Igreja de S.
Francisco, à esquerda, em meados do século XIX
A actual Rua do
Infante D. Henrique foi inicialmente chamada Rua Formosa ou Fermosa por D. João I, Rua Nova, Rua Nova de S. Nicolau (em 1788), Rua Nova dos Ingleses (até 1883), Rua dos Ingleses (até 1890). Deixou
de ser Rua dos Ingleses em 1890 como reacção de toda a cidade contra a nação
inglesa pelo Ultimato.
Na gravura acima
pode ver-se a saída do Viático (administração da comunhão aos moribundos,
católicos) para assistir a um doente, e o povo ajoelhado, a capela do
Senhor dos Passos ainda existente do lado Sul do Convento, o Paço
Episcopal não totalmente recuperado das destruições provocadas pelos miguelistas
durante o Cerco do Porto e, ainda, a Sé com o relógio entre as torres.
Eugénio Andreia da
Cunha Freitas escreve: “Entre os anos
1395 e 1405, mandou El-Rei D. João I, o de Boa Memória, abrir uma nova artéria,
para enobrecimento da cidade a que tanto queria e onde nascera seu filho
Infante D. Henrique”.
Rua Formosa lhe chamou o monarca, “a minha Rua Formosa”…
pouco depois começou a denominar-se Rua
Nova, tirando o topónimo a outra Rua Nova que de então para cá
se passou a chamar, Rua Escura.
Mas teve outros
nomes, a Rua Escura. Chamou-se, por exemplo, Rua do Ferro e Rua de
Nossa Senhora do Ferro, por aí ficar a capela de Nossa Senhora do
Ferro.
A referência mais
antiga à Rua Nova, que ficava junto à Sé, vem num documento do cabido
portucalense de 1301: "no fim da Rua
Escura que antes se chamava Rua Nova".
Durante muito tempo
a rua conservou as duas designações de Rua Formosa e Rua Nova.
Concentrando-se em
volta da Feitoria Inglesa, com construção iniciada em 1785, o principal comércio portuense,
realizado então com negociantes britânicos, passou a rua a denominar-se Rua Nova dos Ingleses, designação
que tinha já em 1794, depois só Rua
dos Ingleses.
Na Rua Nova, de D.
João I, ergueram-se as mais nobres casas da cidade daquele tempo, e nelas
viveram as mais importantes famílias do Porto.
Nesta rua, funcionou, no século XV, a antiga Bolsa dos
Mercadores, num edifício que lhes foi cedido por D. João I, para aí ser
instalada a primeira Bolsa do Comércio do Porto. Ainda, hoje, se podem ver as
armas de Avis numa das suas paredes.
Uma outra associação de mercadores instituída por D. Dinis, alguns anos antes, começou por funcionar como uma espécie de seguro marítimo destinado a cobrir os riscos de naufrágio, incêndio ou acção da pirataria, então muito activo, nos mares do Norte, viria a ser o embrião da Bolsa de Mercadores instituída por D. João I.
O edifício da Bolsa de Mercadores, que haveria de ser reconstruído,
na época de D. Afonso V, dava também acesso à Casa da Moeda.
Bolsa de Mercadores do Porto
No século XVII, havia no começo da rua um cruzeiro, a que
chamavam o Padrão de S. Francisco, por ficar perto do mosteiro dos
franciscanos, à entrada da Rua das Congostas, já desaparecida.
O nome de Rua dos Ingleses prevaleceu até 1890, até ao
Ultimato inglês.
A esta rua que era a de maior comércio no séc. XIX,
convergiam duas importantes artérias do Porto antigo: a Rua da Alfândega Velha
(rua que desce da Rua do Infante para o cais e casa do Almazém) que é a conhecida
Rua da Alfândega; e a Rua de S. João que começou por se chamar Rua Nova de S.
João. O nome de S. João foi-lhe dado, segundo se crê, em homenagem a João de
Almada.
Entretanto, muitas outras ruas desapareceram nas imediações,
e algumas com nomes bem curiosos, como: Vale das Pegas, Calca Frades,
Congostas, Oliveiras, Ourivesaria, Forno Velho, Rossio d'El Rei, e tantos
outros.
Rua Nova dos Ingleses
Rua Nova dos
Ingleses, gravura de 1834, do Barão de Forrester
Na gravura acima,
pode ver-se que antes da construção do Palácio da Bolsa os negócios, com
estrangeiros, especialmente ingleses, eram realizados a céu aberto.
