terça-feira, 1 de agosto de 2017

(Continuação 22) - Actualização em 26/01/2018, 08/04 e 29/04/2021

Palácio da Bolsa


Durante o Cerco do Porto, em 24 de Julho de 1832, um incêndio no Convento de S Francisco destrói uma parte do edifício e salva-se, apenas, a igreja.
É aqui que passados cerca de duas dezenas de anos se vão estabelecer os comerciantes da cidade, organizados na Associação Comercial do Porto. 
Anos antes, os mercadores portuenses reuniam-se na Bolsa do Comércio da Cidade, na Rua do Infante (numa casa que ainda existe assinalada com um brasão real e que tinha uma passagem interior de ligação à Casa do Infante, que funcionava, na altura, como Alfândega), mas o espaço fechara portas e os mercadores viram-se obrigados a fazer os seus negócios na rua.
Por estas bandas, mais propriamente nos terrenos fronteiros à fachada principal do antigo convento, hoje, a porta principal do Palácio da Bolsa, seriam em 1871, descobertas umas sepulturas medievais, que conferem a esses terrenos, uma história muito antiga.



“Por trás da actual capela-mor da igreja, em terrenos que hoje são públicos esteve em tempos uma casa aforada a Manuel Cirne. Essa casa estava localizada no início da Rua Nova, junto da capela-mor da Igreja de S. Francisco, que teve a particularidade de ser a primeira habitação privada da cidade a ter água encanada, originária do vizinho convento franciscano. 
Este cidadão portuense era filho do primeiro casamento de uma rica proprietária, Maria Anes, com João Cirne. De sua mãe herdou uma grande fortuna, que foi aumentada pelo seu serviço na Flandres, onde se calcula que terá ganho cerca de 200.000 cruzados, quantia enorme para a época. Manuel Cirne nasceu no Porto a 3 de Novembro de 1489, e aí morreu a 17 de Abril de 1567.
Regressado da Flandres, Manuel Cirne comprou em 1539 o concelho de Refoios de Riba d'Ave (Agrela) ao conde da Feira, e daí prosseguiu com os seus interesses comerciais, sobretudo no que se refere ao trato de especiarias, tendo negócios com alguns dos maiores nomes do grande comércio europeu. Morreu no Porto com 74 anos e foi primeiramente sepultado na capela-mor do Convento de S. Domingos, que tinha arrendado por 50.000 reais anuais para sepultura sua e de seus descendentes, mas, em 1594, o seu filho João Cirne trasladou-o para a Capela de Nossa Senhora da Guia na paróquia de S. Pedro da Agrela”.
Fonte: António Carlos da Silveira Montenegro , In “publico.pt/local-porto”





Praça do Infante D. Henrique



Na foto anterior, está o Palácio da Bolsa, da Associação Comercial do Porto.
Em 18 de Setembro de 1833 é promulgado o Código Comercial de Ferreira Borges. Em 2 de Agosto de 1834, é criado o Tribunal do Comércio do Porto.


“A Associação Comercial do Porto (ACP) é uma associação constituída e fundada em 1834 na cidade do Porto para assegurar a representação da comunidade de negócios da região a nível nacional e internacional. É igualmente conhecida por Câmara de Comércio e Indústria do Porto. É a mais antiga associação empresarial de Portugal.
A sua história remonta ao século XVIII onde já os homens de negócios da cidade se reuniam na Congregação Juntina, predecessora da actual ACP.
A 16 de Novembro de 1934 foi feita Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo, a 28 de Maio de 1937 foi feita Grande-Oficial da Ordem da Instrução Pública, a 9 de Abril de 1981 foi feita Membro-Honorário da Ordem Civil do Mérito Agrícola e Industrial Classe Industrial e a 15 de Novembro de 1994 foi feita Membro-Honorário da Ordem do Mérito Empresarial Classe Comercial.”
Fonte: pt.wikipedia.org/




