segunda-feira, 5 de dezembro de 2016

(Continuação 16) - Actualização em 19/09/2019, 19/05/2020 e 25/03/2021




Uma parte importante do vale de Campanhã foi incluída na doação que D. Teresa faz ao bispo D. Hugo formando, a partir daí, o limite oriental do couto, mais tarde, denominado "termo velho" da cidade, pelo que gozava de todos os privilégios e honras concedidos aos habitantes do burgo. Nesse documento de doacção, a mencionada ribeira de Conairo bem como a fonte de Conairo, na confirmação efectuada por D. Afonso Henriques, não são mais que referências ao “Caneiro” de Campanhã, que é o conhecido Esteiro de Campanhã, o local onde desaguam as águas que têm origem nas faldas da serra de Valongo, na foz dos rios Tinto e Torto.
O Paço de Garcia Gonçalves referido na doação inicial ficaria, também, por estas bandas.
Para Ricardo Jorge, na sua obra “Origens e Desenvolvimento da População do Porto”, os direitos sobre Santa Maria de Campanhã são o resultado de um escambo ao tempo do Bispo D. Hugo em 1120 e passa para a posse da Mitra em 1227.
Assim, em 1227, no mês de Junho, Nuno Soares, cónego da Sé do Porto e abade de Cedofeita cedeu ao bispo D. Martinho Rodrigues o padroado da igreja de Campanhã. 
A freguesia de Campanhã, termo velho do burgo do Porto era, em tempos idos, um espaço iminentemente agrícola e couto dos bispos e, por isso, gozava de todos os privilégios e honras que as leis concediam aos cidadãos do Porto.
Entre Maio de 1834 e Janeiro de 1837, foi concelho como adiante se verá.



“Campanhã surge assim dividida, grosso modo, em duas partes distintas: a área ocidental, mais próxima do centro do burgo e situada dentro dos limites do couto, e a parte oriental, pertencente ao "senhor rei" e formando, por isso, um reguengo. Esta divisão institucional definida em 1120 e confirmada pelas inquirições de D. Afonso III, em 1258, não conhecerá alterações significativas até ao século XIX. A Igreja de Campanhã assegurava a ligação, não apenas simbólica, mas também social e cultural entre as duas partes.”
Fonte: pt.wikipedia.org



“Porém, data de 1058 a referência ao documento mais antigo da freguesia.
Foi lavrado em 1058 numa Carta de doação ao Mosteiro de Santa Maria de Campanhã na “ villa campaniana”.
Essa “villa” teria sido construída pelos avós do doador, o abade Gomes também abade do dito Mosteiro de Santa Maria Virgem. Do role constavam bens mobiliários, um sino metálico, um cálice de prata, uma patena e uma casula. Uma “quintã”, com casas e pomares de variados frutos, várias alfaias agrícolas, o que comprova o “manejo” da terra. Estava sobre posse da “villa” também  o “vilar de Godim” e a “villa piniario”.
O abade e seus irmãos vão herdar também “villa paranio” (Paranhos) e a “villa colmenaria”(Culmieira), este doa a sua parte em tal herança ao mosteiro, e faz com que o imitem um irmão  e seus sobrinhos”.
Fonte – Site: jornalaudiencia.pt