Rua Nova dos
Ingleses em 1861
Da gravura acima se
conclui que o prédio ao fundo desalinhado ainda existe e, à esquerda, é visível
a entrada da Rua das Congostas.
Gravura de T. M. Johnson de 1893, In “O Porto das luzes ao
liberalismo”- Francisco Ribeiro da Silva
Na gravura acima a Rua do Infante D. Henrique, antes, Rua
dos Ingleses, com S. Francisco ao fundo já comunica directamente com a Rua Nova
da Alfândega.
Rua do Infante D.
Henrique – Fonte: Arquivo Histórico Municipal
Na foto acima a Rua
do Infante D. Henrique antes do levantamento da praça com o mesmo nome. De
notar as fileiras laterais de árvores.
Nela se vê, também,
que a rua se encontrava completamente ocupada por edifícios, alguns ao estilo
dos que ainda lá se encontram, mas com uma notável diferença: os primeiros que
estão à esquerda da foto foram demolidos c. 1883 para dar lugar ao Jardim do
Infante.
Início da Rua das
Congostas, à esquerda (ampliação da foto anterior)
Na ampliação acima,
à esquerda, após a primeira carruagem, vê-se o início da Rua das Congostas.
Vista actual das
fotos anteriores já com o Jardim do Infante - Fonte: Google Maps
Descarga na Ribeira
da 1ª pedra vinda de Sagres para o monumento ao Infante D. Henrique
Lançamento da 1ª
pedra do monumento ao Infante D. Henrique
Em 4 de Março de
1894, com a presença de D. Carlos e D. Amélia foi lançada a 1ª pedra do
monumento ao Infante D. Henrique, após ter sido benzida pelo Cardeal D.
Américo.
À cerimónia
assistiram mais de 100.000 pessoas.
Praça do Infante D.
Henrique
Na foto acima vê-se
o pedestal do monumento ao Infante D. Henrique, mas, ainda sem todas as peças
em bronze, pelo que deve ser de 1900 ou do ano anterior.
As palmeiras que se
veem na foto, que chegaram a ser dezoito, e que rodeavam a estátua do Infante D.
Henrique, seriam cortadas em 28 de Janeiro de 1957 para se poder observar
melhor a estátua do Infante e o Mercado da Fruta, Ferreira Borges.
O Infante D.
Henrique
O monumento
ao Infante D. Henrique do escultor Tomás Costa foi inaugurado em Outubro
de 1900 pelo Rei D. Carlos I e D. Amélia.
Carros de bois
fazendo os transportes entre a Ribeira e a alta da cidade pela Rua de Mouzinho
da Silveira
Vista actual da foto
anterior – Fonte: Google maps
Rua do Infante D.
Henrique – Fonte: Arquivo Histórico Municipal, CMP
Na foto acima, de
1900, vê-se a entrada da Rua da Reboleira.
Túnel da Ribeira
Este túnel
rodoviário, concebido pelo engenheiro Bernardo Ferrão, que terá sido o primeiro
do País, foi inaugurado em 1952 pelo então Presidente da República, general
Craveiro Lopes, em 28 de Maio, no mesmo dia em que foi inaugurado o antigo
estádio das Antas, o Bairro de Pescadores da Afurada e a ponte da Foz do Sousa.
O túnel, com 200
metros de comprimento e 15 de largura, tinha sido começado a construir em 1947,
tendo passado a fazer a ligação entre a saída do tabuleiro inferior da ponte
Luis I e a Rua do Infante D. Henrique e foi construído na sequência da
aplicação do Plano Regulador do Porto e concretizou algumas das ideias do
engenheiro Ezequiel de Campos e de Barry Parker (o arquitecto inglês contratado
pela Câmara para estudar diversos projectos para a cidade, entre os quais a Avenida
dos Aliados).
A sua construção deu
origem a alguns contratempos, como seja o de ter provocado a derrocada de parte
da capela do Ferro, situada na encosta que lhe fica acima e, ainda, ter
provocado aluimentos que danificaram o túnel do ramal ferroviário de ligação de
Campanhã à antiga estação da Alfândega, que lhe ficaria subjacente.
Notícias da
imprensa, de 1949, dizem que os trabalhos chegaram a colocar em perigo a
integridade do edifício do “Seminário Maior",
Os prédios observados na foto acima, a meio, viriam a ser demolidos para a abertura do Túnel da
Ribeira.