Em 19 de Junho de 1841, D. Maria II manda expedir a Carta de Lei da Concessão do edifício queimado, à Associação Comercial do Porto, para nele se estabelecer a Praça do Comércio ou Bolsa do Comércio e o Tribunal de Comércio de 1.ª Instância. 
A doação é concretizada, mas a rainha faz mais — para ajudar a custear a obra, D. Maria II ordena que a Associação Comercial do Porto receba, durante dez anos, uma receita extraordinária sobre os produtos que passassem pela Alfândega da cidade. Os homens de negócios não esperaram muito para pôr a andar os trabalhos e alguns meses depois o edifício avançava, ainda que fossem precisos 70 anos para que ficasse concluído.
Começado a construir em 6 de Outubro de 1842, foi edificado no espaço onde existiu o Convento de S. Francisco, destruído por um incêndio em 24 de Julho de 1832, quando servia de quartel a Batalhão de Caçadores nº 5, e foi doado pelo governo à Associação Comercial para sua sede, com a obrigação de ser também construído o Tribunal do Comércio.
Como atrás ficou expresso, por decisão régia, a instituição que viria a estabelecer-se neste local, começou por se chamar “Praça do Comércio”, o que é observável na planta seguinte.
 
 
 
 

Planta de 1846, com a indicação da Praça do Comércio (1 - actual Palácio da Bolsa) e terreno fronteiro para edificar a Praça Comercial (2 - actual Praça do Infante D. Henrique)



O projecto inicial de Joaquim Costa Lima foi mais tarde modificado por José Luís Nogueira e o edifício sucessivamente intervencionado por outros técnicos de que se destacam o Engº Gustavo Adolfo Gonçalves de Sousa, Arq. José Macedo, Araújo Júnior e Arq. Joel da Silva Pereira (direcção das obras); Arq. Tomás Augusto Soler e cenógrafos Manini e Pereira Júnior (projecto e pintura da clarabóia sobre o claustro); António Ramalho (pintura da abóbada da escadaria); Soares dos Reis (óculos e medalhões da escadaria); António Carneiro (tecto da Biblioteca); Canteiro Manuel Ferreira Cardoso (ornamentação da pedra); Arq. Alcino Soutinho (adaptação do pátio das Nações a Bolsa de Valores do Porto) e Arq. António Menéres (Auditório).
A foto acima foi tirada entre 1888 e 1900, pois, ainda não se tinha erigido a estátua do Infante D. Henrique e já se vê o Mercado Ferreira Borges.
Repare-se que o “americano” vai, a partir daqui, puxado por 6 mulas para poder subir a R. Mouzinho da Silveira. A designação de "americano" provinha do facto de tais carruagens serem fabricadas nas oficinas estado-unidenses de John Stephenson & Company.




Palácio da Bolsa antes de 1885. As demolições que conduziriam ao surgimento da Praça do Infante D. Henrique só estariam completadas em 1894
 
 
Com a implementação da República, a 5 de Outubro de 1910, o Palácio da Bolsa é inventariado e desocupado e a posse do edifício é lavrada a 11 de Fevereiro de 1911. Um dos quadros de um monarca presente no espaço, o de D. Carlos I, foi vandalizado com dois tiros de pistola.
 
“A Câmara reconhecendo que não era possível adaptar o Palácio da Bolsa a Paços do Concelho, resolve dar-lhe oportunamente um destino, digno de tão grandioso imóvel”.
In revista “O Tripeiro” VIª série, Ano I, Março 1911, dia 1
 
Tendo a Câmara do Porto, então, chegado a colocar a hipótese de se mudar para o Palácio da Bolsa, concluiria, porém, de que as instalações eram insuficientes.
A Câmara já cerca de vinte anos antes tinha estudado a hipótese de ocupar as instalações do Hospital de Santo António.
 
 
Os novos Paços do Concelho: as condições da Misericórdia para sair do Hospital de Santo António são de tal modo onerosas para a Câmara que esta desistiu da ideia.”
In “Jornal da Manhã”, 10 Dez.1889, p. 2
 
 
Em Março de 1915, é anunciado que o governo estava a estudar a possibilidade de restituir à Associação Comercial do Porto o Palácio da Bolsa. O edifício viria, no entanto, a ser devolvido à Associação Comercial, apenas, em 1918, durante a governação de Sidónio Pais.
Quanto ao Tribunal de Comércio, a sua actividade é exercida como organismo autónomo até ao final dos anos 30 do século XX.
O Tribunal do Comércio, também funcionou na Casa da Relação. 


