sexta-feira, 23 de dezembro de 2016

(Continuação 4) - Actualização em 03/11/2017, 27/03/2018, 14/05/2019, 24/03/2020 e 25/02/2021


A fonte actual não é a original que foi construída em 1707 e terá sido implantada no que é hoje a Rua das Virtudes, junto ao Postigo das Virtudes, da muralha Fernandina, e era alimentada pela rica nascente de Paranhos. 
Esta, foi substituída pela actual fonte devido a reclamações do seu funcionamento, já em 1772, encontrando-se agora na Rua das Taipas. 

“A 23 de Dezembro de 1796 foi lavrado um contrato com o Procurador da Cidade, Manuel Teles Correia Maia, representante da Junta das Obras Públicas, para a cedência de duas penas de água do novo chafariz das Taipas aos proprietários da Casa de S. João Novo – Diogo Leite Pereira de Lima e Melo e sua mulher, Dona Gertrudes Emília Leite Pereira (1775-?) –, em troca da autorização dada pelos mesmos à Junta das Obras Públicas para tirar da pedreira, que possuíam no seu quintal, toda a pedra necessária para a fábrica das Obras Públicas – possivelmente para a construção do novo chafariz das Taipas. Esta provisão recebeu a mercê de D. Maria I, a 28 de junho de 1797 e entrou em cumprimento a 12 de Julho de 1797. A quantidade de água estipulada e o plano da obra são-nos transmitidos através do Auto de Averiguação e Regulamento do encanamento da água do chafariz das Taipas para a Casa de S. João Novo, pelas lojas da casa e quintal de Maria Pessoa de Melo, documento inédito datado de 18 e 19 de Julho de 1797”.
Com a devida vénia a Catarina Sousa Couto Soares; In Dissertação realizada no âmbito do Mestrado em História da Arte Portuguesa, 2016

Num outro texto, dá-se conta a seguir, da distribuição da água chegada às Taipas.

“Sabemos por documentos existentes no nosso Arquivo Municipal que "as vertentes da água da Fonte das Taipas eram distribuídas, em partes iguais, para a casa do juiz José Luís de Negrelos e para as casas de Bento Gomes Delgado Alves, ambos da Rua de Belomonte".
Pela leitura da referida documentação, fica-se a saber, também, que a este Bento Delgado Alves fora dada autorização para vender uma parte da água a que tinha direito a um tal José de Araújo Braga.
Resta informar que da Fonte das Taipas ainda saía uma pena de água para a casa do conselheiro António Alves do Vale, que vivia na Rua das Flores; e mais meia pena para "o hospício que foi dos religiosos Antoninos do Vale da Piedade", que funcionava numa construção que ficava "junto dos celeiros na Cordoaria", sensivelmente onde está agora o Palácio da Justiça.
 A título de curiosidade, informa-se que uma pena de água correspondia a um fornecimento diário de 1272 litros”.
Com o devido crédito a Germano Silva

O conselheiro António Alves do Vale habitaria a casa dos Constantino, pelo que o texto, se referirá à transição do século XVIII para o século XIX.
A fonte das Taipas encontra-se hoje no meio de dois prédios, no interior de uma profunda cavidade na parede com elemento da época Neoclássica.
Primitivamente, para servir essa zona, existiu um chafariz no Largo de Belmonte, bem no seu meio, abastecido pelo manancial de Paranhos.


Chafariz das Taipas - Ed. Isabel Silva





Fonte de Miragaia - Ed. A. Fontes (1909)


O pináculo que encimava a fonte veio do chafariz da Praça D. Pedro ou Tanque da Praça Nova. Atrás da fonte vê-se a Alfândega e a sapata onde se apoiava ainda pode ser vista, pois, não foi demolida.




Fonte da Rua Comércio do Porto – Ed. A. Fontes (1909)


Esta fonte ficava na Rua Comércio do Porto, já muito perto da Rua da Alfândega.