Abertura do Túnel da Ribeira, do lado nascente, à saída da
ponte
Desde a inauguração, na frontaria granítica da entrada
(nascente) ficou um rectângulo que diziam destinado a um baixo-relevo
escultórico.
Finalmente, em 2015, o espaço foi ocupado por um painel de
azulejos, cujo desenho é da autoria de Fernando Lanhas, oferecido pelos seus
herdeiros aos portuenses, denominado “À Cidade”.
“A obra é uma ampliação
de um quadro a óleo que o artista realizou em 1993, pintado sobre azulejo por
Jorge Parracho e executado em 2012 na Cooperativa Árvore sob orientação do
ceramista Pedro Gil.
O painel é constituído
por 875 azulejos em base cerâmica, dispostos em 35 fiadas na vertical e 25 na
horizontal, com as dimensões totais de 700cmx500cm.”
Fonte: “porto.pt/”
Um outro painel de azulejos, denominado “Ribeira Negra”,
tinha sido inaugurado em 21 de Junho de 1987, na mesma entrada do Túnel da
Ribeira (a nascente) da autoria do pintor Júlio Resende.
O painel mural é enorme (41x5 metros) tendo sido realizado
em grés no ano de 1986, encomendado pela Câmara Municipal e realizado na
Cerâmica do Fojo, em Gaia, pintado e gravado pelas mãos de Júlio Resende.
“Ribeira Negra” – Ed. JPortojo
Serviu de modelo ao painel mural, uma obra de pintura utilizando
negro de fumo e óxido de zinco, também de Júlio Resende, cuja tela é em lona, formada
por vários módulos (4x3 metros), perfazendo cerca de 40 metros, executada em
dez dias, nas instalações da Cooperativa Árvore.
Seria oferecida à Câmara do Porto, que a manteve encaixotada até 2010.
Desde 6 de Novembro de 2010, encontra-se exposta no espaço museológico da Alfândega.
Seria oferecida à Câmara do Porto, que a manteve encaixotada até 2010.
Desde 6 de Novembro de 2010, encontra-se exposta no espaço museológico da Alfândega.
“A Ribeira Negra” na Alfândega do Porto – Ed. JPortojo
Sobre a Ribeira, dizia Júlio Resende:
“No ar, as vozes de
praguejos, de risos, o inconformismo dos velhos, a alegria das crianças, a
correria dos cachorros. As fachadas sempre em festa no espelhar dos azulejos”.
Júlio Martins Resende da Silva Dias nasceu no Porto em 23 de
Outubro de 1917 e faleceu, em Valbom, Gondomar, em 21 de Setembro de 2011.
É da autoria de JPortojo a biografia de Júlio Resende que se
segue:
“Em 1937 matriculou-se
na Escola de Belas Artes do Porto. Por dificuldades financeiras, custeou as
despesas do curso com a venda de trabalhos gráficos, como desenhos
publicitários, ilustrações e banda desenhada. Esta faceta da sua carreira
decorreu até aos anos 70.
Provavelmente a
rapaziada do meu tempo de menino ainda se lembrará do Calendário do Matulinho
que se publicava no último domingo do ano no Jornal O Primeiro de Janeiro.
Iniciou a carreira
docente em 1944 na Escola Industrial de Guimarães.
Em 1945 terminou a
licenciatura em Pintura com o Quadro Os Fantoches, classificado em 18 valores.
Entre 1947 e 48
estudou em França, copiou os mestres da pintura no Louvre e outros Museus da
Europa. Regressou a Portugal em 49 e ao ensino. Dedicou-se à cerâmica e o seu
primeiro painel em 1952 foi para a Escola Gomes Teixeira, no Porto, onde
leccionava. Em 1956 formou equipe com o arquitecto João Andresen e o escultor
Barata Feyo que ganhou o concurso para o Monumento do Infante D. Henrique, em
Sagres, mas cuja obra nunca se realizou por Salazar não gostar dela.
Nesse ano terminou o
curso de Ciências Pedagógicas na Universidade de Coimbra. Em 1958 foi convidado
a dar aulas na Escola Superior de Belas Artes do Porto, que só abandonou em
1987.
Institui em 1993 a
Fundação Júlio Resende, Lugar do Desenho, em Valbom, Gondomar”.
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