“Esta freguesia, que já foi um concelho especial, era constituída por aldeias ou «logares» (núcleos de casas de lavoura) em redor dos quais pontificavam ou fogos ou vizinhos, unidades sócio-económicas de base no seio das quais se desenvolviam grande parte das funções sociais: procriação, educação, consumo e produção.
Após a revolução liberal, as reformas para implantar o novo sistema de valores dão origem à publicação de leis de caráter administrativo e judicial.
Ainda em Ponta Delgada, antes do embarque para o Porto, O Duque de Bragança (D. Pedro IV), promulgou o decreto de 16/5/1832 da autoria de Mouzinho da Silveira, que dividia o Reino de Portugal em Províncias, Comarcas e Concelhos e ainda em círculos judiciais, estes em comarcas, estas em julgados e estes em freguesias. 
Assim, os concelhos da comarca do Porto passam a 23, surgindo, entre eles, o concelho de Campanhã.
Já no Porto, em 4/12/1832, dividiu a cidade em 3 distritos ou bairros: Cedofeita, Santo Ovídio e Santa Catarina.
O de Santa Catarina incorporava o concelho de Gondomar e os julgados de S. Pedro da Cova, Avintes e Grijó.
Elevada à categoria de concelho, Campanhã passa a eleger, nos termos daquele decreto, as novas autoridades locais: o Provedor e a Câmara Municipal, formada por um presidente, um fiscal e um vereador.
A Câmara de Campanhã tomou posse a 21 de maio de 1834.
Em 1836, pela portaria de 29 setembro, é nomeada uma comissão encarregada de criar uma nova divisão administrativa do território nacional. Surge assim o decreto de 6 novembro de 1836 que divide o território continental em 17 distritos administrativos e 351 concelhos, sendo extinto o concelho de Campanhã e a respetiva Câmara Municipal.
Em janeiro de 1837 as funções das Câmaras Municipais e dos Administradores dos Concelhos suprimidos pelo mencionado decreto cessam totalmente.
…Perante o quadro ruralizante atrás descrito não é, pois, de estranhar, que muitas famílias enobrecidas e proprietários abastados aqui tivessem as quintas e casas de campo.
No século XVIII, XIX e princípios do XX, algumas destas propriedades assumiram um papel de quintas de recreio da classe burguesa da cidade, particularmente da colónia estrangeira ligada aos interesses vinícolas e os chamados «brasileiros ricos». Em termos de palacetes podemos referenciar estas «casas dos brasileiros», extremamente vistosas e eclécticas que predominam nesta zona oriental da cidade e particularmente no eixo fundamental que é a rua de S. Roque da Lameira.
O padre Agostinho Rebelo da Costa confirma esta ideia quando diz que «Os ingleses, franceses, holandeses, hamburgueses, e outras famílias estrangeiras comerciantes, são os que arrendam estas quintas, e nelas vivem a maior parte do ano; mas os portugueses reservam para o seu uso e divertimento as melhores, e as mais custosas».
De facto, a diversa documentação consultada, fornece-nos numerosas referências acerca das quintas, casais e outras propriedades. A título de exemplo, enumeremos algumas das propriedades existentes em Campanhã, cuja área de enfio era consideravelmente maior do que aquela que os limites actuais consagram.
Assim temos: Quinta de Miraflores, de Lueda (Noeda), de Benjói (Bonjóia), de Sacais, da Vinagra (ou Vinagreira), da China, da Revolta, da Arcaria, do Valado, da Bela Vista, do Falcão, de Furamontes (Areias), de Salgueiros, da Vessada, do Prado, do Freixo, do Pinheiro, de Vila Meã, de Villar d’Allen, das Lamesinhas, da Colmeeira, etc.
É claro que a maioria destas quintas não existe actualmente.
Em 1839 a quinta da Arcaria foi adquirida à S.C.M. do Porto por João Allen, que em 1869 comprou a quinta de Vila Verde e em 1873 a quinta da Vessada, todas elas ficando a pertencer à quinta de Villar d’Allen.
Ao explendor e à opulência seguiu-se um período de decadência e abandono.
Algumas foram englobadas noutras propriedades, outras mudaram de nome, mas a maioria desapareceu sacrificada ao progresso e à incúria dos homens.
Estas quintas para além de constituírem um valioso património natural (e edificado) são também importantes em termos da defesa da qualidade ambiental da cidade.
Por razões de ordem especulativa e sócio-económica, têm-se assistido nos últimos anos à expansão da cidade nas freguesias periféricas, destruindo-se assim o substracto rural da cidade e, em última análise, o precário equilíbrio ainda existente. Campanhã não foge à regra. Actualmente são raríssimos os casos de famílias que sobrevivem da agricultura, mas é ainda relativamente fácil encontrar pessoas que se lembram de «isto, ser quase tudo campos». 
Apesar de tudo, ainda subsistem algumas manchas verdes, correspondentes a quintas e vales, que, merecem e devem ser preservados. É, pois, urgente e necessário identificar estes valores e promover a sua salvaguarda”.
Fonte – Site: j-f.org/monografia



Sabe-se que, já, em 1504, o Casal do Freixo, no couto de Campanhã, era propriedade do cabido portucalense que, naquele ano, o emprazou a um escudeiro de el-rei, Lopo Vieira que, em 1497, era procurador da cidade. Em ano que se ignora, passou o Casal do Freixo, por herança, para Manuel Vieira, filho do referido procurador, que era conhecido como morgado da Conca, em Entre–os–Rios, e foi administrador de uma das capelas do convento de S. Domingos, chamada Capela dos Dinises.