“A fonte dos Banhos também não chegou até nós. Aparece referida na memória do padre Baltasar Guedes, que nos diz que é muito antiga e se localizava em frente do Postigo dos Banhos. Manuel Pereira de Novais também não acrescenta muita informação, e nas Memórias Paroquiais de 1758 é-nos dito que é a mais célebre da freguesia de São Nicolau. Segundo Henrique Duarte e Sousa Reis, esta fonte também era conhecida como fonte do Sargento dos Banhos, no século XIX, e diz que é uma das primeiras fontes públicas que existiram na cidade intramuros.”
In Dissertação de Mestrado da UP de Diogo Emanuel Pacheco Teixeira


Graças ao trabalho de pesquisa de Nuno Cruz que se segue, é possível ter um pouco mais de conhecimento desta fonte.

“…não lhe conhecendo eu nenhum registo fotográfico, tive contudo a felicidade de a encontrar em desenho no livro Here and there in Portugal, editado em Londres em 1856 onde o autor descreve sucintamente a rua dos Banhos:

« The coopers, for whom there is abundant occupation in Oporto, occupy a long and very narrow street, running parallel with the river, called Rua dos Banhos, whose irregular but picturesque buildings would give an artist ample occupation. The fountains are some of them quaint and curious, but the most characteristic is situated in this street. »


É muito curiosa esta observação sobre ser a fonte dos Banhos a mais característica das fontes. O autor ou alguém por ele deu-se ao "trabalho" de a registar em desenho, registo histórico único (?) para alegria do portuense do século XIX!”.
Com a devida vénia a Nuno Cruz, In “aportanobre.blogspot.pt”


A Fonte dos Banhos – Ed. “Here and there in Portugal”, In “aportanobre.blogspot.pt”



Localização em planta da Fonte dos Banhos em 1856 (oval azul) – Fonte: “gisaweb.cm-porto.pt”


Legenda da gravura anterior:

1. Igreja dos Terceiros de S. Francisco
2. Escadas do Caminho Novo
3. Baluarte de S. Filipe junto da Porta Nobre


À data a Rua Comércio do Porto era Rua da Ferraria de Baixo e a Rua dos Banhos onde estaria a fonte aparece em tempos mais remotos como Rua das Boas Mulheres do Mester.
A Travessa dos Banhos (que também existiu) e a Rua dos Banhos já aparecem men­cionadas em escrituras de 1473. No entanto, deviam ser bem mais antigas porque, em 1331, a Câ­mara assumiu, perante a população ribeiri­nha, a obrigação de construir um balneário que, supõe-se, foi quem acabou por dar o nome à rua. 



Local aproximado onde a fonte se encontrava, ainda que a uma cota mais baixa – Fonte: Google maps



Localização da Fonte dos Banhos (pinta amarela), na planta de Perry Vidal (1865)





Esta fonte foi concluída em 1795 e debitava 3 anéis e 6 penas de água.
Sobre esta fonte dizia J. Bahia Junior:

A primeira Fonte da Rua do Almada fica defronte do prédio n.° 242 e tem uma só bica a meio de um grande tanque que vem até ao alinhamento das casas.
Tem a sua nascente proximo do Largo da Picaria e no seu frontespicio está marcada com o respectivo triangulo negro, tendo superiormente as armas reaes.”


Primeira Fonte da Rua do Almada, no seu lugar de implantação – Ed. J. Bahia Junior (1909)



Localização (dentro da elipse) da Primeira Fonte da Rua do Almada – Planta de Telles Ferreira de 1892



A Primeira Fonte da Rua do Almada esteve implantada onde vemos hoje o quiosque (em primeiro plano). Ao fundo, a Praça D. Filipa de Lencastre  – Fonte: Google maps




Um comerciante, Manuel António de Araújo, ofereceu-se para a construção de uma nova fonte, em 1787, com a condição de que lhe fosse concedida metade da água do cano, proveniente de Paranhos, que passava junto à sua propriedade, em Santo Ovídio. Assim, a fonte foi por ele construída sob inspecção do Senado, seguindo um risco que lhe foi entregue, sendo também obrigado a mandar construir o respectivo aqueduto à sua custa. A fonte e o aqueduto foram concluídos em 1790.
Actualmente, esta fonte encontra-se reconstruída nos jardins do Museu Militar do Porto, na Rua do Heroísmo. Apresenta um tanque simples, de forma rectangular. O seu espaldar, também simples, ostenta a seguinte inscrição: “MDCCLXXXVII”. É arrematada por um frontão curvo com as armas da cidade ao centro, constituídas pela imagem da Nossa Senhora da Vandoma no meio de dois castelos, como na fonte das Virtudes.
Segundo J. Bahia Junior:


“A segunda Fonte da Rua do Almada está situada defronte do prédio n.° 460, sendo mettida no meio de dois prédios que parecem terem sido construídos pela mesma occasião da fonte. E', como a anterior, marcada também pelo triangulo negro …A sua nascente é proximo da rua de Liceiras e o tanque, como o da anterior, vem até ao alinhamento das casas, mas é de menores dimensões.”



2ª Fonte da Rua do Almada actualmente no Museu Militar


Segunda Fonte da Rua do Almada – Fonte: Bernardo Xavier Coutinho In Fontes e chafarizes do Porto, Boletim Cultural Câmara Municipal 1969, vol. XXXII, p. 452)


Segunda Fonte da Rua do Almada, no seu lugar de implantação – Ed. J. Bahia Junior (1909)



Localização (dentro da elipse) da Segunda Fonte da Rua do Almada – Planta de Telles Ferreira de 1892







Capela e Fonte de S. Roque no Largo do Souto 


A Praça de Santa Ana (Largo de S. Roque) foi projectada pelo arquitecto-engenheiro Francisco Pinheiro da Cunha, entre 1767 e 1775, a mando da Junta das Obras Públicas.
A fonte desta praça inseriu-se no risco do projecto e era constituída por um nicho aberto na parede central da escadaria, que dava acesso à capela de São Roque.
Nesse nicho, havia uma escultura de um génio montado num golfinho, executada, em 1774, pelo mestre escultor de Braga, José de Sousa. Esta peça escultórica lançava a água num tanque com a forma de concha, sendo alterada mais tarde, passando a apresentar o seu tamanho aumentado e uma estrutura rectangular.
Esta fonte também era conhecida como Fonte do Souto ou Fonte de São Roque. Segundo Henrique Duarte e Sousa Reis, tinha duas bicas sendo que, uma era abastecida pela água proveniente da junção dos mananciais de Paranhos e de Salgueiros e, a outra, provinha de uma mina antiga, pertencente à Câmara e ao Convento de São Francisco. Foi demolida em 1875, sendo substituída pela fonte da Rua Mouzinho da Silveira.


“A porta de entrada da capela fica voltada ao poente e apoiada a sua soleira no patamar das escadarias, e no meio da curva ou meia-lua que elas formam no pavimento ladrilhado da praça está um amplo tanque cujas águas nele se alimentam pela boca de um golfinho em que se vê montado um Génio nu do tamanho de uma criança de oito anos e fica encostado no pedestal do patamar da entrada da capela” 
Texto de Sousa Reis


“ (…) uma capela feita à romana, que lhe serve de remate, duas bem repartidas escadas que, cingidas com balaústres da mesma pedra fina, vão formar diante dela um grande pátio, debaixo do qual aparece um lindo génio cavalgado sobre um golfinho, que lança borbotões de água em uma bacia de pedra lavrada, merece alguma estimação do público apaixonado por semelhantes obras.”
Padre Agostinho Rebelo da Costa, In “Descrição Topográfica e Histórica da cidade do Porto”

Com as obras para abertura da Rua Mouzinho da Silveira, foi previsto remover a fonte e colocá-la debaixo do arco que sustenta a Rua dos Pelames. Sabe-se que não foi o que aconteceu, pois, encontra-se lá, hoje, uma outra da autoria de António Meira.

“Ficou ontem fechado o grande arco que se andava construindo na Rua de Mousinho da Silveira e sob o qual será colocada a antiga fonte de S. Roque. O arco feito a expensas do município, destina-se também a servir de base à Rua dos Pelames, que está intransitável naquele ponto em consequência do desabamento da pedreira.”
In “O Primeiro de Janeiro”, de 30 de Julho de 1885 – 5ª Feira

A fonte de S. Roque acabaria por ser instalada nos Jardins do Palácio de Cristal, onde ainda pode ser apreciada.