 “Ao longo de três gerações, grandes nomes da arquitectura, da pintura, da escultura e das artes decorativas contribuíram para a criação de um espólio e um património único no Palácio da Bolsa, verdadeira jóia do estilo neoclássico do séc. XIX, do Arq. Joaquim da Costa Lima ao Arq. Marques da Silva, do Pintor António Ramalho, a Veloso Salgado, António Carneiro ou Medina, de Soares dos Reis a Teixeira Lopes.”
In site da Associação Comercial do Porto 


Escadaria Nobre do Palácio da Bolsa - Ed. Luísa Batalha



Pátio das Nações

"O espaço de 506 m2 que fora claustro do convento a céu aberto, é hoje o magnífico Pátio das Nações, um hino às relações comerciais, enunciado em tempos de euforia livre-cambista. Em cada uma das quatro faces do Pátio elevam-se seis colunas pompeanas em ferro fundido, destinadas a aliviar as paredes da carga enorme representada pela vasta cúpula metálica, da autoria de Tomás Soller, que recobre todo o átrio. Na base côncava da armação apresentam-se, além do escudo nacional, mais dezanove brasões heráldicos, executados por Luigi Manini, respeitantes aos países com os quais Portugal mantinha as mais estreitas relações de amizade e de comércio.
As quatro cantoneiras que dividem estas pinturas, comemoram datas relevantes para a actividade mercantil desta praça.
Merece também atenção o pavimento desta enorme quadra. Revestido de mosaico cerâmico, desenhado por Tomás Soller, a sua ornamentação, com predomínio de motivos geométricos, inspira-se nos modelos greco-romanos descobertos em Pompeia. O “floor” da Bolsa de Valores do Porto, fundada pela Associação Comercial do Porto, funcionou neste local até meados da década de 90 do século XX."
In panoramas.ifuturo.net


Pátio das Nações


Salão Árabe

Salão Nobre da Associação Comercial do Porto. Começado a construir em 15 de Setembro de 1862, sob o projecto de Gustavo Adolfo Gonçalves e Sousa, só em 1880 ficou concluído, aquando de uma sessão comemorativa do terceiro Centenário de Camões. As formas decorativas são em estuque e madeira e todo o amarelo é folha de ouro. É o salão usado para recepções, concertos e actos importantes”.


Salão Árabe


Sala do Tribunal do Comércio (Inaugurada em 21 de Novembro de 1891)

“A Sala de Audiências do Tribunal do Comércio, no Palácio da Bolsa (Porto) é mais uma obra-prima do palácio, onde em pleno século XIX, e tal como o nome indica, funcionou o antigo tribunal do comércio. 
Com traço inicial de Joel de Silva Pereira e posterior reformulação do arquiteto Marques da Silva, cuja intervenção se centrou nos vitrais e mobiliário, apresenta-se magnificamente decorada em estilo renascença francesa, estilo, esse que lhe imprime um enorme ecletismo e uma atmosfera de certa austeridade inerente à função para a qual foi concebida". 
In etcetaljornal

Sala do Tribunal do Comércio 


Sala dos Retratos

Decorada segundo o estilo Luís XVI, esta sala homenageia os últimos seis reis da Dinastia de Bragança. O que mais sobressai neste espaço é sem dúvida o seu pavimento com um raro efeito visual de profundidade ilusória.
Com este tributo simbólico, a Associação Comercial do Porto agradeceu a D. Maria II a doação das ruínas do extinto Convento de S. Francisco.
A mesa exposta nesta sala, obra do entalhador português Zeferino José Pinto, levou três anos para ser completada e obteve uma menção honrosa na Exposição Universal de Paris de 1867.



Sala dos Retratos do Palácio da Bolsa – Ed. Luísa Batalha




Cobertura Suspensa


Elemento notável da arte do ferro e do vidro é a requintada cobertura suspensa da parede sobre a entrada lateral do palácio, a meio da Rua da Bolsa, de concepção de Marques da Silva.
Em sessão da Câmara do Porto realizada em 23 de Abril de 1903, foi aprovado o projecto da autoria do arquitecto Marques da Silva, para instalação de uma cobertura em ferro forjado, com ornamentações em ferro fundido, fabricada na Fundição do Ouro, destinada a ser colocada sobre a porta da entrada lateral do edifício da Bolsa, pela Rua D. Fernando.
Do facto, era dada notícia pelo jornal “A Voz Pública” de 24 de Abril de 1903, uma 6ª Feira.