Esteiro de Campanhã, em 1910



Em 1671, a já chamada Quinta do Freixo foi emprazada ao capitão Roque Peres Picão, que era filho de um navegador da carreira das Índias António Peres Picão que vivia em Miragaia. O Roque residia na Rua das Flores, paredes meias com a residência dos Cunhas Pimentéis, que habitavam o edifício com brasão na esquina, à entrada do lado direito, para quem vai do Largo de S. Domingos.
Ora o Roque Peres Picão casou com D. Leonor Freire que era irmã do deão da Sé (chefe do cabido) D. João Freire Antão que é quem construiu as célebres ” Casas Nobres de Vandoma”, cuja denominação se justificava por ficarem junto da porta da muralha que tinha o mesmo nome, por sobre ela conter um nicho onde estava uma imagem da virgem.
As Casas Nobres de Vandoma foram construídas, nos finais do século XVII, por iniciativa do acima referido D. João Freire Antão. Era um conjunto de amplas e magníficas construções. Tinham aquele nome porque delas, fazia parte o arco de Vandoma, que existiu ao fundo da actual calçada com esta designação, e que era a principal entrada no velho burgo, aberta na muralha primitiva.
Ainda lá está um cubelo, espécie de torre de castelo, única reminiscência desses velhos tempos. Numa das pedras desse cubelo, ou castelo, está gravada esta legenda: "A história deste castelo foi recordada com gratidão pelos portugueses de 1940". Foi o ano do arranjo de toda a zona envolvente da Sé em que se comemoraram os centenários 1140-1640. 
Até, pelo menos, 1749, numa das casas de Vandoma esteve instalado o aljube eclesiástico, ou seja, o cárcere onde eram detidos os clérigos que não se portavam bem.
Do casamento do Roque Peres Picão nasceu uma filha, Micaela Antónia Freire que herdou a quinta. Esta senhora foi casada com D. António de Távora Noronha Leme e Cernache, tendo, desta união, nascido D. Jerónimo de Távora Noronha Leme e Cernache.
Foi esta personagem quem mandou construir o Palácio do Freixo. Membro da Ordem de Malta, frei Roque de Távora e Noronha, irmão do então deão da Sé conheceu, naquela ilha, um pintor talentoso de seu nome Nicolau Nasoni que convidou, em nome de D. Jerónimo, para rumar à cidade do Porto para executar uns trabalhos na sua catedral.
Depois de ter feito uns trabalhos de pintura naquele templo seria, mais tarde, convidado para dirigir a construção do Palácio do Freixo, para o que passaria a ser o seu mentor. Como D. Jerónimo presidia à Mesa da Irmandade dos Clérigos, convidou Nasoni, também, para a empreitada que foi a Igreja, a Torre e a Casa dos Clérigos destinada a recolhimento dos clérigos pobres.
Nicolau Nasoni dominava a técnica denominada de «trompe l'œil» uma técnica artística que, com truques de perspectiva, cria uma ilusão óptica que faz com que formas de duas dimensões aparentem possuir três dimensões. Aquela expressão francesa significa "engana o olho" e é usada principalmente em pintura ou arquitectura.
Na pintura destacou-se, para lá da sua intervenção inicial na Sé do Porto, na segunda metade da década de 1830, no trabalho executado no tecto da Sé de Lamego.
Seria um dos principais divulgadores da arte barroca, na cidade do Porto.
No capítulo da arquitectura a sua obra é imensa.
Como deão da Sé, D. Jerónimo de Távora era a principal figura do cenário religioso da cidade, pois a diocese encontrava-se, então, em Sede Vacante (1717 - 1741), por desvio do bispo do Porto para exercer em Lisboa.