“Menino montado no golfinho” no Jardim do Roseiral do Palácio de Cristal – Fonte: Google maps








Fonte Mouzinho da Silveira reconstruída em 1966


Esta fonte existiu desde a abertura da Rua de Mouzinho da Silveira e tinha risco de António Meira.
Para este local esteve previsto instalar a fonte que estava no Largo do Souto, o que não aconteceu.
Tinha duas bicas e recebiam água, uma dos mananciais de Paranhos e Salgueiros e a outra da Arca das Hortas. Esta Arca das Hortas estava situada na Rua do Almada, junto da nascente que a alimentava.
Em 1920, a Fonte da Rua Mouzinho da Silveira foi demolida para construção de dois estabelecimentos comerciais, porém, em 1966, foi reconstruída tal como estava.
J. Bahia Junior chama-lhe Fonte d’Água.


A Fonte c. 1932 - Ed. “portodesaparecido”


Na foto acima, à esquerda, ainda é possível ver parte de estabelecimento comercial, por debaixo da arcada.



Local da fonte entre 1920 e 1966




Chafariz da Rua do Souto com as suas duas taças


O Chafariz da Rua do Souto foi construída em 1920, com uma taça anterior (esta para os animais) e outra posterior, e substituiu um outro que aí existiu, e que servia para se dessedentar o gado.
A parede que se vê atrás em granito poderá ser ainda um resquício da antiga Praça de S. Roque, que estudos recentes dizem que se desenvolveria daí para a parte de cima do que é hoje a rua de Mouzinho da Silveira e cujo centro ficaria onde hoje está a fonte da rua Mouzinho da Silveira. Por aqui ficaria a parte lateral direita da escadaria que dava acesso à capela de S. Roque.
Por aqui existiu a Fonte dos Sapateiros quando à Rua do Souto se chamava Rua dos Sapateiros.
Mais lá para cima na então chamada Rua do Corpo da Guarda existiu a Fonte da Cividade e do outro lado da Rua Mouzinho da Silveira, quase em frente à Fonte dos Sapateiros, existiu a Fonte dos Ferreiros que seria soterrada, aquando da construção da Ponte Nova e que fazia a ligação das duas margens do Rio da Vila.




À esquerda a Fonte do Largo de S. Domingos que substituiu um chafariz



No Largo de São Domingos, ou Largo de Santa Catarina, fronteiro do antigo convento do mesmo nome, existiu desde o séc. XVI um grande chafariz, transferido em 1845 para o Largo do Laranjal, na confluência da Rua da Cancela Velha e a Rua do Laranjal, por exigências do intenso trânsito de pessoas, animais e carroças no local. Após a transladação do chafariz em 1845, foi erguida uma nova fonte (à esquerda na foto acima). 
O chafariz transladado para o Laranjal passou a ser conhecido como o Chafariz do Laranjal sendo, mais tarde instalado na Praça da Trindade, onde hoje ainda se encontra.
Para isso, num terreno expropriado ao Conselheiro Domingos de Faria mandou a Câmara construir uma fonte, e na parte sobrante seria construído um prédio, em cuja fachada ficou a fonte incrustada e que, mais tarde, seria comprado por Manuel Francisco de Araújo, que tinha sido o fundador da Papelaria Araújo & Sobrinho, em 1830, dando sequência ao negócio de um armazém de papel fundado, um ano antes, por um seu tio.
A fonte, no entanto, foi demolida em 1922, restando dela apenas o brasão de armas, que está agora na Quinta de Nova Sintra.



Fonte do Largo de S. Domingos encimada pelo brasão de armas da cidade


 

Papelaria Araújo & Sobrinho, em meados do século XX

 

Interior da Papelaria Araújo & Sobrinho

 

 


Local por onde esteve a Fonte do Largo de S. Domingos, actualmente, a entrada de um restaurante




Brasão de armas da Fonte do Largo de S. Domingos - Ed. Manuela Campos (2019)


No Largo de S. Domingos existiu uma imagem de Santa Catarina colocada num nicho aberto na fachada de um prédio já desaparecido e que ornando uma pequena fonte, estava na frontaria de um prédio existente num recanto voltado para a Rua das Flores, onde agora está um hotel que substituiu a Papelaria Araújo & Sobrinho. Aliás, em 1728, a imagem já lá estaria.
A imagem de Santa Catarina recolheu depois ao interior da Papelaria Araújo & Sobrinho adornando a Fonte de Santa Catarina.



