sexta-feira, 11 de agosto de 2017

(Continuação 32) - Actualização em 09/04/2018 e 28/04/2021


Antiga Rua Ocidental do Bolhão, em 1900 – Fonte: “O Tripeiro”



Na foto anterior vê-se a Rua Ocidental do Bolhão, que seria o futuro prolongamento da Rua de Sá da Bandeira entre a Rua Formosa e a Rua Fernandes Tomás.
À direita, o mercado do Bolhão; à esquerda, casas térreas onde havia uma loja de flanelas e cocheiras dos carros americanos da Companhia de Carris de Ferro do Porto; ao fundo, as casas da Rua de Fernandes Tomás.


Troço, em 1922, da Rua de Sá da Bandeira (até à Rua Fernandes Tomás) que sucedeu à Rua Ocidental do Bolhão. Ao cimo da rua, ainda lá está a fundição do Bolhão que, passados uns anos, iria ser demolida 



Na foto abaixo a mesma perspectiva, poucos anos depois.



Rua de Sá da Bandeira entre a Rua Formosa e a Rua Fernandes Tomás




Na foto acima, possivelmente da década de 30 do século XX, vê-se o que seria uma exposição pública de automóveis, promovida por um “stand” de vendas de viaturas da marca “Citroën”. Entre o Café Madrid (1º à esquerda) e o “stand”, existiam outros três estabelecimentos comerciais:


“Máquinas Eléctricas e Industriais”; “ A Casa da África” (mercearia) e “Nova Mercearia do Bolhão”.


Hoje no lugar do Café Madrid e daquelas duas primeiras casas comerciais, está num novo edifício, a “Casa Chinesa” com abertura em 1938, e no lugar da “Nova Mercearia do Bolhão” a “Casa Ramos”. No lugar do Stand da Citroën é hoje um mercado “Minipreço”.
O prolongamento da Rua de Fernandes Tomás até à Rua de Gonçalo Cristóvão teve início em 1924. Para que tal acontecesse, muito contribuiu uma tragédia que ficou memorável na cidade daquele tempo.
No dia 26 de Julho de 1924 um violento incêndio destruiu totalmente três prédios da Rua de Fernandes Tomás. Foi o pretexto para se dar continuidade ao prolongamento da Rua de Sá da Bandeira para Norte. A demolição do que restou dos imóveis calcinados abriu, por assim dizer, caminho para a nova empreitada.



Rua de Sá da Bandeira antes do prolongamento para a Rua Gonçalo Cristóvão



Perspectiva actual de foto anterior - Fonte Google Maps


Em boa parte da área em que esteve, em tempos, a Fundição do Bolhão, seria construído o Palácio do Comércio, que se observa imponente, na foto anterior, à esquerda, após a Rua de Fernandes Tomás.



Fachadas a sul e a poente do Palácio do Comércio – Fonte: AHMP
 
 

Escultura de Henrique Moreira, “O Triunfo da Indústria”, presente na platibanda do edifício, a nascente
 
 
O Palácio do Comércio foi construído entre os anos 40 e 50, e ocupa todo um quarteirão, formado pelas ruas Sá da Bandeira, Bolhão, Fernandes Tomás e Firmeza.
O projecto de arquitectura ficou a cargo de Maria José Marques da Silva (filha de Marques da Silva) e David Moreira da Silva, filho de José Mopreira da Silva, o fundador da Cooperativa dos Pedreiros.
Era propriedade de Delfim Ferreira, o então proprietário da Casa e Quinta de Serralves.
No edifício destaca-se o seu revestimento em granito e o seu interior em mármore.
A estátua que está colocada na fachada nascente, situada no 7º andar, é da autoria do escultor Henrique Moreira e intitula-se “O Triunfo da Indústria”.




Entre a Rua Fernandes Tomás até à Rua Gonçalo Cristóvão, atravessando a Rua da Firmeza - Ed. Alvão e JPortojo



No troço da Rua de Sá da Bandeira, lado nascente,  entre as ruas de Fernandes Tomás e Gonçalo Cristovão, apresentado na foto anterior, ficaram na memória de muitos portuenses duas icónicas garagens que prestavam diversos serviços aos automobilistas.
A mais antiga, a Garagem do Bolhão, não existe mais e, a outra, mais recente, inaugurada em 21 de Maio de 1949, a Garagem de Sá da Bandeira, presentemente, é um parque de recolhas de viaturas.