Desenho do Palácio do Freixo de J. Victoria Villa Nova, em 1833




“No século XIX o Palácio do Freixo aparece na posse de João António Salter de Mendonça 1º visconde de Azurara e em 1850 pertence a António Afonso Velado, feito barão e posteriormente visconde do Freixo, que o comprara por 15 contos e que durante os anos seguintes vai empreender modificações no palacete, algo degradado.
Em 1860, segundo narrativa do escritor Júlio Cesar Machado na obra “Scenas da Minha Terra”, essas obras ainda prosseguiam.
Mandou arrancar o brasão dos anteriores donos (pensa-se que seria um escudo de armas partido, 1º Távora e 2º Cernache) e colocou a sua pedra de armas (escudo partido, 1º Afonso e 2º Cunha). Ainda redecorou as salas. O átrio principal ao gosto árabe e uma sala do piso térreo decorada com elementos chineses.
No geral, as obras que empreendeu no palácio descaracterizaram completamente o seu interior, não se tendo privado de aplicar elementos novos como cimento e as lousas que até há poucos anos ainda revestiam parte das paredes exteriores. Nos jardins, projectados também por Nasoni (que tinha tido em conta as modas e as características do terreno inclinado, criando um jardim em escadaria para o rio) teve a ideia de instalar uma fábrica de sabão a poente do palácio. Gastou mais de 50 contos de réis.
Apesar de tudo, na sua mão, o palácio conseguiu recuperar uma aura de glória. 
Em 1872, quando a Família Real se deslocou ao Norte do país para inaugurar as obras da linha de caminho-de-ferro em São Roque da Lameira, António Velado, já Barão do Freixo (1865), quis receber as cabeças coroadas no seu palácio, e estas honraram-no com a sua presença.
A festa desse dia foi tão sumptuosa e elegante que foi notícia no jornal O Comércio do Porto (nº 152) e D. Luís I elevou-o a Visconde.
Após a sua morte, a esposa viúva, Laurinda Lousada, vendeu toda a propriedade a Gustavo Nicolau Alexandre Peters, um burguês abastado de origem alemã.
A fábrica de sabão deu lugar a uma destilaria de cereais, que viria a ser destruída por um incêndio em 1890. Mantendo a destilaria na sua posse, Peters vendeu a propriedade dividindo-a, a vários particulares, ficando o palácio para José Maria Rodrigues Formigal, que a vendeu posteriormente por 19 contos de réis à sociedade gestora da Companhia de Moagens Harmonia, que se instalou então numa nova fábrica, construída nem a dez metros das paredes do palácio. Os pisos de cima do palácio foram reservados à administração e secretariado, ficando o térreo a servir como armazém.
Regista-se então a saída de várias peças artísticas do palácio, vendidas e integradas hoje em outras propriedades. O portal principal da Quinta pode ser encontrado hoje a servir de entrada numa quinta em Vitorino das Donas (Ponte de Lima), a quem foi vendido em 1924. Apesar de ter sido declarado Monumento Nacional logo em 1910, a degradação do prédio continuou e de lá continuaram a sair peças, bem como a ser desenvolvida a fábrica à sua volta.”
Fontes – Sites: invictacidadeporto.blogspot.pt; j-f.org/monografia




Consta, então, da história da Quinta do Freixo que Jerónimo de Távora, em 1750, incumbiu Nicolau Nasoni de construir uma “residência de Verão” junto do esteiro de Campanhã.
Após algumas transmissões de propriedade, ela acaba nas mãos de um industrial e comerciante da praça do Porto, António Afonso Velado, que a adquiriu em 1850. 

Cortesia de Jorge Fernandes Alves



Em 1864, Afonso Velado dotaria o seu palácio do Freixo com uma biblioteca, que esteve antes da sua instalação definitiva, na morada de destino, em exposição para ser contemplada pelos portuenses.
O periódico portuense “O Commercio do Porto” dava conta desse facto e convidava a população para admirar a peça.

 
 

O Comércio do Porto, do dia 27 de Novembro de 1864




Brasileiro de torna-viagem, Afonso Velado tinha, então,enriquecido no Brasil e viria a ser feito barão do Freixo (1865) e visconde do mesmo título em 1 de Agosto de 1872, cerca de um mês, após a visita de el-rei ao Palácio do Freixo.




Programa da visita real ao Palácio do Freixo – In jornal “O Comércio do Porto”, em 7 de Julho de 1872




Ementa do "lunch" servido pelo Barão do Freixo à comitiva real – In jornal “O Comércio do Porto”, em 8 de Julho de 1872



A “Fábrica de Sabões e Sabonetes do Freixo”, de Afonso Velado, começou a produzir no mesmo dia em que foi abolido o monopólio estatal sobre as saboarias, em 1 de Julho 1858. Seria encerrada em 1874.
Nesta extensa área, do que foi a Quinta do Freixo, outras saboarias por aqui estiveram instaladas, para além da construída pelo visconde do Freixo, a poente do Palácio (referida no texto anterior e representada na gravura acima).
Júlio César Machado, que visitou o local em 1861, refere-se a uma, no texto seguinte, situada nas imediações, com firma, Almeida & Thomaz Joaquim Dias e, segundo ele, com produção de boa qualidade:
 
 
 
 
 


Palácio do Freixo e complexo fabril no Esteiro de Campanhã (à esquerda)  – Ed. semanário ilustrado Archivo Pittoresco, em 1867
 
 
 
No Esteiro de Campanhã, já em 1861, estava a fábrica de curtumes “Fonseca & Ferreira”, resultante da recuperação de uma outra, que estava em estado de ruína, a Fábrica do Esteiro de Campanhã comprada em 1859, pelo brasileiro de torna-viagem, Caetano José Ferreira e Inácio Pinto da Fonseca.
A “Fonseca & Ferreira” já se apresentou na Exposição Industrial de 1861, com um bom sortido da sua produção de couros.
 
