9.10.1 Rua de Cedofeita e Praça de Carlos Alberto (Largo dos
Ferradores)
A Rua de Cedofeita é uma rua cheia de história, situada
no coração da freguesia de Cedofeita. O seu nome deriva, segundo a lenda, da
rapidez (cito facta) com que foi construída a velha igreja dedicada a
São Martinho, edificada, primitivamente, durante o domínio Suevo, no séc. VI.
A hipótese mais aceite pelos historiadores diz que
o Couto de Cedofeita foi doado ao bispo do Porto por D. Afonso Henriques, o
nosso primeiro rei – séc. XII.
“A partir de 1777, o
antigo caminho rústico, aberto ao longo de terrenos que faziam parte da Quinta
da Corredoura, uns, e da leira do Carril, outros, denominou-se Rua de
Cedofeita. Mas, quatro anos depois (1781), já era conhecido por Rua da Estrada
e, logo a seguir, chamava-se Rua Direita de Cedofeita, mas não estava ainda
totalmente urbanizada.
Ainda em 1795, uma
carta régia dava autorização à Câmara para proceder ao aforamento de terrenos
da referida Quinta da Corredoura, "junto à Torrinha", através
"dos quais campos se tinha aberto de novo uma larga e frequentada rua das
de maior concorrência da sobredita cidade, em a qual se achava o maior aumento
da povoação".
Até aos finais do
século XVIII, a Rua Direita de Cedofeita possuiu muito poucas edificações,
sendo ladeada por campos de cultivo e altos muros que delimitavam várias
propriedades, entre as quais estavam as quintas dos Carvalhos do Monte; da
Boavista ou de Santo Ovídio (com entrada pela Praça da República); e da Fonte.
A primeira pertencia aos irmãos José e António Ribeiro Braga; a segunda aos
Figueirôas e Pamplonas; e a terceira aos herdeiros de Domingos José Nogueira.
No começo, a tal rua da Estrada alongava-se até ao Carvalhido. Mais tarde,
abriu-se a Rua da Ramada Alta, denominação de origem rústica que, segundo
antiga tradição, teve origem numa alta e ampla ramada que, naquele sítio,
atravessava o caminho então existente. Posteriormente, a Rua de Cedofeita
acabava no Largo da Ramada Alta, "acima do lugar onde estava a Fonte dos
Ablativos", um curioso chafariz que pode ser admirado nos jardins das
Águas do Porto, à Rua do Barão de Nova Sintra. Mais tarde, o comprimento da
artéria foi encurtado quando, já na segunda metade do século XIX, a Câmara,
querendo homenagear o súbdito britânico Joseph James Forrester, feito Barão de
Forrester, em 1855, e que morreu tragicamente em 1861, no naufrágio do barco em
que navegava, no sítio do Cachão da Valeira, perto da Régua, deu o seu nome à
parte da artéria que ia da Rua da Boavista até à Ramada Alta.
À parte da Rua da
Estrada que ia da Ramada Alta até ao Carvalhido foi dado o nome de Rua de 9 de
Julho, para assinalar a passagem por aquele local, no dia e mês indicado, do
ano de 1832, das tropas do exército liberal à frente das quais vinha D. Pedro
IV. Anteriormente, desde pelo menos 1238, ano das inquirições mandadas fazer
por D. Afonso III, dava-se à estrada que por ali passava o nome de "Via
Vetera", ou seja "estrada velha", que era o caminho que os soldados
romanos percorriam quando se dirigiam a Braga ou Astorga.”
Com o devido crédito a Germano Silva
Na foto acima, observa-se a Praça de Carlos Alberto, que
tinha sido Largo dos Ferradores e, à direita, o palacete do Visconde de
Balsemão, mais tarde, palacete do Conde da Trindade e do Barão do Valado,
depois de ter sido Hospedaria do Peixe, na qual, durante alguns dias, esteve o
Rei Carlos Alberto, que haveria de dar o nome à praça.
