sexta-feira, 30 de junho de 2017

(Continuação 22)


O Jardim de Arca d’Água, na Praça 9 de Abril, foi projectado por Jerónimo Monteiro da Costa e inaugurado em 1928. Apresentava então um lago e uma imponente gruta, bem ao gosto romântico da época. Na altura da sua inauguração, plantaram-se uma centena de plátanos a delimitar as largas alamedas laterais. Aquele projectista também desenhou outros jardins do Porto, tais como o da Boavista, do Infante, da Praça da República, do Carregal e de Carlos Alberto.
O jardim deve o seu nome às 3 nascentes de Paranhos (Arca d’Água ou Mãe d’Água) que foram o sustento de muitas fontes e chafarizes do Porto, até finais do século XIX.


Praça 9 de Abril em 1939 numa vista aérea


“Em 1919 o jornal O Primeiro de Janeiro lança uma campanha para que se faça uma piscina naqueles terrenos. Argumentava que a passagem de um manancial de água e, também se sugeria, que tal permitia fazer desaparecer um campo de futebol, mais ou menos improvisado, que ali existia.
Mas em 1921 nada se fizera, e o jornal “Sporting” retoma o problema, e faz uma resenha daquela iniciativa. Cita uma acta da reunião da Câmara, onde se diz que aquela construção teria valores elevados que a autarquia não dispunha, e que por isso iria ser apresentado um projecto de ajardinamento do local, tirando-o do aspecto de baldio que apresentava, incluindo nele um lago, que posteriormente poderia ser adaptado a piscina”.
Fonte: futebolsaudade-victor.blogspot.pt


Antiga gruta do lago da Arca d’Água

Gruta actual


Lago do jardim

Neste local, ainda um descampado, desenrolou-se a 7 de Fevereiro de 1866, no sítio da Mãe d’Água, um célebre duelo que ficou nos anais da história da cidade.
Luís Miguel Queiroz descreve-o da forma seguinte: 

“Em 1865, a imprensa da Universidade de Coimbra dava a lume um opúsculo intitulado "Bom-senso e Bom-gosto: Carta ao Excelentíssimo Senhor António Feliciano de Castilho". Antero de Quental, o autor da missiva respondia a dobrar às ironias que o patriarca das hostes ultra-românticas, o velho Castilho, ousara endereçar-lhe num posfácio que redigira para o "Poema da Mocidade", do então jovem escritor Pinheiro Chagas. Esta inofensiva troca de sarcasmos serviu de faúlha para acender uma violenta polémica, que envolveu boa parte das principais figuras literárias da segunda metade do século XIX. Camilo foi um dos saiu a terreiro a defender o poeta cego. E Ramalho Ortigão, que mais tarde se integraria plenamente na chamada Geração de 70, talvez influenciado pelo facto de ter tido Castilho como professor de Grego e Humanidades, não lhe regateou também a sua pena - e o seu braço, como veremos...-, repreendendo duramente Antero no seu "Literatura de Hoje". A ramalhal figura foi mesmo ao ponto de publicamente crismar de covarde o poeta das "Odes Modernas". Antero não gostou. E a coisa esteve para se resolver numa trivial pancadaria de rua. Mas chegado ao Porto para se esclarecer com Ramalho, Antero deu de caras com Camilo, que o persuadiu a desistir da cena de rua em favor de um duelo "comme il faut". Ramalho foi pois convidado a escolher as armas e optou pela espada, que manejava com reconhecida destreza. Antero, por seu turno, dirigiu-se a uma sala de esgrima para se inteirar das regras básicas da modalidade. Na manhã de 6 de Fevereiro 1866, paravam dois coches no largo da Arca d'Água. Apearam-se contendores e testemunhas e logo se deu início ao duelo. Foi uma coisa rápida, e pouco depois as viaturas voltavam a partir, levando, uma delas, um Ramalho combalido e de braço ao peito, a outra o impetuoso Antero, que não sofrera a mínima beliscadura”. 

Entre 1903 e 1916 realizava-se neste largo a grande feira de S. Miguel, vinda do Largo da Boavista.
Em 6/4/1922 o jardim passou a chamar-se “9 de Abril”, lembrando a terrível batalha de La Lys travada nos campos da Flandres, na Bélgica, em 1918 onde morreram muitos portugueses. Mas de tão antigo e entranhado é o nome de Arca d’Água que os portuenses é assim que lhe chamam.
Lembremos os nomes da Praça da República (Jardim Teófilo Braga), Cordoaria (Jardim João Chagas), S. Lázaro (Jardim Marques Oliveira) e outros de que ninguém se lembra do verdadeiro e actual, nome do jardim.
Segundo J. B. Correia Pinto (Toponímia Republicana), em 24 de Julho de 1924 por proposta dos moradores, a Rua da Bica Velha, em Paranhos, passa a designar-se por Rua Nove de Abril. 



Neste jardim encontra-se a escultura de Charters d’Almeida intitulada “A Família”, inaugurada em 1972.

quinta-feira, 29 de junho de 2017

(Continuação 21) - Actualização em 18/09/2018 e 26/03/2021


18.16 Praça da República e lugar de Germalde


Campo de Santo Ovídio

A Praça da República, que já foi Campo de Santo Ovídio, por no local existir uma capela desta invocação, nem sempre teve a configuração actual. 
O jardim, por exemplo, é recente e, após a implantação da República, foi denominado de Teófilo Braga.
A Praça da República resulta da execução do plano de urbanização da cidade, concebido por João de Almada e Melo, que determinava que no cabo da Rua do Almada se abrisse uma grande praça, para logradouro público.
A partir de 1797, essa praça seria limitada, a norte, pelo edifício do quartel de infantaria 18, construído por ordem do corregedor Francisco de Almada, filho do urbanizador.
Segundo o historiador Eugénio Andrea da Cunha Freitas, um edital camarário, de 28 de Outubro de 1835, determinou que o Campo de Santo Ovídeo passasse a ser Campo da Regeneração, invocando-se, deste modo, o pronunciamento liberal que naquele local teve início, em 24 de Agosto de 1820. 