 
 
 
Lavandaria de Lãs e Fábrica de Sabão, a poente do Palácio do Freixo, no Esteiro de Campanhã
 
 
Como se observa no Bilhete-Postal acima, o complexo industrial dá guarida a uma “Lavandaria de Lãs” e a uma “Fábrica de Sabão”, que se desconhece se terá alguma relação com a primitiva saboaria.
Viúva desde 1875, a viscondessa do Freixo, acaba por vender a quinta a Gustavo Nicolau Alexander Peters, em 1880, estando já, aí instalada, uma unidade fabril de destilação de cereais, também envolvida naquela transacção.
Entretanto, a “Fábrica de Sabões e Sabonetes do Freixo” tinha encerrado em 1874.
O facto de não ter sido feita qualquer referência à saboaria na venda a Gustavo Nicolau Alexander Peters, deve radicar na hipótese de que, a sua posse, não tenha sido outorgada à viscondessa, durante a partilha de bens.
Em 1888, prosseguindo o desmembramento da Quinta do Freixo, Gustavo Nicolau Alexander Peters, vende (para fins industriais) um lote de terreno da Quinta do Freixo à firma Monteiro, Santos & Companhia, que pretendia montar no local, a “fábrica de estearina e sabão” denominada “Douro”. Aparecerá, assim, a nascente do Palácio do Freixo, a saboaria “Monteiro Santos e Companhia” que, mais tarde, será ocupada pela Companhia União Fabril – Freixo (CUF).
O primitivo complexo fabril situava-se junto à estrada N108 e bem próximo da “Moagem Harmonia”, na fronteira entre o Porto e Gondomar.
Caracterizava-se pela magnífica chaminé de Lino Soares Guedes, da sociedade Soares Guedes & Cª, da Rua do Sol, uma fábrica de cal, louça e gesso.



“Esta fábrica foi construída em 1888 pela firma Monteiro Santos & Companhia para produção de sabão e velas de estearina, destacando-se deste período de tempo a chaminé de Lino Soares Guedes. Mais tarde, em 1890, foi vendida à Companhia Fabril Douro, que manteve o fabrico de velas. Quatro anos depois é adquirida pela Companhia Alliança Fabril (CAF) que não mantém apenas a produção de estearina como reinicia a produção de sabão, optando por desactivar a fábrica entre 1896/97 para expandir as suas instalações em Lisboa. Em 1902 a Companhia União Fabril (CUF) toma posse da fábrica, reactivando-a em 1911 após uma série de obras e alterações profundas para produzir sabão e óleos vegetais.
Se em 1912 se verificam alguns problemas com a produção de sabão, depressa acabam por ser ultrapassados e a partir desse ano verifica-se um aumento positivo da produção justificando o sucessivo investimento em infraestruturas que são vão verificar ao longo das décadas seguintes, mas as remodelações mais significativas vão-se verificar a partir dos anos 60 do século XX. Um contrato de exploração é firmado entre a CUF e a Floral – Sociedade de Perfumarias e Produtos Químicos em 1967 e em sociedade exploram as instalações fabris do Freixo, pelo que não é por acaso que ainda hoje reconhecemos os logotipos da CUF e da Floral nas ruínas da fábrica. Durante os anos 80 a Floral propõe-se a adquirir a fábrica e a compra é efectuada em 1989 à CUF. Infelizmente, passados poucos anos a fábrica voltou a ser desactivada e foi adquirida pela Câmara Municipal do Porto (…)”.
Cortesia “portosombrio.blogspot.com” (2016)




Ao centro, o complexo edificado que já pertenceu à CUF, visto de sul – Fonte: Google maps



Vista obtida das ruínas do que foi a CUF, da fachada voltada para a N108 – Cortesia “portosombrio.blogspot.com”



Fachada voltada a poente, do que já foi a CUF, na qual se observa o que resta dos logotipos da CUF e da Floral – Cortesia “portosombrio.blogspot.com”



Presentemente, no local onde esteve a CUF, foi edificado um hotel do grupo Pestana - Ed. MAC






