Especulação camiliana
Um portuense, um verdadeiro tripeiro, não pode deixar de se interessar pela história da cidade do Porto. A transmissão aos mais novos das origens, lutas, sofrimentos, catástrofes e muitas vitórias e alegrias, é uma missão de todos para que a nossa identidade de portuenses jamais se perca.
Esta argumentação decorre de um facto histórico conhecido,
que foi a condecoração atribuída a Camilo Castelo Branco em 1872, pelo Imperador
do Brasil que, para o efeito, se deslocou à casa do escritor, que à data vivia
em S. Lázaro.
Um dos biógrafos de Camilo foi Alberto Pimentel que, para
a posteridade, deixou o percurso do escritor por este mundo, exarado na obra “O
Romance do Romancista”.
Neste livro são expostas algumas gravuras, que na época já
da existência da fotografia, eram elaboradas de modo a apresentar a realidade
com todo o pormenor.
Gravura da casa em que morou Camilo ao Jardim de S. Lázaro
Na gravura acima extraída daquele romance, está a casa (1ª à
esquerda) onde Camilo Castelo Branco foi condecorado em 1872, pelo imperador do
Brasil.
Perspectiva que se assemelha à da gravura anterior – Fonte:
Google maps
Comparando a perspectiva e gravura anteriores, demos
connosco a especular, que o prédio mais à esquerda onde esteve o café S.
Paulo, pode ter sido a casa onde Camilo recebeu o imperador Pedro II do Brasil.
Que interesse terá isto, se dirá?
Se isso se confirmasse, haveria que preservar essa memória a
exemplo de outros locais.
Tal atitude de preservação já foi tomada no prédio onde o
escritor casou na Rua de Santa Catarina, ou também dirigida a outro vulto das
letras, a casa onde morreu o poeta António Nobre, na Avenida Brasil, locais que
se encontram, porém, esquecidos e em degradação contínua, e que urge ser
estancada.
Se não tratarmos de preservar estas memórias para os
vindouros, vamos acabar sem a identidade que sempre nos caracterizou.
Para esse prédio que, em 1897, ficava na Rua de S. Lázaro,
nº 270, se transferiria o Colégio de Nossa Senhora da Divina Providência, vindo
da Rua da Restauração e, onde, antes, já tinha estado o Colégio de S. Bento.
Publicidade ao Colégio de Nossa Senhora da Divina
Providência, no Jornal “A Voz Pública” em 30 de Setembro de 1897
No 2º andar do prédio na Rua de Santa Catarina casou Camilo com
Ana Plácido – Ed. Graça Correia
Acontece que, de facto, o prédio que procurávamos, já há
muito desapareceu.
Tinha o nº 258, da Rua Rodrigues de Freitas e, em foto
anterior, estaria entre o do referido Café S. Paulo e o prédio da esquina.
Prédio onde Camilo recebeu o Imperador do Brasil
Alguns anos depois da morte de Camilo, a associação recreativa,
que teve o seu nome, a “Sociedade Camilo Castelo Branco”, estava sedeada na Rua
de S. Lázaro, nº 393, quase em frente à sua antiga residência.
O seu acervo passaria para a Assembleia Comercial Portuense.
In jornal “A Voz Pública”, 18 Agosto 1900, pág. 2
Pela Assembleia Comercial Portuense, haveria de passar um
chapéu que Henrique Coutinho, comerciante de chapelaria no Porto, ofereceu ao
escritor e que ele nunca usou e acabou no museu de Seide.
Em 1901, o Club Commercial Portuense estava em grande
actividade.
In jornal “A Voz Pública”, 3 de Julho de 1901, pág. 2
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