 
Garagem do Bolhão, c. 1930 e, em 2009, próximo da Rua Fernandes Tomás
 

 


Garagem Sá da Bandeira, em 2009, próximo da Rua Guedes de Azevedo – Fonte: Google maps




Um pouco mais a norte, a Rua de Sá da Bandeira tinha, e continua a ter, a Capela de Fradelos ou Capela de Nossa Senhora da Boa-Hora de Fradelos.
Por aí, teve existência também a Fonte de Fradelos e a Ribeira de Fradelos.
Este curso de água vinha dos lados do Sítio da Fontinha e ia, depois de se juntar a outros, formar o rio da Vila, junto à igreja dos Congregados.
Era o lugar de Fradelos.





Capela de Fradelos



Na foto acima, pode observar-se o aspecto da envolvente à capela, antes da abertura do troço da Rua de Sá da Bandeira para ligação a Gonçalo Cristóvão. Pode também observar-se, que a zona frontal à capela teve que ser alvo de aterro importante para obviar ao desnível no terreno, que então se verificava.
Por aqui viveu na sua Quinta das Hortas o padre Manoel de Passos Castro, que desempenhava o alto car­go de tesoureiro-mor da Colegiada de Cedofeita, que deixou após a sua morte uma choruda herança, da qual, uma parte seria utilizada para levantar em S. Lázaro, o Recolhimento das Orfãs.


Abertura da Rua Firmeza em 1926 - Ed. Espólio Fotográfico Português


Na foto acima a abertura do troço da Rua Firmeza entre a Rua de Sá da Bandeira, bem perto de Fradelos e a Rua de Santa Catarina.


Rua de Sá da Bandeira em obras, junto à Rua Firmeza em 1940 – Fonte: CMP, Arquivo Histórico Municipal


Rua Sá da Bandeira cruzamento com Rua Guedes de Azevedo em vista descendente – Fonte: Arquivo Histórico da CMP



Em 1955 a Câmara promove um concurso público para remate do troço, da Rua de Sá da Bandeira e a Rua de Gonçalo Cristovão, que é ganho pelos arquitectos Agostinho Rica (1915-2010) e Benjamim do Carmo. A solução é de um edificío-ponte que atravessa a rua e um jardim a poente.


Trabalhos de construção da Rua de Sá da Bandeira, próximo da Rua de Gonçalo Cristovão. Os prédios, à direita, são as traseiras da ala poente da Rua de Santa Catarina




Por esta área, está colocado uma estátua em bronze, a “Maturidade”, de João Charters d'Almeida desde 1965. 



A escultura a “Maturidade” – Ed. JPortojo



Rua de Sá da Bandeira em 1965 com edifício-ponte ao cimo



Na foto acima na esquina, à direita, ficava o café Saba.
No sentido ascendente, à esquerda, acima da capela de Fradelos e com entrada pela Rua de Gonçalo Cristovão, apresenta-se uma construção cilíndrica com 7 pisos - o "Silo-Auto".
Também conhecido, oficialmente, como Parque de Estacionamento de Sá da Bandeira, é o único parque construído de um conjunto de seis que o plano do urbanista Robert Auzelle propunha.
Foi este parque automóvel inaugurado em 1964 e teve como projectistas Alberto Pessoa (1919-1985) e João Abel Manta (1888- 1982).



Silo-Auto - Cortesia blogue "Porto Sombrio"


