segunda-feira, 31 de julho de 2017

(Continuação 21) - Actualização em 14/03/2019



Igreja de S. Francisco, à esquerda, em meados do século XIX


A actual Rua do Infante D. Henrique foi inicialmente chamada Rua Formosa ou Fermosa por D. João I, Rua Nova, Rua Nova de S. Nicolau (em 1788), Rua Nova dos Ingleses (até 1883), Rua dos Ingleses (até 1890). Deixou de ser Rua dos Ingleses em 1890 como reacção de toda a cidade contra a nação inglesa pelo Ultimato.
Na gravura acima pode ver-se a saída do Viático (administração da comunhão aos moribundos, católicos) para assistir a um doente, e o povo ajoelhado, a capela do Senhor dos Passos ainda existente do lado Sul do Convento, o Paço Episcopal não totalmente recuperado das destruições provocadas pelos miguelistas durante o Cerco do Porto e, ainda, a Sé com o relógio entre as torres.



Eugénio Andreia da Cunha Freitas escreve: “Entre os anos 1395 e 1405, mandou El-Rei D. João I, o de Boa Memória, abrir uma nova artéria, para enobrecimento da cidade a que tanto queria e onde nascera seu filho Infante D. Henrique”.


Rua Formosa lhe chamou o monarca, “a minha Rua Formosa”… pouco depois começou a denominar-se Rua Nova, tirando o topónimo a outra Rua Nova que de então para cá se passou a chamar, Rua Escura.
Mas teve outros nomes, a Rua Escura. Chamou-se, por exemplo, Rua do Ferro e Rua de Nossa Senhora do Ferro, por aí ficar a capela de Nossa Senhora do Ferro.
A referência mais antiga à Rua Nova, que ficava junto à Sé, vem num documento do cabido portucalense de 1301: "no fim da Rua Escura que antes se chamava Rua Nova".
Durante muito tempo a rua conservou as duas designações de Rua Formosa e Rua Nova.
Concentrando-se em volta da Feitoria Inglesa, com construção iniciada em 1785, o principal comércio portuense, realizado então com negociantes britânicos, passou a rua a denominar-se Rua Nova dos Ingleses, designação que tinha já em 1794, depois só Rua dos Ingleses.
Na Rua Nova, de D. João I, ergueram-se as mais nobres casas da cidade daquele tem­po, e nelas viveram as mais importantes fa­mílias do Porto.
Nesta rua, funcionou, no século XV, a antiga Bolsa dos Mercadores, num edifício que lhes foi cedido por D. João I, para aí ser instalada a primeira Bolsa do Comércio do Porto. Ainda, hoje, se podem ver as armas de Avis numa das suas paredes.
Uma outra associação de mercadores instituída por D. Dinis, alguns anos antes, começou por funcionar como uma espécie de seguro marítimo destinado a cobrir os riscos de naufrágio, incêndio ou acção da pirataria, então muito activo, nos mares do Norte, viria a ser o embrião da Bolsa de Mercadores instituída por D. João I.
O edifício da Bolsa de Mercadores, que haveria de ser reconstruído, na época de D. Afonso V, dava também acesso à Casa da Moeda. 




Bolsa de Mercadores do Porto



No século XVII, havia no começo da rua um cruzeiro, a que chamavam o Padrão de S. Francisco, por ficar perto do mosteiro dos franciscanos, à entrada da Rua das Congostas, já desaparecida.
O nome de Rua dos Ingleses prevaleceu até 1890, até ao Ultimato inglês.
A esta rua que era a de maior comércio no séc. XIX, convergiam duas importantes artérias do Porto antigo: a Rua da Alfândega Velha (rua que desce da Rua do Infante para o cais e casa do Almazém) que é a conhecida Rua da Alfândega; e a Rua de S. João que começou por se chamar Rua Nova de S. João. O nome de S. João foi-lhe dado, segundo se crê, em homenagem a João de Almada.
Entretanto, muitas outras ruas desapareceram nas imediações, e algumas com nomes bem curiosos, como: Vale das Pegas, Calca Frades, Congostas, Oliveiras, Ourivesaria, Forno Velho, Rossio d'El Rei, e tantos outros.



Rua Nova dos Ingleses


Rua Nova dos Ingleses, gravura de 1834, do Barão de Forrester


Na gravura acima, pode ver-se que antes da construção do Palácio da Bolsa os negócios, com estrangeiros, especialmente ingleses, eram realizados a céu aberto.