Voltando alguns anos atrás, após a compra da propriedade, à viúva do visconde do Freixo, Alexander Peters instala-se, então, no Palácio do Freixo, explora a fábrica de destilação de cereais e, face ao precedente industrial do local, à atracção resultante da chegada do caminho-de-ferro ao Porto (1877) e à criação da estação de Campanhã inicia o loteamento da Quinta em 1885, vendendo a fábrica de destilação e moagem de cereais a José Maria Rodrigues Formigal, que a destina exclusivamente à produção de farinhas, sob a designação de “A Favorita”, que irá integrar, mais tarde, a Sociedade Industrial Aliança.
A fábrica de destilação teria sido alvo de um incêndio em 1890.
Em complemento, importa ainda referir que, em 1918, a Companhia de Moagens Harmonia, em assembleia geral, decide dissolver-se e a 15 de Maio vende todos os seus bens e valores a um conjunto de comerciantes e capitalistas do Porto, que incluíam a Quinta do Freixo e respectivos edifícios, mas também o recheio: o mobiliário, as máquinas, os utensílios, para além do próprio nome da marca.
A 17 de Junho surge, assim, uma nova sociedade para explorar a fábrica.
Mais adiante, em 1923, a Companhia de Moagens Harmonia contrata um novo moleiro: Theodor Appelt vai dirigir a moagem, e o Palácio vai ser a sua residência. 
Sinal de crescimento, em 1932, a Moagens Harmonia solicita ao arquitecto Júlio de Brito a construção de mais dois pisos. Crescimento que vai ditar também novos trabalhos em 1952, quando se iniciam as obras para a expansão de novos silos na margem norte da Estrada nº 108. Progressivamente as moagens transferem-se para as novas instalações, concluídas em 1958.
Em 1959, dá-se a rescisão do contrato de Theodor Appelt. O Palácio do Freixo deixa de ser a sua habitação.
Em 1966, é solicitado um novo licenciamento de construção e novo edifício surge defronte da velha moagem. Em 1969, o antigo edifício e o Palácio estão vazios. Na antiga fábrica funciona apenas a cantina, e algumas salas são utilizadas como armazém.
Em 1984, o IEFP (Instituto do Emprego e Formação Profissional) adquire o Palácio do Freixo e as antigas instalações da Companhia de Moagens Harmonia. 
Em 1993, é constituída a AMCI (Associação para o Museu da Ciência e Indústria), entidade fundada pela Câmara Municipal do Porto e pela Associação Industrial Portuense.
O IEFP cede os espaços da antiga moagem e do Palácio do Freixo ao Pelouro da Animação da Cidade da Câmara Municipal do Porto.
Intervenção do arquitecto Luís Tavares Moreira no edifício das antigas Moagens Harmonia, para aí albergar as 2ª.s Jornadas de Arte Contemporânea, Porto 1993.
A Câmara Municipal do Porto estabelece um protocolo com o Ministério do Equipamento, Planeamento e Administração do Território, em 1999, em que assegura a transferência da propriedade do Palácio do Freixo e das Moagens Harmonia para a autarquia, com a finalidade da futura instalação do Museu da Ciência e Indústria na antiga fábrica.
No âmbito do projecto Metropólis, Fernando Távora assina o restauro do Palácio do Freixo (palácio e antigas instalações da Companhia de Moagens Harmonia). Estes trabalhos desenvolveram-se entre 2000 e 2003. Em 2009, a Câmara Municipal do Porto cede ao Grupo Pestana este património para a instalação de uma pousada, uma das maiores de Portugal - a Pousada do Freixo.
 



Palácio do Freixo



Acima o Palácio do Freixo actualmente e, à direita, o recuperado edifício, que foi das Moagens Harmonia, onde hoje se localizam os quartos do complexo hoteleiro.




Palácio do Freixo



Palácio do Freixo com os seus torreões, a montante da Lavandaria de Lãs e da Saboaria (com a sua chaminé). Hoje, no local destes edifícios industriais está o Museu da Imprensa, junto da foz do rio Torto - Pintura de F. Peixoto




9.7.1 Quinta das Areias ou Quinta de Furamontes

Esta enorme extensão de terreno onde actualmente funciona o Horto Municipal, situa-se entre a Rua das Areias, Travessa das Areias e a Travessa das Águas Férreas no lugar de Azevedo em Campanhã.
Era esta a antiga Quinta de Furamontes ou Casal da Capela, cuja referência mais antiga que encontramos, remonta ao século XVIII. Seria então, proprietário do referido casal, um tal Miguel de Amaral.
Propriedade particular permaneceu até 1937, altura em que passou para a posse da Câmara Municipal do Porto (C. M. Porto).
Os proprietários de então eram o Dr. Alberto Maria Ribeiro de Meireles e o seu irmão.
A área da quinta estava nesta altura dividida por três caseiros - Joaquim Pinto Alves, Joaquim Pereira e Joaquim Alves Leite - sob a direcção de um feitor.


