quarta-feira, 25 de setembro de 2019

Conclusão


Na Praça do Infante, a estátua do Infante D. Henrique, de Tomás Costa, inaugurada em 1900, com a 1ª pedra (extraída do promontório de Sagres) lançada em 4 de Março de 1894


“Aberto o concurso a artistas portugueses para a execução de um projecto de uma estátua em bronze do Infante D. Henrique, foram sete os estudos propostos: Invicta, do escultor Tomás Costa, em desenho; 1394-1894, do arquitecto Ventura Terra, também em desenho; Lusitânia, do arquitecto Marques da Silva, em relevo; Sagres, dos escultores José Joaquim Teixeira Lopes e António Teixeira Lopes, em relevo; Por mares nunca dantes navegados, do escultor António Teixeira Lopes, em relevo; Ad Gloriam, do arquitecto Adães Bermudes, em desenho, e um projecto anónimo, Utile Dulci, também em desenho. Estes dois últimos projectos ficaram fora do concurso.”
Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro, In “O Centenário Henriquino”


Para fazer face às despesas com a construção do monumento ao Infante D. Henrique, foram emitidas moedas comemorativas e selos.
Para além disso, foi elaborada uma bandeira e um hino para abrilhantar as cerimónias.



Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro (Prof. da Faculdade de letras da Universidade de Coimbra)



Integrado nos festejos, no dia 2 de Março, já tinha sido inaugurada no Palácio de Cristal a “Exposição Insular e Colonial”, com o apoio da Sociedade de Geografia.
Para a participação naquela exposição, tinha sido endereçado um convite aos Arquipélagos dos Açores e Madeira, a Cabo Verde, a S. Tomé e Príncipe, a Angola, a Moçambique, a Macau e à Guiné, numa clara procura de afirmação territorial e poderio colonial. Foi, assim, organizado um certame comercial, industrial e agrícola, dividido em onze secções, que tinha como objectivo “fazer conhecer, o mais rigorosamente possível, o estado tanto das colónias como das ilhas adjacentes”.



A medalha comemorativa da Exposição Insular e Colonial



A meio da tarde, do dia 2, a comitiva real passou também pelo campo do Oporto Criket and Law-Tennis Club, no Campo Alegre, conhecido por Campo dos Ingleses, onde assistiria aos últimos minutos do jogo de futebol entre o Foot-Ball Club do Porto e o Foot-Ball Club Lisbonense, no que seria um dos primeiros jogos de futebol efectuados no País e, em que, face ao resultado do mesmo, o troféu em disputa seria entregue à equipa lisboeta.



O rei D. Carlos preparando-se para assistir ao jogo de futebol no campo do Oporto Criket and Law-Tennis Club, no Campo Alegre



No dia 5 de Março, o rei visitaria e inauguraria, em V. N. de Gaia, durante a tarde, uma “Exposição Agrícola e Industrial”, tendo antes, estado na Biblioteca Municipal, onde em sessão solene, foi distribuído o “ Prémio Camões” instituído pelo jornal “O Commercio do Porto”.
Neste dia, pela manhã, a rainha tinha já visitado a Creche de S. Vicente de Paulo e o Recolhimento do Bom Pastor.
O jantar teria lugar no Paço, para algumas autoridades e oficiais de terra e mar, a que se seguiria um baile no Club Portuense”.




“Exposição Agrícola e Industrial” de V. N. de Gaia inaugurada, a 5 de Março de 1894, pelo rei D. Carlos – Gravura editada



No dia 6 de Março, o rei estaria presente num concurso de tiro, realizado no “Club de Caçadores”, ao Monte Pedral, onde foi recebido pela banda da Oficina de S. José, que executou o Hino Nacional.
As instalações daquele clube situavam-se onde hoje está localizado Centro Cultural e Desportivo dos Trabalhadores da C. M. do Porto, na Rua Alves Redol, no Monte Cativo.



