sexta-feira, 14 de abril de 2023

25.185 O Porto (Do Cerco do Porto à Regeneração)


Mouzinho da Silveira (Castelo de Vide, 12 de Julho de 1780 – Lisboa, 4 de Abril de 1849), a 28 de Maio de 1823, é nomeado Ministro da Fazenda, dando, assim, começo a uma actividade política.
Mais tarde, tomaria posse do cargo de Ministro e Secretário de Estado dos Negócios da Fazenda e interino dos Negócios Eclesiásticos e da Justiça, em Angra, a 2 de Março de 1832. A 23 de Abril de 1832, acompanha D. Pedro IV de Angra para Ponta Delgada, cidade de onde a 27 de Junho parte com a força expedicionária a caminho do Mindelo.
Após as lutas do Cerco do Porto e a vitória dos liberais, em 1832, cabe a Mouzinho da Silveira aplicar uma vasta série de reformas de cariz económica e financeiras, abolindo os morgadios, as capelas, as sisas, as portagens e os forais, extinguindo o monopólio da Companhia das Vinhas do Alto Douro e vendendo, depois da extinção das ordens religiosas (1834), os bens nacionais em hasta pública. Eram mudanças significativas que visavam pôr em prática os princípios do livre-câmbio e do liberalismo económico defendidos pela administração cartista, e que se esperava modificassem o rumo negativo que Portugal seguia desde o virar do século anterior. As reformas cartistas não tinham tido, no entanto, o sucesso esperado. A venda dos bens nacionais tinha favorecido somente uma alta burguesia fundiária limitada, que tinha engrandecido e aumentado as suas já extensas propriedades.
O movimento de descontentes defendia a supremacia da soberania popular, lutando activamente pela substituição da Carta Constitucional de 1826, outorgada pelo soberano, por uma constituição aprovada por um congresso democraticamente eleito pelo povo.
 
 

Revolução de Setembro

 
Ficou conhecida como Revolução de Setembro o movimento de insurreição que se deu em Lisboa a 9 de Setembro de 1836, no Terreiro do Paço, depois de desembarcarem os deputados portuenses, liderados por Passos Manuel, cujo nome de baptismo era Manuel da Silva Passos, irmão de um político importante da época, Passos José, cujo nome de baptismo era José da Silva Passos, ambos naturais de Bouças.
Passos José viria a ser presidente da Câmara do Porto.


 
 
Estátua de Passos Manuel, primitivamente, na Alameda de Matosinhos, na margem esquerda do rio Leça - Ed. Photo Guedes
 
 
 
Na foto acima vemos a estátua de Passos Manuel, da autoria de Teixeira Lopes, pai, virada para Guifões, como quiseram os seus amigos e contemporâneos, na chamada Alameda de Matosinhos com a Ponte de Pau em fundo.
 
 
 

Casa em Guifões (Matosinhos) onde nasceram José da Silva Passos (Passos José) e Manoel da Silva Passos (Passos Manuel)
 
 
 

Foto tirada da Alameda de Leça para a Alameda de Matosinhos
 
 
 
Acima, na foto, no bordo direito, na outra margem do rio Leça, está a estátua de Passos Manuel, na Alameda de Matosinhos.
A ponte dos 19 Arcos aparece à esquerda da foto.

 
 

Foto de Passos Manuel, na Alameda de Matosinhos – Ed. A. Vieira
 
 
 
Na foto acima, o jardim da Alameda já tem bancos oferecidos pelo Conde Alto Mearim.
Na Alameda de Matosinhos, bem perto da estátua de Passos Manuel, segundo testemunho de Ramalho Ortigão, em 1876, estava o Hotel de Matosinhos de José Henriques Gonçalves onde os quartos se alugavam a 1:000 reis por dia, com serviço todo incluído e tinha, ainda, restaurante com serviço à lista.
 
 
 
 

Passos Manuel, c. 1905, na Alameda de Matosinhos, com Matosinhos pelas costas - Ed. Estrela Vermelha
 
 
 
 

Estátua de Passos Manuel, c. 1927 – Fotograma da Cinemateca
 
 
 
Na foto acima, a estátua de Passos Manuel já se encontra numa rotunda da Avenida da República, confluente com a Avenida Serpa Pinto e a Rua Roberto Ivens, tendo sido para aqui transladada, aquando da construção da doca nº 1 do Porto de Leixões.
 