Foto da imagem de Santa Catarina no interior da papelaria



A papelaria Araújo & Sobrinho foi fundada em 1829, por António Ribeiro de Faria, como “Armazém de Papel do Murinho de S. Domingos”.
António Ribeiro de Faria foi um homem de negócios e sócio-fundador da Associação Comercial do Porto.
O primeiro gerente escolhido para ficar à frente do estabelecimento foi Manuel Francisco de Araújo, primo do fundador, a quem este trespassou a casa ao fim de um ano.
Entretanto, para Manuel Francisco de Araújo, começou a trabalhar um seu sobrinho, Domingos Gonçalves Araújo que caindo nas graças do seu tio, em 1866, foi convidado a juntar-se-lhe numa nova sociedade, com a firma “Manuel Francisco de Araújo & Sobrinho”.
Porém, Manuel Francisco de Araújo teve, por razões de saúde, de se afastar e, por isso, a 16 de Setembro, daquele mesmo ano, fez-se substituir por seu filho, Manuel Francisco de Araújo Júnior, passando a firma a “Araújo & Sobrinho”.
Este novo sócio era um amante das artes, tendo por isso promovido bons contactos com artistas das artes plásticas que lhe compravam os materiais para as suas actividades.
Nos andares superiores do prédio da sua loja, onde habitava, promovia vários saraus musicais e levava a efeito algumas tertúlias.
Desde esses tempos, a firma hoje, “Araújo & Sobrinho Sucessores”, vem sendo gerida, como o seu nome indica, por sucessores dos fundadores, tendo atravessado parte do século XIX e todo o século XX.
 
 
Papelaria Araújo & Sobrinho, em 1948
 
 
À direita, uma sucursal da Papelaria Araújo & Sobrinho, na Rua dos Clérigos em meados do século XX
 
 
Actualmente, após remodelação do edifício em 2015, é Miguel Araújo, da 5ª geração da família Araújo, que continua o legado da papelaria “Araújo & Sobrinho”, administrando juntamente com a cunhada Maria José Fontes e uma prima, Joana Araújo Jorge, já da 6ª geração, um pequeno espaço com artigos de papelaria, característicos, que divide com “Porto A.S. 1829 Hotel” e o “Restaurante Galeria do Largo”.
Ocupando a área dedicada à papelaria o hall de entrada, com um espaço de venda ao público, pode observar-se que a Fonte de Santa Catarina e a imagem associada foram preservadas.




Fonte das Congostas ou Chafariz da Rua Nova (Desaparecida)

Julga-se que esta fonte construída no séc. XVII e demolida em 1882 quando foi aberta a R. Mouzinho da Silveira, teria tido no seu lugar, uma outra levantada no século XV.
Esta última era encimada pelo escudo real de D. João II entre 1481/1495 e, para a mais recente, em 16 de Outubro de 1604 a Câmara do Porto mandou Inácio Ferraz de Figueiroa, mestre pintor, pintar as armas reais nela.

“O alçado constava de um corpo central com uma forte cimalha apoiada em colunas com capitéis de inspiração coríntia  sobrepujado por um frontão de remate circular onde se encostavam, na frente e aos lados, três golfinhos de bocas hiantes; lateralmente pequenos corpos com tímpanos curvos de ligação, limitados por pilastras.” 

In O Tripeiro, Série VI, Ano VII. 