Localização do Clube de Caçadores e da sua Escola de Tiro, em planta de Telles Ferreira de 1892


Legenda

1. Clube de Caçadores
2. Parte de instalações da Fábrica de Fiação e Tecidos de Salgueiros
3. Rua de Salgueiros
4. Escadas do Monte Cativo
5. Rua do Monte Cativo
6. Rua de Burgães
7. Fonte do Monte Cativo
8. Viela do Monte Cativo (Rua do Soajo)
9. Travessa do Monte Cativo (Rua do Gerês)




Terminado o torneio de tiro acontecido em Salgueiros, o rei foi almoçar ao Paço para depois se dirigir a S. Faustino de Gueifães para proceder à inauguração da escola primária “Príncipe da Beira”, que homenageava o Príncipe Luís Filipe e mandada construir pelo benemérito Joaquim Carlos da Silva.


Escola Primária "Príncipe da Beira", em Gueifães, Maia (2008) - Cortesia de Laura Branca Vilares O. Piedade



O monarca passaria ainda pela Rotunda da Boavista, onde assistiria a várias corridas de bicicletas, promovidas pelo “Club Velocipedista do Porto”.


Desfile na Rotunda da Boavista dos participantes nas corridas de bicicleta, em 6 de Março de 1894





Provas velocipédicas, na Praça da Boavista, em 6 de Março de 1894



As “Comemorações do V Centenário do Nascimento do Infante” encerrariam, neste dia (6 de Março), na “Sala de Sessões” da Câmara, transformada em sala de banquete para 161 talheres, e a “Sala dos Retratos” em sala de fumo, onde tocaram, durante o repasto, as bandas de Caçadores 7 e Infantaria 7, sendo que, a guarda de honra foi prestada por um piquete de bombeiros municipais.
A ementa apresentada esteve dentro dos padrões daqueles tempos e daquelas ocasiões, servida pela “Confeitaria Portugueza” de Júlio Cascaes, aquela que lançou no Porto, o famoso bolo-rei.



Ementa do jantar de encerramento das comemorações de “5º Centenário do Nascimento do Infante D. Henrique”



Os diversos negócios associados às comemorações fizeram-se sentir na cidade.


“Os adornos, os enfeites ou meras recordações noticiam-se em anúncios sugestivos. O lenço do centenário, estampado pela Companhia Lisbonense de Estamparia e Tinturaria de Algodões, decalcava o desenho da bandeira do centenário que se vendia a 200 réis. Alfinetes comemorativos para senhora e para homem podiam comprar-se na Ourivesaria Reis. Os broches e alfinetes para gravata, em prata dourada e com a efígie do Infante, podiam adquirir-se nos grandes Armazéns Herminios onde se expunham ainda, em exclusivo, as bengalas e os guarda-chuvas com a gravura do homenageado em relevo. A Real Chapelaria Vapor satisfez a encomenda do rei D. Carlos de um chapéu henriquino e no Bazar Central expunham-se pratos de fantasia com o retrato do Infante”.
Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro, In “O Centenário Henriquino”



Moeda comemorativa do nascimento do Infante D. Henrique



O Hino do Centenário do Infante D. Henrique tinha poesia de Henrique Lopes de Mendonça e música de Alfredo Keil, autores do hino nacional “A Portuguesa”.


"Salvé! tu, Lavrador do infinito
Que rasgando oceanos profundos
Da ciência c'o germen bendito
Levantaste a seara dos mundos
Bendiz tua memória
A pátria ocidental
E solta a voz da História
Hosanna triunfal
Glória! Glória! a Portugal"



Bandeira do “V Centenário do nascimento do Infante D. Henrique”, com uma dedicatória da “Estamparia do Bolhão”


Durante os dias em que decorreram os festejos, as ruas primavam pelas ornamentações e a iluminação eléctrica ou a gás, produzia um efeito feérico, à noite.
Formaram-se comissões de moradores em quase todas as ruas do trajecto do cortejo cívico, que se empenharam nas decorações ao longo do percurso.
Entretanto, no que concerne ao monumento ao Infante D. Henrique, decorreriam mais de seis anos até ser inaugurado, sendo a estátua do infante sido fundida em Paris.


