quinta-feira, 27 de abril de 2023

25.187 Cancela Velha e Laranjal

 
A Rua da Cancela Velha ia da Rua do Bonjardim ao Largo do Laranjal.
O topónimo de Largo do Laranjal seria, primeiro, atribuído ao que viria a ser a Praça da Trindade e passaria, depois, após o segundo quartel do século XIX, a ser atribuído a um pequeno largo junto da confluência da Rua do Laranjal e da Rua da Cancela Velha, situado um pouco mais abaixo onde está hoje a estátua de Almeida Garrett, em frente à Câmara Municipal.
Nos finais do século XIX, começos do século XX, a Rua da Cancela Velha era uma das mais movimentadas da cidade daque­le tempo. Nela estavam sedeadas as redacções de dois importantes jornais do Porto: "A Montanha", fundado por Júlio Ribeiro em Março de 1911, que começou como vespertino e acabou matutino; e a "Auro­ra", que começou a circular logo a seguir à implantação da República e que ainda se publicava em 1913. 
 
 
 

Perspectiva da Rua da Cancela Velha obtida a partir do Largo do Laranjal
 
 
Legenda:
 
1. Café Primavera
2. Companhia do Gás
3. Farmácia Rica
4. Guimarães & Medina – loja de couros
5. Entrada da viela do Cirne
6. Saída da Rua Elias Garcia

 
 
Na foto acima vêem-se, a meio, ao fundo, uns prédios na Rua do Bonjardim. A rua, que até eles percorre a nossa visão, é a Rua da Cancela Velha. A meio dela, à direita, desemboca a Rua de Elias Garcia (antes da implantação da República chamada de D. Pedro) e, entre os dois primeiros prédios, à esquerda, a Rua do Laranjal (que vinha “lá de baixo dos Lavadouros”). Os Lavadouros situavam-se sensivelmente onde hoje fica o café Guarany.
Um pouco mais acima ainda, à esquerda, mas não visível, partia para Norte a Viela do Cirne, e ainda um pouco mais acima, uma outra rua que nunca passou de beco (pois não tinha saída) e se chamou Rua Adriano Machado.
Em 13/12/1888 já havia projectos com indicação de terrenos e proprietários a alienar, para fazer a ligação da Rua Formosa à Praça da Trindade, no que viria a ser a tal Rua Adriano Machado.
 
 
 
«Em um dos prédios do referido largo [do Laranjal] estavam instalados os conhecidos armazéns de vinhos Morêda. E nos altos do mesmo prédio foi a sede durante bastantes anos do célebre e muito recordado ginásio Paul Lauret... Vê-se na gravura, no primeiro plano depois do chafariz, a rua do Laranjal, mais acima, do lado esquerdo e ao fundo a rua do Bonjardim. Na casa que faz esquina para a rua Adriano Machado, em que se vêm os toldos descidos, eram os escritórios da velha companhia do Gás, e na casa mais alta que se vê na rua do Bonjardim e que também tem os toldos descidos, era a farmácia Rica, propriedade do saudoso poeta Maximiano Rica.
Em época muito mais recuada e quasi em frente á rua de D. Pedro existiu um teatro que desapareceu, parece destruído por um incêndio. O nome do teatro não me recordo (...) Isto vai talvez há mais de 65 anos!... Muito mais tarde começaram a construir, mais para o lado da rua do Bonjardim, um novo teatro de grandes proporções, mas não chegou a concluir-se e depois foi demolido para a abertura da rua de Adriano Machado - abertura é como quem diz, pois a rua era .. tapado, um autêntico beco sem saída...»
Fonte: F.M.N.J., In “O Tripeiro”, Vol. 1 da 5.ª Série
 
 
O teatro mencionado no texto anterior foi inaugurado em fevereiro de 1874 e chamava-se “Teatro da Trindade”. Em Julho de 1873, o teatro foi devorado por um incêndio e substituído, no mesmo local, por um teatro-barraca chamado “Teatro Chalet” que também ardeu em 1880.
Foi então decidido construir uma outra sala de espectáculos o “Teatro Rainha” que não chegaria a abrir, apesar de já estar praticamente concluído.
Ainda, de acordo com o texto anterior, no largo em que se encontra o chafariz, no Largo do Laranjal, nº 4, existia um prédio que no seu piso térreo era ocupado pelo armazém de vinhos do conhecido comerciante de nome Moreda e, no piso superior, desde 24 de Julho de 1884, pelo ginásio de Paul Lauret, que para aqui veio proveniente do Largo da Picaria, nº 13, onde tinha sido, primitivamente, inaugurado em 1882 e, cuja entrada para o ginásio, se fazia junto das escadas que do largo davam acesso à Rua do Pinheiro.
Mais tarde, Paul Lauret (1852-1918) transferiria o seu ginásio para a Rua do Laranjal, nº 193, para um belo edifício situado mais a norte, em frente à Viela do Cirne.
Paul Lauret começaria por dar aulas de ginástica no Colégio Pestalozzi-Jardim Escola Froebel, que esteve instalado na Rua da Alegria, um pouco acima da Rua Firmeza.

 
 

Ginásio Lauret (2) na Rua do Laranjal e antigas instalações no Largo do Laranjal (1) em Planta de Telles Ferreira de 1892


 
 

Ginásio de Paul Lauret na Rua do Laranjal – Fonte: Desenho de João Ribeiro Cristino da Silva, com base numa gravura de Domingos Caselas Branco, publicada na Revista “O Occidente” de 21 de Janeiro de 1887
 
 
 
“A imprensa caracteriza-o como possuindo todas as diversões próprias de um club, embora se tratasse de uma escola de ginástica e sala d’armas onde “se ensina methodicamente estas duas artes, com notavel aproveitamento dos discipulos, tanto creanças como adultos” e considerando que “nesta nova casa acha-se o Gymnasio Lauret perfeitamente instalado, tendo salas de gymnastica, de armas, bilhares, dança, tiro defferentes jogos, electricidade, banhos etc., o que tudo faz um conjuncto de estabelecimento de primeira ordem”. (Ginásio Lauret no Porto, 1887, p. 19)”.
Fonte: “lauret.pt”
 
 
 
“O ensino no Gymnasio Lauret está devidido em differentes cursos, conforme as idades dos discipulos, e regulado de modo a dar rezultados mais praticos e proveitosos. A sua frequencia é de 100 alumnos devididos do seguinte modo: meninas 7, meninos 33, adultos 60, tem um medico effectivo, o sr. Dr. Aureliano Cirne, e 250 socios protectores. (Ginásio Lauret no Porto, 1887)”.
Fonte: Revista “O Occidente”
 
 
 

Texto sobre o Ginásio Lauret – Fonte: Revista “O Occidente”, nº 291, em 21 de Janeiro de 1887
 
 
 
Em 12 de Junho de 1896, Paulo Lauret foi viver com a filha para o Rio de Janeiro, onde abre o Gymnasio Lauret e Sala D’Armas, tendo realizado com os seus alunos inúmeras apresentações públicas, amplamente cobertas pela imprensa.
No Rio de Janeiro viria a falecer Paulo Lauret, em 1918.
Após o fecho do ginásio de Paulo Lauret, as instalações na Rua do Laranjal foram ocupadas pelo “Ginásio Clube”, vindo da Rua do Breiner e que tinha como professor de ginástica artística Tomé Coelho.
Subindo a mencionada Rua do Laranjal iríamos desembocar na Praça da Trindade.