Rua Nova dos Ingleses em 1861


Da gravura acima se conclui que o prédio ao fundo desalinhado ainda existe e, à esquerda, é visível a entrada da Rua das Congostas.


Gravura de T. M. Johnson de 1893, In “O Porto das luzes ao liberalismo”-  Francisco Ribeiro da Silva 



Na gravura acima a Rua do Infante D. Henrique, antes, Rua dos Ingleses, com S. Francisco ao fundo já comunica directamente com a Rua Nova da Alfândega.



Rua do Infante D. Henrique – Fonte: Arquivo Histórico Municipal



Na foto acima a Rua do Infante D. Henrique antes do levantamento da praça com o mesmo nome. De notar as fileiras laterais de árvores.
Nela se vê, também, que a rua se encontrava completamente ocupada por edifícios, alguns ao estilo dos que ainda lá se encontram, mas com uma notável diferença: os primeiros que estão à esquerda da foto foram demolidos c. 1883 para dar lugar ao Jardim do Infante.





Início da Rua das Congostas, à esquerda (ampliação da foto anterior)


Na ampliação acima, à esquerda, após a primeira carruagem, vê-se o início da Rua das Congostas.


Vista actual das fotos anteriores já com o Jardim do Infante - Fonte: Google Maps



Descarga na Ribeira da 1ª pedra vinda de Sagres para o monumento ao Infante D. Henrique


Lançamento da 1ª pedra do monumento ao Infante D. Henrique


Em 4 de Março de 1894, com a presença de D. Carlos e D. Amélia foi lançada a 1ª pedra do monumento ao Infante D. Henrique, após ter sido benzida pelo Cardeal D. Américo.
À cerimónia assistiram mais de 100.000 pessoas.





Praça do Infante D. Henrique


Na foto acima vê-se o pedestal do monumento ao Infante D. Henrique, mas, ainda sem todas as peças em bronze, pelo que deve ser de 1900 ou do ano anterior.
As palmeiras que se veem na foto, que chegaram a ser dezoito, e que rodeavam a estátua do Infante D. Henrique, seriam cortadas em 28 de Janeiro de 1957 para se poder observar melhor a estátua do Infante e o Mercado da Fruta, Ferreira Borges.



O Infante D. Henrique


O monumento ao Infante D. Henrique do escultor Tomás Costa foi inaugurado em Outubro de 1900 pelo Rei D. Carlos I e D. Amélia.



Carros de bois fazendo os transportes entre a Ribeira e a alta da cidade pela Rua de Mouzinho da Silveira






Vista actual da foto anterior – Fonte: Google maps


Rua do Infante D. Henrique – Fonte: Arquivo Histórico Municipal, CMP


Na foto acima, de 1900, vê-se a entrada da Rua da Reboleira.



Túnel da Ribeira
 
 
Este túnel rodoviário, concebido pelo engenheiro Bernardo Ferrão, que terá sido o primeiro do País, foi inaugurado em 1952 pelo então Presidente da República, general Craveiro Lopes, em 28 de Maio, no mesmo dia em que foi inaugurado o antigo estádio das Antas, o Bairro de Pescadores da Afurada e a ponte da Foz do Sousa.
O túnel, com 200 metros de comprimento e 15 de largura, tinha sido começado a construir em 1947, tendo passado a fazer a ligação entre a saída do tabuleiro inferior da ponte Luis I e a Rua do Infante D. Henrique e foi construído na sequência da aplicação do Plano Regulador do Porto e concretizou algumas das ideias do engenheiro Ezequiel de Campos e de Barry Parker (o arquitecto inglês contratado pela Câmara para estudar diversos projectos para a cidade, entre os quais a Avenida dos Aliados).
A sua construção deu origem a alguns contratempos, como seja o de ter provocado a derrocada de parte da capela do Ferro, situada na encosta que lhe fica acima e, ainda, ter provocado aluimentos que danificaram o túnel do ramal ferroviário de ligação de Campanhã à antiga estação da Alfândega, que lhe ficaria subjacente.
Notícias da imprensa, de 1949, dizem que os trabalhos chegaram a colocar em perigo a integridade do edifício do “Seminário Maior",
 
 
 

Rua do Infante D. Henrique
 
 
Os prédios observados na foto acima, a meio, viriam a ser demolidos para a abertura do Túnel da Ribeira.