“Lavrou-se finalmente o despacho aprovando o contracto feito com o distinto escultor sr. Tomaz Costa, para a construção do monumento ao Infante D. Henrique.”
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 27 de Agosto de 1895 – 6ª Feira

“Ficou ontem completamente colocada a estátua «Fé». Na parte do monumento, que dá para a rua do Infante D. Henrique, foi também colocada a caravela”.
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 4 de Outubro de 1900


“Foi a cerimónia mais brilhante dos festejos, no dia 21 de Outubro, o acto da inauguração do monumento ao Infante D. Henrique.
O dia estava lindíssimo.”
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 23 de Outubro de 1900 – 3ª Feira


Mas, voltemos à corveta Estefânia e à descrição dos seus últimos momentos


Corveta Estefânia no Cais de Massarelos – Ed. Emílio Biel (1900)



«A nossa corveta que, como disse, tinha sido amarrada no Douro de forma a desafiar as maiores cheias, não pode resistir à sua má sorte. A cheia daquele ano [1909] foi a maior de quantas se têm visto, mas já o rio estava completamente limpo de embarcações e de navios que o ímpeto da corrente tinha arrastado, e ainda a Estefânia se aguentava no seu lugar por forma a deixar tranquilos aqueles que a guarneciam. Mas, no fim, quando o último vapor, partidas todas as amarras, ia pela água abaixo, procurando ainda resistir e endireitar-se manobrando com as suas máquinas, não o conseguiu e veio a toda a força lançar-se sobre a amarra principal da corveta, que imediatamente partiu. Depois já não havia acudir-lhe; os cabos da proa rebentaram um por um, o navio virou, começou a portar pelos cabos da popa, os quais foram sucessivamente estalando, e o navio, então, agarrado pela água, meteu ao eixo da corrente e seguiu rio abaixo. Como medida de prudência, a guarnição já tinha desembarcado e ainda se tentaram alguns esforços para o salvar, que nada deram. Os oficiais, embora sabendo que nada havia a tentar, foram, como a prolongar o adeus, acompanhando a pé ao longo da margem, esta marcha do abismo para o abismo. Um pouco depois da Cantareira, encalhou ele, fazendo nascer esperanças; mas estas duraram apenas segundos, findos os quais o navio seguiu para aquela temerosa embocadura que em dias de cheia e mau tempo é tão fantasticamente revolta que parece ocultar no seu seio alguma luta de monstros apocalíticos. E, efetivamente, ali se trava a luta monstruosa e titânica dos dois Hércules de fábula que são a corrente fenomenal, volumosa, rápida, horrível do rio engrossando precipitando-se sobre o mar, e a vaga alterosa do largo que, rugindo, é impelida pela fúria de um vento doido, avançando denodadamente a barrar-lhe a passagem. Mas o navio tudo transpôs serenamente.
Depois, veio a noite, que tudo tragou; e no dia seguinte, os primeiros alvores da manhã desvendaram à ansiedade de quem esperava, uma praia coberta pelos destroços de um grande navio de madeira. Tinha morrido a nossa Estefânia.
Esta magnífica madeira que o mar arrojou à praia, serviu depois para fazer os móveis que guarneceram a Escola quando definitivamente instalada em terra; e no fim, já depois de terem acabado estes serviços, ainda ali havia uma boa reserva dessas magníficas vigas. Era então segundo comandante um oficial extremamente económico, o qual em tudo poupava, até mesmo na lenha que os cozinheiros requisitavam para o seu mister, de forma que se veio mais tarde a saber que fora queimando magnífica madeira de teca, restos da corveta, que durante algum tempo se cozinhou o rancho dos marujos.
Assim como na Escritura se diz dos homens, em cinza se tornou aquele navio que tivera o nome da mais pura e amante das mulheres, por madrinha a mais excelsa rainha.”
Fonte: Óscar de Carvalho, revista “O Tripeiro” de 1952



Corveta Estefânia no rio Douro



“O vapor alemão Cintra partiu as amarras e foi chocar-se com a corveta Estephania, a qual seguiu desarvorada rio abaixo, indo encalhar ao norte no pharolim de Felgueiras, onde o mar a acabou.
Três dos tripulantes do Cintra pereceram nas ondas ao procurarem salvar–se n’um pequeno barco, o que cinco dos seus companheiros conseguiram.”
In ”Illustração Portugueza”, em 10 Janeiro de 1910