A Rua do Laranjal, já a montante do chafariz do Laranjal, com a Igreja da Trindade, em fundo, c. 1900

 
 
 

Rua da Cancela Velha e os trabalhos de demolição dos prédios adjacentes ao seu leito – Fonte: Blogue “A Porta Nobre”
 
 
 
Na foto acima vêem-se, a meio, ao fundo, uns prédios na Rua do Bonjardim, visíveis também na foto anterior e ainda hoje existentes.
À esquerda, de frente, vêem-se as fachadas de prédios que deviam estar na Rua Adriano Machado.
Em toda esta área iria situar-se, mais tarde, o Palácio dos Correios.
 
 
 
 
Planta de Telles Ferreira de 1892, com traçado a azul do leito da actual Rua Guilherme Costa Carvalho

 
Legenda:
 
1. Largo do Laranjal com Chafariz do Laranjal
2. Rua da Cancela Velha
3. Rua do Bonjardim
4. Rua do Laranjal
5. Prédios da Rua do Bonjardim ainda existentes
6. Rua do Almada
 
 
Como é visível, na planta anterior, a antiga Rua da Cancela Velha não alinhava com a Rua Formosa, inclinando um pouco mais para Norte, relativamente ao arruamento que a veio substituir - a Rua Guilherme Costa Carvalho.
Por essa razão, pode observar-se que os prédios da Rua do Bonjardim presentes na foto anterior, que mostrava o chafariz, ainda existem e localizam-se na planta com o nº 5.


 

À esquerda os 3 prédios da Rua do Bonjardim, em frente dos quais desembocava a antiga Rua da Cancela Velha – Ed. Google maps


 

Vista geral c. 1900, do edifício da «Guimarães & Medina», loja de couros curtidos, solas, cabedais; e da «Associação de Socorros Mútuos Commércio e Indústria no Porto», na desaparecida Rua da Cancela Velha, n.º 18 – Ed. Foto Guedes; Fonte: AHMP


 
 

Planta da Cancela Velha, de Telles Ferreira, em 1892

 
 
No local assinalado na planta acima, com um rectângulo negro, na esquina das ruas da Cancela Velha e Adriano Machado, tinha estado a Companhia do Gás.

 
 
 

Os prédios identificados a azul estavam presentes em foto anterior na qual aparecia o Chafariz do Laranjal – Ed. Arquivo Histórico Municipal


 

Os prédios frontais, com as fachadas voltadas a norte, são o que ainda restava, em 1939, da Rua da Cancela Velha - Ed. Guilherme Bonfim Barreiros, In: “nocentenariodaavenida.up.pt”; Fonte: AHMP
 
 
À esquerda da foto acima, na Rua de António Sardinha, actual Rua Dr. António Luís Gomes, nasceria, depois do necessário desaterro, o Palácio dos Correios.


 

Vista da Cancela Velha, na década de 1940 - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal
 
 
 
A perspectiva da foto anterior é obtida a partir das existentes, à data, escadas do edifício da Câmara Municipal do Porto, na Praça do Município (hoje do General Humberto Delgado), na década de 1940 e observa-se à esquerda, os antigos edifícios da Cancela Velha, entretanto, demolidos, onde hoje está a Rua de Guilherme da Costa Carvalho e, ao centro, a Rua de Rodrigues Sampaio, que conduz à praça de D. João I, na época ainda em construção. Tudo se passa na sequência da abertura da Avenida dos Aliados.

 
 

Uma perspectiva actual, aproximada, da foto anterior, pois a antiga Rua da Cancela Velha, desenvolvia-se por parte do chão do Palácio dos Correios - Fonte: Google maps
 
 
 
 

Avenida dos Aliados, c. 1940 – In: “nocentenariodaavenida.up.pt”; Fonte: CPF 
 
 
Para além dos Paços do Concelho, ainda em construção, são reconhecíveis, à esquerda, o edifício César Augusto Bordallo ocupado, em 1933, pelo Futebol Clube do Porto e o do Clube dos Fenianos, ocupado em 1935.

quinta-feira, 20 de abril de 2023

25.186 O Barão de Forrester

 
Para o lado sul da Ramada Alta apresenta-se a Rua Barão de Forrester.
Esta rua deve o seu topónimo ao Barão de Forrester que, por lá, teve a sua residência, na primeira metade do século XIX.
Dizem que, à época, a casa do Barão de Forrester, era uma residência magnífica.
Em 1854, segundo o testemunho do próprio barão, já era habitada pelo visconde da Trindade.
 
 
 
Quando habitei a casa na Ramada Alta actualmente ocupada pelo patriótico e filantropo (termo de que me sirvo-em lugar de ill.mo e exc.mo) visconde da Trindade, tinha um relógio de mesa muito lindo, de três e meio palmos de altura, sendo o assunto um preto segurando um cavalo bravo e fogoso. Quando saía da minha casa pela manhã, e voltava à noite, costumava sempre conferir o meu relógio de algibeira com aquele; mas aconteceu-me um dia, que, voltando a casa, dei pela falta do relógio, manga de vidro, preto, e cavalo branco, e até a própria chave. Em vão, pergunto a minha mulher, filhos e criados, pela falta; mas ninguem me podia esclarecer o negócio; porém tendo motivos de suspeitar de algumas pessoas, relacionadas com os criados, paguei, a cada um deles, um mês adiantado, e mostrei-lhes a porta. Foi justamente, Sr. Redactor, nesta ocasião que alguem me falou na bela organização do corpo dos ladrões na cidade do Porto, debaixo da autoridade do ladrão-mór a que acima me referi”.
Excerto da carta dirigida ao redactor do jornal Commercio pelo Barão de Forrester em 1854
 
 
O visconde da Trindade, que à data do texto anterior, exercia o cargo de Presidente da Câmara do Porto, era um brasileiro de torna-viagem, de seu nome José António de Sousa Basto, nascido em Cabeceiras de Basto em 1805, que andou por terras da América do Sul, durante cerca de três décadas, onde fez fortuna, tendo regressado a Portugal em 1850.
 
 
“Em 23 de Agosto retirou-se para o Porto, que avaliando os seus altos merecimentos cívicos, morais e trabalhadores, o elegeu vereador, sendo eleito presidente para o primeiro biénio de 1852 a 1853, reeleito para o biénio de 1854 a 1855, não aceitando a reeleição para o biénio seguinte, depois de ter demonstrado à cidade invicta quanto valia o seu nobre carácter e a força do seu ânimo, em proveito daqueles que o tinham elevado, e que jamais podem esquecer quanto lhe devem. Em Julho de 1859 voltou ao Rio de Janeiro a fim de liquidar os seus negócios, o que conseguiu com rara actividade, no curto espaço de dois meses, promovendo ali entre os seus amigos uma subscrição que atingiu a avultada soma de vinte contos de réis, destinada a constituir o fundo do Liceu da SS. Trindade, regressando de novo à pátria em 13 de Novembro de 1859”.
Fonte: epl.di.uminho.pt/
 
 
 
 

Casa na Ramada Alta que seria mandada demolir em pleno século XX
 
 
A casa que se observa na foto acima, dizem, teria sido a que foi habitada pelo barão de Forrester.
Em 1830, pertencia a António José Gonçalves Braga que diligenciou, naquele ano, à Câmara do Porto, uma reformulação da sua fachada.
Na sua casa da Ramada Alta, Forrester promovia alguns jantares, aos quais se apresentavam os seus melhores amigos.
Na sua obra (1884) “Vinho do Porto”, Camilo Castelo Branco dá conta de alguns daqueles convivas.
 