Estrutura suspensa em ferro e vidro na entrada lateral - Ed. Isabel Silva


Em 1885, ainda sem estrutura envidraçada na entrada lateral, que só seria instalada em 1903




Outras curiosidades do Palácio da Bolsa

Durante anos, várias empresas tiveram os seus escritórios nas instalações do Palácio da Bolsa.
Assim, o “Almanaque Comercial, Judicial e Administrativo do Porto e seu distrito” dava conta de que tinham escritórios na Praça do Comércio, no 1º andar, os negociantes “Cockburn, Smith & C.a” e “Offley, Webber & Cramp.”.
Por outro lado, o "Guia (1877) do Viajante", cuja autoria é de Alberto Pimentel, dava o Banco União e o Banco Mercantil Portuense, com instalações na Praça do Comércio e com entrada pela Rua de D. Fernando.
Neste palácio da Bolsa teve também um gabinete o célebre Gustave Eiffel.
Gustave Eiffel viveu em Barcelinhos, entre 1875 e 1877 e deixou várias obras no país, de Viana a Olhão, passando por Barcelos, Esposende, Alijó e, entre outros concelhos, o Porto, onde a sua firma concebeu e construiu a Ponte Maria Pia, que em 1876 permitiu a ligação ferroviária entre Lisboa e o Porto. A travessia que ficou nas bocas do mundo por ostentar o maior arco em ferro até então construído, foi projectada por um dos melhores engenheiros da sua firma, Théophile Seyrig, que pouco tempo depois, estava a trabalhar por conta própria e a disputar mercado ao próprio Eiffel.
Foi o que aconteceu com a Ponte Luís I. Enquanto trabalhava naquele gabinete voltado para a Ribeira, Eiffel tinha proposto um desenho para uma ponte sobre o Douro na localização da ponte Pênsil. O desenho está na posse da Associação Comercial do Porto (ACP), que a expôs naquela sala, mostrando um tabuleiro inferior levadiço, para passagem dos grandes veleiros que então aportavam na cidade e um belíssimo arco que funcionava também como ligação entre margens à cota alta. O projecto não foi aceite e, em 1879, aberto um concurso, Eiffel concorreu com outras firmas e perdeu para a empresa de Seyrig.
A derrota não beliscou a fama do autor da Torre Eiffel. O Palácio da Bolsa estava ainda em construção quando ele se instalou ali e, em 1880, a sua empresa chegou a fazer um orçamento para a imensa clarabóia do Pátio das Nações do edifício. A carta, propondo um preço de catorze contos e 200 mil reis, está também exposta no seu gabinete, juntamente com uma outra, escrita dois meses mais tarde, em que um seu colaborador insistia, a partir de França, perguntando qual fora a decisão da Associação Comercial do Porto sobre esta empreitada. Esta não lhe foi favorável e a obra – que há pouco tempo foi alvo de um minucioso trabalho de restauro – acabou por ser realizada por Tomás Soller.


Mercado Ferreira Borges


Interior do Mercado 


Mercado Ferreira Borges quando nele se comercializava fruta

O mercado Ferreira Borges foi construído entre 1885 e 1888 e destinava-se a substituir o mercado da Ribeira, mas, os comerciantes e o público não aceitaram a mudança, pelo que ficou muito tempo abandonado.
 Foi projectado pelo Eng.º João Carlos Machado, utilizando o ferro fundido e o vidro, tal como o Palácio de Cristal. 
O Mercado Ferreira Borges foi construído pela Companhia Aliança (Fundição de Massarelos) pelo valor de 70.900.000 reis. Esta empresa foi fundada em 1852.
O seu nome que é também o de uma rua que lhe é adjacente, pretende homenagear José Ferreira Borges, um dos principais revolucionários de 24 de Agosto de 1820.
Mais tarde viria a redigir o Código Comercial Português tendo sido um dos fundadores da Associação Comercial do Porto.


Pilar do mercado - Ed. Isabel Silva

Já no século XX a CMP pensou adaptá-lo a museu ou local de exposições e festas. Também estas hipóteses não se concretizaram.
Dos anos 50 a 70 do século passado, foi o principal mercado de fruta da cidade.
Em 1983, dado o seu estado muito degradado, foi totalmente recuperado.
Actualmente a CMP alugou-o a uma empresa de divertimentos e eventos. 

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