Em Fevereiro de 1904, durante mais uma cheia do rio Douro, a corveta Estefânia já tinha sofrido alguns danos com a intempérie, quando o iate "Modelo" partiu amarras e foi chocar com ela. Do incidente resultaram dois mortos do hiate e um outro tripulante do navio-escola.
Quem já não assistiu a este incidente, foi o comandante das corvetas Sagres e Estefânia e da Escola de Marinheiros do Porto, conselheiro Ferreira de Almeida, falecido em 5 de Setembro de 1902, bem como à vitória que no dia 12 do mesmo mês e ano obtinha a "palhabote" "Lia", propriedade da Rainha D. Amélia, na regata atlântica entre Leixões e Cascais.
Esta prova, com início no dia 11, sob escolta da canhoeira "Berrio", viu os concorrentes e a canhoeira citada a retornarem a Leixões, na sequência de um violento temporal que, entretanto, se levantou ao largo.
O "palhabote" "Lia", no entanto, dado como desaparecido, acabaria por fundear em Cascais e ser dado como o grande vencedor, vitória que repetiria em 1904.




Cheia na Ribeira, em Dezembro de 1909, com o "Mendonça II" encalhado – Ed.  Joshua Benoliel, In ”Illustração Portugueza”, em 10 Janeiro de 1910



Após a cheia de Dezembro de 1909, numa outra perspectiva do enquadramento da foto anterior



Aspecto da cheia de 1909 do rio Douro na marginal de V. N. de Gaia (Avenida Diogo Leite)



Destroços de embarcações junto do Posto Telegráfico da Cantareira – Ed. Illustração Portugueza”, em 10 Janeiro de 1910



Vapor “Nestor” encalhado à saída da barra do rio Douro



Destroços da corveta Estefânia na Praia dos Ingleses

terça-feira, 24 de setembro de 2019

25.64 Comemorações Henriquinas de 1894 e a Corveta Estefânia

Corveta Estefânia




Corveta Estefânia no Cais de Massarelos


A corveta Estefânia tinha o seu nome associado ao da jovem rainha, falecida em 1859, tendo tardado, apenas dois anos, para a partida do rei D. Pedro V, para o mesmo destino.


«Já no leito ardia com febre delirante. Em frente do palácio, fundeada no rio, a corveta Estefânia de espaço a espaço soltava um tiro - como o bater do relógio lúgubre da morte. E esses tiros, ouvia-os o rei, chamavam-no, excitavam-no, davam-lhe os desejos de acabar por uma vez com a vida miserável, para ir abraçar no céu a Beatriz do seu delírio. Se a voz dos anjos pudesse ser o troar dos canhões, não era ela que o chamava? Talvez; porque os tiros chegavam à câmara do rei, já brandos, como um eco, um murmúrio, e vinham do navio que tivera o nome dela - Estefânia!»
Oliveira Martins, In “Portugal Contemporâneo


Lançada à água em 1859, a corveta Estefânia viria a substituir, anos mais tarde, como navio-escola, a corveta Sagres (ou "Sagres I", para se distinguir dos navios posteriores com o mesmo nome), a partir de 1898.
A corveta Sagres I foi construída em 1858 e, em 1876, deixou de navegar, ficando ancorada no rio Douro, junto a Massarelos, tendo passado a funcionar como Escola de Alunos Marinheiros, até 1898, quando foi abatida e substituída, naquele local e com as mesmas funções, pela corveta Estefânia.
Uma outra Sagres (Sagres II) lançada à água em 1896 e outra do mesmo tipo, uma Sagres III, lançada à água em 1937, ainda estão ao serviço.
A Sagres II depois de várias peripécias está, actualmente, ancorada no porto de Hamburgo, funcionando como navio-museu e com o nome de “Rickmer-Rickmers”.
A Sagres III, construída em 1937 nos estaleiros da Blohm & Voss, em Hamburgo, na altura, recebeu o nome de Albert Leo Schlageter.
Tendo este navio sido capturado pelos Estados Unidos aos alemães na 2ª Grande Guerra, e depois de uma estadia pelo Brasil, em 1962, foi comprado por Portugal para substituir a antiga Sagres.
Passou, depois, a ser o navio-escola Sagres, ligada à formação dos futuros oficiais da marinha. 
Desde esse ano, tem feito viagens de instrução por todo o mundo, tendo sido sujeita a remodelações de modernização, em 1987 e 1991.



