terça-feira, 21 de abril de 2020

(Conclusão) - Actualização em 11/09/2020



Os escritórios da Régua da “Casa Ferreira” (1928), na Rua dos Camilos – Ed. Alberto Cerqueira; Fonte: Arquivo Histórico da Casa Ferreira



Após a morte de D. Antónia, em 26 de Março de 1896, o património vinhateiro da família ficou reunido nesse ano de 1896, na firma “A. A. Ferreira, Sucessores”.
Esta firma, em 1898, dá origem à “Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto” (sociedade anónima de responsabilidade limitada), conhecida também por “Casa Ferreirinha”, na qual os dois ramos de herdeiros, a casa de António Bernardo Ferreira III e a da condessa da Azambuja dominavam o capital, mas não dispondo da maioria dos votos.
Tudo isto advinha do testamento de D. Antónia, aliás, dos dois testamentos existentes.
Num primeiro, com data de 2 de Agosto de 1889, na parte respeitante à distribuição, da “Terça Disponível”(terça parte da herança) os dois herdeiros principais, os filhos, cuja “Legítima”(duas terças partes dos bens) foi por eles dividida integralmente (artº 1784 do Código Civil de 1867), seriam também contemplados numa determinada percentagem, para além de uma série de empregados, criados e instituições várias de bem-fazer.
No entanto, devido a heranças familiares (provenientes dos avós maternos e paternos) já acontecidas, verificava-se que a condessa de Azambuja tinha saído prejudicada, relativamente ao seu irmão, no que à “Terça” dizia respeito.
Por isso, seria feito um segundo testamento para remediar a situação, o qual teria como advogado e como escrivão, Francisco José d’ Azevedo Coutinho, a rogo da testadora.
Serão testamenteiros de D. Antónia Ferreira, os seus administradores, comercial e não comercial, António José Claro da Fonseca e Francisco Correia Cardoso Monteiro e Santos.
O período para implementação das determinações do testamento é fixado em dois anos.
A percentagem na “Terça”, atribuída aos dois herdeiros directos, seria gozada como usufruto, enquanto vivos, pois, à sua morte, a raiz passaria para os seus sucessores.
José Claro da Fonseca e Francisco José d’ Azevedo Coutinho farão parte da 1ª Direcção da firma, durante o primeiro ano e durante três anos de mandato, respectivamente.



D. Antónia Ferreira



Maria da Assumpção, filha de D. Antónia, tinha-se tornado condessa de Azambuja, ao casar em 12 de Maio de 1860, com Augusto Pedro de Mendonça Rolim de Moura Barreto, 3.º conde de Azambuja, filho do Marquês de Loulé.
Aquele casamento deu brado, na época, pela realização de principescos esponsais tendo o vestido e o véu da noiva custado a fabulosa importância de 30 contos de reis e a grinalda sido para ela executada pelo rei dos floristas de Paris, o não menos famoso transmontano Constantino de Sá e Melo.  
Do casamento, o casal viria a ter 12 filhos, quatro rapazes e oito raparigas, a última das quais, Maria Luísa vem a casar com o basco Ramon de Olazábal y Eulate, 2º conde de Arbelaiz y Oria.
Os primeiros anos da nova empresa são orientados por Wenceslau de Lima, filho da alta burguesia portuense e amigo íntimo do rei D. Carlos, que tinha casado com uma neta de D. Antónia.
Wenceslau de Lima, casado desde 1879, com D. Antónia Adelaide Ferreira, filha de António Bernardo Ferreira III, manter-se-á em funções, até ser convidado para chefiar o Governo, em 1909.
Sucederam-se várias intervenções na gestão da firma, com destaque para a acção do basco Ramon de Olazábal e outras intervenções na gestão dos negócios, por exemplo, nos anos 20, de Jorge Viterbo Ferreira e, depois, do seu filho Jorge Cabral Ferreira, bisneto e trisneto de Dona Antónia Adelaide Ferreira, respectivamente.
Jorge Viterbo Ferreira foi Presidente substituto da Câmara Municipal do Porto, Director do Instituto do Vinho do Porto e Presidente do Grémio dos Exportadores do Vinho do Porto.



Vinho do Porto (1830) - A. A. Ferreira, Succrs



Vinho do Porto (1877) da Companhia Agrícola e Commercial dos Vinhos do Porto – Sucessora de D. Antónia Adelaide Ferreira



Expositor da “Companhia Agrícola e Commercial dos Vinhos do Porto – Sucessora de D. Antónia Adelaide Ferreira”, durante a Exposição Agrícola e Industrial do Porto, no Palácio de Cristal, inaugurada por el-rei D. Carlos a 17 de Agosto de 1903







Sobre a vida de D. Antónia Ferreira muito mais há para contar.
Ao lado da sua actividade comercial, poder-se-ia também falar da que dedicou a obras de assistência social.