 
 
Jantares do Barão de Forrester – Fonte: “O Porto do Romantismo” (1932) de Artur Magalhães Basto

 
 
Na foto, abaixo, vemos a entrada da Quinta da Boa Vista que pertenceu ao Barão de Forrester, onde também viveu, a alguns quilómetros da Galafura.
O seu contributo para o desenvolvimento do Douro vinhateiro foi preponderante, nomeadamente na cartografia (autor do primeiro mapa sobre a Região Demarcada do Douro) e no desenvolvimento da própria actividade vitivinícola. Em grande parte, como resultado das inovações que introduziu, o Douro assumiu, durante o séc. XIX, uma grande importância no comércio internacional de vinhos.

 
 

Entrada da Quinta da Boa Vista


 
Há quem afirme que o Barão de Forrester teria vivido, também, no edifício do antigo Restaurante Comercial, situado na Rua do Infante D. Henrique., que utilizava como escritório e local de trabalho.
 
 
 

Edifício Forrester/Restaurante Comercial

 
 

Interior do edifício Forrester com vista para o Palácio da Bolsa
 
 
 
O Barão de Forrester (1809-1861) foi José James Forrester, de seu nome, nascido em Hull, escritor, artista e viticultor, que tanto se notabilizou na expansão e propaganda do Douro e dos seus vinhos e que, com quase 52 anos, morreu afogado no rio Douro, em Maio de 1861, no lugar do Cachão da Valeira.
 
 
“Nascido em 1809 em Inglaterra e falecido em 1861 num acidente de barco no fatídico Cachão da Valeira, em pleno Alto Douro, foi uma figura de destaque em todos os assuntos do vinho. Enquanto comerciante consagrou a reputação internacional dos vinhos da firma Offley Forrester, que ele próprio se encarregava de seleccionar criteriosamente na região demarcada. Como enófilo lutou pela preservação do carácter genuíno dos vinhos do Douro contra as adulterações tidas, à época, como inevitáveis e até desejáveis – combateu ferozmente as práticas de adicionar baga de Sabugueiro, como artifício para intensificar a cor, e (espante-se!) a aguardentação dos mostos, por considerar uma deturpação das naturais qualidades do vinho. À cartografia nacional legou o primeiro mapa da Região Demarcada do Douro. Como pintor, fotógrafo e aguarelista, deixou-nos imagens vibrantes da intensa vida burguesa do Porto de oitocentos”.
In blogue: webook

 
 

James Forrester


 
“Em 1831 Joseph juntou-se à empresa vinícola de um tio seu no Porto, e iniciou uma reforma no comércio de vinhos. Na sua obra de 1844, Uma palavra ou duas sobre o vinho do Porto, declarou guerra aos que adulteravam o vinho. Também estudou o oídio da vinha causado pelo Oidium tuckeri, desenhou notáveis mapas do vale do Douro (Mapa do Rio Douro). Por este trabalho, foi-lhe concedido o título de Barão, por D. Fernando II, em 1855, regente durante a menoridade de D. Pedro V.
Pintou várias aguarelas, e foi autor de O Douro Português e País Adjacente (1848) e de Prize Essay on Portugal and its Capabilities (1859), pela qual recebeu uma medalha de ouro”.
Fonte: pt.wikipedia.org/

 
 
Muito jovem, com vinte e dois anos, James Forrester desembarcara no Porto em 1831, para trabalhar numa empresa exportadora de vinho do Porto que pertencia a um tio: a Offley, Forrester & Webber.
Entre 1843 e 1860, James Forrester publicou vários trabalhos, escrevendo-os e ilustrando-os com excelentes desenhos, sobre o cultivo e a produção dos vinhos durienses. Os seus trabalhos “A crise comercial explica-se” e “A verdadeira causa da crise comercial do Porto” contribuíram grandemente para debelar o pânico e estimular as energias das gentes do Douro seriamente abaladas com o flagelo que devastou grande parte dos vinhedos, em 1859.
Ficaram famosos os seus mapas e notas, em “O país vinhateiro do Alto-Douro”, publicado em Português e Inglês e, mais tarde, reeditado pela Câmara dos Comuns, em Londres.
 
 
 
“Rua Nova dos Ingleses – Porto, 1834”- Pintura do Barão de Forrester
 
 
 

“Feira do Porto”, 1835 – Barão de Forrester
 
 
 
"Vista do rio Douro com a cidade do Porto", 1840 – Desenho do Barão de Forrester





 
A gravura acima, uma vista do rio a partir das Fontainhas, resulta de uma impressão de uma ilustração do Barão de Forrester, executada antes de 1843, pois parece que se vislumbra, ainda, a Ponte das Barcas.

 
 
 

Gravura estampada, em 1860, de desenho da ponte Pênsil da autoria do Barão de Forrester

 
 

Foto do Barão de Forrester, em 1859, da Rua Nova dos Ingleses (actual Infante D. Henrique)

 
 
Estava chegado o fatídico dia.
Depois de dois dias de intensa chuva, o Domingo amanhecera agradável e, com o passar das horas, ganhara força a proposta que surgira no grupo de um jantar na Régua. E, por isso, ali se encontravam todos, dezassete, a bordo do barco rabelo que ia descendo o rio. A uma velocidade crescentemente ameaçadora… a julgar pela apreensiva expressão que se vai desenhando no rosto de Joseph James Forrester.
Há já uma semana que o britânico se encontrava, a convite de Dona Antónia Adelaide Ferreira, a “Ferreirinha”, e do seu marido, o milionário Silva Torres, no Vesúvio – a fabulosa quinta que estes possuíam no Douro.
A tragédia aproximava-se e seria descrita assim, magistralmente, por Camilo Castelo Branco:
 
 
 
 
'' A morte desastrosa do barão de Forrester, em 12 de Maio de 1861, é uma das mais notáveis vinganças que o rio Douro tem exercido sobre os detractores dos seus vinhos. A família Ferreirinha da Régua, composta de dona Antónia Adelaide, de seu marido Silva Torres, o milionário, digno de o ser pela bizarria das suas generosidades, de sua filha e genro, condes da Azambuja, tinham ido, rio acima, à sua celebrada quinta do Vesúvio, e convidaram o barão de Forrester a passar uma semana em sua companhia. No dia 12, um alegre domingo, saíram todos do Vesúvio, na intenção de jantarem na Régua. O Douro tinha engrossado com a chuva de dois dias, e a rapidez da corrente era caudalosa. Aproando ao ponto do Cachão, formidável sorvedouro em que a onda referve e redemoinha vertiginosamente, o barco fez um corcovo, estalou, abriu de golpe e mergulhou no declive da catadupa.
O barão sofrera a pancada do mastro quando se lançava à corrente, nadando. Ainda fez algum esforço por apegar à margem; mas, fatigado de bracejar no teso da corrente ou aturdido pelo golpe, estrebuchou alguns segundos de agonia e desapareceu. Salvaram-se os outros, não todos, com a protecção de uns barcos que aí estavam para recolher o despojo de outro naufrágio de um transporte de cereais. Livrou-se Torres, o futuro par do reino, agarrado a um barril de azeite, até que o recolheram a um dos barcos. Dona Antónia e o conde de Azambuja aferraram-se às dragas do barco. A condessa foi salva por um marinheiro. Um juiz de direito, Aragão Mascarenhas, agarrou-se à vara do barco rijamente, qual o temos sempre visto filado à vara da Justiça, em naufrágio de trapaças. Mas nem todos saíram com vida. Um criado de Torres foi logo tragado pela cachoeira; e, abraçada com a vela, já quando se lhe estendia um braço redentor, afogou-se uma criatura a quem os noticiaristas não deram a mínima importância. Pois foi uma perda insubstituível. Era a Gertrudes, um tesouro de jóias culinárias que a voragem engoliu...''.

