quinta-feira, 6 de julho de 2023

25.199 TELEBANCO e “Cupertino de Miranda & Cia”

O Banco Português do Atlântico foi a primeira grande instituição bancária do nosso país, tendo aparecido com este nome no final de 1942, resultando da experiência, primeiro, da casa bancária “Cupertino de Miranda & Irmão Lda”, que existia desde 14 de Maio de 1919, com um capital de 100 contos e duma outra que lhe sucedeu, desde 30 de Abril de 1931, a “Cupertino de Miranda & Cia”, registada na conservatória da cidade a 8 de Maio de 1931 e que viria a granjear uma excelente reputação.
Na casa bancária “Cupertino de Miranda & Irmão Lda”, inicialmente, os dois irmãos (Artur Cupertino de Miranda e o Dr. Augusto Cupertino de Miranda, que chegou a desempenhar o cargo de Presidente da Comissão Administrativa da Câmara Municipal do Porto, entre 29 de Junho e 15 de Agosto de 1918) ficaram cada um com 30% e os restantes 40% (40 contos) são subscritos pelo Banco Popular Português.
Nos cerca de dois anos seguintes, a “Cupertino de Miranda & Irmão Lda” manteve o “Banco Popular Português”, que se tinha fundado, no Porto, em de 9 de Abril de 1917, como accionista.
A 4 de Fevereiro de 1921, Artur Cupertino de Miranda adquire aquela quota de 40% e, em 1922, faz a doacção de parte da quota primitiva a seu filho Artur Luís Cupertino de Miranda e compra a quota do seu irmão ficando, pai e filho, como únicos accionistas de “Cupertino de Miranda & Irmão Lda”.
Em 14 de Outubro de 1922, é efectuado um aumento de capital à sociedade e a sede é fixada na Rua de Sá da Bandeira.
Entram como novos sócios: José de Almeida Cunha, Almeida Cunha, Irmãos & Cia, Francisco da Silva Marinho, Klaus Stefnanson Jervell, Augusto Marques da Silva Júnior e Joaquim Fonseca. 





Título de 1917 da fundação do Banco Popular Português
 
 
 
Por sua vez, as primeiras tentativas de fundação do Banco Popular Português datam de 1916, quando em 15 de Abril (data do decreto) Crispim Nunes da Costa consegue autorização do governo para tal empreendimento.
Devido a dificuldades de realização do capital exigido por lei, só a 13 de Janeiro de 1917, o governo renovava a autorização concedida, anteriormente, mas só a 9 de Abril era lavrada escritura pública de constituição de sociedade anónima no 14.º Cartório Notarial do Porto, nas notas de Artur Cardoso Pinto Osório.
Logo após a sua fundação tornaram-se agentes do banco os instaladores de Braga, Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra, Covilhã, Santarém, Lisboa e Faro.
Sobre o Banco Popular Português,

 
“Estava sedeado no Porto, na freguesia da Sé, na Rua do Loureiro, n.ºs 46 a 50, à direita da Estação de São Bento. Nas glosas d’O Tripeiro (VI série, ano VIII, n.º 6, Junho de 1968), é referido que em 11 de Junho de 1918 o banco se mudou para o prédio da Praça da Liberdade onde se localizava o Café Suíço (na esquina da actual Rua de Sampaio Bruno com a Praça de D. Pedro). Contudo, a verdade é que só em 1923 se iniciaram negociações tendo em vista a instalação definitiva do banco naquela morada. É provável que o Popular Português tenha ali criado um escritório, mas é de todo impossível que tenha abandonado a sede na Rua do Loureiro, já que em 1928 ainda lá se encontrava”.
Cortesia de Hugo Silveira Pereira, Investigador no CITCEM – FLUP
 
 
 
 
Para lá da ligação, breve, com “Cupertino de Miranda & Irmão Lda” e de um portefólio de acções e títulos de dívida dos estados português, francês, brasileiro, inglês, argentino, italiano e alemão, de companhias ferroviárias e da CUF e muitas acções de bancos, fábricas diversas, moagens, agrícolas, energéticas, transportadoras e metalúrgicas detinha ainda a maioria das acções da Companhia Metalúrgica do Norte (empresa que auxiliou financeiramente), sociedade na casa Justino Pinto de Oliveira & C.ª Lda., investimentos na Moagem Harmonia, Sociedade de Vidago e Pedras Salgadas e Fábrica de Tecidos Avenida, Lda., o Banco Popular Portuguez fundaria a Sociedade de Turismo do Porto.
A Sociedade de Turismo do Porto foi, então, fundada em 28 de Outubro de 1919 pelo Banco Popular Português, Banco do Minho e José Augusto Dias F.º & C.ª, com um capital de 1 260 contos e sede na Rua do Loureiro, propondo-se a explorar a indústria turística em Vila do Conde e Póvoa de Varzim, construindo casinos, casas de espectáculo, hotéis, sanatórios e balneários e financiando a construção de jardins, parques e campos de jogos.
Em 1928, o Banco Popular Português acabaria por encerrar as suas portas, soçobrando perante a vaga de turbulência especulativa acontecida no sector bancário iniciada em 1918 e a crise que se seguiu entre 1920 até 1925, sendo vítima da selecção natural, estando neste ano representado em 107 localidades.