Ele foi e continua a ser o edifício mais imponente da praça
e tem raízes no fim do século XVII.
De facto, a última alteração de topónimo da praça teve a sua
origem quando, em 4 de Maio de 1850, António José Coelho Lousada, que foi
vereador municipal (1850), deputado pelo Porto (1858) e conselheiro, em reunião
de Câmara, propôs aos demais vereadores, que fosse solicitado ao Governo Civil
a passagem do topónimo Praça dos Ferradores a Praça Carlos Alberto.
A actual Praça de
Carlos Alberto chamava-se, então, até 1850, Praça dos Ferradores pois aí
existiam vários trabalhadores desse ofício, dado ser a paragem e passagem de
muitas carruagens, que pela Rua de
Cedofeita seguiam para Viana, Póvoa, etc. e, pela Rua de Santo Ovídio, para Braga.
Em 12 de Agosto de
1874, inaugurou-se nesta praça a primeira linha de caminho-de-ferro americano
até Cadouços, à Foz do Douro.
Em 1883, começaram a
fazer concorrência aos “americanos” os carros Ripert da “Empresa Portuense de
Carros Ripert”, que tinha sede na Rua de S. Dinis e faziam a ligação a S.
Mamede de Infesta e serviam vários outros pontos da cidade.
Para S. Mamede de
Infesta, os carros tinham o seu término na Praça Carlos Alberto, em frente à
tabacaria Havaneza, depois, Mercearia Pacheco.
Um tombo do mosteiro
de S. Domingos menciona em 1669, a "Rua
Pública dos Ferradores, junto do
chafariz da Porta do Olival" e de um outro largo perto, que se chamava
o Outeiro dos Ferradores.
Naqueles terrenos, entre c. 1676 e 1833, se realizou a “Feira dos Bois”, transferida depois
para o Poço das Patas (Campo 24 de Agosto) e, ao longo dos anos, a “Feira do
Carvão, da Palha e da Erva”.
Uma importante feira
que comercializava cadeiras, caixas, bancos, tamancos e outros artigos em
madeira – a “Feira das Caixas” – que acabaria nos Lavadouros (próximo da
Picaria), deu durante anos movimento ao local.
O dia 1 de Abril de
1856, foi dia de festa - a praça foi dotada de iluminação a gás.
No centro da praça existe hoje e, desde 1928, um monumento
dedicado aos mortos da Grande Guerra
de Henrique Moreira, que veio
substituir um outro que o povo não aprovou, da autoria de José de Oliveira
Ferreira, aí colocado em 1924, mas, que tendo sido considerado “tão feio”, viria a ser abatido em 1925.
Um outro monumento, uma escultura de Humberto Delgado,
em que o general é representado voltado para o café Luso, da autoria do
escultor José Rodrigues e foi inaugurada a 14 de Maio de 2008, está
implantada junto do palacete Balsemão.
Na foto acima, na esquina, o palacete dos Couto Moreira e,
depois, residência da família Pena.
Para conhecer um pouco a Rua de Cedofeita, iremos fazer um
périplo por ela, seguindo no sentido da Praça de Carlos Alberto para a Rua da
Boavista.
A Rua de Cedofeita, que hoje começa na Praça de Carlos
Alberto, era conhecida, em 1777, como a Rua da Estrada, e ligava o Porto à
Póvoa.
Na realidade ela começava antes, na Cordoaria, junto
às Muralhas Fernandinas junto da Porta do Olival. Era utilizada pelos
viandantes que, tendo saído da medieval Porta do Olival, tinham como destino
Barcelos, Vila do Conde ou outras terras do Norte.
Começou a ser pensada a sua abertura em 1762, por iniciativa
de João de Almada e Melo aquando no cargo, de Presidente da
Junta das Obras Públicas do governo do Marquês de Pombal, a quem ligavam
laços familiares. Foi um dos grandes obreiros da modernização de Lisboa
depois do Terramoto de 1755.
