Vila de Gaia e Vila
Nova e a ribeira das Azenhas
No século XI, após a expulsão dos muçulmanos do Norte do
território, a ocupação na margem esquerda do rio Douro era feita em torno de um
castelo que tinha sido recuperado e em que à povoação era dado o nome de Gaia –
Vila de Gaia. Esta hipótese é corroborada por muitos historiadores, se bem que
outros afirmem que a designação de Gaia já viria dos tempos da ocupação romana.
Esse povoado desenvolver-se-ia na margem esquerda de um
ribeiro, mais tarde chamado das Azenhas.
Em época anterior àquela, o referido aglomerado populacional
era denominado como “Cale” e tinha a sua existência intimamente ligada a um
outro que na margem direita (mesmo em frente a ele) possuía uma praia que
funcionava como porto das embarcações que faziam o atravessamento do rio. Este povoado
era chamado de “Portus” e situava-se na depois chamada Praia de Miragaia.
Foi assim que o aglomerado populacional com uma ligação
forte entre os dois, fosse designado a partir de determinada altura por “Portus
Cale”. Portus na margem direita do rio Douro e Cale na margem esquerda do mesmo
rio.
A unidade administrativa e territorial que sucederia a
“Portuscale” seria sucessivamente o condado Portucalense e depois Portugal.
Por outro lado, na margem direita daquela ribeira das
Azenhas, um outro povoado se desenvolveria e, por ser mais recente que o outro,
viria a ser chamado de Vila Nova.
A Vila de Gaia viria
a receber mais tarde o foral de D. Afonso III, em 1255, enquanto Vila Nova o recebe de D. Dinis, em 1288,
estando ambas separadas, então, pela fronteira natural da ribeira das Azenhas ou ribeiro de Santo Antão que, nos nossos dias, está praticamente encanado.
A meio da foto, a foz da ribeira das Azenhas, junto do pequeno
estaleiro naval, existente no Cais de Gaia – Fonte: Google maps
O estaleiro naval, à direita, na foto acima, conhecido por estaleiro da Cruz, é o único
existente em Portugal que ainda constrói os barcos rabelos.
Naquele local, a partir de 1950, antes, esteve, mais a montante, no cais de Gaia, numa pequena praia fronteira a jusante do convento de Corpus Christi e a sua existência vai até ao século XIX, então, propriedade de Eduardo Sousa, trisavô do actual dono. Em 1920, um seu filho, Eduardo de Sousa Júnior, montou um outro estaleiro, pegado ao do progenitor.
Nos últimos anos, o negócio da família tem expressão no actual estaleiro pertencente à firma "Socrenaval" e tendo como administrador António Sousa.
Por aqui, antigamente, também se falava da existência do estaleiro Rei Ramiro.
Em tempos, existiram, entre a Ponte Luís I e a Afurada, 13 estaleiros que foram fechando sucessivamente.
Estaleiro de V. N. de Gaia
Em primeiro plano, o estaleiro Rei Ramiro, c. 1880, com o
mosteiro da serra do Pilar em fundo
Aquele castelo de Gaia, diz-se, sofreu a ira das gentes do
Porto em 1385, após a vitória de D. João I sobre os castelhanos. Há quem afirme
que a outra margem teria apoiado os derrotados e, por isso, a ideia era não
deixar pedra sobre pedra do tal castelo.
Como consequência do não apoio ao Mestre de Aviz, a Vila de
Gaia e Vila Nova, entre 1385 e 1834, foram ambas integradas no julgado do
Porto, perdendo a sua autonomia.
Outros dizem que aquela medida destinou-se a pagar as
despesas militares da expulsão dos castelhanos, feitas pelos cidadãos do Porto
e a moeda de troca foram os dois povoados.
No final das guerras liberais, a Vila de Gaia e Vila Nova
foram, finalmente, agraciadas com autonomia política e, ao fundirem-se, nasceu
o actual concelho de Vila Nova de Gaia, a 20 de Junho de 1834.
Nas guerras liberais o castelo de Gaia parece ter dado o
último suspiro, como narra o pequeno trecho a seguir:
“Tendo as forças de
Miguel I de Portugal se fortificado no local, montando aí uma bateria, dela
fizeram fogo sobre o Palácio dos Carrancas onde D. Pedro tinha estabelecido o
seu quartel-general. D. Pedro, bombardeado no seu próprio quarto, mudou-se para
Cedofeita, e no dia seguinte, em sua visita de rotina às linhas, dirigiu-se à
chamada Bateria das Virtudes (onde hoje se encontra o SAOM) com cujo fogo
desfez o reduto do Castelo de Gaia. O que restava do antigo castelo desapareceu
na ocasião (c. 1833), tendo sido o seu terreno vendido pelo Estado”.
In Fortalezas.org
Local do Castelo de Gaia – Ed. “cavalinhoselvagem.blogspot.pt”
Local do Castelo de Gaia em 1966 – Ed. SIPA
Alguns achados arqueológicos na colina do Castelo de Gaia e,
também, próximos da Serra do Pilar, confirmam uma ocupação pré-histórica na
actual freguesia de Santa Marinha, e apontam para a existência de povoações,
nesta parte do território, desde a época do “Bronze Final” até ao
Baixo-império. As características dos achados encontrados reforçam a tese de
uma vocação marítima e comercial dos povos aí fixados. O período medievo veio
confirmar a importância daqueles povoados ribeirinhos.