quinta-feira, 15 de dezembro de 2016

(Conclusão) - Actualização em 20/11/2019, 16/10/2020 e 16/03/2021


9.11 Freguesia de Ramalde


O povoamento da freguesia deve ter ocorrido no século X, ligado ao mosteiro Beneditino de S. Salvador de Bouças; pertencerá, até aos finais do século XIX, a Bouças: primeiro ao julgado, depois ao concelho.
A igreja da freguesia era de padroado real. Em 1196, D. Sancho doou-a a sua filha D. Mafalda. Por morte desta, em 1290, regressou à Coroa e, em 1420, D. João I doou-a ao recém-fundado convento de Santa Clara do Porto (1416). Meio século depois, em 21 de Outubro de 1468, D. Afonso V confirmaria essa doação; em 7 de Fevereiro de 1522, sendo bispo do Porto D. Pedro da Costa, a igreja é novamente confirmada ao convento das Clarissas.
No tempo de D. João I, eram pertença do Julgado de Bouças as aldeias de Francos e de Ramalde, no termo do Porto. Aliás, D. Fernando já o tinha, antes, determinado.



“É conhecida a doação pela qual, D. João, Mestre de Avis e Regedor do reino, datada de Lisboa, 8 de Setembro de 1422, confirma a doação feita por D. Fernando, a Rui Pereira e a Violante Lopes, da Aldeia dos Francos e da Aldeia do Roalde, do Julgado das Bouças, termo da cidade do Porto, e do direito que haviam na quintã de Paradela - no julgado das Bouças -, e dos quintos dos outros direitos na quintã do Verdelho, no Reguengo do Tojal, termo de Santarém.”


A partir de 15 de Dezembro de 1519, porém, segundo o padre António Carvalho da Costa, na sua obra “Corografia Portugueza”, Ramalde, à data com 140 vizinhos, passa a ser uma freguesia do concelho da Maia, como se pode observar no texto que se segue.




Corografia Portugueza, I Tomo, pág. 360



No recenseamento de 1527, o Concelho da Maia era constituído por 55 freguesias, incluindo Ramalde (situação que em 1706, se mantinha) e, do início do século XVIII até 1836, era constituído por 44 freguesias, com exclusão de Ramalde, que passa a pertencer a Bouças.
O Concelho da Maia passava, então, a abarcar todo o território entre o Leça e o Ave e algumas zonas a sul do Leça, sendo limitada a oriente pela Terra do Sousa.
A partir de 1835, o território correspondente à actual freguesia de Ramalde, continuou a pertencer ao concelho de Bouças, o qual integrava também S. Mamede de Infesta, Matosinhos, Foz do Douro e um conjunto de vinte povoações.
Em 1895, foi integrado no concelho do Porto, como freguesia.
Os seus limites ficaram, então, assim definidos: a Norte o concelho de Matosinhos (Bouças); a Sul Lordelo do Ouro; a nascente Paranhos e Cedofeita e a poente Aldoar.



“A freguesia de S. Salvador de Ramalde é mencionada pela primeira vez com o nome arcaico de Rianhaldy, nas Inquirições de D. Afonso III, em 1258.
Porém, já aparece citada anteriormente, como lugar, num documento de 1222 em que a rainha D. Mafalda faz uma doação ao Mosteiro de Arouca.
A origem e crescimento do povoado de Rianhaldy perde-se nos tempos, antes da fundação da monarquia portuguesa, provavelmente entre 920 e 944, data em que chegaram ao território os monges de S. Bento. Assim, começaria a história do julgado de Bouças e do seu antiquíssimo mosteiro beneditino. Este território pertenceu ao Padroado Real de D. Sancho I que depois o doou, em 1196, a sua filha D. Mafalda”.
Fonte: “pt.wikipedia.org”



 