Entrada da Quinta das Areias na Rua Areias

 As casas dos referidos caseiros e respectivas famílias, ainda hoje existem embora transformadas e adaptadas a outras funções.
Não se descortina vestígios de qualquer casa ou palacete senhorial.
Os proprietários, possuidores de vastas propriedades na região do Douro, não tinham aqui residência, sendo representados pelo referido feitor. Os vários campos de cultivo, leiras, etc., produziam quantidades apreciáveis de milho, feijão, centeio, vinho, frutas e legumes.
Possuía esta quinta uma antiquíssima capela (1758) dedicada a Nossa Senhora do Pilar, demolida após a compra pela C. M. Porto e reconstruída no Bairro de Casas Económicas do Amial.
Ainda hoje se pode observar o local onde existia essa capela, agora demarcado por uma cerca de sebes, e assinalado pela existência de uma cruz em granito, onde é visível o pequeno nicho destinado à lamparina de azeite.
Em 2 de Dezembro de 1937, foi a quinta expropriada pela C. M. Porto numa parcela única com a superfície de 67 256 m2, recebendo a família Meireles a quantia de 200 000$00.
A escritura lavrada incluía igualmente a posse de uma grande mina de água que se prolongava no sub-solo da estrada das Areias à Portelinha, ficando a Câmara com o direito à água cinco dias por semana.
Nos difíceis anos da 2.ª guerra mundial a quinta ainda produziu vários géneros de primeira necessidade, destinados ao Colégio dos 0rfãos e outras instituições públicas.
Mas o seu destino estava já traçado, sendo aí progressivamente instalados os viveiros municipais.
Em 1969 constrói-se um cremador de cães, em 1971 uma moderna estufa no valor de 199 438$00 e em 1972, um abrigo para plantas que orçou em 438 965$00.
O horto municipal da Quinta das Areias é actualmente um dos melhores do país, possuindo importantes espécies arborícolas e hortícolas e provindo os parques e jardins da cidade do Porto com os necessários exemplares.
Pena é que a fruição deste magnífico espaço, desconhecido da maioria da população da cidade, seja bastante difícil, pois o acesso ao horto é reservado.




A Quinta de Bonjóia, também conhecida por Quinta do Juiz, é uma das mais antigas propriedades dos arrabaldes da cidade. Situada na Rua de Bonjóia, n.° 185, a norte do Palácio do Freixo, ocupa um lugar privilegiado na fralda sul de um outeiro, donde se disfruta de um vasto e aprazível panorama do vale do Douro.
Pertencia nos fins do século XIV ao Chantre Martins Viegas (um Chantre, correspondia ao papel de mestre do coro ou cantor de salmos e responsórios nos templos principais, especialmente em catedrais). Em 1402 foi doada ao Cabido da Sé do Porto que procedeu ao seu emprazamento.