 
 

Estátua de Passos Manuel, actualmente - Fonte: “Google Maps”

 
 
Face à incipiência do sistema político português de então, sem partidos organizados, na acepção moderna do termo, o partido setembrista, isto é a corrente mais à esquerda do liberalismo, assumiu-se como oposição ao cartismo, isto é, à facção mais conservadora que apoiava a Carta Constitucional de 1826. No entanto, as eleições de 1836 tinham dado larga vitória ao Governo instalado, que resolveu prosseguir com a política iniciada em 1834, na linha da legalidade cartista com a qual os liberais radicais do Porto não concordavam.
Estes prepararam um golpe de Estado, marcado para o momento da chegada ao Tejo dos deputados portuenses, entre os quais Passos Manuel, Soares Caldeira, Leonel Tavares, Cassiano Tavares Cabral e Morais Mantas, que acabaram por ser recebidos de forma apoteótica, sendo apoiados pelo exército. O golpe deu-se, assim, de forma pacífica.
Entretanto, apareceu um malogrado contra-golpe de inspiração cartista, que ocorreu na noite de 4 para 5 de Novembro de 1836, em reacção à Revolução de Setembro, chamado a Belenzada, que é a designação que recebeu na historiografia portuguesa a tentativa de golpe que foi quase integralmente palaciana, tendo como principais interventores a rainha D. Maria II e os seus conselheiros mais chegados, com o apoio de António José de Sousa Manoel de Menezes Severim de Noronha, o duque da Terceira, que presidia ao governo cartista.
Em sequência dos últimos acontecimentos, a rainha apressou-se, então, a nomear novo ministério, presidido por José Bernardino de Portugal e Castro, o 5º marquês de Valença que, para além de chefe do governo, era ministro dos negócios estrangeiros, situação que seria travada por Passos Manuel.
Não seria essa a única tentativa de reacção contra o ministério setembrista, já que logo no dia 18 de Setembro tinham protestado contra a revolução 27 membros da Câmara dos Pares e que, no dia 5 de Outubro, tinha constado que o Batalhão de Caçadores n.º 5 quereria fazer uma contra-revolução. Em resultado, o Batalhão foi mandado para o Algarve combater o Remexido (José Joaquim de Sousa Reis, célebre guerrilheiro algarvio, miguelista, que nasceu no Algarve em 1797, em Estombar).
A revolução do Setembrismo restabeleceu a Constituição de 1822 e levou à formação de um Partido Radical.
A insurreição constituiu, assim, uma manifestação de descontentamento face à desastrosa situação económica e financeira do país, por parte de oposicionistas radicais aos quais se juntaram as forças militares.
Em 27 de janeiro de 1842, deu-se no Porto uma revolução lidera­da por Costa Cabral para pro­clamar a Carta Constitucional que havia sido abolida em 1836. António Bernardo da Costa Ca­bral era, então, ministro da Justiça. Chegara de véspera ao Porto, a pretex­to de tratar de assuntos particulares. Mas, ainda no dia da chegada assistiu, no Teatro de S. João, a um espectáculo onde, repetidas vezes, se cantou o hino da Carta. 
Na manhã do referido dia 27, houve um desusado ajuntamento de políticos locais na então chamada Praça de D. Pedro e no fronteiro Passeio das Car­dosas, também chamado Pasmatório dos Lóios.
A revolta, propriamente dita, ocor­reu no interior do edifício, onde ao tempo funcionava a Câmara Municipal, e consistiu na restauração da Carta Constitucional. E por causa do local onde aconteceu, passou à história como a "Revolta da Praça" ou a "Revol­ta do Pasmatório". 
A restauração da Carta Constitucional e a consequente liquidação institucional do Setembrismo foi o acto político da vida de Costa Cabral que mais o caracteriza e, por ele mesmo, considerado o mais importante.
A Carta Constitucional tinha sido substituída, desde a Revolução de Setembro de 1836, pela Constituição Política da Monarquia Portuguesa (em 1838), conhecida pela Constituição Setembrista, generosa e democrática, mas nunca pacificamente aceite pela maioria da elite política. Já em Junho de 1837, os marechais Saldanha e Terceira, haviam tentado restaurar a Constituição de 1826, com a célebre ‘’Revolta dos Marechais’’, mas essa tentativa falhou, resultando apenas, daí, a perturbação do país e o exílio dos líderes golpistas.
Agora, era a vez de Costa Cabral, um dos apoiantes entusiásticos da Revolução de Setembro e um lutador para que fossem extintas as milícias populares da Guarda Nacional, das quais se destacava o Remexido, tentar a sua sorte.
Em resultado do sangrento «massacre do Rossio» (13 de Março de 1838) e, consequentemente, a decisão posterior do governo de dissolução da Guarda Nacional, cujas chefias radicais se tinham rebelado, provocaria nas guarnições do Sul uma desmobilização dos efectivos militares avaliada em 1300 homens. É sobre esta força que o Remexido vai usar a sua influência, actuando em modo de guerrilha.