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A Sagres (III) ancorada junto da Ribeira do Porto, em 15 de Maio de 2023



Infelizmente, a corveta Estefânia já não está entre nós, pois, acabou por se afundar próximo do Farol de Felgueiras, à saída da barra do rio Douro, durante a cheia de 1909, percorrendo a últimas centenas de metros pelo rio, antes da saída da barra, já com a tripulação a salvo.
O seu porte majestoso foi fundamental para que fosse escolhida para ir em 1867, ao Egito, representar o país nas célebres e deslumbrantes festas da inauguração do Canal de Suez, mas, apesar de comandada pelo grande Baptista de Andrade, mais tarde, almirante e chefe da casa militar de El-Rei, desarvorou na viagem de ida, regressando a Lisboa sem ter cumprido a missão.
Um violento temporal obrigou a corveta a arribar com grossa avaria a um porto de Espanha.
Durante muitos anos, os portuenses habituaram-se a ver a Corveta Estefânia, com amarras, no Cais do Bicalho.
De notar, que não é ela, na foto abaixo, numa visita da família real para assinalar os 500 anos do nascimento do Infante D. Henrique (1394-1460).


Corveta Sagres integrada em cortejo fluvial, passando no Cais do Bicalho, durante as Comemorações Henriquinas de 1894, sendo que, foi a partir dela, que o rei assistiu aquele cortejo




Vista actual do Cais do Bicalho - Fonte: Google maps



Corveta Sagres fundeada em Massarelos (1886)




Diga-se, a título de curiosidade, que houve uma corveta, a “Corveta Porto”, construída em 1848, que foi o último navio construído nos estaleiros do Ouro. Em 1858, teve um grande incêndio, em pleno Tejo, pelo que foi abatida no ano seguinte.



Comemorações Henriquinas


Quanto às comemorações dos 500 anos sobre o nascimento do Infante D. Henrique, elas começaram no dia 1 de Março de 1894, mas o ponto alto das mesmas foi a 4 de Março, com o lançamento da 1ª pedra do monumento do Infante D. Henrique, na Praça do Infante.
Tudo tinha começado três anos antes, em 1891, aquando da visita do rei D. Carlos para inauguração da Exposição Industrial Portuguesa, realizada no Palácio de Cristal, e no decorrer da qual foi inaugurado a gruta e o lago daquele espaço.
Então, Eduardo de Sequeira (o jornalista e sócio da extinta Sociedade de Instrução), defenderia a realização da sempre adiada homenagem à memória do Infante D. Henrique, sugerindo a data do quinto centenário do nascimento que se aproximava.
Em sequência seria apresentado à Câmara, no ano seguinte, um requerimento no qual era solicitado que a edilidade promovesse os festejos.
Os signatários eram o já mencionado Eduardo de Sequeira, o padre Francisco José Patrício e o capitão de cavalaria Fernando da Costa Maia que, em face do deferimento do pedido passaram a integrar uma comissão organizadora do centenário do Infante D. Henrique.
Sobre as orientações do Presidente da Câmara, o conselheiro António Ribeiro da Costa e Almeida a comissão organizadora das comemorações seria alargada e passaria a ser constituída do seguinte modo.
Além dos três proponentes dos festejos já referidos, incluíam-se o presidente da Sociedade do Palácio de Cristal, o conde de Samodães, o jornalista e co-proprietário do Commercio do Porto, Bento de Sousa Carqueja, o professor do Liceu e poeta, Augusto Luso da Silva, e o comerciante da praça do Porto, Henrique Kendall.