Publicidade ao Banco Popular Português



Em Agosto de 1925, foram cancelados os pagamentos em virtude do agravamento da situação económico-financeira da praça do Porto e do pânico que se apoderou dos depositantes do banco após igual medida ser tomada pelo Banco Comercial do Porto.
Nos meses que se seguem é tentada a refundação do banco, mas, em 1928, procede-se à sua liquidação, como era anunciado pelo jornal "O Commercio do Porto" de 10 de Junho de 1928.







O Conselho de Administração, que encerrou as portas do Banco Popular Português, era composto por: Francisco Augusto Pinto Félix, Jaime Rodolfo Novais e Silva, José Mariano de Azevedo de Figueiredo e António Eduardo Ferreira Barbosa Júnior.
Em 23 de Novembro de 1944, o Banco Popular Português estava extinto.
Entretanto, a “Cupertino de Miranda & Irmão Lda” seguia o seu caminho.



Publicidade, em 1925
 
 


Publicidade, em 1928
 
 
 
Em 1931, surge então, a “Cupertino de Miranda & Cia” que vai, para além de exercer a actividade bancária na cidade do Porto, estendê-la para Famalicão, por solicitação da Associação Comercial e Industrial, para tomar o lugar da encerrada “Brandão & Cia”.
A agência famalicense vai abrir em Julho de 1931.
Nos finais de 1937, abriria a agência da Póvoa de Varzim.
Então, já a actividade se estendia até ao Brasil.
 
 
 

Publicidade em 16 de Novembro de 1938
 
 
 
 

Publicidade a “Cupertino de Miranda & Cia”, na Rua de Sá da Bandeira


 
 

No prédio, em 1º plano, esteve “Cupertino de Miranda & Cia” – Fonte: Google maps

 
 

“Cupertino de Miranda & Cia”, na Rua de Sá da Bandeira
 
 
 
 
Em 1942, chega ao fim a actividade “Cupertino de Miranda & Cia” e, a partir de 30 de Dezembro de 1942, passa a ser “Banco Português do Atlântico.
O Banco Português do Atlântico acabaria por mudar para a Praça de D. João I, após a inauguração do icónico edifício da cidade do Porto denominado Palácio Atlântico, inaugurado em 6 de Janeiro de 1951.
Artur Cupertino de Miranda (Vila Nova de Famalicão, Louro, 15 de Setembro de 1892 — Lisboa, 13 de Julho de 1988).
Artur Cupertino de Miranda nasce na Quinta de Felgueiras, no seio de uma família de abastados lavradores, sendo o mais novo de quatro irmãos, José, Augusto, António e Artur. Casa com 19 anos com Alzira Celeste Maya de Cupertino de Miranda (1892 – 1978) e fixa residência no Porto.
 
 
 

O Palácio Atlântico e a Praça D. João I ainda sem as estátuas equestres
 
 
 
O Banco Português do Atlântico lançaria o Telebanco na Praça D. João I, inaugurado em 20 de Dezembro de 1965.
Nesse ano a publicidade anunciava “Vá ao Banco sem sair do seu carro”. 
A primeira pessoa a utilizar o serviço foi o presidente do banco, Cupertino de Miranda, acompanhado do chefe da PSP coronel Santos Júnior e do engº Arsénio da Fonseca da Câmara Municipal do Porto.
O Telebanco era uma caixa automática que permitia fazer depósitos e levantar cheques sem sair da viatura e sem o contacto directo com o funcionário, que dialogava por intermédio de um ecrã do telebanco, sendo os objectos movimentados dentro de cápsulas, através de tubagens pneumáticas, entre a sede bancária e os clientes à velocidade de 5 metros por segundo.

 
 

Instruções para o funcionamento do Telebanco



 

O Telebanco haveria de funcionar, na Praça D. João I, entre as estátuas equestres



 

Cupertino de Miranda inaugurando o serviço de Telebanco, em 1965



 

Cliente do Telebanco
 
 
 
Entretanto, em 15 de Agosto de 1963, Artur Cupertino de Miranda já tinha instituído, juntamente com a sua mulher, uma fundação com o seu nome, a “Fundação Cupertino de Miranda”, sedeada em Vila Nova de Famalicão, com fins de educação, cultura e assistência.
Após a morte de sua mulher, Artur Cupertino de Miranda vai viver para Lisboa, onde virá a falecer em 1988.