No Monte das Carvalheiras (1957), à direita, seria construído o Silo-Auto







“Numa passagem do "Santuário Mariano", de Frei Agostinho de Santa Maria, referindo-se aquele às mil e uma invocações que se fazem de Nossa Senhora, e ao aludir à capela onde, no Porto, se venerava a imagem de Nossa Senhora do Ferro, aquele cronista situava-a "nas proximidades da Rua Chã das Eiras" explicando logo a seguir que a rua tinha este nome por ser ali "…que se faziam as eiras em que se debulhava o trigo…"
A Rua Chã é das mais antigas artérias da cidade. Sabe-se que já existia, pelo menos, em 1293 e que inicialmente se compunha de dois troços distintos: um que ia da entrada da Rua do Loureiro até à calçada de Vandoma e se chamava simplesmente Rua Chã; outro que da Calçada de Vandoma ia até ao cimo da Rua do Corpo da Guarda e que se chamava Rua das Eiras. E como uma parte completava a outra chegou a ter a designação de Rua Chã das Eiras, pois, quando toda aquela zona ficava do lado de fora do muro velho, ou seja da parte de fora da muralha romana, muito antes da existência da muralha fernandina, parece que se aproveitava a planura do terreno e a sua privilegiada exposição ao sol para ali se secarem os cereais que eram do Cabido.
Relativamente à Rua Chã, o frade beneditino Pereira de Novais, autor seiscentista de várias obras sobre o Porto, é da opinião que esta designação provém do facto de se tratar de "(…) uma rua plana, grande e espaçosa(…)" acrescentando que "(…) se diz chã por ser plano o seu pavimento(…)".
A partir destas diferentes opiniões, poderemos fazer as nossas opções.
Há 600 anos, exactamente em 1408 aconteceu nesta rua uma grande desgraça. Todo o casario que era, naturalmente, feito de madeira, foi devorado por um pavoroso incêndio. Ainda naquele mesmo ano, a Câmara, então profundamente interessada na efectiva resolução dos verdadeiros problemas do burgo, ordenou que tudo fosse rapidamente reconstruído mas que as casas deviam ser feitas em pedra.
Surgiu, entretanto, um problema que impedia a reconstrução das moradias com a rapidez exigida.
Pouco tempo antes, os "siseiros" (cobradores do imposto da sisa) haviam mandado fechar o Postigo de Carros, aberto na muralha fernandina, em frente à igreja de Santo António dos Congregados, não permitindo que por ali transitassem nem pessoas nem carros. A Câmara protestou juntando o seu clamor aos dos lavradores.
Da parte de fora da cerca, ou seja, onde posteriormente veio a ser aberta a actual Praça da Liberdade, ficavam as melhores hortas e os lavradores que delas cuidavam, viam-se obrigados a dar uma grande volta quando para elas levavam o estrume que vinham buscar à cidade. A Câmara pretendia que se reabrisse o postigo porque era através dele que passavam os carros de bois com a pedra, a madeira e a cal indispensáveis para a reconstrução das moradias que tinham ardido”.
Com a devida vénia a Germano Silva

Calçada de Vandoma em 1940 – Fonte: CMP, Arquivo Histórico Municipal


Houve por aqui perto uma rua com a designação de Belomonte.
Uma "Rua de Belomonte que fica detrás da Rua de Cima de Vila" consta de um documento do arquivo do Hospital de Rocamador do ano de 1498. Deve ser a mesma artéria que vem citada noutro do­cumento com a mesma origem: "...Rua de Belomonte, detrás da Rua Chã...".
Como é óbvio a Rua de Belomonte para as bandas do convento dos dominicanos naquela data, ainda não existia.
Em 1503 aqueles frades dominicanos da Ordem dos Pregadores aforaram, ou seja, alugaram para a construção de casas, as primeiras trinta varas dos chãos já urbaniza­dos num caminho conhecido por Calçada de S. Domingos. Uma das primeiras pessoas a cons­truir casa naquele sítio foi o armeiro Álvaro Gonçalves, um dos mais destacados perso­nagens do romance "A última dona de S. Ni­colau", do escritor portuense Arnaldo Gama. 
“(…) Mas voltemos à Rua Chã, que guarda muitos outros pergaminhos e tradições que se não vêm, nem andam muito nas páginas da crónica portuense. Passavam obrigatoriamente por ela as mais imponentes e solenes procissões que se realizavam no Porto.
Tantos anos, passados a subir e descer a Rua Chã que, os alfaiates, tecelões, tecedeiras e mercadores eram obrigados a toldar, ou seja, colocar toldos para protecção contra as ardências do sol, desde a Rua do Loureiro até (à porta de) Vandoma.
A Rua Chã beneficiava de vários privilégios, um dos quais, talvez o mais importante, era o de que os que nela moravam tinham isenção de aposentadoria, isto é ninguém que passasse na cidade, em viagem, ou negócios, podia exigir que nela lhe concedessem aposentadoria. Foi uma das primeiras artérias do burgo a ser contemplada com uma estalagem "grande e boa…"
Em 1757 fizeram-se sentir nesta artéria, de forma bastante violenta, os ecos da Revolta dos Taberneiros quando os revoltosos "erguendo medonho alarido" se juntaram defronte da casa do Juiz do Povo, José Ferreira da Silva, que vivia à entrada da Rua do Loureiro.
Este tipo de protestos e outras revoltas, muito frequentes nos séculos XIV e XV, nomeadamente as que eram encabeçadas por mercadores e mesteirais, em protesto contra a imposição de novos impostos ou as tentativas de cerceamento das liberdades antigas, levaram muitos estrangeiros, que por aqui se haviam instalado, a procurarem paragens menos agitadas e a instalar-se ao longo da margem direita do rio onde predominava o sossego dos campos.
Uma das mais importantes corporações profissionais que nos começos do século XIX funcionava na Rua Chã era a dos chocolateiros - os homens que trabalhavam com chocolate.
António de Freitas, morador na rua, era um dos mais prósperos mas também um dos mais inconformados contra "as pessoas que se haviam intrometido no mester e se dedicavam à manufactura do chocolate sem terem qualquer preparação para o fazer…"
O protesto de António Ferreira, a que aderiram muitos mais profissionais, foi registado no escritório do tabelião Manuel José de Oliveira para depois ser entregue às autoridades e nele se diz, nomeadamente, que procuram defender " a maior perfeição, bondade e asseio das suas manufacturas para evitar que perigue a saúde dos povos…"
A Rua Chã, já nos nossos dias, também era conhecida pela rua dos barbeiros, tão numerosas eram as lojas destes profissionais que por ali havia”.
Com a devida vénia a Germano Silva


