sexta-feira, 9 de dezembro de 2016

(Continuação 19)



A Norte da Igreja do Bonfim próximo do hospital Joaquim Urbano, fica a Capela do Senhor Jesus da Boavista, no antigamente chamado, morro do Fojo. No cimo de um penhasco foram construídas, há muitos anos por viandantes piedosos, nesse local, umas "alminhas" que no século XVIII, mais concretamente em 1767, a generosi­dade do cónego da Sé do Porto José Maria de Sousa e as esmolas do povo devoto transformaram numa capela sob a invoca­ção do Senhor Jesus do Fojo que, anos mais tarde, passaria a chamar-se Senhor Jesus da Boavista.
Fojo é uma palavra que significa "cova funda com uma abertu­ra disfarçada para apanhar animais". 
Fora a adoração àquele Senhor Jesus da Boavista, desde as invasões francesas, existe uma imagem da Nossa Senhora do Porto muito venerada e alvo de festas religiosas e profanas no mês de Setembro.
O nome de Senhor Jesus da Boavista, as­sim como o topónimo Montebelo (actual Avenida de Fernão de Magalhães) têm a ver com o ambiente rural que naqueles recua­dos tempos envolvia o Fojo.  
A capela seria re­construída em 1864.
Sobre a Senhora do Porto escreve Germano Silva:

“É bem curiosa a história desta Senhora do Porto do Montebelo, ou do Fojo. Desta, porque há mais duas imagens da mesma invocação: uma que é a da padroeira da paróquia da Senhora do Porto, ao Monte dos Burgos; e a terceira que foi da Casa da Prelada e está no Museu da Santa Casa da Misericórdia do Porto, na Rua das Flores…
Durante a segunda invasão francesa, que ocorreu sob o comando do general Soult, no ano de 1809, a cidade esteve a saque. Os sol­dados franceses, durante vários dias, além de terem cometido toda a sorte de tropelias e vilezas para com os portuenses, saquearam casas e igrejas de onde roubaram tudo o que tivesse valor. 
Um certo dia, ainda no decurso da ocupa­ção, apareceu ali para os lados do Bonfim um soldado francês a oferecer à venda, a quem com ele se cruzava, uma imagem de Nossa Se­nhora. Passou por ele um funcionário da Câ­mara que ofereceu pela imagem um pinto, moeda de prata corrente na época. Fez-se o "negócio" e o comprador levou a imagem à capela do Senhor Jesus da Boavista onde fi­cou sob a invocação de Nossa Senhora do Por­to, que tem a sua festa anual exatamente no terceiro domingo do mês de setembro. 
Mas esta não é a única festa que se realiza na capela. Importante também é a que se faz no primeiro domingo de julho em louvor do próprio Senhor Jesus da Boavista, cuja ima­gem ocupa o lugar de honra, se assim se pode dizer, do altar principal da capela. Também esta imagem tem uma história. Foi seu autor o escultor portuense Manuel Soares de Oli­veira, que um dia fez a promessa de esculpir uma imagem do Senhor Jesus da Boavista, em tamanho natural, que ofereceria à capela se ficasse livre do serviço militar.
Assim aconte­ceu e o artista cumpriu a promessa”. 


Capela do Senhor Jesus da Boavista – Fonte: Site “olhares.sapo.pt”





Capela do Senhor Jesus da Boavista ainda sem edifícios ao redor

Continuando pela freguesia do Bonfim, bem perto temos a Rua do Amparo, que já foi Viela da Palha e que, a exemplo do Hospital dos Entrevados, de Cima de Vila, pode ter esse nome relacionado com a Nossa Senhora do Amparo, talvez, pela existência no local em tempos idos, de qualquer nicho ou capela, onde se adorasse a Santa.
No século XVI, os terrenos que se estendiam desde o antigo campo de Mijavelhas (Campo 24 de Agosto) até ao Monte do Seminário (contíguo ao actual Prado do Repouso) eram atravessados por um ribeiro que corria a céu aberto até se despenhar no Douro e ao longo do seu trajecto fazia mover diversos moinhos – o ribeiro de Mijavelhas.
Nesta área da quinta dos Cirnes e do Prado tiveram lugar combates importantes aquando das invasões francesas entre as tropas de Soult e do general inglês Arthur Wellesley. Por isso nas imediações onde é a Rua Gomes Freire, chamou-se anteriormente Rua Militar de Weslley, mudança operada após o ultimatum inglês em 1890 e da revolta de 31 de Janeiro de 1891.
Nos terrenos da enorme propriedade que era a Quinta do Reimão, abriram-se as ruas dos Duques de Palmela, Saldanha e da Terceira; do Conde de Ferreira e do Barão de S. Cosme; a Rua de Joaquim António de Aguiar e a de Ferreira Cardoso que foi, um dos compradores da propriedade e de entre tão ilustres personalidades ligadas ao Liberalismo, foi um indivíduo que se distinguiu, somente, por ser um abastado proprietário local.
No séc. XV toda aquela zona era de propriedades rurais e vastos campos, a um dos quais se dava o nome de Vale Formoso e foi vendido no final daquele século pela Câmara a um tal Pedro Anes de Santa Cruz e a um seu filho chamado Gonçalo Reimão, tendo o sítio ficado com o nome deste proprietário.
No séc. XVII a quinta era propriedade dos Cirnes à posse dos quais tinha chegado por herança e por essa altura começou a ser a área urbanizada.
Para estas bandas, havia duas feiras - a do gado bovino, que se realizava às terças e sextas-feiras, já funcionava em 1833 e passou, em 1868, para o Largo da Póvoa de Cima, actual Praça da Rainha D. Amélia e a feira de cavalos, que era mensal e que só em 1892 foi mudada para a Praça da Corujeira”.
O Campo 24 de Agosto seria na transição do século XIX para o século XX, um dos principais polos da industrialização que se verificou na cidade.


Campo 24 de Agosto e as suas fábricas. Aqui vinha dar a Rua de Montebelo

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