«As preocupações sociais de Dona Antónia ultrapassavam em muito o apoio concedido às famílias dos trabalhadores das suas terras e adegas, estando bem patentes no investimento feito na construção de quilómetros de estradas e de caminho-de-ferro na região, que chegou a dar trabalho a mais de mil operários, ou no seu contributo para a edificação dos hospitais de Peso da Régua, Vila Real, Moncorvo e Lamego, para além da ajuda à Misericórdia do Porto e a muitas outras instituições de solidariedade social. Ela enunciava, aliás, uma máxima elucidativa: "Cada um na sua terra deverá fazer tudo o que seja para bem da Humanidade"
Fonte: “istoedinheiro.com.br/”



Poder-se-ia referir, noutro âmbito, o caso que D. Antónia protagonizou, em 1854, quando fugiu com a sua filha para Inglaterra, para impedir os assédios do Marechal Saldanha (presidente do Conselho de Ministros de Portugal em 1835, entre 1846-1849 e 1851-1856 e, em 1870) que, à força, desejava que a jovem, apenas de 11 anos, casasse com um seu filho.
No ano anterior, ano da morte de seu pai, o seu filho António Bernardo Ferreira III havia casado com a irmã de Ana Plácido, casamento esse que não aprovou, tendo inclusive levado a tribunal o padre da paróquia da Vitória, que o celebrou.
Será este filho (agraciado a 12 de Agosto de 1854 com a comenda de Cristo), que integrando um bando a mando do Marechal Saldanha, vai tentar raptar a irmã.
Antes, uma comitiva do Marechal constituída pelo Conde de Saldanha (o pretendente à mão da menor), sua irmã, a Condessa de Tavarede e um primo, D. Rodrigo de Almeida, apresenta-se para negociar os termos do enlace, que D. Antónia rejeita. Em sequência, surge a hipótese do rapto.
Em 24 de Agosto, pelas duas horas da madrugada, começa a desenrolar-se a acção na Quinta de Travassos, mas naquela morada está, apenas, a avó da visada, Margarida Rosa Gil.
D. Antónia, sabendo atempadamente do que estava em marcha, havia fugido com a sua filha para a Régua, para a casa de Ana Máximo Silva Pereira. Daqui, foge para Lamego onde tenta o refúgio no convento das Chagas, o qual lhe será negado.
Depois de passar pela casa de um familiar de um administrador da Casa Ferreira na Régua, volta a casa de Ana Máxima.
Em 8 de Setembro, D. Antónia parte para Vila Real acompanhada por António José Claro, um seu gestor de confiança, Inácio Pinto Saraiva (administrador dos Tabacos em Vila Real) e pelo seu compadre Luís d’Araújo.
Ali tira o passaporte e é recebida pelo Governador Civil, partindo, logo que foi possível para Vigo, com escala em Ourense e seis dias de viagens.
Francisco José da Silva Torres, que virá a ser o segundo marido de D. Antónia, apresenta-se na Galiza e passa a acompanhar a mãe e a filha, partindo os três para Inglaterra em 20 de Setembro.
António Bernardo Ferreira, entretanto, seria nomeado “Adido às Embaixadas do Norte”.
D. Antónia regressa três anos depois a Portugal e, em 1856, contrai matrimónio com Francisco José da Silva Torres.
Em 1860, a filha Maria da Assumpção casa com o conde de Azambuja e, anos mais tarde, arrastará a sua mãe para as decisões dos tribunais, respeitante a uma querela de disputa de bens.
A morte e o funeral de D. Antónia Ferreira foram alvo de notícias relevantes nos jornais da época.
Sobre a morte de D. Antónia Ferreira, o jornal “A Voz Pública” de 28 de Março de 1896, um periódico republicano, transcrevia um artigo do jornal “O Comércio do Porto”.







Por seu lado o jornal “O Primeiro de Janeiro”, sobre o mesmo tema, diria:

“ (…) ao longo dos cerca de quatro quilómetros que o cortejo fúnebre percorreu entre a Quinta das Nogueiras e a Igreja da Régua, 30 mil durienses ladearam a estrada e ajoelharam à passagem dos restos mortais da "santa" e da "mãe dos pobres", como também era conhecida Dona Antónia Adelaide Ferreira.”
In jornal “O Primeiro de Janeiro”



Dos casamentos celebrados por D. Antónia Ferreira, pode dizer-se que o que teve com António Bernardo Ferreira (1812-1844) II, o seu primeiro marido e primo, foi interrompido muito precocemente.
Mercê de uma educação mais citadina, ele vivia a vida de um modo mais mundano, ao contrário dela que, com residência na Régua, tentava acompanhar os trabalhos agrícolas, nos quais se baseava o negócio da família.
A actividade de convívio social de António Bernardo Ferreira centrava-se em torno do prédio da Rua do Vilar, conhecido como Casa do arcediago Van Zeller que foi por ele habitado e onde foram levadas à cena várias peças de teatro e o palacete da Praça da Trindade (no local em que está hoje o Palácio dos Correios), começado a construir por ele e que, praticamente, não chegou a habitar. Neste palacete, fundou António Bernardo II, com o então Ministro da Fazenda, Manuel Gonçalves de Miranda, a Assembleia Portuense que ocuparia uma ala desse edifício, concluída em primeiro lugar.
Em 1838, António Bernardo Ferreira II, já havia comprado, em Liverpool, o navio Circassian a que dá o nome de Quinta do Vesúvio, que passa a disputar com o vapor Porto (que também lhe pertence) o transporte de passageiros entre Lisboa e Porto.
Em 8 de Julho de 1838, chegava ao Porto o “Quinta do Vesúvio”.


