sábado, 5 de agosto de 2017

(Continuação 26)



Esta avenida só a partir dos meados do séc. XX foi aberta e, para isso, teve que se proceder à demolição de vasto casario e desbaste de importante pedreira.

“Desde a construção da ponte Luís I, que se colocou a questão da articulação do tabuleiro superior com a praça de D. Pedro (da Liberdade) que se ia assumindo como centro da cidade. A construção da Estação de S. Bento, e seguidamente a abertura da avenida dos Aliados, rematada a norte pelos novos Paços do Concelho, vieram tornar premente a abertura de uma Avenida que ligasse directamente o tabuleiro superior da ponte ao centro da cidade. Por isso desde Barry Parker até aos Planos “italianos”, todos eles procuram soluções para esta avenida. Nos finais dos anos 30 procede-se ao arranjo dos acessos à Sé e é aberto o Terreiro D. Afonso Henriques, para as Comemorações do Bicentenário (Exposição do Mundo Português), a que também não é alheio o facto de a Câmara Municipal estar então  instalada no Paço Episcopal”.
In “portoarc.blogspot”

No lado sul, na margem esquerda do Douro, em V. N. de Gaia, também se levantaram alguns problemas no acesso à ponte, o que nos é narrado no texto seguinte:

“O facto da Ponte Luís I, inaugurada a 31 de Outubro de 1886, ter um tabuleiro a uma cota superior, abrigou à abertura, na margem sul, de uma nova via de acesso. No entanto, a existência no local do morro da Serra do Pilar impossibilitou que fosse imediatamente rasgada uma ampla avenida. Em vez disso, a via começou por contornar o morro, após o que seguia um trajecto rectilíneo até à actual Rua de Luís de Camões, na época estrada de ligação a Oliveira do Douro. A instalação da linha do eléctrico, em 1905, a partir do Porto, obrigou ao rasgamento de uma trincheira em pleno morro da Serra do Pilar, alinhada com o traçado da via que seguia para sul, na época designada Avenida de Campos Henriques. No entanto, a metade oeste do morro só seria completamente arrasada em 1927, construindo-se no seu lugar o Jardim do Morro. O eléctrico permitia um fácil acesso à cidade do Porto, o que valorizou a avenida, tornando-a, aos poucos, uma zona urbanizada e uma nova centralidade de Vila Nova de Gaia, afastada da zona ribeirinha onde, até então, se concentravam os serviços, o comércio e o poder político do concelho". 
Fonte: pt.wikipedia.org


Em frente a Rua do Corpo da Guarda antes das demolições


Rua do Corpo da Guarda ao centro da foto


Demolições na Rua do Corpo da Guarda e abertura da Avenida da Ponte


Trabalhos de escavação

Praça Almeida Garrett – Ed. Emílio Biel; Fonte: Arquivo Histórico Municipal


Estação de S. Bento e Igreja dos Congregados ao fundo


Rua do Corpo da Guarda em 1947


Ao cimo da Rua do Corpo da Guarda existia um largo com a mesma designação, onde em tempos que já lá vão, se situavam as casas que foram dos Condes de Miranda do Corvo e dos marqueses de Arronches, onde funcionou o Tribunal da Relação criado por Filipe I, em 1582.
Neste palácio que pertenceu aos marqueses de Arronches, Condes de Miranda do Corvo e mais tarde duques de Lafões, em 1623 representou-se nas cocheiras um espectáculo de comédia espanhola em que dois carroções serviram de palco e em 1760 para celebrar o casamento da rainha D. Maria I com seu tio o infante D. Pedro, a Câmara organizou uma sessão de canto lírico. Nele pela primeira vez em Portugal se cantou ópera. Esta sala de espectáculos teve o seu ocaso no dia 28 de Fevereiro de 1787, já o Teatro de S. João funcionava. No palácio do Duque de Lafões vivia à época o corregedor João de Almada e Melo.
A administração da justiça ao longo da nossa história foi tendo facetas muito variadas.
D. Afonso Henriques conquistou Santarém em 1147, e ordenou que os anciãos nobres julgassem as causas aí, até que D. Sancho, o Capelo, determinou que em Santarém funcionasse Relação e Casa do Cível.
D. Afonso II criaria juízes ordinários e leis gerais, cessando o governo das leis municipais inscritas no foral de cada terra.
D. João I levaria o Cível de Santarém para Lisboa e criou a Casa da Suplicação, que funcionou como o mais alto tribunal até que, em 1834, foi substituído pelo Supremo Tribunal de Justiça.
Desde o século XV os reis eram pressionados no sentido de aumentarem o número de tribunais de recurso.
O Rei D. Sebastião nomeou duas Relações itinerantes e só com Filipe I a situação se alterou, quando determinou que a casa do Cível se fixasse no Porto.
Filipe I quis então, instalar o Tribunal da Relação na Casa do Despacho da Misericórdia mas, os irmãos opuseram-se. O Tribunal foi então para os Paços do Concelho no acanhado edifício da Rua de São Sebastião, onde começou a funcionar em 1583, sendo governador das Justiças o conde de Miranda do Corvo, que havia de transferir o tribunal para as instalações do seu palácio.
Assim, essa rua passou a chamar-se sucessivamente Calçada e Rua da Relação. Antes disso era a Calçada dos Canos e ligava à rua das Eiras ou Chã das Eiras a actual Rua Chã.
Com a construção da Relação na Cordoaria mudou-se para ali o tribunal e a cadeia, vinda esta de funcionar na antiga Viela da Cadeia hoje denominada Travessa da Rua Chã.
Quando a Relação passou para a Cordoaria passou a chamar-se Rua da Relação Velha.
O Tribunal andou, nos primeiros vinte anos de existência, sempre por casa alheia. Primeiro, como se disse, na Casa da Câmara, posteriormente no Palácio dos Condes de Miranda até que, por volta de 1608, se alojou, no Morro da Vitória, junto à Porta do Olival, em edifício construído expressamente para albergar o tribunal e as cadeias. Este acontecimento teve um importante alcance simbólico, na medida em que, a partir de então, esta zona da cidade passou a ter uma permanente afectação à justiça.
Em 1632, poucos anos volvidos após essa auspiciosa instalação, fortes tensões políticas que se fizeram sentir na cidade contra o governo de Madrid, estiveram na origem de um incêndio que arrasou parte do edifício. A reconstrução que se lhe seguiu terá sido feita em moldes bastante mais grandiosos que a obra inicial, merecendo de Manuel Pereira de Novais rasgados elogios, considerando a nova construção como:
«cosa estupenda en Ia fabrica e modelo de Ia Architectura.... una de Ias obras mas perfectas que se allan en Hespana».
(Manoel Pereira de Novaes foi um beneditino que passou a maior parte da sua vida na Galiza, mas portuense de origem e que aqui terá passado muita da sua juventude e presenciado e narrado muitos factos e vivências de parte do século XVII). 
Em 1643 ainda a obra não estava concluída e, por Carta de 7 de Julho, D. João IV insistia para que os trabalhos se acabassem com brevidade e perfeição. Entretanto, em Novembro desse ano, já o monarca autorizava que os presos transitassem para a nova cadeia, subentendendo-se que essa parte do edifício estaria, então, pronta. As obras na área do tribunal prolongar-se-iam por mais tempo, instalando-se este somente em 1650. 

