terça-feira, 3 de outubro de 2017

(Continuação 16) - Actualização em 22/10/2020

21.17 Palacete dos Souto e Freitas, Casa da Fábrica ou Palacete do visconde de Laborim - Rua da Fábrica


Tinha este palacete, há muito demolido, a designação de “Casa da Fábrica”, por estar situado na esquina da Rua da Fábrica e da Travessa da Rua da Fábrica, hoje, Rua de Avis.
Aquela rua deve, por sua vez, o seu nome, à mais antiga fábrica de tabaco que se conhece na cidade, a Real Fábrica do Tabaco e, sabe-se que, já tinha existência no século XVIII, pois, a ela, em 1789, se refere o padre Agostinho Rebelo da Costa.
Há, todavia, quem garanta, que já teria existência desde o início do século XVIII.
O Padre Agostinho Rebelo da Costa referiu sobre aquela unidade industrial, que ela originava um rendimento assinalável, em impostos, a Sua Majestade e que, tinha sofrido quer em quantidade quer em qualidade, um assinalável incremento, após a entrada para a sua administração do cidadão espanhol, Vicente Gregório Garcia.
A Rua da Fábrica (antiga Rua da Fábrica do Tabaco) fazia, em tempos, a ligação do Campo da Via Sacra ou Calvário Velho, depois, sucessivamente, Praça do Pão, Praça de Santa Teresa e Praça Guilherme Gomes Fernandes à Praça Nova, depois, Praça D. Pedro e Praça da Liberdade.
 
 

Planta do declive da Rua da Fábrica, lado Norte, em 1824, entre cota superior e a Travessa da Fábrica – Fonte: AHMP
 
 

Planta do declive da Rua da Fábrica, lado Norte, em 1824, entre a Travessa da Fábrica e a Rua Nova do Almada – Fonte: AHMP
 
 
Legenda:     
 
1. Casa do Vicente dos Canos, possivelmente, Vicente Gregório Garcia, administrador da Real Fábrica do Tabaco
2. Propriedade da Fábrica do Tabaco
3. Propriedade da Fábrica do Tabaco
4. Antiga propriedade da Fábrica do Tabaco e, desde 1823, propriedade de Manuel José Gomes do Vale que a remodelava para sua habitação
5. Embocadura da Travessa da Fábrica
6. Casa de João Luís da Silva Souto Freitas
7. Casa dos herdeiros Sampaio
8. Largura da Rua Nova do Almada


Em 1860, a imprensa da época dava conta de uma arrematação da propriedade que tinha sido afecta à Real Fábrica de Tabaco, donde se poderia inferir da sua localização e grandeza.
 
 


 

A área envolvida pelo quadrilátero, em destaque, seria o chão ocupado pela Real Fábrica de Tabaco