 
 
Abertura do Túnel da Ribeira, do lado nascente, à saída da ponte


 
 

Túnel da Ribeira
 
 
 
Desde a inauguração, na frontaria granítica da entrada (nascente) ficou um rectângulo que diziam destinado a um baixo-relevo escultórico.
Finalmente, em 2015, o espaço foi ocupado por um painel de azulejos, cujo desenho é da autoria de Fernando Lanhas, oferecido pelos seus herdeiros aos portuenses, denominado “À Cidade”.
 
 
“A obra é uma ampliação de um quadro a óleo que o artista realizou em 1993, pintado sobre azulejo por Jorge Parracho e executado em 2012 na Cooperativa Árvore sob orientação do ceramista Pedro Gil.
O painel é constituído por 875 azulejos em base cerâmica, dispostos em 35 fiadas na vertical e 25 na horizontal, com as dimensões totais de 700cmx500cm.”
Fonte: “porto.pt/”

 
 

Painel de Fernando Lanhas na entrada nascente do Túnel da Ribeira
 
 
 
Um outro painel de azulejos, denominado “Ribeira Negra”, tinha sido inaugurado em 21 de Junho de 1987, na mesma entrada do Túnel da Ribeira (a nascente) da autoria do pintor Júlio Resende.
O painel mural é enorme (41x5 metros) tendo sido realizado em grés no ano de 1986, encomendado pela Câmara Municipal e realizado na Cerâmica do Fojo, em Gaia, pintado e gravado pelas mãos de Júlio Resende.
 
 
 
 

“Ribeira Negra” – Ed. JPortojo



Serviu de modelo ao painel mural, uma obra de pintura utilizando negro de fumo e óxido de zinco, também de Júlio Resende, cuja tela é em lona, formada por vários módulos (4x3 metros), perfazendo cerca de 40 metros, executada em dez dias, nas instalações da Cooperativa Árvore.
Seria oferecida à Câmara do Porto, que a manteve encaixotada até 2010.
Desde 6 de Novembro de 2010, encontra-se exposta no espaço museológico da Alfândega.
 
 
 

“A Ribeira Negra” na Alfândega do Porto – Ed. JPortojo


 
 
Sobre a Ribeira, dizia Júlio Resende:
 
“No ar, as vozes de praguejos, de risos, o inconformismo dos velhos, a alegria das crianças, a correria dos cachorros. As fachadas sempre em festa no espelhar dos azulejos”.
 
 
Júlio Martins Resende da Silva Dias nasceu no Porto em 23 de Outubro de 1917 e faleceu, em Valbom, Gondomar, em 21 de Setembro de 2011.
É da autoria de JPortojo a biografia de Júlio Resende que se segue:
 
 
“Em 1937 matriculou-se na Escola de Belas Artes do Porto. Por dificuldades financeiras, custeou as despesas do curso com a venda de trabalhos gráficos, como desenhos publicitários, ilustrações e banda desenhada. Esta faceta da sua carreira decorreu até aos anos 70. 
Provavelmente a rapaziada do meu tempo de menino ainda se lembrará do Calendário do Matulinho que se publicava no último domingo do ano no Jornal O Primeiro de Janeiro.
Iniciou a carreira docente em 1944 na Escola Industrial de Guimarães.
Em 1945 terminou a licenciatura em Pintura com o Quadro Os Fantoches, classificado em 18 valores.
Entre 1947 e 48 estudou em França, copiou os mestres da pintura no Louvre e outros Museus da Europa. Regressou a Portugal em 49 e ao ensino. Dedicou-se à cerâmica e o seu primeiro painel em 1952 foi para a Escola Gomes Teixeira, no Porto, onde leccionava. Em 1956 formou equipe com o arquitecto João Andresen e o escultor Barata Feyo que ganhou o concurso para o Monumento do Infante D. Henrique, em Sagres, mas cuja obra nunca se realizou por Salazar não gostar dela. 
Nesse ano terminou o curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra. Em 1958 foi convidado a dar aulas na Escola Superior de Belas Artes do Porto, que só abandonou em 1987.
Institui em 1993 a Fundação Júlio Resende, Lugar do Desenho, em Valbom, Gondomar”.





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