Campo da Regeneração e festas do Centenário do Infante D. Henrique – In: Occidente 1 Abril de 1894  



Na Praça dos Ferradores (Praça Carlos Alberto) existiam umas estalagens, e o caminho que daí seguia por Arriba dos Ferradores (depois Campo de Santo Ovídio) e pelo Monte de Germalde (actual Lapa), levava os peregrinos no Caminho de Santiago de Compostela, passando ao lado de uma enor­me propriedade conhecida, nessa época, pela designação de "Casal do Padrão"



“Essa quinta, que era foreira à colegiada de Cedofeita foi emprazada, ou seja, alugada, em 1605, a uma tal Margarida de Carvalho.
Sessenta anos depois (1665), já se chamava Quinta da Boa Vista e pertencia ao Dr. João Carneiro de Morais, desembargador da Relação do Porto, que nela vivia e onde "instituíra e dotara de paramentos e alfaias" uma ermida da invocação de Santo Ovídio, perto do local onde desemboca hoje a Rua de Álvares Cabral, que antes se chamou Rua dos Pamplonas.
Ao lado esquerdo da capela, dizem-nos os documentos existentes no Arquivo Distrital, o dito desembargador "mandou fazer umas casas com seu quintal" para residência de um capelão.
Ora, foi nestas casas e capela de Santo Ovídio que, em data que se desconhece, se instalaram os religiosos descalços de Santo Agostinho”.
Fonte: Germano Silva



Na propriedade “Casal do Padrão” havia, então, uma capela dedicada a S. Bento e Santo Ovídio. Devido à sua situação privilegiada, num ponto alto, que proporcionava a apreciação de um extenso panorama que se estendia até ao mar, a propriedade passou a chamar-se Quinta da Boavista. Mas também era designada como a Quinta de Santo Ovídio, por causa de um dos padroeiros da capela. E, foi com este nome, que passou à posteridade.
A capela referida tinha anexo um pequeno hospício dos frades Eremitas Descalços de Santo Agostinho (grilos) que, em 1780, se mudariam para a Igreja de S. Lourenço, que fora da Companhia de Jesus, a qual foi por eles comprada, em prestações, à Universidade de Coimbra por 30 mil cruzados, e nela viveram até à extinção das ordens religiosas em 1834. A compra foi feita à Universidade porque foi a esta entidade que o Marquês de Pombal, após a expulsão dos jesuítas, em 1759, doou o antigo colégio dos padres da companhia.
A capela de Santo Ovídio ficaria, segundo a maioria dos entendidos nestas matérias, no lado poente da actual Praça da República, alguns metros antes do término, nesta praça, da actual Rua de Álvares Cabral que, por esses tempos, ainda não tinha sido aberta. À data, esses terrenos constituiam uma área do que viria a ser a futura quinta dos Pamplonas.



Imagem de Santo Ovídio



“Segundo as hagiografias do século XVI, Ovídio era cidadão romano de origem siciliana. A tradição afirma que foi enviado para Braga, Portugal, pelo papa Clemente I, onde foi o terceiro bispo no ano 95. Foi mártir pela sua fé cristã no ano 135. Está sepultado na Sé de Braga. É considerado o advogado das dores de ouvidos e dos maridos infiéis”.
A capela existente em Germalde e conhecida por capela de S. Bento e de Santo Ovídio, por ter estes dois santos como padroei­ros, fazia parte da enorme quinta da Boavista que em 1665 pertencia a João Carneiro de Morais e sua mulher, Helena de Araújo.
Ficava segundo alguns, na parte poente da actual Praça da República, mais ou menos onde agora começa a Rua de Álvares Cabral. 
Viria a pertencer aos Padres Agostinhos Descalços até 1787, onde terão construído um hospício.
Em 1787 a família Figueiroa comprou a referida capela, que seria demolida nos anos 90 do séc. XVIII.
A lógica obriga a pensar, que os Figueiroa ao destruir a capela, muito degradada, não o  tivessem feito senão para a reconstruir. 
Porém, em O Tripeiro Série V, Ano V, Vasco Valente mostra-se surpreendido com o facto, da capela ter sido destruída para a construção do quartel. (O texto está mais abaixo).
Como se pode concluir haverá duas versões da localização da capela. De acordo com o assento de casamento de Eça de Queiroz é referido: “Aos dez dias do mês de Fevereiro do anno de 1886….no oratório particular da Exmº. nubente…”.
Sobre aquele casamento, Artur de Magalhães Basto (O Tripeiro, Série V, Ano X escreve: “O casamento foi celebrado na capela particular da velha casa ou solar da grande e frondosa Quinta de Santo Ovídio”.
Poder-se-á perguntar: Será este “oratório” ou “capela” dentro da casa da quinta? Ou será a tal capela de Santo Ovídio?
Fica a dúvida…”
Com a devida vénia a Rui Cunha - portoarc.blogspot




Vasco Valente em Tripeiro, série V, ano V



No texto anterior, publicado pela Revista “O Tripeiro”, dá-se conta de uma outra teoria de localização para a capela de Santo Ovídio.
A demanda, explicitada no texto anterior de “O Tripeiro”, tendo terminado só em 1804, e tendo o quartel sido começado a construir em 1790, leva-nos a que nos inclinemos mais para a 1ª hipótese de localização da capela junto da entrada da Quinta dos Pamplonas e, se assim for, o Dr. Carlos de Passos não terá razão.
Sem certezas, é possível afirmar-se que após a compra da capela de Santo Ovídio efectivada por Manuel Figueiroa e executada a sua demolição, cerca de 1790, ela jamais terá sido reerguida e, por isso, o casamento do escritor Eça de Qeiroz não ocorreu nela.



