Este palacete situa-se na esquina da Rua da Alegria e da Rua
Formosa estando, hoje, sob a alçada do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes.
Guilherme Augusto Machado Pereira (Porto, 1822-1868) nele habitou, após ter concluído a sua construção.
O jovem Guilherme Machado Pereira, com apenas 15 anos, parte para o Brasil onde, no Rio de Janeiro, com a ajuda de um tio que lá residia há alguns anos, realiza uma fortuna colossal.
Em 1852, de volta à cidade que o viu nascer, antes ainda de se fixar primeiro, na Rua do Almada e, depois, na Praça da Aguardente, faz uma viagem pela Europa.
Logo de seguida, vai contrair matrimónio com uma herdeira da família Fartura, que não lhe ficava atrás em posses, resultando do enlace quatro filhos.
Seu sogro, António José Vieira Rodrigues Fartura, vai oferecer ao casal um palacete inacabado, com frente para a Rua Formosa e para a Rua do Caramujo (Rua da Alegria), começado a fazer treze anos antes, em 1840, sob a licença de construção nº 15/1840.
No final da intervenção de Guilherme Machado Pereira, vai resultar um dos palacetes mais imponentes do Porto dessa época.
Entretanto, enquanto a nova morada não estava acabada, a família de Guilherme teve residência, na Praça da Aguardente, num prédio que antecedeu, no local, um outro, que hoje está ocupado pelo Asilo do Terço, que foi, também, construído por Guilherme Machado Pereira.
Em 1858, o palacete passa a ser abastecido com duas penas de água captadas junto da nova Fonte da Rua Firmeza e compradas à Abadessa de Santa Clara, ficando o adquirente responsabilizado por todas as despesas e trabalhos na condução da água desde esse local até à sua futura residência. O precioso líquido era proveniente do chamado manancial das freiras do convento de Santa Clara, que as religiosas tinham comprado, em 1855, ao bispo do Porto, que se abastecia num outro manancial. Ambos os mananciais localizavam-se no que é, hoje, a zona do Lima, ao cimo da Rua da Alegria.
Guilherme Augusto Machado Pereira seria feito visconde por D. Pedro V, em 1861, e na respectiva carta real de mercê, pela qual foi agraciado com aquele título, em vez de Machado Pereira escreveram Pereira Machado, e foi com esta designação que passou a usar o título. Por causa disso, o povo denominava-o de "visconde às avessas”.
Para além desse título, era Fidalgo Cavaleiro da Casa Real, Comendador da Ordem de Cristo e da Rosa, do Brasil. Foi ainda Presidente da Associação Comercial do Porto e fez parte da empresa que ergueu o Palácio de Cristal.
O 2.º Visconde de Pereira Machado, filho de Guilherme Augusto Machado Pereira, que tinha o mesmo nome do pai, era um amante de cavalos e equipagens e foi cavaleiro exímio e
experimentado picador e um elegante da época. Foi também Cavaleiro da Casa
Real, nascido em 1865, falecido em 1930, tinha casado em 1904, com D. Rosa
Furtado de Antas.
Nos terrenos, para além dos jardins do palácio da Rua
Formosa e que se desenvolviam até à actual Praça dos Poveiros (antes Largo de
Santo André), diz-se que teria existido um picadeiro utilizado pelo 2º visconde
de Pereira Machado.
Diga-se também, como curiosidade, que a Rua Formosa embora já totalmente aberta
em 1813, com o objectivo inicial de estabelecer uma ligação da Cancela Velha a Santa
Catarina, no local da Viela da Quinta, era mais estrada do que rua, pois havia
muito poucas casas, tendo sido um dos projectos de João de Almada e Melo em
1784.
“A edificação deste palacete, em meados do
século XIX, deve-se ao Visconde Pereira Machado, que aqui habitou,
celebrizando o imóvel pelas festas e bailes que organizava e que tanta
fama granjearam na sociedade portuense de então. Nascido na cidade invicta, viveu
no Brasil até aos 30 anos, época em que regressou à terra natal, onde
desenvolveu, graças à sua imensa fortuna, uma acção benemérita a favor de
várias instituições, o que lhe mereceu, em 1861, o título de Visconde.
O seu palacete testemunha uma época de
desenvolvimento do Porto, marcada pelo gosto neoclássico e algum
eclectismo. A fachada principal, dividida em três panos, é aberta por um
conjunto de vãos simétricos, cujos ritmos convergem na secção central,
destacando o frontão com o brasão dos Pereira Machado. Se no piso térreo,
onde anteriormente funcionaram os serviços de apoio ao palacete, os vãos
são de linhas rectas, salientando-se a porta central pela sua maior
altura, no andar nobre observam-se uma série de janelas de sacada, com
varandas que respeitam a divisão tripartida do alçado. A central é
abaulada, variando também os remates das janelas, com frontões
triangulares e circular, ao centro. A balaustrada esconde o terceiro piso,
onde antigamente se situavam os quartos da família.
Apesar dos recortes, a cantaria preenche
quase a totalidade do alçado, que não prescinde do habitual frontão
triangular, e cuja janela central exibe motivos de grinaldas
claramente filiados num gosto neoclássico.
No interior, ganha especial importância a
escadaria de granito que liga os primeiros dois pisos, rematada por uma
clarabóia com decoração em estuque, de imponente efeito decorativo. De
entre os muitos compartimentos, boa parte dos quais com trabalhos
de estuque, destaca-se o denominado Salão Nobre (hoje parte do Museu), com
pinturas a óleo da autoria do italiano Polo Pizzi. O esplendor destes
interiores era, a avaliar pelos elementos desaparecidos de que há notícia,
bastante mais aparatoso. Em muitas salas existiam fogões de sala, em
mármore de Carrara, e no Salão Nobre, as falsas colunas eram coroadas por
figuras douradas..”