Fachada da Casa da Fábrica voltada para a Travessa da Fábrica, J. Villanova 1833


Na esquina das actuais Rua de Avis e Rua da Fábrica - Ed. Foto Beleza



O mesmo local, actualmente - Fonte: Google maps




Na foto acima, por comparação com a anterior, pode constatar-se que o prédio contíguo ao da esquina é o mesmo.
A Casa da Fábrica foi mandada construir, nas últimas décadas do século XVIII, por Luís António de Souto e Freitas, filho de humildes lavradores de Rebordões, onde nasceu em 1702, tendo ganho uma fortuna após ter emigrado para o Brasil. 
Tendo vivido no Terreiro da Alfândega, junto à capela de Nossa Senhora da Piedade, depois de chegado do outro lado do oceano, comprou em 1754 a um cónego da colegiada de Guimarães, José Bernardo Carvalho, umas casas que este possuía próximo da fábrica do tabaco, para no lugar delas construir um rico palacete.
Nesta morada, em 19 de Abril de 1770, morreria Luís Freitas, dono de uma fortuna considerável, tendo sido Cavaleiro da Ordem de Cristo, Capitão dos Privilegiados da Ribeira das Naus do Ouro, fidalgo de cota de Armas, etc.
O palacete da Rua da Fábrica, nos anos seguintes, foi sendo tomado por herança dentro da mesma família.
Durante os primeiros meses do Cerco do Porto (1832/1833), a Casa da Fábrica foi re­sidência de Mouzinho da Silveira, aliás Jo­sé Xavier Mouzinho da Silveira, o grande reformador do liberalismo. 
Sujeito o imóvel, a bombardeamentos importantes, sofreu danos de monta, durante o Cerco do Porto.
No tempo que antecedeu aquele cerco, durante o governo do rei usurpador, D. Miguel, havia na cidade um caceteiro de nome Pita Bezerra, que agredia com o grupo de energúmenos que o acompanhavam, todos aqueles que ele suspeitasse não serem da sua cor.
Após a vitória dos liberais, em 20 de Março de 1835, começou a ser julgado o tal Pita Bezerra, precisamente na Casa da Rua da Fábrica, que funcionaria como tribunal.
É facto histórico, que no fim de uma das audiências, quando a sinistra personagem era levada para a prisão pelos carcereiros, o povo tomou o Bezerra em suas mãos e matou-o à pancada, desmembrando o corpo que acabou por ser lançado ao Douro.
Da ocupação da Casa da Fábrica, por Mouzinho, nos dá conta o texto seguinte, publicado na revista "O Tripeiro Vª série, Ano VIII.




Em 1838, documentos e publicações da época, dão conta de que o palacete era a residência de José Joaquim Geraldo Sampaio (1781-1864). Esta personagem tinha sido membro da Junta do Porto, em 1828, extinta pelos miguelistas e viria a ter o seu nome ligado ao referido palacete, que após a vitória dos liberais funcionou, então, como tribunal.
José Joaquim Gerardo de Sampaio, que viria a atingir a presidência do Supremo Tribunal de Justiça, foi um dos condenados à morte, a 29 de Novembro de 1829, tendo, no entanto, escapado àquele destino.
Tinha nascido no Porto, a 24 de Setembro de 1781 e veio a falecer, já conde de Laborim, a 4 de Janeiro de 1864, em Lisboa.
Em 1835, a rainha D. Maria II atribui-lhe o título nobiliárquico de visconde de Laborim. 
Entretanto, Domingos Augusto da Silva Freitas de Menezes e Vasconcelos sucedeu, na Casa da Fábrica, ao seu pai João Luís da Silva Souto e Freitas, em 1846.
Domingos Augusto havia sido também herdeiro do seu tio paterno José Luís sendo, à data, um dos grandes proprietários da cidade e seria, também, um dos fundadores do Club Portuense, que teve, aliás, a sua primeira reunião, precisamente na sua residência, a Casa da Fábrica, onde os estatutos daquela agremiação veriam a luz do dia, antes de ocupar o palacete da Ferreirinha, na Praça da Trindade.
Uma das últimas proprietárias da Casa da Fábrica foi D. Mariana Augusta da Silva Freitas de Meneses Cirne e Sousa (1846-1903) que tinha casado com Pedro da Silva Fonseca de Cerveira Leite e Bourbon (1836-1886), senhor da Casa de Ramalde e da Casa das Taipas ou solar dos Leite Pereira.
Em 23 de Novembro de 1909, instala-se em parte das instalações da Casa da Fábrica, com o acesso pelo nº 10, da Travessa da Fábrica, um hotel com o mesmo nome de um outro, que tinha funcionado até 1880, na Rua do Triunfo, com o nome de Hotel do Louvre.
Alguns anos após o falecimento de D. Mariana, as filhas venderam a casa a Delfim Ferreira, o maior capitalista, à data, em Portugal, que a mandou demolir para no seu lugar construir um imponente imóvel do qual fazia parte o Hotel Infante de Sagres.


Casa da Fábrica, em 1932


As pedras da frontaria do palacete foram oferecidas à Câmara para serem erguidas noutro local, o que nunca chegou a ocorrer.
Um desses locais era em frente à cadeia da Relação na Cordoaria onde estivera durante anos um correr de prédios, entretanto demolidos.
Sem possibilidade de confirmação, diz-se hoje, que as pedras respectivas, estarão dispersas pelo parque do Monte Aventino.

 




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