 NOVO BARCO DE VAPOR = QUINTA DO VESUVIO =
O BARCO Portuguez movido por vapor - Quinta do Vesuvio - acaba de entrar neste porto, para fazer a carreira usual entre esta Cidade e Lisboa - E como o seu Proprietario Antonio Bernardo Ferreira tenciona fazer huma viagem por prazer até o Mediterraneo, com escalla por Lisboa, offerece esta comoda occasião a qualquer pessoa que se proponha a aproveitar-se della, podendo dirigir-se ao Escriptorio da Agencia, Rua dos Inglezes N.º 17, 1-º andar, aonde se convencionaraõ as condições - A sahida será no Domingo 8 do corrente, ás 2 horas da tarde”.
In jornal “O Athleta”, de 4 de Julho de 1838; Cit. de Nuno Cruz



Em 1838, a firma dos Ferreirinha já estaria pela Rua dos Ingleses, nº 17 – 1º andar, como se vê no anúncio acima.
António Bernardo Ferreira II foi ainda accionista dos teatros S. João e Santa Catarina e ainda, do Warre Brothers, Banco Comercial do Porto, Banco de Lisboa, Companhia de Segurança, Sociedade de Pescarias Setubalense, Companhia de Artefactos de Seda, Algodão e Lã, Companhia de Seguros Bonança, Empresa Portuense de Navegação por Vapor, Companhia de Navegação do Tejo e Sado, Empresa do Vapor de Valença, Empresa da Estrada do Porto a Coimbra, Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro.
António Bernardo Ferreira investiu igualmente na imprensa, tendo pertencido á empresa do jornal "A Coallisâo'".
Dedicava-se, também, a empréstimos de capital, nomeadamente ao industrial Luciano Simões de Carvalho, que ficaria com grandes dívidas aos herdeiros de António Bernardo Ferreira que, mesmo assim, a sua fortuna, à data da sua morte, se cifrava em 650 contos.
O desenlace aconteceria em Paris, em casa do conde do Bonfim. Aliás, Paris e Londres tinham passado a receber frequentemente as visitas de António Bernardo Ferreira, que jaz sepultado no cemitério catacumbal da Ordem de S. Francisco, depois da transferência do seu cadáver, embalsamado, em Paris.
 
A família Ferreira foi ainda proprietária dos terrenos afectos ao Grande Hotel do Porto, na Rua de Santa Catarina e numa área em volta dele.



Palacete da Ferreirinha, em frente, na Praça da Trindade. À esquerda, a fachada da igreja da Trindade



Por sua vez, o casamento de D. Antónia com Francisco da Silva Torres, à data seu secretário, trabalhando no escritório da firma, na Régua, teria sido menos agitado.
Trocariam propriedades e após a morte dele, em 1880, foi ter às mãos de D. Antónia, para além de uma vasta fortuna, a propriedade das termas das Caldas do Moledo que ele administrava.
Então, D. Antónia mandou construir o palacete que serviu de residência a D. Luís I, na sua deslocação à região, ocorrida em 1881, deslocando-se num comboio especial, numa viagem pela linha do Douro, acabada de construir, com começo no Porto.





Palacete de Caldas do Moledo


Mandou também reformar todos os edifícios balneares e, na época termal, no Verão, escutavam-se nas redondezas o som das orquestras que no palacete actuavam.
Anos antes, ainda na primeira metade do século XIX, uma constante afluência de banhistas levaria à abertura da Estalagem de José Ferrador, junto ao ribeiro que vem de Fontelas.
Em meados do século XVIII, já o médico de D. João V atribuía às águas termais destas paragens, propriedades curativas.



Caldas do Moledo no “Caminho da Régua”, por onde iria passar, anos mais tarde, a Estrada Nacional (EN 108)



Com o desenvolvimento dos acessos,  Francisco José da Silva Torres, (2.º marido de Antónia Ferreira),  em 1863, compra as principais minas, até então nas mãos do arcediago da Sé de Braga,  João Joaquim Ferraz da Silva e do Conselheiro António Filipe de Sousa Cambiasso e por arrastamento a Quinta do Granjão.




Caldas do Moledo, perspectiva para poente


Caldas do Moledo e o seu Casino


Caldas do Moledo – Casino, Grande Hotel e, ao, centro o Palacete


Sobre a foto anterior:

“O complexo arquitectónico inclui o Casino, o Palacete e a Capela, curiosamente a disposição central do Palacete com acesso direito à capela, do seu lado esquerdo, e o Casino, à sua direita, como que simbolizando o equilíbrio situado entre a virtude e o pecado”.
Cortesia de Pedro Paiva


Sala de Jantar do Grande Hotel das Caldas do Moledo


No início do século XX, apoiavam as termas, o Grande Hotel, o Hotel Vilhena e o Petit Hotel.