 
 
Este desastre, pelas circunstâncias em que se deu (Dona Antónia Ferreirinha, que viajava com ele, e mais outras senhoras, salvaram-se graças ao fole das suas saias) e ainda, pelo facto de ter vitimado o Barão de Forrester, foi durante muito tempo motivo de estranhas e singulares versões, tanto mais que o seu cadáver nunca apareceu (dizia-se, na altura, que era usual o Barão carregar muitas moedas de ouro no forro de cabedal do seu largo cinto). Admitiram-se ou criaram-se lendas e fantasias à volta do sinistro Cachão do Douro e, no caso, chegou-se a conjecturar um crime. De tudo, porém, nada se averiguou e nada se provou...
 
 
 

Quinta do Vesúvio, em foto de Emílio Biel, no fim do século XIX
 
 
 

Quinta do Vesúvio
 
 
 

Cachão da Valeira
 
 
 

Barão de Forrester
 
 
 
James Forrester exercia, também, uma actividade comercial associado a familiares, com sede em V. N. de Gaia, na Quinta da Boavista.
 

 
In jornal “O Comércio do Porto” de 21 de Abril de 1858

 
 
In "O Comércio do Porto" de 5 de Maio de 1858




In “Jornal do Porto” de 24 de Dezembro de 1859


 

In jornal “O Comércio do Porto” de 7 de Fevereiro de 1859



Após a morte de James Forrester a sociedade teria sido dissolvida.


 
 

In “Jornal do Porto” de 16 de Janeiro de 1862

sexta-feira, 14 de abril de 2023

25.185 O Porto (Do Cerco do Porto à Regeneração)


Mouzinho da Silveira (Castelo de Vide, 12 de Julho de 1780 – Lisboa, 4 de Abril de 1849), a 28 de Maio de 1823, é nomeado Ministro da Fazenda, dando, assim, começo a uma actividade política.
Mais tarde, tomaria posse do cargo de Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e interino dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, em Angra, a 2 de Março de 1832. A 23 de Abril de 1832, acompanha D. Pedro IV de Angra para Ponta Delgada, cidade de onde a 27 de Junho parte com a força expedicionária a caminho do Mindelo.
Após as lutas do Cerco do Porto e a vitória dos liberais, em 1832, cabe a Mouzinho da Silveira aplicar uma vasta série de reformas de cariz económica e financeiras, abolindo os morgadios, as capelas, as sisas, as portagens e os forais, extinguindo o monopólio da Companhia das Vinhas do Alto Douro e vendendo, depois da extinção das ordens religiosas (1834), os bens nacionais em hasta pública. Eram mudanças significativas que visavam pôr em prática os princípios do livre-câmbio e do liberalismo económico defendidos pela administração cartista, e que se esperava modificassem o rumo negativo que Portugal seguia desde o virar do século anterior. As reformas cartistas não tinham tido, no entanto, o sucesso esperado. A venda dos bens nacionais tinha favorecido somente uma alta burguesia fundiária limitada, que tinha engrandecido e aumentado as suas já extensas propriedades.
O movimento de descontentes defendia a supremacia da soberania popular, lutando activamente pela substituição da Carta Constitucional de 1826, outorgada pelo soberano, por uma constituição aprovada por um congresso democraticamente eleito pelo povo.
 
 

Revolução de Setembro

 
Ficou conhecida como Revolução de Setembro o movimento de insurreição que se deu em Lisboa a 9 de Setembro de 1836, no Terreiro do Paço, depois de desembarcarem os deputados portuenses, liderados por Passos Manuel, cujo nome de baptismo era Manuel da Silva Passos, irmão de um político importante da época, Passos José, cujo nome de baptismo era José da Silva Passos, ambos naturais de Bouças.
Passos José viria a ser presidente da Câmara do Porto.


 
 
Estátua de Passos Manuel, primitivamente, na Alameda de Matosinhos, na margem esquerda do rio Leça - Ed. Photo Guedes
 
 
 
Na foto acima vemos a estátua de Passos Manuel, da autoria de Teixeira Lopes, pai, virada para Guifões, como quiseram os seus amigos e contemporâneos, na chamada Alameda de Matosinhos com a Ponte de Pau em fundo.
 
 
 

Casa em Guifões (Matosinhos) onde nasceram José da Silva Passos (Passos José) e Manoel da Silva Passos (Passos Manuel)
 
 
 

Foto tirada da Alameda de Leça para a Alameda de Matosinhos
 
 
 
Acima, na foto, no bordo direito, na outra margem do rio Leça, está a estátua de Passos Manuel, na Alameda de Matosinhos.
A ponte dos 19 Arcos aparece à esquerda da foto.

 
 

Foto de Passos Manuel, na Alameda de Matosinhos – Ed. A. Vieira
 
 
 
Na foto acima, o jardim da Alameda já tem bancos oferecidos pelo Conde Alto Mearim.
Na Alameda de Matosinhos, bem perto da estátua de Passos Manuel, segundo testemunho de Ramalho Ortigão, em 1876, estava o Hotel de Matosinhos de José Henriques Gonçalves onde os quartos se alugavam a 1:000 reis por dia, com serviço todo incluído e tinha, ainda, restaurante com serviço à lista.
 
 
 
 

Passos Manuel, c. 1905, na Alameda de Matosinhos, com Matosinhos pelas costas - Ed. Estrela Vermelha
 
 
 
 

Estátua de Passos Manuel, c. 1927 – Fotograma da Cinemateca
 
 
 
Na foto acima, a estátua de Passos Manuel já se encontra numa rotunda da Avenida da República, confluente com a Avenida Serpa Pinto e a Rua Roberto Ivens, tendo sido para aqui transladada, aquando da construção da doca nº 1 do Porto de Leixões.
 