Desta rua vai-se hoje para Estação Ferroviária de S. Bento pela Rua do Loureiro. Em 1599 esse topónimo ainda não existia aparecendo mencionada, nos docu­mentos da época, como Rua que vai da Rua Chã para S. Bento, tendo-se chamado ainda, Rua de Carros ou Rua da Porta de Carros, por estar próxi­ma da porta que também tinha este nome. Era assim designada, pelo menos, em 1334.
Mais tarde seria a Rua do Faval, por aí se encontrar o faval do bispo onde seria construído o convento de S. Bento da Ave-Maria.
Pensa-se que a famosa CIVIDADE existiu no alto do Corpo da Guarda e por isso a Travessa do Loureiro era a Viela da Cividade.
Já agora diga-se que a Praça Almeida Garrett chegou a ser também Largo do Faval.



O típico Café Royal


“Na Rua Chã, os simpáticos restos de moradias, com semblante de setecentos, são reminiscências que evocam os tempos em que por ali viveram os Belezas de Andrade, ligados à Companhia Geral de Agricultura das Vinhas do Alto Douro; altas-dignidades da Igreja Portucalense; ricos comerciantes e artistas, que trabalharam nas obras da Sé e do mosteiro de S. Bento da Ave-Maria.
Nos baixos do melancólico e nobre solar dos Castros, mesmo em frente à antiga Viela da Cadeia, actual Travessa da Rua Chã, funcionou o mais emblemático café do sítio - o célebre Royal, que tantas vezes inspirou as cantigas dos ceguinhos. Não era um café espampanante com luzimento de espelhos, candelabros e outros atavios. Mas era um típico café do Porto, com aquele ambiente esfumado que, na época, caracterizava os estabelecimentos e aquele alegre vozear que não se entendia nem se deixava ouvir, tudo ilustrado pelas conversas dos últimos "graxas" personagens típicos dos cafés portuenses. O Royal finou-se, tal e qual outros cafés, como o Saban na Rua Sá da Bandeira a Fradelos, o Excelsior e o Sport. No seu lugar está agora a loja de um chinês. Foram-se da rua os revoltosos, desapareceram os chocolateiros, levaram sumiço os barbeiros”.
Com a devida vénia a Germano Silva




Solar dos Castros e à esquerda, ao fundo, fica a Sé




O solar dos Castros, exibindo o brasão respectivo na fachada, foi propriedade de uma fidalga de apelido Castro que casou na Casa das Lages, em Lagares, Penafiel, passando a propriedade, mais tarde, para as mãos de um herdeiro, Luís de Lencastre Carneiro de Vasconcelos (1882-1933), 4º barão das Lages, filho de Luís Zeferino Carneiro de Vasconcelos Melo Cabral (3.º barão das Lages) e de Maria Teresa da Veiga Lencastre da Veiga Lencastre e Menezes.
O 4º barão das Lages foi pai de Francisco José Carneiro de Vasconcelos, 4.º visconde de Vilarinho de São Romão.



Rua Chã em 1936

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