Com um X está então assinalado o local onde teria estado a capela de Santo Ovídio, segundo a maioria das opiniões



Na planta acima: 1- é o Campo de Santo Ovídio; 2- a Rua da Boavista; Y- é a quinta dos Pamplonas.



Em 1605, o chão da actual Rua de Álvares Cabral era uma propriedade rural foreira ao Priorado de Cedofeita, de livre nomeação, em três vidas, pertencente a Salvador João, de Valadares, e sua esposa Margarida do Carvalhal.
Em 1665, a propriedade denominada como Quinta da Boavista, pertencia por testamento a João Carneiro Morais e a sua esposa Helena Araújo, que edificaram a capela de S. Bento e Santo Ovídio.
Em 1726, a Quinta da Boavista foi emprazada a João Figueiroa Pinto, Contador da fazenda do Porto, Doutor de Leis da Universidade de Coimbra e, mais tarde, como sua esposa (viúva) renuncia à renovação do prazo, ele passa a favor do filho Manuel Figueiroa Pinto, nascido em 1721, na Rua das Flores, fidalgo da Casa Real, alcaide-mor de Portel, Senhor de Porto Carreiro, contador da Fazenda Real na cidade do Porto, presidente do lançamento das sisas e Cavaleiro da Ordem de Cristo.
Era filho de João Figueiroa Pinto e de Antónia Joana de Azeredo Albuquerque (cit. Vasco Valente, revista “O Tripeiro”, V série, Ano V, nº 6, pág. 128-131).
João Figueiroa Pinto e Manuel de Figueiroa Pinto, pai e filho, valorizam a propriedade com a construção de uma casa apalaçada, rodeada de magníficos jardins, passando a propriedade a ser conhecida como Quinta de Santo Ovídio.
Esta família Figueiroa, até aí com residência na Rua das Flores, passará a residir em Santo Ovídio num palacete que mandam edificar.
A quinta da Boa Vista passou, a partir daí, a denominar-se quinta do Figueiroa, ou da Figueiroa, e, mais tarde, quando, por he­rança, passou à posse dos Pamplonas, to­mou o nome destes proprietários – Quinta dos Pamplonas
Em 1761, Manuel de Figueiroa Pinto arrendou o seu edifício, na Rua das Flores, à Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro, conhecida por Companhia Velha.
Em 1766, sabe-se que, no dia 20 de Março desse ano, o dom abade da Colegiada de Cedo­feita fez a renovação do prazo a Manuel de Fi­gueiroa, da "Quinta da Boa Vista, sita na Rua de Santo Ovídio, extra-muros da cidade do Porto, pegada ao hospício dos religiosos descalços de Santo Agostinho". 
Manuel de Figueiroa Pinto, falecido em 1775, não deve ter tido descendência, pois a Quinta de Santo Ovídeo vai parar às mãos de um seu afilhado Manuel Pamplona Carneiro Rangel Barreto de Miranda e Figueiroa (1774 - 1849), que virá a ser o 1º visconde de Beire.
Do matrimónio do visconde com Maria Helena de Sousa Holstein, para além de uma filha que faleceu em criança, tiveram os viscondes de Beire outras três que, pela sua formosura, ficaram conhecidas como as "Três Graças".
Em 1782, o Senado da Câmara do Porto inicia as expropriações para alargamento da Praça de Santo Ovídio sendo, então, a Rua da Boavista também aberta nos terrenos norte da Quinta.
A ampliação do largo que tinha sido Arriba dos Ferradores já tinha sido, porém, começada a fazer em 1761.
No Campo de Santo Ovídio, bem no meio, podia ver-se, em tempos, um poço que matava a sede a peregrinos e viajantes, pois, era esse caminho importante para rumar ao norte e, nomeadamente, a Braga.
Para cuidar do poço e para “o fabricar de todo o necessário” a Câmara pagava a um ferreiro 4$000 réis por ano, pelo S. Miguel, de Setembro. Porque a Câmara não pagou em 1783 ao então zelador de nome António Pinho, este protestou, e tendo visto o pagamento feito, viu também que a câmara, a partir daí, decidiu que aquela despesa não se justificava de futuro, pois, logo mais acima junto à Igreja de Nossa Senhora da Lapa existiam copiosas fontes para que os transeuntes se abastecessem.
Um dos primeiros grandes espectáculos, que tiveram por palco a nova Praça de Santo Ovídio, aconteceu em 2 de Junho de 1793, para celebrar o nascimento de uma nova princesa, Maria Teresa. 
A iniciativa foi do próprio João de Almada e Melo, que mandou mon­tar uma praça de touros no novo logradouro, "a mais bela e magnífica até então vista no reino", escreveu-se na época e, aí, realizou uma deslum­brante tourada de gala. Com a construção da pra­ça e os honorários aos toureiros gastaram-se 240$000 réis.