“Nascido no Porto, em 1394, o Infante D. Henrique, foi o quinto filho de D. João I e de D. Filipa de Lencastre. 
O Papa Martinho V designou-o para as funções de administrador e governador da Ordem de Cristo, em Maio de 1420. Vinte anos mais tarde, fixa a residência perto de Lagos, rodeia-se de cientistas e navegadores e prepara as viagens marítimas com bases tanto quanto possível, científicas nessa época. 
Acompanha ainda D. Afonso V, na conquista de Alcácer Seguer em 1458 e morre dois anos mais tarde, em Lagos a 13 de Outubro de 1460, deixando efectuado o reconhecimento da Costa Africana até à Serra Leoa.” 
Fonte: “portoxxi.com/”



“Começaram ontem, 1 de Março, as festas oficiais comemorativas do centenário do Infante D. Henrique.
Logo de manhã a cidade aparece embandeirada. O movimento era desusado nas ruas mais centrais.
Ontem à noite, a título de experiência, houve iluminações em quase todas as ruas e em muitas casas particulares.”
In jornal “A Palavra”, de 2 de Março de 1894 – 6ª Feira


“A presença da família real, no Porto, nesta ocasião solene, tem uma alta significação, que oxalá desabroche em benefícios para a nossa pátria tão ufana hoje do seu passado glorioso e tão simpaticamente saudada de todos os pontos do globo".
In jornal “O Commercio do Porto”, de 2 de Março de 1894 – 6ª Feira



Chegada de D. Carlos à estação ferroviária de Campanhã, a 1 de Março de 1894, para as comemorações Henriquinas



A saudação na gare de Campanhã foi dirigida pelo presidente da municipalidade, António Ribeiro da Costa Almeida, depois de ser ouvido o Hino da Carta e sido proferido, nas diversas intervenções, uma recorrente alusão ao espírito patriótico dos portuenses.
Aquando da recepção no Paço das Carrancas, no dia 2 de Março, onde estiveram já presentes, oficiais ingleses do barco Bellona, que participavam nos festejos, o tema dos discursos versaria o espírito nacional da festa, a fidelidade à monarquia e o espírito patriótico do povo.
Dizia no seu discurso, João Henriques Andresen, presidente da Associação Comercial do Porto:


" (...) a vinda de VV. MM. ao Porto nesta ocasião reveste ainda um cunho da mais alta significação e apreço, pois que se propõem associar o trono às aspirações populares na brilhante comemoração de um dos mais ilustres e dignos filhos da nossa pátria (...)".



Durante os festejos, fez furor, na cidade, a fonte luminosa da responsabilidade de Emílio Biel, montada junto da igreja de Santo Ildefonso.
Na sua sede, no Palácio do Bolhão, a firma de Emílio Biel passou, durante cinco dias, a ter a fachada iluminada por um holofote. 
Um dos destaques das comemorações seria o desfile de um cortejo cívico, ocorrido a 3 de Março, que percorreu um programado itinerário através da Rua do Anjo, Clérigos, Praça de D. Pedro, ruas Sá da Bandeira, Formosa, Santa Catarina, Santo António, Largo da Feira de São Bento, Rua das Flores, Largo de S. Domingos, Rua Ferreira Borges até à Rua Alfândega Velha.
O desfile foi acompanhado por diversas bandas filarmónicas, enquanto que outras tocavam em coretos em pontos estratégicos do percurso. Foi o caso da "Philarmonica Cabeceirense", de Cabeceiras de Basto, que actuou no Largo de S. Domingos, dirigida pelo regente Faustino Pereira Camilo, escrivão de fazenda de Cabeceiras de Basto.
Compunha o desfile doze carros alegóricos, apresentando-se os prédios com as janelas e varandas, no seu percurso, devidamente engalanadas, bem como as ruas por onde passava.
 Abria o desfile o Carro Triunfal da Cidade do Porto — atrás, o Governador Civil e individualidades da cidade, a representação do clero, os militares, professores da Universidade de Coimbra, membros de múltiplas associações científicas e muitos representantes de profissões liberais.
Seguiam-se o Carro da Agricultura, Carro do Comércio, Carro do Atheneu Comercial, Carro da Indústria, Carro da Exposição Insular e Colonial, Carro dos Bombeiros Voluntários, Carro do Ginásio Lauret, Carro das Belas-Artes, Carro da Sociedade Alexandre Herculano, Carro de Navegação do Século XIV, Carro dos Empregados do Telégrafo, todos eles intercalados com membros de instituições diversas, operários, bandas de música e estudantes. Fechava o desfile o Corpo de Salvação Pública.