Cerca de 1138, o topónimo Ramalde escrevia-se, Ravaldi (Sancti Martini Salvatoris de Ravaldi).
Na época de D. Sancho II, o território, hoje, de Ramalde, denominava-se Ramunhaldy, sendo constituído por cinco lugares: Francos, Seixo, Requezendi, Ramuhaldi Jusão (depois, Ramalde de Baixo e, actualmente, o local da igreja paroquial)  e Ramuhaldi Susão (depois Aldeia do Moinho e, actualmente, Ramalde do Meio).
Nas Inquirições de D. Afonso III de 1258, é citado o “lugar de Rianhaldi” (Ramalde) com a sua igreja, e a vila a que se chama Saxius (Seixo), pertencente àquele lugar, e a vila que chamam de Requisendy (Requesende) sendo, todos, paroquianos da igreja de Ranhaldi.
Seixo tinha sido fundada pelos homens de Paranhos e pelo bispo do Porto, que aí tinham criado de novo villam bonum.
A aldeia de Requisend, como se vê, tem existência longeva, mas não é consensual a tradução etimológica. A maioria das opiniões inclina-se para que signifique “caminho do rei”.
Mais tarde, no século XV, são mencionados na freguesia de S. Salvador de Ramalde, entre outras, áreas de ocupação que poderão vir a ser identificáveis como, a Quinta da Prelada, o Casal da Torre da Prelada e o Casal da Venda, este confinando com uma importante estrada militar, a “estrada que vai do Porto para Vila do Conde”, a antiga via veteris.
No tombo de Santa Clara de 1543, entre outras estradas que percorriam a freguesia, aquela antiga estrada é referida, bem como  vários topónimos como a Cruz do Pireiro, o padrão das Sete Fontes, o monte pequeno de São Gens, que fazia fronteira com o couto de Leça, as Fontainhas, a Cruz Maior na estrada Lordelo-Matosinhos, a Pedra da Ribeira, a Serra Alva e a pedra dos Agrões.
Mais recentemente, no século XIX, é feita alusão à aldeia das Pirâmides, que ficava próxima à casa da Quinta da Prelada e cujo nome tinha origem nuns obeliscos que se encontravam à entrada da quinta e que, hoje, estão no Jardim do Passeio Alegre, na Foz do Douro.






“Durante séculos Ramalde, freguesia do julgado de Bouças (topónimo já por si sugestivo), nos arrabaldes do Porto, foi conhecida pela riqueza e produtividade agrícola das suas terras. Dela escrevia, em 1878 Pinho Leal, ser “(...) uma vasta, formosa, rica e fértil freguezia...”. Terra de grande produção de milho, aqui se produzia igualmente trigo, centeio, alguma cevada e uma grande variedade de produtos hortícolas. Famosa era também a sua produção de gado, nomeadamente dos famosos bois de raça arouquesa, registando-se mesmo, no século XIX, a sua exportação para Inglaterra.
Não obstante a abundância e extensão das suas áreas agrícolas, a paisagem de Ramalde não deixou de reflectir, desde a Idade Média até ao início do século XX, a tradicional e tripartida organização espacial e territorial do Entre-Douro-e-Minho: as áreas mais humanizadas coincidentes com as aldeias ou os espaços habitacionais com todas as estruturas de apoio que as cercavam, onde se incluíam as hortas e os espaços dedicados aos animais de criação; as áreas agrícolas, de cultivo; e, finalmente, os soutos – territórios periféricos, muitas vezes baldios, pouco humanizados, contrapondo-se à retalhadíssima área agrícola. Desempenhando um papel importante no equilíbrio do ecossistema, estas manchas verde-negras matizadas a ouro pelo tojo florido, permitiam que a natureza se desenvolvesse de uma forma mais espontânea e livre, dando lugar a mais ou menos extensos bosques e matas constituídos fundamentalmente por carvalhos, castanheiros, alguns sobreiros, além – claro está – do pinheiro que há já muitos séculos fez a sua aparição por estas zonas. Apesar da sua aparente “inutilidade” aos nossos olhos, estas áreas eram fundamentais na economia tradicional das comunidades. Com efeito era aí que, na sua maioria, as populações recorriam para obterem um sem número de produtos essenciais e aí encontravam também uma importante fonte de rendimentos. Nessas matas obtinham as madeiras imprescindíveis para as suas construções, a lenha que alimentava fornos e lareiras, a vegetação necessária para as “camas do gado” e para muitos outros usos diários e utilitários, e aí se localizava igualmente uma boa parte das espécies cinegéticas.
Com o desenvolvimento urbanístico e industrial de Ramalde desde o século XIX, os soutos, matas e bouças da freguesia foram desaparecendo paulatinamente. Deles apenas resta, nos nossos dias, e transformado no Parque de Campismo da cidade, uma ínfima parte daquela que foi a extensa e densa mata da Prelada – a tal que ainda em 1758, e na posse dos Noronha de Menezes, senhores da Casa e Quinta da Prelada, abrigava animais de caça de grande porte. Desta antiga e vasta mata ficou-nos também um outro vestígio: a designação Carvalhido que ainda hoje denomina esta área e, nomeadamente, uma rua. Troço da antiga estrada do Porto à Póvoa, a Rua do Carvalhido, resultou do alargamento e regularização promovidos nos séculos XVIII e XIX de um velho caminho que, durante séculos, saía do largo com o mesmo nome (rebaptizado em 1835 com a designação de Praça do Exército Libertador) e atravessava a mata em direcção ao norte.
Mas, o que tem a ver o topónimo Carvalhido com a memória das antigas matas e bouças existentes nos arrabaldes do Porto?
Conhecido documentalmente desde 1638, mas seguramente com génese muito mais antiga, a designação “Carvalhido” tem a sua origem, como facilmente se depreende, na alusão à existência de carvalhos, a mais abundante árvore autóctone da região.
De resto, e em tempos bastante recuados, as matas da Prelada e Carvalhido fizeram parte de uma extensa, contínua e importante mancha arbórea que se prolongava até quase às muralhas da cidade do Porto e que abarcava igualmente a área do não menos sugestivo  topónimo “Carvalhosa”, na vizinha freguesia de Cedofeita. Plantas antigas da cidade e das suas cercanias são explícitas quanto aos soutos de carvalhos que aqui se desenvolviam”.
Com o devido crédito ao Professor Joel Cleto, In “joelcleto.no.comunidades.net”