Monte de Germalde


Vizinho do Campo de Santo Ovídio existia uma elevação de terreno que hoje é o Monte da Lapa.
A este monte, desde tempos muito antigos, andava associado o topónimo Germalde, que hoje é completamente ignorado e que no passado era atribuído à tal elevação de terreno.
O nome de Germalde, teve origem na designação que, desde remotas eras, era dada a uma herdade ou casal que por ali existia. Para se avaliar da antiguidade dessa herdade ou quinta, basta dizer que o seu nome já em 1120 vem referido no documento de doação do couto do Porto, pela rainha D. Teresa, ao bispo D. Hugo. 
O Monte de Germalde era um lugar ermo e de muitos assaltos aos caminhantes e uma capela aí existente, no alto da elevação, era conhecida por capela do Senhor do Olho Vivo, esta denominação devida aos assaltos aí produzidos.
Segundo a tradição, a curiosa denominação do Senhor do Olho Vivo derivava de se recomendar aos caminhantes que tivessem “olho vivo”, para se defenderem dos ladrões que se acoitavam nas traseiras da capela, nesse lugar então solitário,“… lá em cima olho vivo…”.
O Dr. Eugénio Andrea da Cunha Freitas em seu livro “Toponímia Portuense” escreve que:
A capela do Senhor do Olho Vivo já existia junto do padrão velho de Santo Ovídio em 1755, quando se começou a edificar a igreja da Lapa. Sob o altar desta capela está ou esteve um cruzeiro datado de 1622 com as imagens de Cristo e de Santiago que dizem ter sido levantado por peregrinos indo a Compostela. Seria talvez o referido padrão velho de Santo Ovídio”.
O Engº. Monteiro de Andrade atribuía ao topónimo, outra origem:
“existia aqui uma casa onde esteve instalado um telégrafo óptico e, por tal motivo, chamavam-lhe sugestivamente o lugar do ”olho vivo”.
Hoje, numa elevação de terreno mesmo atrás da capela num cabeço, estão os restos de um moinho de vento que serviu de telégrafo, que foi posto importante de combate durante as lutas liberais devido ao seu posicionamento estratégico.
Em meados do século XIX, o moinho, situava-se numa quinta denominada de Salgueiros, por onde corria uma rua com o mesmo nome da referida quinta, no chamado lugar da Cova do Lobo, junto ao campo da Mó, "por detrás do Senhor do Olho Vivo".
Em toda aquela zona, o subsolo era sulcado por um abundante manancial cuja água, se­gundo um relatório da Câmara do Porto, de 1860, tinha origem "numa nascente localiza­da na Rua da Rainha" (a actual Rua de Antero de Quental) e que dali seguia, devidamente encanada, até ao sítio de Salgueiros, "por de­baixo da alameda da Lapa", onde se juntava ao manancial vindo de Paranhos.
A água de Salgueiros alimentava, entre outras, as fon­tes de Salgueiros, da Boavista, de Cedofeita, do Campo Pequeno, da Torre da Marca, das Oliveiras, de Santa Teresa e da Rua da Fábri­ca. 




Gravura do moinho que serviu de telégrafo - Desenho de Gouveia Portuense



Em 3 de Dezembro de 1859 deixou de funcionar o telégrafo óptico instalado na pequena casa junto ao moinho de vento, junto à capela do Olho Vivo, ao monte da Lapa.
Antes da invenção do telégrafo eléctrico, a transmissão das informações era feita por bandeiras de 3 panos, cuja posição relativa indicava uma letra, e que estavam colocadas na Sé, na Porta do Olival (ou no Palácio de Cristal), no monte de Santa Catarina e no farol da Senhora da Luz, conforme se vê na foto abaixo. Estes telégrafos ópticos de 3 bandeiras eram também chamados de 3 persianas ou de palhetas.
Habitualmente, alguns destes serviam para informar do nome do navio avistado, para que os respectivos agentes e comerciantes preparassem as mercadorias a exportar e estivessem aptos a receber as importações.




À esquerda, as três bandeiras (palhetas) junto do Farol da Senhora da Luz em 1858 - Ed. Frederick William Flower (prova actual em papel salgado a partir de calótipo)



Embora entre nós já houvesse conhecimento da telegrafia visual, foi com Wellington (1810/1811) que se estabeleceram as transmissões telegráficas visuais, entre as fortificações das Linhas de Torres e os seus flancos laterais, durante as Invasões Francesas. Teve esta tecnologia o seu apogeu na primeira metade do século XIX, com a invenção dos telégrafos ópticos ou semafóricos de Chappe (França), Murray (Inglaterra), Ciera (Portugal), entre outros, baseados em códigos próprios. 



Telégrafo Óptico de Chappe - Fonte: "doportoenaoso"



"Este sistema consiste na criação de uma rede de torres espalhadas pelos campos, sendo as mensagens transmitidas por um sistema de braços articulados pelo responsável pelo posto de manobra, graças a um conjunto de cabos e roldanas".
Fonte: doportoenaoso



Esta tecnologia seria maioritariamente substituída pela telegrafia eléctrica mas, com o aparecimento do código Morse foi de alguma forma reanimada com novos equipamentos: heliógrafos e lanternas de sinais, que transmitiam o código Morse. Na 1ª Guerra Mundial, funcionou como um importante meio de comunicações de reserva, sobretudo quando as linhas telefónicas e telegráficas eram cortadas pelos bombardeamentos. 
Para além do “Telégrafo de Bolas”, assim se denominava o sistema Inglês , os militares lusos sentindo a necessidade das tropas nacionais terem o seu próprio sistema, inventaram o “Telégrafo Óptico Português”: Francisco António Ciera e Pedro Folque, dois dos engenheiros militares portugueses desta época, desenvolveram os seus próprios sistemas nacionais. De menor alcance, mais baratos, mas mais eficientes, mais fáceis de usar e que imprimiam maior rapidez às comunicações . O sistema de Ciera utilizava um dicionário de 60.000 palavras ou frases.




Torre do Telégrafo da Lapa, actualmente - Fonte: "doportoenaoso"



A capela do Senhor do Olho Vivo ainda lá está, na actual Rua de Antero Quental. Nela ainda se pode ver dentro de portas o cruzeiro que encimava essa elevação de terreno e assinalava justamente o Caminho de Santiago e se chamava Padrão Velho de Santo Ovídio.
No princípio do século XX passou a denominar-se “Capela do Senhor do Socorro”.