Carro alegórico da cidade do Porto



Carro da Agricultura



Cortejo de carros alegóricos, passando nos Clérigos, nas comemorações Henriquinas de 1894 – Fonte: Arquivo Histórico Municipal do Porto


Obelisco montado no Largo dos Lóios, em 1894, para as Comemorações Henriquinas – Fonte: Arquivo Histórico Municipal do Porto


Largo da Feira de S. Bento (Praça Almeida Garrett) – Fonte: Arquivo Histórico Municipal do Porto


Na foto acima é possível observar-se a igreja dos Congregados e o Convento de São Bento de Avé-Maria (local da actual estação de São Bento).
Junto da casa, onde se diz, que teria nascido o Infante, o rei D. Carlos descerrou a respectiva lápide comemorativa.
A cerimónia seria assinalada por girândolas de foguetes e pela música do Hino Nacional.


Casa onde dizem ter nascido o Infante D. Henrique, na Rua Velha da Alfândega – Gravura extraída da revista o “Occidente” de 11 de Março de 1894



Placa cravada sobre a porta, na Casa do Infante, e descerrada por D. Carlos, comemorativa do “V Centenário do Nascimento do Infante” 


“A tradição que relaciona o nascimento do Infante D. Henrique com este local levou ao descerramento de uma lápide sobre a entrada principal, no ano de 1894. A iniciativa partiu da Comissão Henriquina, à qual se associou a Câmara, tornando assim definitiva designação de “Casa do Infante”, atribuída ao edifício. No final de oitocentos inicia-se a última fase de transformações, que se prolongou durante as primeiras décadas do século XX. A fachada foi remodelada, sendo-lhe acrescentado um andar. A classificação da Casa do Infante como monumento nacional dá-se em 1924. No final dos anos 50. O edifício, cujo corpo posterior se encontrava arrendado voltou para a posse do Estado e da Autarquia. Entre 1958-1960 sofreu um profundo restauro, orientado pela Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais, sob direcção do arquitecto Rogério de Azevedo”.
Fonte: “Porto XXI”


O cortejo seguiria, depois, pelas ruas Infante D. Henrique, S. João, Mouzinho da Silveira, D. Maria, Largo dos Lóios, Rua do Almada até à Praça da Regeneração.



Quartel de Infantaria 18



Na foto acima observa-se a família real, à varanda do quartel de infantaria 18, no Campo da Regeneração (Praça da República), durante as Comemorações Henriquinas, em 3 de Março de 1894.
Neste local, os liberais em 24 de Agosto de 1820, proclamaram a Liberdade e a "salvação da pátria",  no que então era chamado de Campo de Santo Ovídio.


Campo da Regeneração com bancada em semi-círculo para execução do hino composto por Alfredo Keil, nas Comemorações Henriquinas de 1894 - Cliché da “Fotografia Santos” (Travessa da Fábrica, nº 32 - Porto)



Após o cortejo cívico, à noite, aconteceria o jantar que decorreu no Palácio da Bolsa e que esteve, segundo as crónicas, deslumbrante.
Para além daquele cortejo, ocorreria, na tarde do dia 4 de Março, um outro, neste caso, fluvial, com início na Foz do Douro, tendo como destino a Ribeira e, no qual, uma caravela quinhentista, construída para o efeito, transportou na parte terminal do trajecto fluvial, a primeira pedra para o monumento a ser erguido ao Infante D. Henrique, na praça que ganhou o seu nome.


Cortejo Fluvial em 4 Março de 1894 – Gravura de J.R. Christino da Silva, In Revista “O Ocidente” (11 de Abril de 1894, 17º ano, XVII Volume, nº 551)


A gravura acima mostra o cortejo dos barcos que acompanharam a caravela que levava a primeira pedra do monumento ao Infante D. Henrique.
Observa-se, em realce, a barra do Douro, a Igreja de Massarelos, o cortejo fluvial, o fogo-de-artifício e a torre dos jardins do Palácio de Cristal.
O texto a seguir do “Diário Ilustrado” descreve o cortejo fluvial.