 
 

Estátua de Passos Manuel, actualmente - Fonte: “Google Maps”

 
 
Face à incipiência do sistema político português de então, sem partidos organizados, na acepção moderna do termo, o partido setembrista, isto é a corrente mais à esquerda do liberalismo, assumiu-se como oposição ao cartismo, isto é, à facção mais conservadora que apoiava a Carta Constitucional de 1826. No entanto, as eleições de 1836 tinham dado larga vitória ao Governo instalado, que resolveu prosseguir com a política iniciada em 1834, na linha da legalidade cartista com a qual os liberais radicais do Porto não concordavam.
Estes prepararam um golpe de Estado, marcado para o momento da chegada ao Tejo dos deputados portuenses, entre os quais Passos Manuel, Soares Caldeira, Leonel Tavares, Cassiano Tavares Cabral e Morais Mantas, que acabaram por ser recebidos de forma apoteótica, sendo apoiados pelo exército. O golpe deu-se, assim, de forma pacífica.
Entretanto, apareceu um malogrado contra-golpe de inspiração cartista, que ocorreu na noite de 4 para 5 de Novembro de 1836, em reacção à Revolução de Setembro, chamado a Belenzada, que é a designação que recebeu na historiografia portuguesa a tentativa de golpe que foi quase integralmente palaciana, tendo como principais interventores a rainha D. Maria II e os seus conselheiros mais chegados, com o apoio de António José de Sousa Manoel de Menezes Severim de Noronha, o duque da Terceira, que presidia ao governo cartista.
Em sequência dos últimos acontecimentos, a rainha apressou-se, então, a nomear novo ministério, presidido por José Bernardino de Portugal e Castro, o 5º marquês de Valença que, para além de chefe do governo, era ministro dos negócios estrangeiros, situação que seria travada por Passos Manuel.
Não seria essa a única tentativa de reacção contra o ministério setembrista, já que logo no dia 18 de Setembro tinham protestado contra a revolução 27 membros da Câmara dos Pares e que, no dia 5 de Outubro, tinha constado que o Batalhão de Caçadores n.º 5 quereria fazer uma contra-revolução. Em resultado, o Batalhão foi mandado para o Algarve combater o Remexido (José Joaquim de Sousa Reis, célebre guerrilheiro algarvio, miguelista, que nasceu no Algarve em 1797, em Estombar).
A revolução do Setembrismo restabeleceu a Constituição de 1822 e levou à formação de um Partido Radical.
A insurreição constituiu, assim, uma manifestação de descontentamento face à desastrosa situação económica e financeira do país, por parte de oposicionistas radicais aos quais se juntaram as forças militares.
Em 27 de janeiro de 1842, deu-se no Porto uma revolução lidera­da por Costa Cabral para pro­clamar a Carta Constitucional que havia sido abolida em 1836. António Bernardo da Costa Ca­bral era, então, ministro da Justiça. Chegara de véspera ao Porto, a pretex­to de tratar de assuntos particulares. Mas, ainda no dia da chegada assistiu, no Teatro de S. João, a um espectáculo onde, repetidas vezes, se cantou o hino da Carta. 
Na manhã do referido dia 27, houve um desusado ajuntamento de políticos locais na então chamada Praça de D. Pedro e no fronteiro Passeio das Car­dosas, também chamado Pasmatório dos Lóios.
A revolta, propriamente dita, ocor­reu no interior do edifício, onde ao tempo funcionava a Câmara Municipal, e consistiu na restauração da Carta Constitucional. E por causa do local onde aconteceu, passou à história como a "Revolta da Praça" ou a "Revol­ta do Pasmatório". 
A restauração da Carta Constitucional e a consequente liquidação institucional do Setembrismo foi o acto político da vida de Costa Cabral que mais o caracteriza e, por ele mesmo, considerado o mais importante.
A Carta Constitucional tinha sido substituída, desde a Revolução de Setembro de 1836, pela Constituição Política da Monarquia Portuguesa (em 1838), conhecida pela Constituição Setembrista, generosa e democrática, mas nunca pacificamente aceite pela maioria da elite política. Já em Junho de 1837, os marechais Saldanha e Terceira, haviam tentado restaurar a Constituição de 1826, com a célebre ‘’Revolta dos Marechais’’, mas essa tentativa falhou, resultando apenas, daí, a perturbação do país e o exílio dos líderes golpistas.
Agora, era a vez de Costa Cabral, um dos apoiantes entusiásticos da Revolução de Setembro e um lutador para que fossem extintas as milícias populares da Guarda Nacional, das quais se destacava o Remexido, tentar a sua sorte.
Em resultado do sangrento «massacre do Rossio» (13 de Março de 1838) e, consequentemente, a decisão posterior do governo de dissolução da Guarda Nacional, cujas chefias radicais se tinham rebelado, provocaria nas guarnições do Sul uma desmobilização dos efectivos militares avaliada em 1300 homens. É sobre esta força que o Remexido vai usar a sua influência, actuando em modo de guerrilha.

 
 
Cabralismo e Patuleia

 
Tendo migrado politicamente para o cartismo, Costa Cabral chegado ao Porto a 17 de Janeiro de 1842, logo no dia 19 é ali saudado com a aclamação da Carta Constitucional. Prepara para 27 desse mês a sublevação Cartista, assumindo-se nesse dia como chefe político de um pronunciamento militar e organiza a junta do governo, preparando-se para marchar sobre Lisboa.
Em Lisboa, ainda se fazem algumas tentativas de resistir ao golpe: o governo é remodelado e Joaquim António de Aguiar é substituído na presidência do ministério por Pedro de Sousa Holstein, o futuro 1º duque de Palmela.
Mas é fútil a resistência já que o governo é empossado, a 7 de Fevereiro de 1842, para cair ao seu terceiro dia, no dia 9 de Fevereiro. Ficou conhecido pelo Governo do Entrudo dada a coincidência do seu período de governação com os dias do Carnaval.
Estando a rainha conivente com o golpe, e tendo a 8 de Fevereiro a guarnição do Castelo de São Jorge saudado a Carta, o êxito do golpe era inevitável.
A 10 de Fevereiro, é publicado o decreto real que restaurava a Carta, a 19 desembarca Costa Cabral em Lisboa para uma recepção apoteótica e, a 24 desse mês principia, de facto, a governação de Costa Cabral, sendo nomeado Ministro do Reino num ministério nominalmente presidido pelo duque da Terceira. Estava instalado o Cabralismo e, com ele, uma política deliberada de estabilidade e desenvolvimento nacional.
Foi então instaurado em Portugal o regime Cabralista. Um regime despótico, liderado por António Bernardo da Costa Cabral (apoiado pelo seu irmão José Bernardo da Silva Cabral – daí a alcunha popular de governo dos Cabrais ou Cabralismo).
Apesar da forte oposição e das dificuldades em conseguir manter as forças antagónicas que o apoiavam sob controlo, o Cabralismo deu a Portugal o primeiro governo de legislatura desde a implantação do constitucionalismo.
Gozando de forte apoio régio, ao ponto de o apodarem de valido da rainha, Costa Cabral beneficiou, a 3 de Maio daquele ano, da nomeação por D. Maria II de 30 novos pares do Reino, seus apoiantes, que lhe deram a maioria na Câmara alta. A este reforço seguiu-se uma retumbante vitória nas eleições gerais realizadas a 5 e 19 de Junho imediatos, a qual lhe deu absoluto controlo sobre o Parlamento. Nessas eleições, Costa Cabral foi eleito pela Beira Baixa.
Uma das primeiras reformas do Cabralismo foi a centralização administrativa, aprovando o Código Administrativo de 1842. Seguiu-se a reforma das Guardas Nacionais, um dos factores de instabilidade anteriores, o retomar de relações com a Santa Sé e o controlo da dívida externa e do défice governamental.
A Revolta da Maria da Fonte, ou Revolução do Minho, é o nome dado a uma revolta popular ocorrida na primavera de 1846 contra o governo cartista presidido por António Bernardo da Costa Cabral.
Sobre os opositores a Costa Cabral escreve Camilo Castelo Branco:

 
“Arguiam a Rainha e os seus ministros prediletos de retrógrados, escarneciam a religião nos prelos e nos templos, e ao mesmo tempo insinuavam no clero miguelista do Minho que acirrasse a plebe boçal contra a lei ímpia que proibia as inumações na terra sagrada das igrejas. Os de 23 Setembro, espíritos fortes e demolidores dos preconceitos inveterados, desonraram-se legitimando o canalhismo do motim popular nos adros e o incêndio dos arquivos nas regedorias e nas câmaras.
…As asneiras disfarçadas em zelo da religião, que incitaram as aldeias do Minho, quem primeiro devia refugá-las do seu credo eram os revolucionários da Belenzada. Tenho dito, penso eu, o bastante para que me não arrolem no catálogo dos fósseis remanescentes ao dilúvio que subverteu a camada dos Cabrais. Repito: eu não quis desluzir a coragem do povo de 46: mas pretendi joeirar no crivo da peneira histórica a Maria da Fonte que os progressistas chamam sua mãe, e os republicanos sua avó.
Fonte: Camilo Castelo Branco, In “Maria da Fonte”
 
 
A revolta resultou das tensões sociais remanescentes das guerras liberais, exacerbadas pelo grande descontentamento popular gerado pelas novas leis de recrutamento militar, que se lhe seguiram, por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.
Iniciou-se na zona de Póvoa de Lanhoso (Minho) uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a todo o norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo, chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada que, por isso, ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta.
Uma das principais figuras deste conflito seria o guerrilheiro miguelista Padre Casimiro José Vieira que se intitulava “Defensor das Cinco Chagas” e general comandante das forças populares do Minho e Trás-os-Montes.
A sublevação, apoiada em simpatizantes miguelistas, propagou-se depois ao resto do país e provocou a substituição do governo de Costa Cabral por um presidido por D. Pedro de Sousa Holstein, o 1º Duque de Palmela.
Entretanto, num golpe palaciano conhecido pela Emboscada, a 6 de Outubro de 1846, a rainha D. Maria II demite o governo do duque de Palmela e nomeia o marechal João Oliveira e Daun, Duque de Saldanha para constituir novo ministério e a insurreição reacende-se.
Em face da “Emboscada” um grupo de oposicionistas à governação de Costa Cabral insurge-se no Porto, reuniu exércitos, sob o comando do conde das Antas e organizou-se num governo paralelo, denominado Junta Provisória do Supremo Governo do Reino ou Junta Governativa do Porto.
Começava a guerra civil da Patuleia.
Patuleia tem aqui o significado de parolo, de patola e viria a ter como expressão, uma estranha aliança de Setembristas com os desiludidos e partidários de D. Miguel que continuavam a sonhar com uma tomada do poder, por oposição ao governo de Costa Cabral.
O resultado foi uma nova guerra civil de 8 meses, a Patuleia, que apenas terminaria com a assinatura da Convenção de Gramido, a 30 de Junho de 1847, após a intervenção de forças militares estrangeiras ao abrigo da Quádrupla Aliança.
A Junta Governativa do Porto tinha como presidente Francisco Xavier da Silva Pereira, o 1º conde das Antas, e como vice-presidente José da Silva Passos, que, para além de ser a alma da revolta, era irmão do político e ex-ministro progressista Manuel da Silva Passos, o famoso Passos Manuel.
Logo que conhecida a revolta do Porto, o visconde de Sá da Bandeira, Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo apareceu naquela cidade, aderindo à revolução e dando-lhe um indesmentível relevo nacional.
A Junta do Porto, embora legislando em nome da rainha e jurando-lhe obediência e respeito, na realidade mantinha uma política contrária à opinião da soberana, tudo fazendo para reverter o golpe de 6 de Outubro.
Em certa imprensa sem rebuços e em linguagem insultuosa, denegria-se a figura de D. Maria II e sugeria-se a sua abdicação, em prol da república ou, ao menos, em prol de uma qualquer regência em nome de D. Pedro V, na altura com apenas nove anos de idade.
Neste contexto, e perante o risco que corria o trono, a única solução parecia ser a via militar. Estava aberto caminho para mais uma guerra civil, pouco mais de uma década após a celebração da Convenção de Évora-Monte.
Ambos os lados iniciam o levantamento de exércitos e é novamente tempo de contar espingardas.
Em Outubro, visitando a cidade do Porto a mando da Rainha, o Duque da Terceira é preso e expulso.
A contenda ameaçava tomar tais proporções que D. Maria II, aconselhada pelo marechal Saldanha, logo a 16 de Outubro, pediu a intervenção da Espanha, da França e da Grã-Bretanha, ao abrigo da Quádrupla Aliança, para acabar com a revolução, alegando que era uma sublevação miguelista. Os espanhóis mandam de imediato forças para a fronteira, mas o governo britânico não aceita que haja uma revolta miguelista.
Entretanto, a 26 de Outubro, forças afectas à Junta do Porto dirigem-se para Santarém, ameaçando directamente a capital, o que leva a rainha, em 27 de Outubro, a assumir plenos poderes extraordinários, suspendendo-se a legalidade constitucional.
A 4 de Novembro, Santarém é ocupado pelas forças revoltosas. Sentindo-se ameaçado, o governo resolve apostar tudo, e a 6 de Novembro, Costa Cabral, no exílio em Espanha, é nomeado embaixador naquele país, ficando encarregado de pressionar o governo espanhol no sentido da entrada das suas forças em Portugal em socorro do governo de Lisboa.
Dadas as dificuldades financeiras, a 14 de Novembro, é promulgado um decreto que impõe o curso forçado permanente das notas do Banco de Lisboa, impondo pesadas punições a quem se tentar eximir. Este diploma é complementado, a 19 de Novembro, por um decreto que obriga à fusão do Banco de Lisboa com a Companhia Confiança, prevendo-se a criação de um Banco de Portugal, materializada no dia 26 de Dezembro imediato, instituição que ainda hoje perdura.
Tendo surgido, pouco a pouco, por todo o país juntas que se afirmaram subordinadas da Junta Provisória do Supremo Governo do Reino, a do Porto, e todas se declararem em rebelião contra o governo de Lisboa e disporem de importantes forças militares e de indesmentível apoio popular, por causa da imperícia dos seus generais, felizmente para o governo, não foi possível imporem-se pela força, saindo as suas forças derrotadas num conjunto importante de recontros, logo nos meses iniciais da guerra.
A agitação tinha-se espalhado por todo o império. Assim, a 25 de Outubro de 1846, há já um pronunciamento em Ponta Delgada, formando-se ali a Junta Governativa do Distrito de Ponta Delgada.
No norte de Portugal, o general barão do Casal, comandante da divisão de Trás-os-Montes, optara por se manter fiel à rainha e marchou com as suas tropas sobre o Porto, esperando que ali rebentasse um contra-golpe cartista que lhe entregasse a cidade. Contudo, tal não aconteceu e, ao invés, Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, então visconde de Sá da Bandeira, que havia aderido à Patuleia, sai-lhe ao encontro à frente de uma muito bem armada divisão, marchando pela Régua e Sabrosa até Chaves, onde as forças do barão do Casal se refugiam.
Ao mesmo tempo, forças guerrilheiras comandadas por Luís Malheiro Peixoto de Lemos e Vasconcelos, 1º barão de Castro Daire, ocupam Murça, dando a impressão que os patuleias irão controlar o norte. Esta situação inverte-se rapidamente já que, a 15 de Novembro, o visconde de Sá da Bandeira decide retirar para Valpaços, aparentemente para aí atrair as forças do barão do Casal e dar-lhe batalha.
