terça-feira, 8 de agosto de 2017

(Continuação 29) - Actualização em 09/02/2018

Estrada de Carreiros, Molhe de Carreiros e Avenida Brasil


“A ligação entre a Foz do Douro e Matosinhos fazia-se outrora por atalhos e carreiros. Em mapas antigos encontram-se registos de topónimos como “Carreiro d’Ipia”, “Carreiro Mau”, “Carreiro” e “Molhe dos Carreiros”. A estrada para ligar a Foz do Douro a Matosinhos começou a construir-se em 1864, partindo da Luz (Senhora da Luz). Até ao Molhe de Carreiros designou-se como avenida de Carreiros. Mais tarde foi-lhe dado o nome, que ainda permanece na actualidade, de avenida do Brasil. Do Molhe até ao Castelo do Queijo a referida estrada tinha o nome de rua do Castelo do Queijo. Posteriormente, depois de ajardinada e arborizada, passou a designar-se como avenida de Montevideu”.
Com a devida vénia a Agostinho Barbosa Pereira


A frente marítima do Porto que foi construída ao longo dos séculos entre dois castelos, prolonga-se hoje pela praia, onde o Parque da Cidade encontra o mar.
O Forte de S. João Baptista, mais conhecido por Castelo da Foz, localizado num ponto estratégico de protecção da entrada da barra do Douro, está situado junto ao primitivo povoado, que hoje dá pelo nome de Foz Velha.
Por sua vez o Forte de S. Francisco Xavier, também conhecido como Castelo do Queijo, corresponde ao remate de toda a frente construída da chamada Foz Nova, já em território da freguesia de Nevogilde e data de cerca 1661.
A Estrada de Carreiros, era uma via de ligação entre a Foz do Douro e Bouças (Matosinhos). 
Foi a partir de 1775 que surgiram as designações de Carreiro d`Ipia, Carreiro Mau ou mais tarde, Estrada de Carreiros e Avenida de Carreiros, devido à sua crescente importância, dado que, foi justamente a abertura da estrada (avenida) em 1864,  que permitiu a construção dos primeiros «chalets» e casas mais importantes. Após a implantação da República, mudaram-lhe o nome para Avenida Brasil e ao prolongamento até ao Castelo do Queijo Avenida de Montevideu, depois de ter sido Rua do Castelo do Queijo.


Carreiros - Ed. A. D. Canedo, Sucessor, Porto



O topónimo carreiros, terá que ver com uns caminhos que existiriam entre as dunas, em tempos primitivos, que serpenteavam pela areia.
O Molhe de Carreiros, começado a pensar em 1925, arrancou em 1838 e seria construído em duas fases. Em 1862, estava construído o paredão mais baixo. Em 1869, começaria a ser construído o molhe alto que ficaria concluído em 1885, permitindo, então, melhorar as condições de descarga de pessoas e bens. Deste sistema faziam parte as correspondentes marcas do alinhamento para entrada no porto de Carreiros, marcas essas, constituídas por duas pequenas pirâmides em pedra, uma colocada nos rochedos e a outra em terra.



Molhe de Carreiros, em 1881, antes do prolongamento


Na foto acima pode ver-se que o prolongamento do molhe ainda não estava feito. Essa obra foi executada entre 1881 e 1885.



Antigo acesso (actual Rua do Molhe) ao molhe de Carreiros já prolongado. À direita, a Fonte do Molhe de Carreiros e, à esquerda, o Posto Fiscal

 
 

Planta do Bairro de Carreiros, em 1891
 
 
Legenda:
 
1. Molhe de Carreiros
2. Capela de nossa Senhora de Lurdes
3. Estrada da Foz
4. Fonte de Carreiros
5. Posto Fiscal
6. Salva-Vidas



Molhe de Carreiros


“Em sessão municipal de 11 de Fevereiro de 1892, resolveu-se proceder, com a possível brevidade, ao alargamento e alinhamento da estrada de Carreiros, na Foz, realizando-se ainda outras obras para o aformoseamento do referido local.”
In "O Primeiro de Janeiro", de 13 de Fevereiro de 1892


Na década de 1920, por aqui se construiu a pérgula e a balaustrada e, entre 1929 e 1930, seria electrificada a zona do Molhe.
O carácter balnear desta zona, será reforçado na década de 30 do séc. XX, altura em que se executam as grandes obras de promoção turística da Foz, com a construção da Praça de Gonçalves Zarco, da esplanada do Molhe e do passeio público das avenidas do Brasil e de Montevideu (esta como continuação na direcção a Matosinhos), incluindo a fonte luminosa e diversos elementos escultóricos.



Avenida de Carreiros, em 1900



Avenida de Carreiros vista de poente - Ed. Inácio Sousa



A meio da foto anterior ao fundo, está o Farol da Nossa Senhora da Luz.