Veio para o Porto onde começou obras de grande vulto.
Uma delas ligar a zona portuária do Douro com as partes altas da Cidade. A
Rua de Cedofeita foi uma das vias que idealizou.
Uma perspectiva de
alguns edifícios – Ed. JPortojo
O certo é que a Rua foi aberta rapidamente - volta aqui a
entrar e com razão o “cito-facta”, traduzido para “cedo-feita”-
e passou a conhecer-se como Rua
Direita de Cedofeita.
A chamada Planta Redonda de Balck publicada em Londres
(1813) mostra já o troço de Cedofeita até à Rua da Boavista, quase todo ladeado
de casario.
Em 1851, sabe-se que o seu piso era em “macadam”.
Início da Rua de Cedofeita – Ed. JPortojo
A uma dezena de metros do início do nosso percurso, olhamos
em frente e apercebemo-nos que esta rua é quase toda recta.
À nossa direita encontramos a Travessa de Cedofeita que já
se chamou Viela do Açougue.
No plano de urbanização do bairro dos Laranjais, elaborado
em 1760, por iniciativa de João de Almada e Melo, o grande reformador da
cidade, onde hoje vemos a Travessa de Cedofeita estava assinalado um simples
carreiro sem qualquer denominação.
Olhando para trás, ao fundo a Torre dos Clérigos – Ed. JPortojo
Edifícios com as suas varandas – Ed. JPortojo
“É uma artéria,
de grande aglomerado residencial, tendo no rés-do-chão da maioria dos
edifícios comércios das mais variadas espécies. Quase, todos os edifícios são
do séc. XVIII e princípios do séc. XIX, predominantemente estreitos
e compridos onde sobressaem as varandas de sacada com a arte do ferro tão
tradicional do Porto, cantarias nas pilastras e cimalhas
de granito e azulejos na fachada, estes já do séc. XIX ou XX.
Veremos de relance alguns desses edifícios, contaremos alguma da sua história
bem como de alguns dos seus primitivos donos e/ou ocupantes. A maior parte
deles são referenciados como imóvel
de interesse púbico pelo IGESPAR.
Comecemos pelo nºs
88-96 onde está um pronto- a- vestir e onde antes esteve o Bazar dos 3 Vinténs,
bazar de brinquedos, conhecido de várias gerações de portuenses e que ostenta
na fachada um painel alusivo ao Pai Natal.
Aqui esteve o Bazar dos 3 Vinténs e painel com Pai Natal
Os nºs 154 e 162 são os mais antigos da Rua – Ed. JPortojo
Frente dos nºs 154 e 162 – Ed. JPortojo
Joaquim Vasconcelos
natural do Porto, musicólogo e historiador de arte, vivia e estudava
na Alemanha quando conheceu Carolina.
Foi um dos grandes
pioneiros da divulgação e desenvolvimento da arte popular. As exposições
no Porto em 1881 de Industrias Caseiras e um ano mais tarde da
exposição de Cerâmica devem-se em grande parte a ele. Crítico entre os
métodos de ensino inglês e o rigor alemão científico adaptados à arte
portuguesa criou alguns anti-corpos. Deixou uma obra de grande valor cultural. José
Augusto França disse que foi ele o real fundador da História da Arte em
Portugal, entendida como ciência, com objecto e método próprios. Consta-se que
na véspera da Revolução de 31 de Janeiro de 1891 (a primeira
tentativa da implantação do regime republicano em Portugal), Antero de Quental,
vindo de Vila do Conde, hospedou-se aqui e os estudantes da Academia
Portuense organizaram na rua, em frente à casa, um grande comício patriótico.
Antero falou aos estudantes da varanda da casa de Joaquim de Vasconcelos”.
Com a devida vénia a JPortojo
Aqui viveu Carolina Michaëlis – Ed. MAC
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