“É muito difícil caraterizar demograficamente e com precisão Ramalde no período anterior a finais do séc. XIX. No entanto, pode dizer-se que, nesse período, Ramalde comportava uma população já considerável: em 1757, 407 fogos e em 1855 cerca de 600. Por outro lado, o forte crescimento da natalidade, bem maior que o da mortalidade, indiciam subida da população. No período que medeia desde os finais do séc. XIX e finais do séc. XX, segundo dados disponíveis do "Censos" 1991, já é possível fazer uma análise mais rigorosa da evolução demográfica com dois períodos distintos: um, até finais do séc. XIX, fase em que ainda não existia o recenseamento; e outro, desde os finais do séc. XIX até à atualidade, já existe "Censos" e alguns estudos sobre essa evolução. Pode, assim, concluir-se que, entre 1864 e 1981, mais de um século, Ramalde manteve sempre um crescimento populacional, acentuado em alguns períodos. Mas é no "Censos" de 1991 que se verifica, pela primeira vez, uma taxa de crescimento populacional negativa a qual será ultrapassada, tanto em 2001 como em 2011, mantendo-se atualmente esta mesma evolução, positiva mas mais ténue em relação ao passado, de acordo com o registo de eleitores e, curiosamente, ao contrário do que vem acontecendo nas restantes freguesias do concelho e cidade do Porto.”
Fonte: “jf-ramalde.pt/”





Património



- Classificado pelo IGESPAR

Casa da Prelada (incluindo mata e jardim)
Casa de Ramalde (sedia actualmente a DSBC - Direcção de Serviços de Bens Culturais)
Quinta da Prelada (lago, fontes e escadaria)
Quinta do Viso ou Quinta do Rio (casa)
Conjunto urbano da Avenida da Boavista (prédios 2402 a 2806)
Escola Secundária de Clara de Resende

- Referenciado pelo IHRU

Edifício nº 11965 na Estrada da Circunvalação
Edifício nº 14075 na Estrada da Circunvalação
Edifício Quatro Casas na Avenida da Boavista, 2450/2460
Quinta de Ramalde



Capela da Quinta do Rio, em Ramalde do Meio, em 1981



Património Religioso em Ramalde


 Igreja de S. Salvador de Ramalde


Esta igreja, que será de construção do século XVIII, teria sucedido a uma ermida consagrada a São Roque, facto mencionado pelo padre António Carvalho da Costa, na sua obra “Corografia Portugueza”.
Aí, é dito que, em 1519, a ermida já teria existência, possivelmente, há séculos.