Capela do Senhor do Olho Vivo



Padrão do Senhor do Olho Vivo



O padrão da foto acima, exibe na traseira a data de 1622 mas deve ser mais antigo. Erguia-se no Alto da Lapa, junto da primitiva capela para servir os peregrinos de Santiago.
Aquando da abertura, em 1842/43, da Calçada da Lapa e com o abaixamento do terreno para tornar a inclinação do mesmo, menos acentuada, a dita capela que ocupava o cimo do monte, veio ocupar o nível mais baixo do novo arruamento.
Por aqui, fazendo jus ao topónimo de Germalde, existiu a Quinta de Germalde.
Até 1583, era sua directa senhoria a Mitra e, o domínio útil, Dona Brites Pereira.
Por morte desta, em Setembro de 1583, sucedeu-lhe no prazo o seu irmão, o padre João Pinto.
Em 1679, ainda por enfiteuse, já o domínio útil tinha passado para Mariana Ferreira, casada com Jerónimo Ferreira moradores na Rua de S. Miguel.
Em Abril de 1704, já o enfiteuta era, após renovação do prazo, o capitão Manuel Ramos Silva.
Em 20 de Setembro de 1776, por renovação do emprazamento anterior, estava na posse de António Alves Rodrigues, que em 1785, alcançou licença do bispo D. Frei João Rafael de Mendonça para poder subemprazar a Quinta de Germalde, ficando ele senhor da primeira vida no prazo e, seu filho Manuel Alves Rodrigues, por dotação, senhor da segunda vida.
Como este Manuel não tivesse filhos, nomeou herdeira universal uma sua irmã (Custódia Gonçalves de Jesus), reservando o usofruto do prazo para sua mulher Maria Miranda de Jesus.
Por falecimento desta, em 1811, entrou em posse do prazo a referida Custódia Gonçalves de Jesus, sua cunhada.
Mais tarde, a Quinta de Germalde, que seria sucessivamente reduzida na sua área, uma fracção acabaria, na transição para o século XX, de acabar na posse de Maria Viana Megre Restier, viúva do notário Tomás Megre Restier.
Quanto à sua implantação no terreno, a Quinta de Germalde corresponderia, sensivelmente, à área compreendida entre as actuais ruas do Paraíso, Regeneração, Musas (Viela de Germalde), Bonjardim/Bairro do Leal e Travessa da Regeneração (Travessa de Germalde).
A actual Rua de Camões foi rasgada atravessando terrenos também da Quinta de Germalde.
Um dos primeiros edifícios construídos no Campo de Santo Ovídio foi o Quartel, que foi Regimento de Infantaria 18, começado a levantar em 1790.
O Quartel de Santo Ovídio foi construído por Aviso Régio de 20 de Fevereiro de 1790 da Rainha D. Maria I para albergar o 2º Regimento de Infantaria do Porto, que fora criado em 1762 e instalado nos celeiros da Cordoaria.
O referido quartel foi executado segundo um projecto do tenente-coronel engenheiro, Reinaldo Oudinot (1744-1807) e, a sua execução atribuída a Theodoro de Souza Maldonado (1759-1799) um arquitecto das Obras Públicas.
Sabe-se que pela morte de Souza Maldonado foi José Francisco de Paiva (1744-1824) nomeado “Architecto do Real Quartel de Santo Ovídio”, e que passou a acompanhar a construção do quartel até à sua conclusão por volta de 1805 ou 1806.




Quartel de Infantaria 18, na Praça da República


Nas traseiras do quartel, no Largo da Lapa encontramos a Igreja da Lapa.
Antes do majestoso templo ser construído, existiu no sopé do Monte de Germalde no sítio do Padrão Velho de Santo Ovídio a Capela de Nossa Senhora da Lapa das Confissões.
A devoção à Senhora da Lapa, que significa Senhora da Gruta, começou nesse local pela adoração de uma imagem da virgem colocada numa gruta onde existia uma nascente de água.
Um poço dessa nascente de água está hoje ao fundo da sacristia da actual igreja assinalado por um painel de azulejos que evoca a cena evangélica da Samaritana.
Essa nascente abastecia uma fonte situada junto ao quartel e que acabou por ser transferida para junto de um muro exterior do hospital da Lapa.