Efectivamente, a 16 de Novembro, as forças do barão do Casal marcham sobre Valpaços e dão batalha. No recontro, onde dois regimentos do Porto se bandearam, o visconde de Sá da Bandeira é batido e obrigado, no dia 20 de Novembro, a recolher precipitadamente ao Porto. No fim do recontro, todo o norte parecia ficar sob controlo das forças leais ao governo.
Por essa altura, já o levantamento militar se espalhara pelo país. A sul do Tejo, o general José Lúcio Travassos Valdez, 1º conde de Bonfim, o brigadeiro Francisco Pedro Celestino Soares, futuro visconde de Leceia e Luís Francisco Estêvão Soares de Melo da Silva Breyner, 1º conde de Melo, comandavam tropas patuleias. Em Coimbra, o marquês de Loulé também se rebelara e reconstituíra o Batalhão Académico.
Para piorar a situação, durante a retirada, o que restava das forças de Sá da Bandeira encontra na Régua um numeroso grupo guerrilheiro comandado pelo velho general realista Reginald MacDonell, o qual tinham ali aclamado D. Miguel. É o miguelismo que, aproveitando a oportunidade criada pelos patuleias, ameaça ressurgir das cinzas das guerras liberais.
Num raro contra-ataque, a 25 de Novembro, as forças patuleias entram em Guimarães.
Em Lisboa, a instabilidade era grande, esperando-se a qualquer momento um levantamento patuleia. Aparentemente, a revolta só aguardava que as forças rebeldes avançassem sobre o Cartaxo, localidade onde as forças do marechal Saldanha estavam aquarteladas e o fizessem recuar.
A 3 e 4 de Dezembro, os marinheiros governamentais, comandados por Francisco Soares Franco, futuro 1º visconde de Soares Franco, tomam Valença. Em Viana do Castelo, as forças governamentais conseguirão manter o castelo em seu poder, apesar de atacadas, a 4 de Dezembro, pelas forças da Junta. Entretanto, as actividades militares concentram-se na Estremadura, já que, o conde das Antas e o conde do Bonfim, com o grosso das tropas patuleias, mantém a ocupação de Santarém, enquanto o conde de Vila Real se posiciona em Ourém.
Foi contra esta última posição que. a 4 de Dezembro, o marechal Saldanha resolveu enviar uma brigada, que as forças do conde de Bonfim tentaram interceptar. Não o conseguindo, foi unir-se às forças do conde de Vila Real, aquarteladas em Leiria, onde recebeu também cerca de 3 000 homens enviados de Santarém. Com estas forças tentou avançar para sul, mas surpreendido pelas forças do marechal Saldanha, retrocedeu sobre Torres Vedras.
E foi, naquela cidade, que a 22 de Dezembro de 1846, numa das batalhas decisivas da guerra, o brigadeiro José Lúcio Travassos Valdez, o 1.º conde de Bonfim, foi completamente batido pelo marechal Saldanha, numa cruenta batalha em que foi morto o general Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque (Lisboa, São Vicente de Fora, 16 de Junho de 1792 — Torres Vedras, 27 de Dezembro de 1846), avô do administrador colonial Mouzinho de Albuquerque, um militar liberal que chegou a ser ministro do Reino, durante a regência liberal. Ao fim daquele dia, após um conjunto de brilhantes decisões tácticas, Saldanha era o claro vencedor, aprisionando quase todas as tropas patuleias. O conde das Antas, então no Cercal, optou por não vir em socorro das forças de Bonfim, optando antes por uma rápida retirada para o Porto.
Saldanha ainda ensaiou uma perseguição às forças do conde das Antas, seguindo para norte em marchas forçadas, mas quando este entrou no Porto, optou por se aquartelar em Oliveira de Azeméis.
Entretanto, o brigadeiro Celestino era destroçado em Viana do Castelo pelo velho general João Schwalbach (1774 – 1874), 1º visconde de Setúbal e, a 31 de Dezembro, as forças cartistas do barão do Casal tomavam Braga pela força depois de uma cruenta batalha com os guerrilheiros do general MacDonnell. Por ordem do barão do Casal, a cidade foi barbaramente castigada com fuzilamentos pelas ruas. O velho general miguelista MacDonnel é preso em Vila Pouca de Aguiar e morto por um sargento de cavalaria cartista.
A 3 de Janeiro de 1847, Álvaro Xavier Coutinho e Póvoas, antigo oficial da Legião Portuguesa, ao serviço da França, e figura carismática do miguelismo, é nomeado tenente-general do exército da Junta, e comandante militar das duas Beiras.
A 10 de Janeiro, o marechal Saldanha propõe secretamente à Junta do Porto um acordo de paz, com base na Convenção de Chaves, a mesma que, em 1837, tinha posto termo à Revolta dos Marechais.
Num momento clarificador do conflito, a 12 de Janeiro de 1847, são assinadas as Bases da União dos realistas insurgentes com a Junta do Porto, isto é, da aliança dos miguelistas com os setembristas. Era finalmente oficial a coligação contra-natura, mas por esta altura já o marechal Saldanha se encontra perto do Porto, comandando as forças militares leais ao governo. A esquadra governamental, comandada por Soares Franco já bloqueava o Douro.
Ensaiando um contra-ataque, o exército da Patuleia, comandado pelo conde de Melo, ataca Estremoz em 27 de Fevereiro e a 9 de Abril, Sá da Bandeira, assumindo-se como lugar-tenente da Junta, desembarca no Algarve e inicia marcha para Lisboa. Chega a Setúbal e junta-se às tropas do conde de Melo e às guerrilhas do sul. Tem como colaboradores Anselmo Braamcamp Freire e José Estêvão Coelho de Magalhães.
A 11 de Abril, rebentam tumultos em Lisboa, onde estacionam tropas inglesas e espanholas, e o governo destaca o general Vinhais para as colinas de Azeitão, por forma a impedir o avanço sobre Lisboa das forças patuleias estacionadas em Setúbal. A 16 de Abril, as forças enfrentam-se na batalha do Alto Viso, às portas de Setúbal, onde perdem os patuleias 500 homens. O combate termina de forma indecisa por um armistício negociado pelo comandante inglês do navio de guerra, “HMS Polyphemus”, atracado na foz do Sado.
A 29 de Abril, novos tumultos patuleias acontecem em Lisboa, permitindo a fuga de 600 presos do Limoeiro. A anarquia cresce, e a fome ameaça as populações.
A guerra civil intensificava-se e a Quádrupla Aliança que tinha sido formada em 1834 pelo Reino Unido, França, Espanha e Portugal e visava apoiar D. Maria II contra o usurpador D. Miguel acabou, por ter aqui, uma importância fundamental.
Mesmo depois da entrada em Portugal das forças da Quádrupla Aliança, os pronunciamentos continuaram: a 29 de Abril de 1847, é a vez de se formar a Junta Governativa da Madeira; a 22 de Maio de 1847, é vez da ilha Terceira, nos Açores; na Índia Portuguesa, instala-se uma Junta e fala-se em vender território aos britânicos.
Na sequência de um protocolo assinado a de 21 de Maio de 1847, como resultado de novo pedido para uma intervenção da Quádrupla Aliança a Marinha Britânica bloqueia a barra do Douro, as Tropas Espanholas entram em Portugal e dirigem-se para o Porto e as tropas de D. Maria II seguem também para as imediações do Porto.
A 3 de Junho de 1847, o general Concha, à frente das tropas espanholas, ocupa a cidade do Porto, com os marinheiros ingleses já em S. João da Foz.
Aquele general de seu nome, Manuel Gutiérrez de la Concha e Irigoyen (1808-1874), ao serviço de Espanha é quem, em 1847, seguindo as directrizes da Quádrupla Aliança, vai encabeçar uma expedição a Portugal, para ajudar a manter o governo de rainha D. Maria II, entrando por Trás-os-Montes.
As tropas Espanholas montam quartel em Vendas Novas (Rio Tinto) e, em S. Cosme, Gondomar, tentam negociar um acordo.
 