Igreja de Ramalde


Quando Ramalde passa a integrar como freguesia o concelho do Porto, em 1895, há alguns séculos que a igreja de S. Salvador de Ramalde prestava apoio religioso aos seus habitantes.
Até à entrada do século XIX, a igreja embelezou-se e dotou-se de bons paramentos e alfaias, que não resistiram à sanha destruidora dos franceses invasores e do período das lutas liberais quando a igreja foi profanada e assaltada.


“Nessa altura, a Igreja possuía bons paramentos e alfaias e ricos objectos de prata, mas tudo foi roubado pelos franceses.
No tempo do Cerco do Porto, desapareceram do Arquivo Paroquial os livros das Visitações e outros documentos importantes.
Em 1921, a Capela-Mor da Igreja foi reformada por uma comissão de paroquianos e pelo Padre Joaquim Esteves Loureiro que efectuaram diversas obras de reparação e asseio da Igreja, paramentos e alfaias, sendo de maior vulto a reforma do douramento e pintura do altar e capela-mor. Nesta reforma gastaram-se 2.044$940 reis, o que, ao tempo, ainda era dinheiro”.




“Já no século XX, em 1921, a capela–mor foi intervencionada, tendo sido pintado e o seu retábulo dourado. Durante essa campanha foi pintado para esse retábulo, um painel, representando o “Santíssimo Sacramento”, por António José da Costa. Na fachada foi também aberto um janelão neogótico sobre a porta principal e alterada a cornija da empena sobre ele, adaptando-a à sua forma em arco apontado; no cemitério próximo, uma série de jazigos, com datações a partir dos finais do século XIX, obedecem ao mesmo estilo, o que nos poderá fornecer uma indicação para a cronologia dessa intervenção”.
Cortesia de Rita Rodrigues e José Ferrão Afonso



“Há dois anos, por iniciativa do pároco Pe. Almiro Mendes, começaram grandes obras de restauro desde o telhado, que estava em péssimo estado, ao interior. As obras terminaram em 2013. 
Foi nesta igreja que eu fui baptizado, bem como todos os nossos filhos”.
Cortesia de Rui Cunha



Interior da Igreja de S. Salvador de Ramalde


Entretanto, em 16 de Junho de 2002, é inaugurada uma nova igreja em Ramalde, com projecto do arquitecto Vasco Morais Soares e painéis de azulejos de mestre Rogério Ribeiro



Nova Igreja de Ramalde





Igreja de Nossa Senhora do Porto


A paróquia da Senhora do Porto foi fundada em 12 de Junho de 1964.
A construção, numa primeira fase decorreu durante 1970, tendo a cripta ficado pronta no ano seguinte e a construção definitiva em Junho de 1977.
D. António Ferreira Gomes em Julho de 1978, aí celebraria uma primeira missa.
A dedicação da igreja a Nossa Senhora do Porto e a sagração do altar-mor ocorreram em 18 de Junho de 1989.
A igreja substituiu uma antiga capela, edificada em 1904, que tinha como orago, a Nossa Senhora das Maravilhas e havia pertencido à Casa da Prelada e substituiria uma ermida, muito antiga, situada a escassos metros.



Nossa Senhora do Porto


A imagem de Nossa Senhora do Porto terá transitado da anterior capela e será do século XVIII.
A tela é da autoria de António José da Costa (1840-1929).
O pintor Júlio Resende e o escultor Zulmiro de Carvalho tiveram algumas intervenções nesta igreja.


“Com a designação de Nossa Senhora do Porto conhecem-se na cidade pelo menos três imagens: uma na capela da Casa da Prelada; outra num dos altares da capela do Senhor Jesus da Boavista; e a terceira na igreja paroquial de Nossa Senhora do Porto, em Requesende, Ramalde. Antes da criação desta paróquia já a piedosa imagem era venerada na antiga capela de Requesende. A origem do culto anda ligada a uma poética lenda: no local onde está a actual igreja de Nossa Senhora do Porto travou-se, no século XI, um combate entre tropas cristãs e um exército normando, também designados por francos, e que estariam na origem de um topónimo local. A vitória coube aos cristãos que a consideraram como um milagre de Nossa Senhora que passou a ser invocada sob a designação de Nossa Senhora do Porto”.
Cortesia de Germano Silva, In Jn (21 Agosto 2005)




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