Avenida de Carreiros



Avenida de Carreiros



Avenida de Carreiros - In “portoarc.blogspot”



Ciclista em Carreiros em 1897



O eléctrico em Carreiros em 1900



Carreiros em 1905 - Ed. Estrela Vermelha



Mesma perspectiva da foto anterior onde a balaustrada já foi construída - Fonte: "doportoenaoso.blogspot.pt"


Vista obtida a partir do molhe de Carreiros antes de 1920


Na foto anterior é possível observar que a Pérgula ainda não foi construída e que em cima da praia no local em que ela iria ser levantada havia uns prédios (em frente ao Palacete do Relógio) que tiveram que ser demolidos.
Entre eles, existia um que estava afecto à guarda-fiscal, outro estava dotado com os meios de socorro – era o Salva-vidas - e, ainda, no acesso ao molhe, existia a denominada Fonte do Molhe de Carreiros, com representação na planta de Teles Ferreira, que a seguir se mostra, em destaque:
 
 
 


 

A norte do Molhe de Carreiros, já construído e representado na planta acima, observa-se a praia da Robaleira.



Avenida de Carreiros antes da construção da Pérgula já depois da demolição dos prédios que estavam em cima da praia




Avenida Brasil, Praia de Gondarém e Praia do Molhe


No percurso correspondente à Avenida Brasil situam-se as praias de Gondarém e do Molhe.


Praia do Molhe - In “portoarc.blogspot”

Na foto acima temos uma vista das praias de Gondarém e do Molhe e ao fundo, à direita, vê-se a casa mais alta onde se guardava o barco salva-vidas.


À direita na Avenida Brasil o prédio icónico “Belo Horizonte”

O prédio emblemático da foto acima, perto da confluência com a Rua do Crasto pertencia à família Rocha Brito.
Inaugurado em 1946 teve risco do arquitecto Amoroso Lopes (1899-1953) e durante as primeiras décadas funcionou como garagem e estação de serviço no seu piso térreo, parcialmente visível na foto.
Os dois pisos acima funcionavam como salões onde aconteciam festas da burguesia da Foz, que ficaram célebres.
Acabou por ser transformado e totalmente remodelado, para albergar uma unidade de restauração, em 2013. 


Marco de pedra na Avenida Brasil

Marco de pedra no rochedo e molhe ao fundo


A linha de enfiamento entre os dois marcos de pedra das fotos acima, faziam o alinhamento para entrada no porto de Carreiros, se bem que, o colocado sobre os rochedos já não seja o original.


Esplanadas na Avenida Brasil

As esplanadas da foto acima, em frente à Rua do Crasto e que já foi Bar Majestic, também chamado de "Pavilhão" e, que, agora, é uma hamburgueria.


Bar Majestic em 1924 - Ed. André Moura


Avenida Brasil - Fonte: "doportoenaoso.blogspot.pt"

Na foto acima está um carro eléctrico com o respectivo atrelado conhecido por “Fumista”, seguindo-se, ao que parece, um “Belga”.

Busto de Camões de Irene Vilar




A escultura acima é de Irene Vilar e encontra-se, na Avenida Brasil, perto da Praia da Luz.
Aliás, a escultora Irene Vilar teve morada, na Foz do Douro, na Rua Padre Luís Cabral, próximo do Largo de Cimo da Vila e de uma capela do Senhor dos Passos.

 
 

A casa da palmeira foi a de Irene Vilar – Ed. MAC




Casa onde morreu António Nobre na Avenida Brasil nº 531


Praia do Molhe, século XIX – Colecção de Cristina de Azevedo Campos

A foto acima pertença de Cristina Azevedo Campos foi oferecida à Junta de Freguesia de Nevogilde.

Praia de Carreiros


Praia do Molhe - Fonte: "doportoenaoso.blogspot.pt"


Praia do Molhe em 1940

Vista do Molhe de Carreiros para “Esplanada 28 de Maio”


Praia do Molhe com a Pérgula já construída, mas ainda sem a escultura do Salva-vidas

Ao fundo a Pérgula - Fonte: "doportoenaoso.blogspot.pt"

A Flor Granítica (homenagem a Ramalho Ortigão) - Ed. José Magalhães


Homenagem a Ramalho Ortigão

Nas fotos acima pode ver-se a placa de homenagem a Ramalho Ortigão, junto de um rochedo situado junto do molhe de Carreiros e que substituiu um outro entretanto desaparecido do mesmo local há anos. 


“No paredão do quebra-mar sobressai da superfície plana da cantaria uma ponta de rocha negra, áspera, duramente recortada, como uma grande flor granítica. Essa rocha, em que eu me sentei em criança, com o meu chapéu de palha e o meu bibe cheirando ao algodão novo azul e branco da fábrica do Bolhão, reconheci-a com a mesma ternura saudosa com que se torna a ver um velho móvel de família. Boas pedras! Entre tantas coisas que desapareceram, ou que se transformaram, umas para mal outras para pior, vós somente persistis como éreis! Servistes de canapé à minha avó, que muitas vezes me trouxe aqui pela mão, pensativa e triste, porque já a avó dela a trouxera também em pequena a ver o mar, deste mesmo sítio. Há na imutabilidade do vosso aspeto e da vossa forma, ó pedras fiéis, o que quer que seja de amorável e doce, como na constância de uma antiga afeição.”
Fonte: “As Farpas”, Ramalho Ortigão, Julho de 1883

Existe ainda na Rua Coronel Raúl Peres uma placa comemorativa dos 100 anos passados, sobre a morte de Ramalho Ortigão.

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