Fonte das Congostas - Ed. Museu de Etnografia e História do Douro Litoral


A imagem da foto acima da Fonte das Congostas foi identificada pelo Dr. Pedro Vitorino em 1931, conforme o relato feito pelo próprio:

«Notando o facto lastimável - a falta no Museu do Pôrto dos elementos indispensáveis para a história da cidade - foi que o grupo recentemente criado dos "Amigos do Museu Municipal" projectou levar a efeito uma exposição de vistas e trechos do Pôrto antigo, que conta em breve realizar. Entre as pessoas mais entusiásticas por essa tentativa de educação pela imagem, conta-se o distinto fotógrafo portuense Snr. Domingos Alvão, meu prezado amigo, que ao mostrar-me há pouco o que já tinha reunido para o certame, me interrogou acêrca de uma fonte que uma esmaecida prova fotográfica fazia reviver.
Que fonte seria essa?
Olhando-a, num relance, ocorreu-me logo uma nota inserta nuns apontamentos manuscritos reünidos pelo pintor Vitorino Ribeiro, a qual dizia: "Esta fonte (das Congostas) tinha a forma de um altar". Essa forma era, na verdade, a que nos mostrava a fotografia. Buscando outros elementos, adquiria dentro em pouco a absoluta certeza.
Possível é, pois, quási cinqüenta anos volvidos sôbre a sua demolição, conhecerem-se as linhas fisionómicas dêsse pequeno monumento arquitectónico.»
In O Tripeiro, 4ª Série, nº 177 (7), Maio de 1931; Fonte: portanobre.blogs.sapo.pt


Na fotografia referida é possível observar, na bica do lado esquerdo, gravada a palavra Paranhos, mas, não era só a água dessa origem que a alimentava, pois, recebia ainda, água vinda do chafariz de S. Domingos formada por uma mistura de Paranhos e do Laranjal.
Podemos ainda observar que um brasão (que deve ter estado antes noutro lugar) encimava a fonte e, aquando do arranjo urbanístico da zona e demolição da mesma, teria sido, segundo Nuno Cruz (portanobre.blogs.sapo.pt), colocado numa pequena casa que servia de posto da guarda municipal no Bonfim, ao lado da escadaria da igreja e que, mais tarde, a partir de 13 de Junho de 1924, passaria a ser a nova capela do Santo Antoninho da Estrada.
Em virtude da implantação da República a coroa já tinha sido há muito picada e feita em cascalho.
Na mesma foto são visíveis também os aguadeiros com os seus canecos esperando a sua vez. Os aguadeiros, na totalidade galegos, levavam a água às casas transportando-a nos seus característicos canecos para o que prendiam ao ombro esquerdo um pedaço de couro, onde o caneco assentava para o transporte.
Desde 21 de Dezembro de 1821, por portaria municipal, foi determinado que as fontes públicas deviam ter duas bicas: uma destinada aos particulares e outra destinada exclusivamente aos aguadeiros.
Como notou Alberto Pimentel no Guia do Viajante no Porto (1877),
"os aguadeiros portuenses não andam pela rua oferecendo água, como os de Lisboa. Estão afreguezados, e levam a água todos os dias a casas certas. Usam chapéu desabado, ou boné, jaqueta com chapa [numerada, seguramente] e enormes sapatos, quasi redondos, presos com atilhos sobre o peito do pé".

In O Tripeiro, 4ª Série, Maio de 1931



Local onde ficaria a Fonte das Congostas (À esquerda sobre o jardim) – Fonte: Google maps


Na foto acima, a fonte das Congostas ficaria sobre a esquerda da foto e ficava encostada a um edifício visível na outra foto, que teria sido demolido.
Esse edifício teria frente para a Rua das Congostas e para a Rua do Infante D. Henrique, situando-se, portanto, na esquina das duas ruas.

Gravura da Farmácia Internacional no início do séc. XX

O prédio da gravura anterior situava-se na esquina da rua, oposta à daquela onde se encontrava a Fonte das Congostas.