“Na cidade do Porto há uma audiência régia composta por doze letrados, dos quais o chefe é o supramencionado Conde de Miranda. Há aí certos juízes chamados expedidores de penas e agravos, que tratam de causas criminais, das quais se faz apelação para o tribunal de Lisboa, chamado de Suplicação, sendo este muito semelhante àquele, e enquanto as causas cíveis não passarem de quinhentos cruzados. Há aí, além disso, um juiz da coroa real, dois pretores e outros ministros: este tribunal estende a jurisdição à comarca subordinada além da cidade e do seu distrito”.
Crónica do Conde Lorenzo Magalotti (viagem de Cosme de Médicis a Espanha e Portugal - 1668/1669) – Fonte: “portoarc.blogspot.pt”

Cerca de um século depois, em 1747, os documentos dão notícia do estado de degradação do imóvel, nomeadamente na área ocupada pelas cadeias. Uma Carta Régia de Dezembro desse ano ordena, em sequência, a compra de várias casas contíguas ao edifício para ali se proceder a uma nova edificação. Desta forma, será já para este espaço mais alargado que, em Março de 1750, é feito contrato para a construção das novas Cadeias, para a qual havia sido pedido um risco ao arquitecto Nicolau Nasoni. No ano seguinte, pela Carta Régia de 30 de Julho, é decidido proceder a uma demolição gradual da antiga construção, de forma a conservar os presos numa parte da cadeia velha enquanto se levantava a nova edificação, sendo também ordenado à Câmara que encomendasse novo risco àquele arquitecto. Essa nova planta, aprovada, será remetida ao Chanceler da Relação em 9 de Junho de 1752.
Entretanto, no sábado de Aleluia desse ano, havia caído a Casa do Despacho da Relação, obrigando o Tribunal a acolher-se, mais uma vez, à Casa da Câmara, até se mudar, no fim de Maio de 1752, para o palacete da Praça das Hortas no palacete que à data era pertença de Inácio Leite Pereira de Almada Pinheiro Moreira, onde em Agosto de 1819 se ins­talariam os serviços da Câmara Municipal do Porto. 
Entretanto as vicissitudes por que havia de passar o Tribunal não tinham ainda chegado ao fim. Em 1761, irá de novo mudar-se em virtude do tremor de terra que se sentiu em Março e que fez perigar a casa em que, então, se alojava.
Vai instalar-se, por isso, na Cordoaria, no Hospício dos Padres do Vale da Piedade. Daqui terá saído, quatro anos depois, para o Palacete das Hortas, regressando à Cordoaria, para voltar às Hortas, onde estava em 1788, segundo o Padre Agostinho Rebelo da Costa.
Em 1766 tinha sido lançada, finalmente, a primeira pedra na Cordoaria da obra que ficaria ligada a João Almada e Melo.
Em 1797 realiza-se a 1ª sessão no novo Tribunal, já que, há cerca de sete anos já tinha vindo a funcionar a cadeia.

Sem comentários:

Enviar um comentário