Petit Hotel nas Caldas do Moledo


O Petit Hotel, na foto anterior, à esquerda, apresenta o telhado com as suas duas águas mais pronunciadas e encontrava-se mesmo de frente para o Grande Hotel.


À esquerda, ao fundo, a entrada para o Parque das Caldas do Moledo



Parque das Termas de Caldas do Moledo



“Caldas do Moledo contava ainda com um casino, um parque, três capelas particulares, uma farmácia, um talho, uma casa de artigos fotográficos, várias sapatarias, alfaiates, funileiros, relojoeiro, barbeiros, mercearias e estabelecimento de fazendas brancas (têxteis), estação de telégrafo-postal, estação dos caminhos-de-ferro e um cais – que serviam de ponto de acesso para a chegada de utentes das termas -, e mercado diário na época balnear.
Em 1923, os herdeiros da Ferreirinha venderam as Caldas ao Coronel Miguel Evaristo Teixeira de Barros”.
Cortesia de J. A. Almeida e “escritosdodouro.blogspot.com”


Em 1899, já os herdeiros de D. Antónia Ferreira, comercializavam a água das Caldas do Moledo, em Lisboa.


Publicidade à água engarrafada da Bica do Rio (Caldas do Moledo), In “Diário Illustrado” de 29 de Novembro de 1899



À esquerda, a Farmácia Pinho, nas Caldas do Moledo



Casa dos Banhos de Lama, em Caldas do Moledo



Piscinas em Caldas do Moledo



“Em 1969, já conhecedora das consequências da nova barragem, a Junta do Turismo inicia uma prospecção de águas dos caudais acima do nível da albufeira, para o efeito contrata os melhores especialistas nacionais e internacionais. Nesse mesmo ano o hidrogeólogo alemão Dr. Hartrun Seifert obtêm êxito com a técnica de sondagem, conseguindo salvar os mananciais hidro-minerais do rio para aproveitamento num balneário a construir e em substituição das piscinas submersas.
Em 1971, com a nova cheia, danificam-se novamente as instalações e construíram-se novas piscinas que foram inauguradas em 1982 e sobre o balneário termal da Lameira (baptizado Dr. João de Araújo Correia) foi edificado um complexo hoteleiro com 10 apartamentos de tipologia T1.
O projeto nasceu pelas mãos do arquitecto Moreira da Costa, e incluiu a construção para o novo balneário, a requalificação do parque, uma piscina de recreio e desporto, campo de ténis e mini-golfo e ainda um parque infantil.
Aquela pequena localidade que já havia superado cheias, inundações e incêndios, com a viragem do século,  depara-se com um novo desafio de proporções bem mais consideráveis, a Primeira Guerra Mundial viria a causar um grande impacto na segunda década do século XX, reduzindo sensivelmente para 50% da taxa de ocupação face à década anterior.
Até ao final da Guerra Civil Espanhola, o comboio que regulamente assegurava a ligação entre Porto e Madrid desde os finais do século XIX, deixou de assegurar essa ligação, pelo menos não com a intensidade que o havia feito antes. Foram mais de 20 anos com instabilidade nas comunicações férreas.
Em 1923, os herdeiros da Ferreirinha venderam as "Caldas" ao Coronel Miguel Evaristo Teixeira de Barros.
Como se não bastasse, com o surgimento da Segunda Grande Guerra, a afluência dos aquistas desce drasticamente e grande parte dos estabelecimentos fecha, a hotelaria ficou reduzida ao Grande Hotel e à pensão Borges que resulta da adaptação do Petit Hotel.
Referenciado pela última vez em 1931, o Balneário da Estrada encerra por desactualização das instalações e baixa frequência, encerra em 1954, passando a ser canalizadas as águas das minas que o abasteciam, para o Balneário da Lameira, no plano inferior.
Segue o exemplo dos Balneários da Estrada, o Grande Hotel, que acaba por fechar também passados poucos anos.
(…) O grande golpe aparece em 1962, o rio sobe ao nível do primeiro piso do Grande Hotel, engole as Nascentes do Rio, o Balneário de Lama, a sala de jantar, cozinha e dispensa do Grande Hotel, quando o nível do rio se estabelece fica a marca dos destroços, só as piscinas do rio resistiram à cheia.
Na época o proprietário das Termas, do Grande Hotel e da Quinta das Caldas, Tenente Coronel Teixeira da Mota, desolado decide desfazer-se do empreendimento e vende à junta de Turismo das Caldas de Moledo, principal interessada pelo novo impulsionamento da atividade.
(…) As nascentes do Grupo do Rio (30 do Rio e a Bica) acabariam por se extinguirem no ano de 1971,  com a construção da Barraguem do Carrapatelo,  ficam submersas definitivamente”.
Cortesia de Pedro Paiva, In “bussoladetempo.blogspot.com/”





Voltando à personalidade de Silva Torres, teria, também ele, uma vida ligada aos negócios.
Em 1873, subscrevia já os títulos do empréstimo nacional e investia em fundos estrangeiros. Em 1874, chegava a de Par do Reino, por Carta Régia de 16 de Maio e jurada a 11 de Março de 1875.
Em 1876, o nome de Silva Torres surge como um dos financiadores do Banco União, com mais de 260 contos de réis.
Diversificou investimentos, comprando imóveis como o Palácio Farrobo, em Vila Franca, casas em Murça e nas Caldas do Moledo, bem como armazéns no Douro ou prédios rústicos como a Quinta da Torre, casal de Moncorvo e vinhas. Em 1877, foi agraciado com a Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa.