A manhã desse dia tinha sido passada pela família Real ouvindo missa na capela do Colégio das Orfãs, a S. Lázaro, rezada pelo cardeal D. Américo, a que se seguiu, após o almoço, uma presença no Palácio de Cristal, para assistirem a umas corridas promovidas pelo “Real Velo Club do Porto”.
Pelas 15 horas, estavam a assistir ao desfile fluvial a bordo da corveta Sagres e, depois, presidiriam ao lançamento da 1ª pedra do monumento dedicado ao infante D. Henrique.
À noite, houve récita de gala, no Teatro S. João.


“Lançamento da primeira pedra do monumento ao infante a 4 de Março de 1894.
Veio do promontório de Sagres a bordo da canhoeira «Tavira». Fez-se a bênção sobre um altar levantado no centro da praça, ao lado da Rua Ferreira Borges.
SS. MM. Procederam à colocação da 1ª pedra.
El-rei recebeu o martelo da mão do sr. Vice-Presidente da Câmara de Lisboa e a colher da mão do sr. Presidente da Câmara do Porto.”
In o jornal “O Primeiro de Janeiro”, de 6 de Março de 1894 – 3ª Feira



“Se a cidade se coloriu e alindou para festejar o Infante e rememorar o ciclo da expansão e o gérmen do Império, também o rio Douro foi centro das atenções dos organizadores do centenário. "Efeito mágico" o do desfile dos vapores embandeirados (Veloz, Liberal, Galgo, Tritão, Águia, Lince, Tito e Flávio, Leão, Hercules e Ligeiro) que escoltavam a caravela quinhentista, expressamente construída, que transportava a primeira pedra, vinda de Sagres, para o monumento henriquino. O cortejo fluvial seguiu da Foz até à Ribeira, onde o esperava apinhada multidão. Tocou-se uma vez mais o hino do Infante. Em cortejo organizado com os membros da Câmara Municipal, os responsáveis do centenário, membros da imprensa, sócios do Club Fluvial, entre outros, foi conduzida a pedra fundamental para a Praça Infante D. Henrique. O Cardeal-Bispo do Porto, D. Américo, "lançou a bênção e o rei colocou a primeira colher de cal" na "pedra mandada extrair pela Câmara de Vila Boa do Bispo, do histórico promontório de Sagres, em 25 de Setembro de 1893".
Cortesia de Maria Manuela Tavares Ribeiro, In “O Centenário Henriquino”



Caravela quinhentista, similar à descrita no texto acima



Aspecto do Cais da Ribeira, no términos do cortejo fluvial, durante as Comemorações Henriquinas de 1894


A Ribeira no dia do cortejo fluvial, durante as comemorações dos 500 anos do nascimento do Infante D. Henrique, com a Sagres em lugar de destaque


Cerimónia do lançamento da 1ª pedra destinada ao monumento do Infante D. Henrique (4 de Março de 1894)



A comissão organizadora do centenário do Infante D. Henrique haveria de promover conferências em Lamego, Moncorvo, Viana do Castelo, Valença e Braga para dar a conhecer a figura do Infante D. Henrique, no âmbito da preparação dos festejos. Naqueles dias, largos milhares de cidadãos confluíram para a cidade do Porto, tendo sido vendidos 56 870 bilhetes de comboio com esse destino. As Câmaras Municipais enviaram delegações ou simples representantes para integrarem o cortejo cívico. O seu número elevou-se a 65 municípios de todo o país, dos quais 43 transportavam os respectivos estandartes.
Registou-se, assim, um significativo movimento de solidariedade com a Câmara Municipal do Porto, na qualidade de promotora das celebrações.
O jornalista Firmino Pereira, como relator das comemorações, deixaria tudo contado na sua obra “O Centenário do Infante D. Henrique”, Porto, Magalhães & Moniz-Editores, 1894.


 




(Continua)