“O culto a Nossa Senhora da Lapa, aqui, no Porto foi introduzido entre nós, no sécu­lo XVIII, por Ângelo de Sequeira, cónego da catedral de S. Paulo, no Brasil. 
Nos começos de 1754, Ângelo de Sequei­ra encontrava-se em Lisboa onde ganhara fama de grande pregador. Trouxe-o para o Porto o governador das armas da cidade, D. Diogo de Sousa. Chegou nos primeiros me­ses de 1754 e uma das primeiras iniciativas que tomou foi a de mandar fazer uma ima­gem de Nossa Senhora da Lapa, de quem era fervoroso devoto. 
Depois de benzer a imagem, Ângelo de Sequeira pediu ao fidalgo D. Lourenço de Amorim, morador na Rua Chã, que a guar­dasse no oratório da sua casa, mas, logo a seguir, levou-a para a igreja do Convento de Santa Clara, onde ficou exposta à veneração popular, enquanto Sequeira diligenciava no sentido de conseguir construir templo pró­prio para a imagem de Nossa Senhora da Lapa. 
O sonho do missionário de S. Paulo come­çou a concretizar-se logo em janeiro do ano seguinte (1755), com o início das obras para a construção de uma capela exclusivamen­te dedicada a Nossa Senhora da Lapa. Os tra­balhos decorreram muito rapidamente, por­que foi grande o entusiasmo que se gerou em torno do projeto. 
Gente de todas as classes sociais - fidal­gos, comerciantes, sacerdotes, titulares, juí­zes, militares de alta patente e simples ho­mens e mulheres do povo - juntaram-se e, com o seu contributo pessoal, trabalhando nas obras ou dando esmolas, conseguiram, em menos de um mês, construir o essencial da nova capela. Em fevereiro de 1755, Ânge­lo de Sequeira já pôde celebrar missa no al­tar-mor do templo e, em março seguinte, organizou-se uma imponente procissão para a mudança da imagem da padroeira da Igreja de Santa Clara para o seu novo templo, que ficou conhecido por capela de Nossa Senhora da Lapa das Confissões. E aqui começou, verdadei­ramente, o culto a Nossa Senhora da Lapa. 
Um ano depois, o templo tornara-se pe­queno de mais para o número cada vez maior de fiéis que todos os dias aderiam ao novo culto. Pensou-se, de imediato, na construção de uma igreja e, em julho de 1756, iniciaram-se as obras. 
O novo templo começou a ser construí­do nas abas do monte de Germalde, tam­bém conhecido por monte de Santo Oví­dio, junto de uma fonte, num lugar ermo, considerado, então, arrabalde da cidade. O primeiro projeto foi riscado pelo arquiteto João Strobeíe e a primeira pedra foi colo­cada no dia 17 de julho de 1756. Mas as obras não avançaram. Esteve tudo parado durante três anos. Com efeito, foi só em 2 de julho de 1759 que as obras arrancaram, agora comum novo projeto do arquiteto José de Figueiredo Seixas. 
Vejam agora o que aconteceu em 1765, quando ainda se andava a construir a nova igreja, mas numa altura em que o número de devotos em torno do culto de Nossa Se­nhora da Lapa não parava de aumentar. 
Foi o caso que o pároco de Santo Ilde­fonso desse tempo, sob a alegação de que o novo templo estava a ser construído na área da jurisdição eclesiástica da sua paró­quia, reclamava o direito à administração do culto à Nossa Senhora da Lapa. O caso transformou-se numa demanda que du­rou anos. Acabou, no entanto, por ser fa­vorável à Irmandade da Lapa. 
Curiosamente, este pároco de Santo Il­defonso deve ter sido o mesmo que, por aquela mesma época, tentou embargar as obras de construção da Igreja dos Clérigos com o argumento de que, havendo já a de Santo Ildefonso, não fazia sentido cons­truir nova igreja na colina oposta àquela em que estava o templo paroquial. Ques­tão de concorrência? Vá lá a gente saber... 
No século XVIII, todo o espaço envol­vente da Igreja da Lapa foi urbanizado, mas a festa a Nossa Senhora da Lapa manteve-se inalterável pelo tempo fora, sempre no primeiro domingo do mês de maio”.
Com a devida vénia a Germano Silva



Em 1754, o Padre Ângelo Sequeira que pregava pela cidade do Porto com a intenção de construir uma capela em honra de Nossa Senhora da Lapa, veio concretizar esse desejo, ao construir a Capela de Nossa Senhora da Lapa das Confissões.
A Irmandade de Nossa Senhora da Lapa das Confissões foi instituída em 1755, a 29 de Julho, por bula papal do Santo Padre Bento XIV e, fruto das generosas esmolas dos fiéis, começou a construir-se a capela.
Dois anos mais tarde, a Mesa Administrativa da irmandade entretanto constituída, decidiu-se pela construção de uma nova igreja, segundo traça do arquiteto José de Figueiredo Seixas.
No dia 17 de Julho de 1756 foi começada a sua construção, arrastando-se a mesma, por mais de 100 anos, devido à escassez de recursos e às invasões napoleónicas.
A fachada da antiga capela ainda existe actualmente, "escondida" e "esquecida" nas traseiras do actual templo que a faz parecer minúscula.


Fachada da capela primitiva transladada para as traseiras da actual igreja

Capela primitiva no seu local inicial de instalação


Na foto acima pode ver-se a primeira Capela de Nossa Senhora da Lapa e das Confissões, no local do funcionamento do colégio da Lapa.
Ao lado da Igreja da Lapa, e no local onde esteve instalada a primitiva Capela de Nossa Senhora da Lapa, funcionou por autorização de 12 de Junho de 1792, uma escola precursora da instrução pública, que se transformou no Liceu de Nossa Senhora da Lapa ou Colégio da Lapa, e onde o escritor Ramalho Ortigão leccionou a disciplina de Francês.
Aliás, o escritor nasceu neste local na chamada Casa de Germalde.



“Na parte a nascente da igreja da Lapa, mandou a Irmandade construir um edifício para servir de seminário, onde se passaria a ministrar instrução gratuita aos filhos dos ir­mãos pobres. Durante guerra civil (1832/1834), mais propriamente durante o Cerco do Porto, os liberais de D. Pedro IV utilizaram as instalações do seminário para al­bergar soldados.
Os prejuízos causados por essa ocupação foram enormes. E como a Irmandade não ti­nha capacidade económica para fazer as obras de reabilitação, resolveu alugar as ins­talações para um colégio particular destina­do a rapazes, ao pai de Ramalho Ortigão”.
Com o devido crédito a Germano Silva


Nesta escola estudou Eça de Queiroz desde os seus 10 anos e, aí conheceu os seus futuros cunhados, que habitavam na Quinta de Santo Ovídio, bem perto do local.
O edifício do colégio acabaria, mais tarde, por ser demolido.