A "Ferreira", na actualidade

Apesar de todas as vicissitudes, a “Ferreira”, depois de 1950, consolida a sua posição no mercado nacional, com o slogan: "Foi você que pediu um Porto Ferreira?”.
Em 1952, é lançado o primeiro Barca Velha, pelo seu criador, Fernando Nicolau de Almeida, um enólogo de referência que logo se torna a marca emblemática do vinho tinto português.
Nessa década, são adquiridas a Constantino e a Hunt Roope, empresas com presença nas áreas dos brandy e dos Porto.
Na década de 1960, a “Ferreira” acaba com todas as exportações de Porto a granel.
No final da década de 1980, a quinta do Vesúvio é vendida aos Symington, que entenderam fundar a “Sociedade Agrícola Quinta do Vesúvio” e tornar a Quinta do Vesúvio completamente independente do seu universo, sendo hoje é uma das maiores propriedades do Douro, com uma área total de 326 hectares, dos quais 133 são plantados com vinha.



Quinta do Vesúvio


Quinta do Vesúvio – Cortesia de “acidadenapontadosdedos.com/”



Por outro lado, a “A. A. Ferreira S. A.”, juntamente com algumas das suas quintas, passa a integrar o grupo Sogrape, após intensas negociações que envolveram o Governo, de modo a evitar a sua venda a estrangeiros.
A Sogrape adquiriu à “A. A. Ferreira S. A.” as marcas Porto Ferreira e Casa Ferreirinha, as Caves de Vinho do Porto em Vila Nova de Gaia e as quintas do Porto, Seixo e Leda.
Destas três quintas, a única que pertenceu a D. Antónia foi a do Porto, situada perto do Pinhão e sobranceira ao rio Douro, existente desde 1771 e adquirida por Dona Antónia Adelaide Ferreira em 1863. 
Apesar de aí nunca ter vivido, D. Antónia visitava muitas vezes esta quinta, chegando mesmo a estabelecer na Quinta do Porto um centro de estudo para o combate à filoxera.
A casa da Quinta do Porto foi completamente recuperada, mantendo intactos o mobiliário e ambiente de então.
Francisco Olazabal permaneceria na administração da “A. A. Ferreira S. A.”, integrada na Sogrape, durante mais alguns anos, fazendo a transição que se impunha.
Já nos anos 90, assiste-se à saída de Francisco Olazabal da empresa, para criar um projecto próprio numa das quintas emblemáticas de D. Antónia, o Vale Meão, pois tendo no negócio em que interveio a Sogrape, algumas quintas ficado excluídas dele, alguns descendentes de D. Antónia têm hoje as suas próprias quintas. Dois exemplos são a Quinta do Vale Meão e a Quinta do Valado.



“Em 1877 D. Antónia Adelaide Ferreira, já proprietária do maior património agrícola do Douro, comprou em hasta pública 300 hectares de terra virgem à câmara de V. N. de Foz Côa. O seu sonho era de construir, a partir do nada, uma exploração modelo, concretizando nela toda a vasta experiência acumulada ao longo da sua vida de empresária duriense.
(…) Desde então, a quinta manteve-se sempre na posse dos seus descendentes. A partir dos anos 70, o seu trineto Francisco Javier de Olazabal assumiu a sua gestão e iniciou um longo processo de aquisição de partes indivisas dos seus familiares e comproprietários e, em 1994, tornou-se juntamente com seus filhos, único proprietário da Quinta.
Até então, as uvas da Quinta eram vendidas á empresa A. A. Ferreira S. A., fundada pelos descendentes de D. Antónia, e estavam na base de alguns dos seus melhores vinhos.
Essa ligação continuou até 1998, ano em que Francisco Javier de Olazabal decidiu renunciar ao cargo de presidente de A. A., Ferreira S.A. para se dedicar juntamente com seu filho enólogo Francisco de Olazabal y Nicolau de Almeida, à produção, envelhecimento e comercialização dos vinhos da quinta, através da criação da sociedade F. Olazabal & Filhos, Lda.
Hoje Francisco, Luísa e Jaime estão ligados à gestão da empresa, cada um o seu papel, e partilham a mesma paixão pelo vinho. De uma vindima à outra respeitam a tradição e mantêm a mente aberta à inovação. Toda a família Olazabal imprime o seu entusiasmo e contribui para perpetuar o projeto de D. Antónia de tornar a Quinta do Vale Meão uma Quinta modelo no seu próprio tempo”.
Fonte: “quintadovalemeao.pt/”


Para o desenvolvimento da Quinta do Vale Meão, D. Antónia apostou na conclusão da linha de caminho-de-ferro do Douro que, em 1877, tinha apenas chegado a Penafiel.
Só 10 anos depois, o comboio chegou finalmente ao Pocinho, a cerca de 3 kms da quinta.
Para administrar a Quinta de Vale de Meão, foi designado António Claro, o antigo gestor e companhia de anos.
Actualmente, a “Ferreira” não é uma empresa autónoma, mas, apenas, uma unidade de negócios no seio da Sogrape.
Ainda assim, as suas marcas são fundamentais para a estratégia do grupo liderado pela família Guedes.
Pelo valor que gere, mas, talvez ainda mais, por serem consideradas por parte da crítica e do mercado, como próximas da excelência.
A Sogrape, detentora da “Casa Ferreira” e maior empresa portuguesa do sector, tem hoje operações na Nova Zelândia, Argentina e Chile.