Com a devida vénia a
Rosário Carvalho-IPPAR
“O visconde Pereira Machado foi um notável
benemérito e promotor da arte musical no Porto quer pelas realizações que
promovia em sua casa, sobretudo depois de se instalar no magnífico palacete da
Rua Formosa, quer como administrador do Real Teatro de S. João e membro da
Sociedade Filarmónica, condição que fez dele sócio fundador e vice-presidente
do Club Portuense”.
Com a devida vénia a
João-Heitor Rigaud
Em 1868, com 46 anos, morre o 1º visconde de Pereira Machado, sendo sepultado num magnifico mausoléu em mármore, do cemitério da Lapa, executado em 1861 pelo canteiro lisboeta, a trabalhar há alguns anos no Porto, de seu nome António Almeida Costa, que viria a fundar a Fábrica Cerâmica das Devesas.
Notícia do falecimento do visconde Pereira Machado no Jornal do Porto em 15 de Abril de 1868
Falecido, mais tarde, o 2º Visconde de Pereira Machado, sem descendência, após a utilização como residência pelos herdeiros da família e ocorrida a implantação da República, em 1910, a propriedade acaba nas mãos de uns sobrinhos do 2º visconde, que decidem arrendar o imóvel ao Estado e vender todo o recheio. Deste, destacavam-se três imponentes lustres, que decoravam o magnífico salão de baile, que acabarão adquiridos pela Câmara do Porto e que, por lá, ainda se encontram ao serviço.
Assim, a partir da década de
1930, fazem morada no antigo palacete, o Tribunal da Relação e o Arquivo de Identificação do Porto (Bilhete
de Identidade, que transitaria, na década de 60 do século passado, para o
Palacete Sandeman, na Rua de Cedofeita, conhecido também por ter albergado uma
esquadra de polícia).
Sobre o Bilhete de
Identidade, a partir de 2008 gradualmente substituído pelo cartão de cidadão, fala-nos
o texto seguinte:
“Mas foi em 1914, que o bilhete de identidade
ganhou forma. Esta medida foi desenvolvida porque se percebeu que era preciso
ter um registo dos cidadãos, dado o crescimento em grandes dimensões da
população urbana, e eram necessárias igualmente informações sobre óbitos.
Nas primeiras décadas da sua existência, o
bilhete de identidade era composto por 3 páginas. Os dados eram preenchidos à
mão. Para além dos dados "normais" como a estatura, impressão digital
ou fotografia, existiam outras referências, como, por exemplo, a cor do cabelo
e da barba”.
Fonte:
“pt.blastingnews.com”
Mais abaixo, dá-se conta da ceia seguida do respectivo baile, que ocorreu no palacete, durante as comemorações do 4º aniversário da menina Guilhermina Cândida Vieira Machado Pereira, nascida em 1855, filha de Guilherme Augusto Machado Pereira e de Cândida Guilhermina dos Santos Vieira Fartura e que, haveria, anos depois, de casar com o conhecido Delfim Lima, provedor da Ordem do Terço, comerciante e fundador do Asilo do Terço.
“Um bom e magnífico baile não é realmente uma
coisa muito frequente na sociedade portuense, porque se as fortunas avultadas
são no Porto em grande número, o gosto e a elegância, e a bizarria de gastar
larga e profusamente, nem sempre as acompanham. O sr. Guilherme Augusto Machado
Pereira é um cavalheiro retirado da vida militante comercial, onde realizara a
grande fortuna que possui, mas que por isso mesmo adora os cómodos da
civilização e aprecia as maravilhas do luxo. O seu palacete da rua Formosa
prova eloquentemente em favor dos seus instintos de fidalgo. Dizer que é uma
das residências mais luxuosamente decoradas do Porto, é manifestar uma verdade,
que os oito centos de convidados que povoavam as sua salas no seu baile de
ontem à noite reconheceram e proclamaram (…)
(…) Ignoramos quem foi o Vattel que preparou
a ceia = o que sabemos é que a de ontem à noite regalou o paladar dos
convidados. É sempre agradável este episódio. A neve refresca os que se abrazam
de calor: o Porto e Madeira restauram as forças dos ‘polkistas’ e dos
‘lanceiros’. O ‘champagne’ anima o espírito daqueles que o tem de o fazer à
força; o fiambre, os pastelões, os perus, e as galinhas indemnisam o estômago
daqueles cuja bolsa sofreu num desastrado voltarete ou boston. Diga-se a
verdade, que neste caso não é um crime; é num baile que a ‘liberdade,
igualdade, e fraternidade’ se realiza, sobre tudo quando todos os partidos dançam,
deixando em casa a história das suas passadas discórdias.
O baile acabou era alto dia; os convidados deixavam com saudades aquelas salas
de baile, onde a par da riqueza e do luxo, tinham encontrado as maneiras mais
sedutoras dos donos da casa, que assim festejaram os anos da sua querida filha (...)."
Fonte:
“facebook.com/Comer-por-escrito”; In Folhetim de “O Nacional”, de 9 de Julho de
1859
Sobre uma outra festa, desta vez, para comemorar o 6º
aniversário da mesma filha, Guilhermina, realizada em 8 de Junho de 1861, o jornal
“O Commercio do Porto”, de 10 de Junho, noticiava.
Desde 1974, que o antigo palacete está na posse do Núcleo do Porto da Liga dos Combatentes que resolveu transformar algumas das salas em espaços museológicos, que podem ser visitados.
Palacete do Visconde Pereira Machado – Ed. “pt.m.wikipedia.org”
Interior do Palacete Pereira Machado – Ed. “vamoreira.blogspot.pt/”
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