Aguarela da primitiva capela da Lapa e frontaria adjacente do colégio da Lapa


Voltando à igreja da Lapa de arquitectura ao estilo rococó e neoclássico, no seu coro-alto foi colocado, em 1995, um órgão de tubos da autoria do mestre-organeiro alemão Georg Jann. Trata-se do maior órgão da Península Ibérica. A 12 de abril de 2013, foi publicada em Diário da República a classificação da igreja da Lapa e do cemitério anexo como Monumentos de Interesse Público. Com a publicação do despacho do secretário de Estado da Cultura, Jorge Barreto Xavier, ficou definida também a área de salvaguarda deste monumento que abrange as ruas adjacentes e condiciona intervenções no respetivo casario à aprovação do Igespar.
No cemitério contíguo à igreja encontram-se sepultados os escritores Camilo Castelo Branco e Soares de Passos.
Voltando de novo à igreja da Lapa, na capela-mor, por trás duma pesada porta de bronze, está o coração de D. Pedro IV oferecido à cidade pela viúva a Imperatriz D. Amélia de Beauharnais, cumprindo o desejo do marido.
Sabe-se que o rei D. Pedro IV, horas antes de morrer, a 24 de Setembro de 1834, no palácio de Queluz, onde nascera, trinta e seis anos antes, chamou para junto de si a imperatriz, D. Amélia, a quem manifestou o desejo de que o seu coração, embalsamado, fosse entregue à cidade do Porto, em testemunho de reconhecimento pelos devotados sacrifícios com que os portuenses lhe haviam afirmado a sua dedicação durante o Cerco do Porto (1832 – 1833).
Como D. Pedro IV ia assistir à missa dominical e a outros actos religiosos na igreja da Irmandade da Lapa, foi aí que ficou depositado o coração, num sarcófago cuja chave está na gaveta da secretária do presidente da Câmara.
De 4 em 4 anos a porta é aberta, por funcionários da Câmara Municipal do Porto, de modo a poder substituir o líquido na jarra em que o coração está imerso.
D. Amélia de Beauharnais foi a quarta filha do general Eugênio de Beauharnais, e de sua esposa, a princesa Augusta da Baviera. Seu pai, Eugênio, era filho de Josefina de Beauharnais e do primeiro marido desta, o visconde Alexandre de Beauharnais. Quando Josefina se casou novamente com Napoleão Bonaparte, Eugênio foi adoptado como filho e feito Vice-Rei da Itália.
A princesa Augusta da Baviera, a mãe de Amélia, era filha do rei Maximiliano I, José da Baviera e de sua primeira consorte, a princesa Augusta Guilhermina de Hesse-Darmstadt.


Igreja da Lapa com uma só torre sineira


Com o quartel da Lapa em primeiro plano temos na gravura anterior, à esquerda, o Monte de Germalde. A gravura será anterior a 1867,pois, pelo menos a partir desta data, já possui duas torres sineiras, como se pode observar na gravura abaixo.


In Archivo Pittoresco, nº 4, 1867


Igreja da Lapa


Igreja da Lapa – Ed. Photo Guedes



A antiga Calçada da Lapa, que se pode observar à esquerda da foto anterior, teve que ser, em tempos, rebaixada. Por essa razão, as casas que agora têm entrada pela Travessa de S. Brás tinham as portas de entrada para aquela calçada. Hoje em dia, essas portas devido ao rebaixamento da via, são janelas.


Fruto do rebaixamento do terreno em que assentava a Calçada da Lapa,  muitas das portas dos prédios adjacentes tornaram-se janelas e as entradas passaram a fazer-se por uma ruela, nas antigas traseiras - Fonte: Google maps




Por outro lado, à direita da igreja, ainda se podem ver os edifícios que faziam parte do colégio da Lapa, onde estudou Eça de Queiroz.
Numa casa contígua ao Colégio da Lapa e conhecida por Casa de Germalde, nasceu Ramalho Ortigão em 24 de Outubro de 1836.


Alameda da Lapa em 1881


A Alameda da Lapa visível na foto acima, seria franqueada ao público no alvorejar do século XIX.
Nela, durante longos anos, em despique com os festejos do Bonfim e de Cedofeita, se efectuaram animadas festas ao S. João, com grande arraial e fulgurantes iluminações.
No leito da Alameda da Lapa, assenta hoje o edifício do Hospital da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, a quem pertence, desde 1925, o antigo terreno da alameda, parte dele ainda ajardinado como nos tempos primitivos.
A construção de um hospital foi uma das primeiras ambições da Irmandade de Nossa Senhora da Lapa, a qual, contudo, só foi possível materializar em 1902.
Foi no ano de 1900 que D. Luzia Joaquina Bruce fez saber à Mesa Administrativa a sua vontade de legar um prédio destinado a ser vendido, de forma a permitir a construção do edifício. A primeira pedra do hospital, edifício de inspiração neoclássica desenhado por Joaquim Pinto Basto, foi lançada em 18 de Agosto de 1902, aniversário do falecimento de João António Lima, em memória de quem, D. Luzia Joaquina Bruce quis que ele fosse erigido, e que foi inaugurado, com grande pompa, em 28 de Setembro de 1904. 


Hospital da Lapa


quarta-feira, 28 de junho de 2017

(Continuação 20)

18.15 Bom Sucesso

Aldeia do Bom Sucesso


Quando se planeou a construção do Mercado do Bom Sucesso, a fonte que se vê na foto anterior ao lado da capela, foi removida para o interior da quinta em meados do século XX, para se proceder a arranjo urbanístico da zona e, em 1982, o novo proprietário da quinta, Oswaldo Lopes Cardoso Rocha Ferreira, transfere-a para uma propriedade em Barcelos, encontrando-se actualmente numa quinta que pertenceu à família Rocha Ferreira, na freguesia de Martim em Barcelos, local onde foi recolhida junto com mais algum património escultórico, que a Quinta do Bom Sucesso possuía.  


