sábado, 7 de outubro de 2017

(Continuação 20)


No terreno do gaveto da Rua Gonçalo Cristóvão e o Campo de Santo Ovídio instalou-se uma fábrica de cordas com dois cordoeiros que trabalhavam com quatro rodas, vindos da Praça da Cordoaria, de onde, a 4 e 5 de Outubro de 1852, haviam sido despejados com outros artífices por decisão da Câmara do Porto, que mandou arrasar todas as rodas, pias, caldeiras e mais apetrechos dos cordoeiros, tendo sido estes obrigados a procurar pelos vários sítios da cidade, em regime de aluguer, quintais, campos ou terrenos devolutos.
Tal como outros mesteres os cordoeiros tinham uma organização própria. A sua confraria com sede inicialmente em Miragaia, tinha como padroeiro São Pedro, apóstolo.
À medida que a classe foi crescendo estendeu-se a partir de Miragaia, encosta acima para a actual Rua Francisco da Rocha Soares, conhecida antes por Rua da Cordoaria Velha, até se instalar em força num terreno da Cordoaria junto ao que viria a ser o Mercado do Anjo e, depois, por intimação das autoridades, para o Campo de Santo Ovídio.
Foi para aquele terreno no Campo de Santo Ovídio que, em 5 de Novembro de 1856, João Eduardo de Oliveira Costa requereu à Câmara do Porto licença para construir “huma morada de Cazas na rua Gonçallo Christovão com frente também para o Campo da Regeneração”.
Entretanto, o edifício que acabaria por ser o Palacete das Águias passaria das mãos de Narciso José Gonçalves Maia, de acordo com o seu testamento, para D. Isabel Jacinta Moreira Maia, conhecida, na época, por «A Viúva das Águias». 
O palacete ganhou aquele nome devido ao facto de na platibanda ,em volta dele, ostentar diversas esculturas de águias.
Nos finais do século XIX, passava D. Isabel Maia, por ser a senhora que melhor e mais caro vestia no Porto – gastava cerca de 4.000$00 rs anuais na modista e possuía no seu guarda-roupa cerca de quatrocentos vestidos!
De destacar no interior do palacete, os trabalhos de molduras dos tectos em estuque da autoria da Oficina Baganha, de Manuel Enes Baganha e António Enes Baganha, de Afife.
Depois de ser durante anos residência de gente de destaque da cidade, o palacete viria a dar guarida ao colégio de Santa Emília, de que era directora D. Maria Emília Cândida da Silva Cervaens e que a 18 de Maio de 1916, encerraria as suas portas, transitando para uma quinta na zona das Antas.


 


In jornal “A Voz Pública” de 26 Setembro de 1909



“Segundo o anunciado em cartaz, o Palacete das Águias recebeu a 14 de Janeiro de 1925 uma “Sessão de Magia” em família, apresentada pelo amador Horácio Ramos, falecido em 1931.
Diga-se, entretanto, que este tipo de sessões dirigidas por Lino Nascimento no requintado Palacete das Águias repetia-se, regularmente, acolhendo “as melhores famílias do Porto” à época”.
A. Cardinal, In Jornal Tribuna de Macau

Hoje, o edifício está ocupado pelo Conselho Distrital da Ordem dos Advogados, tendo sido, durante parte do século XX, a sede da cooperativa “O Problema da Habitação”, fundada em 1926.


Palacete das Águias - Ed. Teófilo Rego, 1958; Fonte: “gisaweb.cm-porto.pt”


Palacete das Águias com algumas delas bem visíveis


Sala de reuniões do Palacete das Águias – Ed. “oa.pt”

Clarabóia e trabalho envolvente de molduras em estuque

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