Solar de Bonjóia


“Em 1479, o cónego Fernão Aranha torna-se enfiteuta do prazo de Benjói. A partir daqui, e até finais do século XVII, o referido prazo foi sendo sucessivamente renovado em favor da família dos Aranhas.
Em 1758 aparece-nos como «… senhor possuidor pacífico da sua Quinta chamada de Benjóia, sita na freguesia de Santa Maria de Campanhã, termo desta cidade...», D. Lourenço de Amorim da Gama Lobo, de Ponte de Lima, prior da Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Carmo e fidalgo-cavaleiro da Casa Real, senhor da Casa do Campo das Hortas (actual Praça da Liberdade, tendo este edifício sido demolido para se abrir a Avenida dos Aliados). Este rico fidalgo, não satisfeito com a casa da velha quinta, resolve, nela edificar, um grandioso palácio.
Conhecemos o importante documento (escritura de obrigação entre artes, lavrada em 21/3/1759) que estabelece as disposições para a construção do palácio.
Pena é que não conste o nome do arquitecto.
No entanto, quer pela arquitectura do palácio, quer pela data em que começou a ser construído, quer pelos contactos inevitáveis que Nasoni teve com D. Lourenço, provedor da Santa Casa de Misericórdia do Porto, não será descabido atribuir a autoria da traça ao célebre arquitecto italiano, embora admitindo eventuais reservas.
O portal da quinta é encimado por uma pedra-de-armas cuja descrição, é a seguinte:
Composição - Esquartelado.
Classificação - Heráldica de Família.
Leitura - Amorim, Gama, Lobo e Magalhães.
Escudo de fantasia com ornatos exteriores à moda da época. Exemplar aparatoso. O coronel é de raminho exagerado à moda espanhola. Pedra já bastante gasta.
Transposto o portão, encontramo-nos diante de um pequeno terreiro, no findo do qual se ergue a residência.
Pormenor digno de realce é o facto de a residência não estar acabada. Isto é bem visível na extremidade esquerda, a nascente da casa, onde ainda se notam vestígios do que seria eventualmente o segundo corpo da habitação.
A casa propriamente dita consta de um torreão no ângulo sudoeste, pegado a um corpo com 22,30 m de comprimento, contendo os lados Norte e Sul portadas idênticas. A fachada Sul, visível da estrada da circunvalação, é aquela que apresenta maior interesse e imponência.
A janela superior lembra as da torre da casa da Prelada e a escada exterior e terraço, fazem imediatamente pensar no vizinho palácio do Freixo.
A casa de Bonjóia parece ter sido a última de uma série de residências civis atribuídas a Nasoni ou à sua documentada autoria. Embora pecando por uma relativa pobreza de certos pormenores arquitectónicos, a casa tem no paredão do seu grande terraço a melhor realização.
Neste majestoso paredão com a extensão de 98,40 m de comprimento e 6 m de altura, a meio do qual se abre uma dupla escadaria com um formoso patamar, realizou o artista uma obra notável.

Quinta de Bonjóia


O admirável acabamento, à maneira italiana, confere um aspecto majestoso e verdadeiramente principesco.
Possuía esta propriedade uma capela dedicada à Nossa Senhora do Rosário, hoje desmantelada. Do facto, não restam quaisquer vestígios significativos da sua existência.
Mas voltemos à questão da propriedade da quinta.
Após a morte de D. Lourenço é o seu filho, D. António de Amorim da Gama Lobo, que toma posse da quinta. Falecido este último, durante o primeiro quartel do século XIX, e não deixando descendentes directos, os bens vinculares passam para a posse de uma irmã e os vinculados para a sua viúva, que, por seu turno, os lega a uma sobrinha, D. Maria Natividade Guedes Portugal e Meneses, casada com um Brandão de Melo da Casa da Torre da Marca.
Em 1894 a propriedade é já pertença da família Brandão de Melo e designadamente do Conselheiro José Guedes Brandão de Melo.
Por morte do referido conselheiro, a quinta fica então a pertencer aos seus três filhos como o determina a escritura lavrada em 27 de Junho de 1921. Posteriormente uma das herdeiras, D. Maria José Mimoso Brandão de Melo, adquire aos outros irmãos a totalidade da propriedade, procedendo em 1935 à sua venda.
No tempo desta família ficaram célebres as recepções e os bailes que aí se realizaram, contando inclusive com a presença de destacados membros da familia real.
No já referido ano de 1935 a quinta é vendida ao Dr. Juíz Abílio Augusto Mendes de Carvalho, já lá residente há pelo menos um ano. Na escritura então feita, descreve-se a propriedade de natureza alodial, composta de casa nobre, com jardim, pomar, casas de lavoura, terras de lavradio, bouça e bravio e mais pertenças, tudo com a área aproximada de 34 320 m2.
Falecido o Dr. Mendes de Carvalho em 1940 e sua esposa em 1982, a casa e a quinta passaram a pertencer aos seus nove filhos.
Podia observar-se em tempos áureos no interior do palácio, as suas divisões magníficas, tectos estucados, mobília, lustres, etc. No salão nobre realizaram-se os famosos bailes. No exterior, a mata, os jardins e o horto onde outrora existiu um bonito parque ajardinado eram encantadores.
A abundância de águas, provenientes de uma mina situada perto da Estação de Campanhã, era um facto.
Festas sumptuosas, passeios a cavalo, partidas de golf, etc e até o pormenor curioso de Afonso Costa ter estado refugiado no torreão do palácio aquando das conturbações decorrentes da afirmação do regime republicano, fazem a história deste palacete.
Em 1995 a Câmara Municipal do Porto comprou a propriedade, que era uma triste ruína e os jardins, um feio matagal. Depois de um apurado restauro, a quinta é sede de fundações de cariz social, como a Fundação para o Desenvolvimento Social do Vale de Campanhã e a Fundação para o Desenvolvimento Social do Porto que actualmente ocupa o edifício.”

Fontes – Sites: j-f.org/monografia;

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