quarta-feira, 25 de outubro de 2017

(Continuação 30)

Palacete Barroso Pereira (demolido)
 
Este palacete situava-se na Praça de Santa Teresa, que foi também Praça do Pão, hoje, Praça Guilherme Gomes Fernandes, e era visitado frequentemente por Garrett.
Erguido em meados do século XVIII, c. 1750, segundo dizem, sem confirmação, com projeto de Nicolau Nasoni, pertenceu a uma família de magistrados inseridos na pequena nobreza que lhe deu o nome.


 




 
" No antigo Largo de Santa Teresa, hoje baptizada em Praça de Guilhermo Gomes Fernandes, esquinando para a Rua José Falcão, existe ainda uma grande casa nobre setecentista, de que o risco tem sido atribuído a Nicolau Nasoni, o notável arquitecto italiano, que durante largas décadas enriqueceu a cidade com a sua arte.
A casa deve ter sido edificada na segunda metade do século XVIII pelo Desembargador António Barroso Pereira e por sua mulher, D. Maria Inácia da Costa Sampaio, ou por seu filho o Dr. José Barroso Pereira, casado com D. Rita Josefa Piceluga, da família lisboeta deste apelido, originária de Itália.
Na posse dela sucedeu um filho destes, António Maria Barroso Pereira, fidalgo da Casa Real, casado com D. Maria José Bravo Cardoso Torres Correia Pereira de Lacerda, filha do Desembargador Rodrigo Bravo Cardoso Torres e mulher, D. Maria Máxima de Moura e Castro.
Família de magistrados, certamente abastada, de representação social - vislumbra-se, por entre o laconismo dos documentos, uma velha família da pequena nobreza, no Portugal antigo -, estes Barrosos Pereiras tinham ali a sua residência citadina; e mandara, colocar sobre o portal de entrada as suas armas: um escudo partido de Pereiras e Barrosos, com o seu elmo e seu timbre, tudo a gosto da época.
Meado o século passado, ainda a casa estava na posse desta gente.
O primeiro a favor de quem foi registada na respectiva Conservatória do Registo Predial era Rodrigo Bravo Barroso Torres, filho dos mencionados António Maria e D. Maria José, que nascera em S. Miguel de Matos, no antigo concelho de Bem-viver (hoje incorporado no de Marco de Canaveses) e foi casado com Guilhermina Júlia de Sousa Bravo, filha de Albino Pereira de Sousa Pederneira e de sua mulher, D. Gertrudes Magna da Cunha Bessa, da Casa de Covelas, em Rio de Moinhos (Penafiel).
Foram estes proprietários que, por escritura de 21 de Maio de 1874, venderam a casa familiar do Largo de Santa Teresa, a António José Soares, negociante, da Ruas das Oliveiras.
Em 1898 era dona do prédio D. Maria Augusta Sampaio de Brito, casada dois anos depois com Manuel Guilherme Alves Machado.
E este, em 1956, doou-o a sua filha D. Delminda Sampaio Machado e a seu genro, o Dr. Francisco da Cunha Freitas Mourão de Sotomaior.
Destinada, de há muito, a instalações comerciais, consultórios médicos, e outros fins de rendimento, a casa não perdei ainda, ao menos exteriormente, a fachada principal, o seu ar de nobreza setecentista, e é um dos curiosos exemplares da arquitectura civil da época, acrescentado para mais o seu valor pela provável paternidade nasoniana.
Diz-se que vai brevemente desaparecer, para nos seus chãos se edificar um desses grandes, horríveis, rendosos galinheiros, que estão manchando e desvirtuando o carácter tão portuense, da arquitectura da cidade.
Esperamos que as entidades responsáveis pelo nosso património artístico, já tão escasso, não deixem cometer mais esse feio pecado. Pecado feio e inútil... salvo para os que se propõem usufruir dos correlativos benefícios financeiros”.
Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas – In, Revista “= Tripeiro”, VIª série, Dez 1962; "Notícias do Velho Porto” - A casa dos Barrosos Pereiras a Santa Teresa, pág.195-197
 
 
Sobre o portal da entrada encontrava-se a sua pedra de armas: "um escudo partido de Pereiras e Barrosos, com o seu elmo e seu timbre".
Após servir como residência, o palacete foi ocupado pela "Fotografia União" (Fornecedora da Casa Real), que o abandonou para se instalar, no início do século XX, naquele que foi a última sede da Assembleia Portuense, na Praça da Trindade e, posteriormente, pela "Fotografia Perez".
Nas últimas décadas da sua existência esteve o palacete subdividido em escritórios e lojas de comércio, ainda que sem perder na fachada principal o seu ar de nobreza setecentista.
O palacete foi demolido na década de 1960, para dar lugar a um novo prédio de apartamentos onde, durante muitos anos, esteve instalada a Livraria do Estado.
 
 
 

Feira do Pão e Palacete Barroso Pereira do tempo da "Fotografia União", na Praça de Santa Teresa

Sobre um prédio observável, à direita do palacete dos Barroso Pereira, de configuração esguia, situado na esquina da Rua D. Carlos (actual Rua José Falcão) com a Praça de Santa Teresa (Praça Guilherme Gomes Fernandes) e que os portuenses denominavam por “ferro de engomar”, “casa esqueleto” ou “casa tuberculosa”, em 1954, Horácio Marçal contava que a sua existência se ficava a dever ao proprietário do estreito terreno que pretendendo vendê-lo ao vizinho, e dado não ter tido sucesso na sua pretensão, teria mandado construir a “casa tuberculosa” para lhe tapar as vistas. 
 
 
 
Palacete Barroso Pereira do tempo da Fotografia Perez



In revista “Ilustração Portugueza” de 17 Maio 1915, a inauguração do busto de Guilherme Gomes Fernandes ocorrida no anterior dia 1 de Maio

 
 
 

Em frente, na esquina, o palacete dos Barroso Pereira, em 1915
 
 
 
 
Palacete do Barroso Pereira, na década de 1950

Sem comentários:

Enviar um comentário