“Vale a pena recordar que a empresa produziu 26 mil garrafas de Barca Velha de 2000 ou 19 mil do Reserva Especial de 2003, uma quantidade que alguns concorrentes de menor dimensão gostariam de dispor para as suas marcas de gama média. E além destas funções, a integração da Ferreira na Sogrape, consumada em Dezembro de 1987, fez com que a empresa assumisse a gestão de todo o portefólio de marcas baseadas nos vinhos durienses. O que inclui além do Vila Régia e do Planalto (que vale 1,5 milhões de litros vendidos por ano), as diferentes gamas de vinho do Porto da Sandeman e da Offley Forrester”.
Fonte: “fugas.publico.pt/vinhos”

segunda-feira, 20 de abril de 2020

25.89 “Casa Ferreira” e D. Antónia


Criada por uma família de viticultores com origens no lugar da Torre, freguesia do Loureiro, concelho de Peso da Régua, em 1751, a “Casa Ferreira”, uma empresa familiar, possui uma tradição riquíssima e um papel proeminente na história do Vinho do Porto.



Papel de carta da “Companhia Agrícola e Comercial dos Vinhos do Porto”/ “Antiga Casa Ferreirinha” (fundada em 1751) – Cortesia de Francisco dos Santos (“fringosa.blogspot.com/”)



Em 1756, o Marquês de Pombal ameaçou prender e expropriar os agricultores do Douro que não cuidassem das suas terras.
Como resultado do ultimato, acabam por romper muitas e belas vinhas, pelo Douro.






Nas adegas de Covinhas, em Godim, da qual era proprietário ou no Romezal, José Ferreira registava a posse de tonéis de vinho, ainda no século XVIII.
Este proprietário e viticultor acaba por ver a sua vida ceifada, aquando das invasões francesas, junto da fonte de Covelinhas, no Peso da régua.
José Ferreira tombou fuzilado por soldados de Napoleão, ao responder-lhes a uma interpelação, num francês impecável e que eles julgaram tratar-se, por isso, de um desertor. É assim, que reza a lenda, mas o mais certo é ter sido, como tantos outros, um opositor aos ocupantes.
Teve onze filhos, entre eles, o José (1782-1853) que virá a ser o pai de D. Antónia Ferreira e o António (1787-1835), que será o tio e futuro sogro daquela.
Desaparecido o patriarca, serão aqueles dois filhos que irão gerir o negócio da família.
Em 1812, António Bernardo Ferreira I (que passará a ser assim designado) abre, na Rua da Ourivesaria (já desaparecida), o escritório da Casa Ferreira, no Porto, quando, alguns anos antes, em 1804, já tinha de sociedade com o sócio Cristovão de Oliveira, com o qual constituiu uma firma de comércio de produtos têxteis e cutelarias.
Em 1826, é de facto, segundo documentação do Arquivo Histórico Municipal do Porto, para aquela rua que ele solicita umas obras para um prédio.
No Porto de início do século XIX, quando António Bernardo I adquire o prédio na Rua da Ourivesaria, as condições de habitabilidade das residências que se lhe assemelhavam, tinham uma ocupação tradicional. Assim, o escritório dos Ferreira situava-se no rés-do-chão, havendo também uma cave e um armazém.
O 1º e o 2º andar abrigavam as residências reservadas a António Bernardo I e ao irmão, José Bernardo, o pai de D. Antónia, quando este se deslocava à cidade.
O 3º e o 4º andar destinavam-se ao administrador e demais serviçais dos dois irmãos e da firma.
Por sua vez, as refeições principais, como nos dias de hoje, eram três, mas com outras denominações.
O almoço  tinha lugar entre as 7 e as 9 horas da manhã e corresponderia, hoje, ao nosso pequeno-almoço.
O jantar era por volta das 12 horas, no que hoje é o nosso almoço.
A terceira refeição era a ceia, actualmente, o nosso jantar, a partir do anoitecer até às 20horas, no Inverno e, no Verão, até às 21horas.
Em 1818, António Bernardo Ferreira I, compra a quinta que era propriedade dos Taveira de Magalhães, a Quinta do Vallado.
Entretanto, em 1819, José Bernardo Ferreira, deu início a uma outra sociedade com o sogro, tendo fundado a Sociedade Pedro Gil & Ferreira  para negociar diretamente com George Sandeman e começa a passar mais tempo na cidade do Porto a tratar dos diversos negócios.
Por sua vez,  António Bernardo Ferreira I, em 1820, com ligações privilegiadas na Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro e com boas ligações políticas aos liberais (cortes vintistas), toma o Hábito de Cristo e o título de Fidalgo da Casa Real.
Em 1823, António Bernardo Ferreira I que tinha um faro comercial, digno de registo, adquire a Quinta do Vesúvio, na freguesia de Numão, concelho de Vila Nova de Foz Côa, distrito da Guarda.
Há menções da Quinta do Vesúvio em registos históricos tão antigos, como os que datam de 1565, embora com outra denominação. 