Quinta do Bom Sucesso casa, capela e fonte


Fonte de Nossa senhora do Bom Sucesso em 1950 - Ed. Teófilo Rego; CMP, Arquivo Histórico Municipal


Vista actual do Bom Sucesso - Fonte: Google Maps


Traseiras da casa da Quinta do Bom Sucesso em meados do século XX


A Rua de S. Paulo ao Bom Sucesso em 1941


Casa e Capela na actualidade

O conjunto da Casa da Quinta do Bom Sucesso e Capela é um dos poucos exemplares de casas agrícolas do século XVIII, ainda existentes no Porto, em vias de classificação como Imóvel de Interesse Público pelo IGESPAR. localizando-se na proximidade da Rotunda da Boavista.
Esta quinta ia da Rua do Campo Alegre ao Cemitério de Agramonte e do Largo do Bom Sucesso à Viela do Friagem a actual Rua Arquitecto Marques da Silva e que foi também Viela do Friage.
A Quinta de Bom Sucesso era uma antiga propriedade rural dos arredores do Porto. No século XVIII e XIX, a cidade era ainda relativamente pequena (em comparação ao seu tamanho actual), e estava rodeada por propriedades rurais, pertencentes às grandes famílias do Porto. A maioria dos seus donos vivia em permanência em grandes mansões e palacetes na cidade. Eram fidalgos, burgueses e mercadores abastados que compravam essas quintas para veraneio e recreio. Por outro lado, era de muitas destas quintas que vinham os mantimentos para a cidade, as frutas e hortaliças vendidas nos seus mercados.
Esta quinta foi construída na primeira metade do século XVIII, por António de Almeida Saraiva.
A mais antiga referência à quinta é um registo, de meados do século XVIII, relativo a uma fonte, mandada fazer pelo proprietário, António de Almeida Saraiva, negociante, residente no Largo de São Domingos, que usava a quinta como casa de veraneio. Mandou erguer uma fonte de acesso público, que esteve junto da casa e que, hoje, já não se encontra nesse local. Sabe-se que tinha uma inscrição que nos chegou até hoje registada em papel:
“Esta fonte mandou-a fazer à sua custa no ano de 1748 António de Almeida Saraiva, senhor desta quinta, e cuja água dará ele e seus sucessores quando e na quantidade que muito lhes parecer. 1748, Nossa Senhora do Bom Sucesso.”
Uma imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso estava colocada num nicho que existia na frontaria dessa fonte que fi­cava ao lado da capela. Aquela personagem,

“ (…) era um dos muitos comerciantes e burgueses abastados da cidade, que utilizava a propriedade campestre para lazer.
Construiu uma boa casa, de desenho e linhas simples e levemente rurais, e ao lado, formando um L com a habitação, uma capela barroca, de desenho mais elaborado, que dedicou a Nossa Senhora do Bom Sucesso. E baptizou a quinta como Quinta do Bom Sucesso”.
Fonte: pt.wikipedia.org

“A capela, provavelmente, já existia no ano de 1704, porque num registo paro­quial de Cedofeita desse ano vem referi­do "o lugar da Areosa, junto à Senhora do Bom Sucesso". Lugar da Areosa que no re­ferido inquérito de 1758 é indicado pelo padre Manuel Brandão como a "aldeia da Arioza". A capela ganhou fiéis, e segundo as "Memórias Paroquiais de 1758", já tinha alguns devotos que vinham desde a cidade do Porto até à capela para orar e dirigir preces à imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso.
A quinta do Bom Sucesso passou, depois, da posse de António Saraiva, para a posse de D. Maria Angélica, filha de António Saraiva; a seguir, para um neto do primeiro dono, o desembargador António Pedro de Alcântara e Sá Lopes; e, posterior­mente pertenceria a um bisneto, António de Sá Lopes, também desembargador de profissão, que a habitava em 1840. 
Depois, foi vendida a um súbdito inglês chamado Diogo Franklim que, provavel­mente, por ser anglicano, descurou o cul­to da capela e a "romaria" dos devotos foi esmorecendo. Os últimos ocupantes da quinta foram o coronel Francisco Rocha Ferreira Júnior e suas filhas. Por esta altu­ra, já a propriedade fazia parte da fregue­sia de Massarelos. 
A Quinta do Bom Sucesso era enorme. Estendia-se por toda aquela vasta área que hoje fica entre as ruas do Campo Alegre, Bom Sucesso, Marques da Silva e Largo do Bom Sucesso. Além de terrenos de cultivo, pomares e hortas, a propriedade possuía também um belo jardim feito à moda francesa”. 
Com a devida vénia a Germano Silva


Mas o avançar da cidade não poupou a propriedade. Os tempos ditaram a sua venda e urbanização. Hoje, as terras ocupadas pela quinta, outrora cultivadas, estão sob o alcatrão e o cimento das ruas e edifícios do Porto urbano do nosso tempo, e da antiga propriedade restou a casa da quinta, e a capela pegada. Estas foram por sua vez incorporadas no arranha-céus de vidro do Shopping Cidade do Porto. Estão restauradas, mantiveram a sua traça original no exterior. A casa é hoje um restaurante-bar.
A capela onde era muito venerada a imagem de Nossa Senhora do Bom Sucesso era procurada para patrocinar todo o tipo de sucessos: suces­so num negócio; numa viagem; no casa­mento; ao jogo; na passa­gem para a outra vida. Era costume antigo os cortejos fúnebres, que se dirigiam para o cemitério de Agramonte, ali perto, para­rem junto da fonte a urna colocada diante da imagem de Nossa Senhora. 
A capela hoje foi reaberta ao culto, ao cuidado dos Missionários da Fraternidade Missionária Verbum Dei.
Em terrenos desta quinta do Bom Sucesso haveria de nascer em 1951 o Mercado do Bom Sucesso, que até aos dias de hoje passou por algumas modificações importantes.

Mercado do Bom Sucesso a dois passos da capela