Sobre a primitiva fonte das Congostas e sobre a que lhe sucedeu escreve Germano Silva:

“A Fonte das Congostas foi demolida entre 1882 e 1883, quando se andava a construir a Rua de Mouzinho da Silveira. Era uma das mais antigas do burgo. Sabemos que, por uma provisão régia do ano de 1395, a cidade foi au­torizada a aproveitar das vertentes (águas que sobravam) da Fonte do Almazém (assim se de­nominava a antiga alfândega que funcionava onde é hoje a Casa do Infante), para alimentar uma fonte pública que se devia construir nes­tes sítios". Esses sítios eram as Congostas. 
Em 1594, o Senado, ou seja a Câmara, mandou construir um aqueduto para que a água que fora "comprada a Gonçalo Peres, no campo do Meloal", fosse levada para a Fonte das Congostas. O campo do Meloal fi­cava onde está hoje a Avenida dos Aliados, sensivelmente onde se construiu a estação do Metro. 
Sendo assim, temos como certo que a Fon­te das Congostas era abastecida com a mesma água que servia o convento dos francis­canos e a fonte do Largo de S. Roque, já desa­parecida, que ficava onde a Rua do Souto se cruza com a atual Rua de Mouzinho da Silvei­ra. 
Do que não há dúvida é de que a fonte já existia no século XVI, porque, num documen­to camarário de 19 de novembro de 1597, a ve­reação municipal informa que havia arrema­tado nessa data, a um tal Bastião Fernandes, mestre de pedreiro, "o conserto do cano que vai da casa de João Valadares e atravessando a rua das Flores segue para a casa de João Brandão e que se quebrara quando se anda­va a construir o cano que a cidade mandou fazer para levar a água à fonte das Congos­tas". Como nota curiosa, informa-se que a Câ­mara pagou por este trabalho a quantia de 2300 réis. 
Sete anos depois, em 16 de outubro de 1604, a Câmara teve mais uma despesa com a Fonte das Congostas: mandou pagar a Iná­cio Ferraz de Figueiroa, mestre pintor, 2000 réis por "pintar as armas da fonte das Con­gostas". Aquela pedra de armas era o escudo real, do tipo adotado por D. João II (1481-1495) que figurava na parte de cima do monumen­tal frontispício da fonte. Esse escudo veio de uma outra fonte que, desde remota era, já existira no mesmo local, mas que era de cons­trução bem mais modesta. 
A Fonte das Congostas tomou a designa­ção da rua onde estava situada. As Congostas ou Cangostas, como também se dizia, iden­tificavam um caminho estreito e declivoso que do alto da Rua de S. João descia, para poente, até à antiga Rua Nova, mais tarde dos Ingleses, e que é hoje a Rua do Infante D. Hen­rique. 
A fonte que existia quando se começou a abrir a Rua de Mouzinho da Silveira devia ser do século XVII. As suas feições arquitetónicas eram as que predominavam na altura em construções do género: do Renascimento. Ti­nha um corpo central com uma forte cimalha, que se apoiava em colunas canuladas com capitéis de inspiração coríntia. As bicas esta­vam rasgadas no meio de carteias exuberan­tes com contornos de feição flamenga.  
Uma portaria municipal de 21 de Dezem­bro de 1821 determinava que as fontes públi­cas deviam ter duas bicas - uma destinada aos particulares e a outra para uso exclusivo dos aguadeiros. 
Das muitas fontes que o Porto teve (em 1864, contavam-se 61) restam em serviço me­ramente decorativo, uma dúzia, se tanto. Mui­tas, depois de desativadas, foram reconstruí­das, e ainda bem, nos jardins dos antigos Ser­viços Municipalizados, na Rua de Nova Sin­tra. A Fonte das Congostas, infelizmente, não teve esse destino.”
Com a devida vénia a Germano Silva




Fonte do mercado Ferreira Borges


Construída em 1885, provavelmente ao mesmo tempo que o mercado, foi esta fonte, substituída em 1932 por um Posto Eléctrico da C.M.P, que ainda se encontra no local, por baixo da escadaria do antigo mercado.


O Mercado Ferreira Borges – Ed. O Alquimista


Local da fonte actualmente






Fonte das Ninfas

A estátua que ornamentava a fonte encontra-se actualmente no jardim do Roseiral no Palácio de Cristal e é conhecida por Fonte das Ninfas.



Chafariz do Convento de S. Francisco no Jardim do Passeio Alegre

Encontrava-se no centro do claustro, onde hoje é o Pátio das Nações do Palácio da Bolsa e foi transferido para o jardim do Passeio Alegre. 
Foi comprado pela comissão administrativa do Salva-Vidas e transferido para o seu actual local, em 1869.

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