“A Quinta do Vesúvio – cujo nome original era Quinta das Figueiras – tem a sua história documentada até 1565, data em que Gaspar de Soveral vincula parte dela a uma capela sua de Sernancelhe. Nesse mesmo ano, a outra parte era adjudicada às três filhas de Martim de Távora, por falecimento deste, tendo sido vendida a Pedro de Soveral em 1587. Em 1692, a quinta volta a surgir no inventário realizado por morte de João de Soveral de Carvalho”.
Cortesia de Paula Montes Leal (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)


A Quinta das Figueiras foi então adquirida por António Bernardo Ferreira I, ao Conde de Lapa, Manuel de Almeida e Vasconcelos, a título de emprazamento perpétuo, em 1823.
O nome da quinta terá sido alterado para Quinta do Vesúvio em 1830.
António Bernardo Ferreira I abandona o cultivo de cereais, constrói socalcos, estradas, edifícios agrícolas e planta vinha em toda a extensão da quinta. Em 1835, a casa fica pronta e António Bernardo Ferreira morre. 
Por morte de António Bernardo Ferreira I, em 25 de Janeiro de 1835, a quinta é herdada pelo seu filho, António Bernardo Ferreira II (1812-1844), que havia casado com sua prima, D. Antónia Adelaide Ferreira, em 22 de Outubro de 1834.
Entretanto, a viúva, Josefa Gertrudes, contratará Joseph James Forrester para a ajudar a resolver os assuntos de natureza financeira e a gerir do melhor modo a herança.


Em 1847, a quinta ainda é foreira e sabe-se que, entre 1850 e 1856, António Mayer Júnior é o senhorio do foro do Vesúvio.
Em 1868, D. Maria Clementina de Lima Mayer compra o domínio directo ao Conde da Lapa.
A partir de então, o foro da Quinta do Vesúvio passa a ser pago a Augusto de Lima Mayer.



D. Antónia Ferreira, na juventude


Sendo, naqueles tempos, o rio Douro a via mais acessível para aceder à Quinta do Vesúvio e não estando o caudal do rio regularizado (longe disso), há dois acidentes que se assinalam na demanda da propriedade.
Um deles ocorre, em 1824, tendo sido protagonista António Bernardo Ferreira I, que escapou ileso e um outro, num passeio encetado, muitos anos mais tarde, até à Régua, com outros protagonistas, e que teve um fim abrupto no Cachão da Valeira.
Neste, em 1861, pareceram no naufrágio da embarcação, o barão de Forrester, a sua cozinheira Gertrudes e outros criados, tendo-se salvo D. Antónia Ferreira e o seu segundo marido, Francisco Silva Torres (1804-1880).



Cachão da Valeira no fim do século XIX – Ed. Emílio Biel



D. Antónia acabou por ser muito próxima do barão de Forrester, outra figura marcante no Douro, responsável pelos primeiros mapas dos vinhedos desta região, também viticultor e estudioso das soluções contra as pragas que atacavam as vinhas.
No que diz respeito àquele acidente, Camilo Castelo Branco lamentaria, sobretudo, a morte daquela cozinheira que tinha trabalhado no restaurante Estanislau, na Praça da Batalha e, cujos cozinhados faziam as delícias do escritor.
Recuando uns anos e voltando à actividade de António Bernardo Ferreira I, por volta do início da década de 1830 confirmam-se, na narrativa seguinte, as qualidades comerciais da personagem.


“  No Peso da Régua, por volta de 1830, António Ferreira toma um rabelo rumo à foz do Douro. Desembarca em Vila Nova de Gaia, na margem esquerda, e que fica em frente à cidade do Porto (margem direita). Praticando preços bem inferiores aos do mercado, António Ferreira vende facilmente os armazéns da sua família instalados em Gaia, também as centenas e centenas de pipas de vinho generoso ali guardadas. Recorde-se que era da foz do Douro que partiam para o Reino Unido (país dos grandes clientes) navios e mais navios carregados com pipas do chamado vinho do Porto que afinal era produzido nas encostas do Douro.
Quem muito protestou contra o negócio realizado por António, foi José. Mas quando, passados poucos meses, por causa da Guerra Civil, os armazéns de Gaia são assaltados, o vinho é derramado para o Douro e a barra do Porto fica bloqueada, José dá o dito por não dito e acha que foi genial a iniciativa do irmão. Com o dinheiro realizado os Ferreiras compram o vinho de todos os vizinhos e, em sucessivas caravanas de carros de bois, tratam de transportá-lo para a barra da Figueira da Foz (rio Mondego). Dali exportam-no para o Reino Unido, como dantes tinham feito a partir da barra do Porto. Excelente negócio! Mais rica e poderosa fica a família…”
Cortesia de Fernando Correia da Silva (In “aviagemdosargonautas.net/”)


Naqueles tempos já se fazia, há anos, a ligação entre o Porto e o Peso da Régua, em barcos, como se noticia abaixo.


