel, onde se concentraram muitos curiosos e
astrónomos amadores e profissionais. O astrónomo Francisco Miranda da Costa
Lobo, professor da Faculdade de Ciências de Coimbra, preferiu fazer as suas
observações em Ovar e usou um registo fotográfico (com uma câmara especial
colocada à sua disposição pelo Sr. Sallet) e outro cinematográfico (com um
cinematógrafo emprestado por Carlos Ferrão e operado pelo tenente Negrão de
Lima, “distinto amador portuense”). Depois desta façanha, Costa Lobo passou a
ter um lugar de vanguarda do cinema astronómico a nível
internacional...Conforme se pode ler no Tripeiro, de Abril de 1962, ao recordar acontecimentos ocorridos
50 anos antes, “os vidreiros
portuenses fizeram grande negócio com a venda de milhares de vidros fumados, e,
mau grado todas as fases do eclipse terem sido previamente anunciadas e
explicadas, muita gente se assustou até ao pânico no momento em que, tendo o
fenómeno atingido o seu zénite, a luz começou a desaparecer gradualmente e, já
a cidade envolta em crepúsculo, a própria passarada começou a recolher aos
ninhos…”
Fonte: oholoscopio.blogspot
“No dia 17 de abril de
1912 três expedições estrangeiras – uma russa, uma francesa e uma inglesa – e
uma nacional, a da Universidade de Coimbra, encontravam-se em Ovar, ou na sua
vizinhança, para observar o invulgar eclipse solar que iria ocorrer naquele
dia. Este acontecimento não gerou, no entanto, o entusiasmo provocado pelo
eclipse solar observado em 28 de maio de 1900. Nessa altura, muitos curiosos,
entre os quais se contavam os príncipes reais D. Luís Filipe e D. Manuel,
deslocaram-se a Ovar para assistir ao fenómeno. Um resultado devido, na nossa
opinião, às diferentes características dos dois eclipses…
Segundo o Comércio do
Porto no dia 17 de Abril de 1912:
“ [...] .o tenente snr. Nogueira Ferrão, habilissimo
photographo-amador e que ultimamente se tem dedicado, com muito exito, á
cinematographia, socio da União Cinematographica Limitada de que faz parte o
Jardim Passos Manoel, esteve hontem em Ovar, adaptando o apparelho
cinematographico ao telescopio da Universidade, com a auctorização e de
combinação com o illustre dr. Costa Lobo. Assim, cinematographou todas as
phases do eclipse.”
Filmagem durante o
eclipse de 1912
A câmara de
filmar pode ser vista do lado esquerdo da fotografia. Costa Lobo encontra-se
por detrás do teodolito com um chapéu de coco…Costa Lobo concluiu então que o eclipse foi total na direção do
movimento da Lua, e anular na direção perpendicular, ou seja, que a Lua possuía
um achatamento similar ao da Terra. Estimou ainda uma diferença de alguns
quilómetros entre os raios equatorial e polar da Lua. Este resultado foi, na
altura, completamente inesperado, e Costa Lobo apressou-se a comunicá-lo à
Academia de Ciências de Paris. Inicialmente a interpretação de Costa Lobo foi
apoiada por outros observadores, entre os quais o padre Fernand Willaert, que
tinha igualmente cinematografado o eclipse em Namur, na Bélgica. No entanto,
após alguns meses, a comunidade internacional preteriu-a a favor da explicação
de que a assimetria observada era um resultado da irregularidade do limbo
lunar. Apesar de, na altura, os dados disponíveis não terem permitido optar
categoricamente entre ambas as hipóteses, hoje sabe-se que a Lua possui um
pequeno achatamento”.
Fonte: artigosjornaljoaosemana.blogspot
Eclipse de 1912 em Ovar
Eclipse de 1912 em Ovar - Ed. Aurélio da Paz dos Reis
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