 
 

General Concha

 
 
A 29 de Junho de 1847, é assinada na “Casa Branca” a Convenção de Gramido, em que a Junta do Porto esteve representada pelo Duque de Loulé.
Os termos da convenção determinados pelas chefias militares, em presença, foram, porém, considerados inválidos pelos Ministros plenipotenciários da Quádrupla Aliança por colidirem com o protocolo de 21 de Maio.
No 2 de Julho, foi assinado então um novo protocolo que estipulava novas directivas e a Convenção de Gramido foi revogada.



 

“Casa Branca” à face da EN 108, actualmente - Fonte Google Maps


 

“Casa Branca”, antes da remodelação - Ed. memorialdolamento.blogs
 
 
 
A “Casa Branca de Gramido” que apresenta numa das padieiras das portas a data de 1789, localiza-se em frente ao areinho de Avintes, num local que terá sido, ao longo da história, palco do lançamento de pontes entre as duas margens, mormente na movimentação de tropas.
Em 1815, seria propriedade de António Francisco d’Araújo.
Esta personagem, de apelido “Casas Brancas”, era tenente do exército razão, pela qual, talvez, a casa que habitava fosse escolhida para local das reuniões de paz.
Com a vitória cartista, o partido dos cabralistas iria vencer as eleições de 1849 e Costa Cabral estaria, assim, à frente dos destinos do País até 1851, quando surgiu o movimento da Regeneração.
Tendo sido colocado um fim à guerra civil, em Gramido, seguiram-se as comemorações da nova ordem estabelecida.
 
 
“Ontem teve lugar o Baile que a Assembleia Portuense deu em obséquio de Sua Ex.ª o General Concha: a função esteve brilhante e esplêndida, sendo extraordinária a concorrência orçando-se em 240 senhoras e 600 homens. Assistiram o General Concha, e vários outros Generais: o coronel Buenaga, oficiais espanhóis e ingleses, e várias famílias destas duas nações, e alguns Ajudantes de ordens de Sua Ex.ª o Duque de Saldanha. Assistiu igualmente o sr. Barão de Almofala, Comandante interino da 3ª Divisão. O Baile acabou às cinco da manhã. Daremos depois a descrição desta função.”
In “Boletim Oficial do Porto” de 20 de Julho de 1847

 
 
A Regeneração
 
 
A Regeneração define um período da vida portuguesa, do século XIX, iniciado em 1851 pela insurreição militar liderada pelo marechal duque de Saldanha contra o último ministério de Costa Cabral. O mentor inicial deste movimento é Alexandre Herculano.
De resto, foi na casa de Alexandre Herculano, em Lisboa, que a revolta tomou forma. Foi, aí, que se planeou não só o movimento como, também, os passos a dar, após a vitória. 
Assim, em 7 de Abril de 1851, Saldanha sai de Lisboa em direção a Sintra para resgatar promessas de apoio que lhe haviam sido feitas, determinado a fazer eclodir o movimento. Consegue a adesão, ainda que tardiamente, do regimento de Caçadores 1, de Setúbal e de Caçadores 5, de Leiria. Porém, por esta altura, já as tropas do rei D. Fernando II (consorte de D. Maria II) estavam no Cartaxo, impedindo a junção de Caçadores 1 e 5. 
Parte para o norte, mas as recepções de Coimbra e do Porto são decepcionantes.
Após tantos desenganos, acaba por se refugiar na Galiza. 
De repente, o panorama altera-se radicalmente: no Porto, em 24 de Abril, o quartel de Santo Ovídio subleva-se, juntando-se-lhe a Municipal e o regimento de Infantaria 6. 
O primeiro grito de revolta tinha partido de Caçadores 9, sedeado no convento de S. Bento da Vitória.
O Regimento de infantaria nº 6 estava aquartelado na Torre da Marca e o Regimento de infantaria nº 2 em Santo Ovídio.

 
 





Com o triunfo dos revoltosos, em substituição do conde de Casal, foi nomeado o coronel Moniz.
Entretanto, Saldanha entra no Porto, em triunfo, em 27 de Abril, encontrando um exército e uma grande cidade que o apoiam. Logo no dia seguinte, envia missivas a todos os governadores civis declarando como objetivos do movimento a reforma da Carta Constitucional e a queda do ministério de Costa Cabral, que acaba por ser demitido em 29 de Abril de 1851, retirando-se para Espanha. 



 
 

Duque de Saldanha, em 1851

 
 
D. Maria II nomeia o duque da Terceira para presidir ao novo ministério. Mas, por força das circunstâncias, a presidência teria de ser entregue ao chefe da insurreição vitoriosa. Em 15 de Maio, Saldanha entra em Lisboa e, a 17, ocupa o cargo de presidente do ministério. 
O governo chefiado pelo duque de Saldanha teve como figura principal Fontes Pereira de Melo, responsável pela pasta da Fazenda (21 de Agosto de 1851) e primeiro titular da pasta das Obras Públicas (30 de Julho de 1852).
Outras personalidades deste ministério foram Rodrigo da Fonseca Magalhães (Reino) e Almeida Garrett (Estrangeiros). 
Estava, agora, à frente dos destinos do País, o Partido Regenerador que irá ver aparecer como opositor o Partido Histórico, que absorverá o que restava do Partido Setembrista e, do qual, se tornou chefe, sem eleição, o duque de Loulé.
O Partido Histórico irá formar o 1º governo em 1856, por indicação de D. Pedro V. Será chefe desse governo o duque de Loulé.
Nos anos vindouros, o Partido Regenerador e o Partido Progressista ou Partido da Granja, como também era chamado por ter nascido da fusão do Partido Histórico e do Partido Reformista, pelo Pacto da Granja (7 de Setembro de 1876), vão ser os partidos do rotativismo da monarquia constitucional portuguesa.
A 13 de Setembro de 1871, o Partido Regenerador subia novamente ao poder, formando-se o primeiro governo a que presidiu Fontes Pereira de Melo. Este governo reconstituiu o país, que a revolta da Janeirinha e a série de governos efémeros que dela resultaram, desorganizara completamente.