“Barcos de Carreira para a Régua todas as 4ªs às 10h e da Régua ao Porto às 2ªs.”
In “Periódico dos Pobres no Porto”, p. 348, de 11 de Abril de 1839


É, no entanto, D. Antónia Adelaide Ferreira, conhecida também como D. Antónia, “Ferreirinha” ou “Ferreirinha da Régua”, nascida em 1811, na Régua, quem vai dar o impulso para que a empresa se torne centenária e de referência no sector dos vinhos.
Tendo D. Antónia, sido casada em 1834, com o seu primo direito, António Bernardo Ferreira II, acaba por herdar, face à morte prematura deste, uma fortuna que compreendia todo o património acumulado pelos dois ramos dos Ferreira da Régua, desde 1750 até 1844.
Deste casamento, o casal tem dois filhos, a menina Maria d'Assunção, mais tarde Condessa de Azambuja, e um rapaz a quem deram o nome do avô e do pai – António Bernardo Ferreira III (1835-1907). Uma outra menina morre, precocemente, com 5 anos de idade.
D. Adelaide Ferreira, viúva aos 33 anos de idade, faria um segundo casamento, em 1856, em Londres, com Francisco da Silva Torres, o seu secretário, falecido em 1880 e que trabalhava para a família, no escritório da Régua, desde 1835.
Em 1844, Silva Torres era o guarda-livros, dos escritórios do Porto, da Companhia do Tabaco, Sabão e Pólvora.



“D. Antónia herdou a Quinta do Vesúvio tendo-lhe dedicado igual interesse e continuando a alargar a propriedade, mesmo após o seu casamento com Francisco da Silva Torres como, por exemplo, em 1858, quando D. Antónia e Silva Torres trocam montes no Vesúvio. Os vinhos do Vesúvio – que não estavam incluídos nas demarcações de 1756 – participam em 1873 na Exposição de Viena. D. Antónia também experimentou a produção de azeite na Quinta do Vesúvio onde, em 1885, é construído novo lagar de azeite (em 1849, D. Antónia manda plantar no Vesúvio e em Vargelas 1.000 pés de oliveira), assim como a criação de bicho-da-seda também na mesma quinta que, contudo, acabará por fracassar em 1868. Em 1883 haverá expropriação de terrenos da Quinta do Vesúvio (assim como de Arnozelo e de Vargelas) para a construção do caminho-de-ferro; em compensação, Vesúvio e Vargelas passam a ter estação própria”.
Cortesia de Paula Montes Leal (Faculdade de Letras da Universidade do Porto)



Seria a paixão de D. Antónia pelas vinhas e pelo Douro, o enorme sentido de oportunidade comercial, que a levou a acumular vinhos antes das grandes pragas das videiras do século XIX, o oídio e a filoxera, para depois os vender com largas mais-valias, em períodos de carência ou, ainda, o seu “faro empresarial”, que a tornaram uma das pessoas mais ricas de Portugal, no século XIX.
A administração da Quinta do Vesúvio virá a centralizar, também, as atinentes ao Casal de Arnozelo, Casal do Ourosinho, Quinta da Coalheira, Quinta de Porrais e Quinta de Vargelas, propriedades integrantes da organização da “Casa Ferreira”.
Algumas destas quintas acabarão, com a passagem dos anos, por irem parar à mão de outras famílias.
De notar, que a Quinta de Porrais, localizada na freguesia de Candedo, concelho de Murça, distrito de V. Real, acabará por ser herdada por António Bernardo III (casado desde 1852, com Antónia Cândida Plácido Braga, irmã de Ana Plácido e, entre 1859 e 1867, presidente da então Associação Industrial Portuense, que hoje se denomina de Associação Empresarial de Portugal) e, depois, pelo neto de D. Antónia, o capitão António Bernardo IV.



Quinta do Vesúvio no final do século XIX – Ed. Emílio Biel



Quinta do Vesúvio



Segundo a biografia de D. Antónia, escrita pelo historiador Gaspar Martins Pereira e Maria Luísa Olazabal, quando morreu, aos 84 anos, em 1896, na sua Quinta das Nogueiras, na Régua, D. Antónia deixou aos seus dois filhos e 18 netos, uma fortuna colossal, avaliada em 5.907.323 mil réis.
Neste acervo constavam 24 quintas, capazes de produzir 1500 pipas de vinho de alta qualidade por ano, 13 mil pipas armazenadas, "centenas de pipas de aguardente e uma preciosa frasqueira com milhares de garrafas das mais consagradas colheitas, como as de 1815, 1820, 1834 ou 1847.



Organigrama da “Casa Ferreira” entre 1856 e 1880




(Continua)