 
 
 

Fundação Cupertino de Miranda no centro de Vila Nova de Famalicão
 
 
Após o 25 de Abril de 1974, durante a vaga de nacionalizações, o Banco Português do Atlântico absorveu o “Banco Fernandes Magalhães” (Porto) e o “Banco do Algarve”.
Em 30 de Junho de 2000, viria a ser incorporado no “Banco Comercial Português”, que tinha sido fundado, no Porto, em 25 de Junho de 1985.

domingo, 2 de julho de 2023

25.198 Leitaria da Quinta do Paço – Uma história pouco conhecida

 
 
Muitos de nós já provamos ou ouvimos falar nos éclairs da Leitaria da Quinta do Paço, situada na  Praça Guilherme Gomes Fernandes que, antes, foi Praça de Santa Teresa e Praça do Pão.
O que muitos desconhecem é que a Leitaria da Quinta do Paço, da família Aranha Furtado de Mendonça, era uma fábrica de lacticínios da freguesia de Eiriz, Paços de Ferreira e, desde 1920, produzia e embalava, em instalações próprias, quantidades importantes de leite e outros produtos lácteos (manteiga, queijo e chantilly), que eram também distribuídos na cidade do Porto, através de um inter-posto que existia na Rua da Ribeira Grande, ao Amial, na freguesia de Paranhos.
Alexandre da Silva Moreira Aranha Furtado de Mendonça foi o grande impulsionador da leitaria. Nascido a 12/11/1895, em Santa Maria de Sobrado / Castelo de Paiva / Aveiro, era licenciado em Agronomia, chegando a ser Presidente da Secção de Lacticínios da AIP.
Em funções políticas, foi Vereador e Presidente da Câmara Municipal de Paços de Ferreira, Procurador ao Conselho Provincial do Douro Litoral e, ainda, Procurador à Câmara Corporativa.



 

A Fábrica da Leitaria da Quinta do Paço, em Paços de Ferreira



 

As leiteiras regressam à Fábrica, em Paços de Ferreira, já com as garrafas de leite vazias - foto: © Leitaria Quinta do Paço



Interposto da Leitaria da Quinta do Paço, na Rua da Ribeira Grande, em 1960


 
As leiteiras da Leitaria da Quinta do Paço após a distribuição, na Rua de Armando Cardoso, já próximo da Rua da Ribeira Grande
 
 
 
Naquela época, a Leitaria da Quinta do Paço afirmou-se no mercado como a primeira empresa do sector a distribuir leite pasteurizado, em garrafas de vidro, numa altura em que a distribuição era feita em bilhas, que as vendedoras do Porto transportavam à cabeça.
Ano após ano, foi ganhando fama e impondo a qualidade dos seus produtos, gozando de uma fama que se mantém até hoje.
A manteiga com sal, vendida ao peso, na embalagem de papel vegetal, continua a ser um clássico, bem como os queijos e o chantilly.
O chantilly depressa ganhou fama, ao ser vendido ao balcão da sua loja no Porto, em saquinhos de papel encerado, tendo protagonizado nos anos cinquenta, aquilo que viria a ser o ex-líbris da marca: o Éclair com cobertura de chocolate.
Foi, também, a empresa que lançou os yogurtes, sendo que as embalagens (potes), originalmente, eram fabricadas na Fábrica de Louças de Sacavém.
 

 
 
Yogurte da Leitaria da Quinta do Paço em pote da F. Louças de Sacavém

 
 

Loja da Fábrica de Loiça de Sacavém, na Rua das Carmelitas, 40
 
 
 

Uma “excursão do pessoal” da empresa, em 1951, à loja da Baixa, que ainda hoje se mantém - foto: © Leitaria Quinta do Paço


 
Presentemente, a leitaria tem várias lojas: Norte-shoping, Mercado do Bom Sucesso, Baixa da cidade do Porto, Vila do Conde e, ainda, duas outras em Lisboa.
A Leitaria da Quinta do Paço seria percursora na comercialização e fabrico de produtos derivados do leite.  



Publicidade, em 1941, In "Revista Panorama", nºs 5 e 6



Sabe-se que, na década de 60 do século passado, começaram a ser impostas algumas restrições à distribuição de leite, tendo aparecido as cooperativas obrigando, assim, a fábrica modernizar-se. 
A distribuição primitiva feita por leiteiras, porta a porta e munidas com um canado, que se observa na foto abaixo, seria de vez abandonada.
O "canado" era uma vasilha de lata em que as leiteiras dos arredores do Porto transportavam o leite para a cidade.


 

Leiteira distribuindo o leite com um canado