 
 
Cabralismo e Patuleia

 
Tendo migrado politicamente para o cartismo, Costa Cabral chegado ao Porto a 17 de Janeiro de 1842, logo no dia 19 é ali saudado com a aclamação da Carta Constitucional. Prepara para 27 desse mês a sublevação Cartista, assumindo-se nesse dia como chefe político de um pronunciamento militar e organiza a junta do governo, preparando-se para marchar sobre Lisboa.
Em Lisboa, ainda se fazem algumas tentativas de resistir ao golpe: o governo é remodelado e Joaquim António de Aguiar é substituído na presidência do ministério por Pedro de Sousa Holstein, o futuro 1º duque de Palmela.
Mas é fútil a resistência já que o governo é empossado, a 7 de Fevereiro de 1842, para cair ao seu terceiro dia, no dia 9 de Fevereiro. Ficou conhecido pelo Governo do Entrudo dada a coincidência do seu período de governação com os dias do Carnaval.
Estando a rainha conivente com o golpe, e tendo a 8 de Fevereiro a guarnição do Castelo de São Jorge saudado a Carta, o êxito do golpe era inevitável.
A 10 de Fevereiro, é publicado o decreto real que restaurava a Carta, a 19 desembarca Costa Cabral em Lisboa para uma recepção apoteótica e, a 24 desse mês principia, de facto, a governação de Costa Cabral, sendo nomeado Ministro do Reino num ministério nominalmente presidido pelo duque da Terceira. Estava instalado o Cabralismo e, com ele, uma política deliberada de estabilidade e desenvolvimento nacional.
Foi então instaurado em Portugal o regime Cabralista. Um regime despótico, liderado por António Bernardo da Costa Cabral (apoiado pelo seu irmão José Bernardo da Silva Cabral – daí a alcunha popular de governo dos Cabrais ou Cabralismo).
Apesar da forte oposição e das dificuldades em conseguir manter as forças antagónicas que o apoiavam sob controlo, o Cabralismo deu a Portugal o primeiro governo de legislatura desde a implantação do constitucionalismo.
Gozando de forte apoio régio, ao ponto de o apodarem de valido da rainha, Costa Cabral beneficiou, a 3 de Maio daquele ano, da nomeação por D. Maria II de 30 novos pares do Reino, seus apoiantes, que lhe deram a maioria na Câmara alta. A este reforço seguiu-se uma retumbante vitória nas eleições gerais realizadas a 5 e 19 de Junho imediatos, a qual lhe deu absoluto controlo sobre o Parlamento. Nessas eleições, Costa Cabral foi eleito pela Beira Baixa.
Uma das primeiras reformas do Cabralismo foi a centralização administrativa, aprovando o Código Administrativo de 1842. Seguiu-se a reforma das Guardas Nacionais, um dos factores de instabilidade anteriores, o retomar de relações com a Santa Sé e o controlo da dívida externa e do défice governamental.
A Revolta da Maria da Fonte, ou Revolução do Minho, é o nome dado a uma revolta popular ocorrida na primavera de 1846 contra o governo cartista presidido por António Bernardo da Costa Cabral.
Sobre os opositores a Costa Cabral escreve Camilo Castelo Branco:

 
“Arguiam a Rainha e os seus ministros prediletos de retrógrados, escarneciam a religião nos prelos e nos templos, e ao mesmo tempo insinuavam no clero miguelista do Minho que acirrasse a plebe boçal contra a lei ímpia que proibia as inumações na terra sagrada das igrejas. Os de 23 Setembro, espíritos fortes e demolidores dos preconceitos inveterados, desonraram-se legitimando o canalhismo do motim popular nos adros e o incêndio dos arquivos nas regedorias e nas câmaras.
…As asneiras disfarçadas em zelo da religião, que incitaram as aldeias do Minho, quem primeiro devia refugá-las do seu credo eram os revolucionários da Belenzada. Tenho dito, penso eu, o bastante para que me não arrolem no catálogo dos fósseis remanescentes ao dilúvio que subverteu a camada dos Cabrais. Repito: eu não quis desluzir a coragem do povo de 46: mas pretendi joeirar no crivo da peneira histórica a Maria da Fonte que os progressistas chamam sua mãe, e os republicanos sua avó.
Fonte: Camilo Castelo Branco, In “Maria da Fonte”
 
 
A revolta resultou das tensões sociais remanescentes das guerras liberais, exacerbadas pelo grande descontentamento popular gerado pelas novas leis de recrutamento militar, que se lhe seguiram, por alterações fiscais e pela proibição de realizar enterros dentro de igrejas.
Iniciou-se na zona de Póvoa de Lanhoso (Minho) uma sublevação popular que se foi progressivamente estendendo a todo o norte de Portugal. A instigadora dos motins iniciais terá sido uma mulher do povo, chamada Maria, natural da freguesia de Fontarcada que, por isso, ficaria conhecida pela alcunha de Maria da Fonte. Como a fase inicial do movimento insurreccional teve uma forte componente feminina, acabou por ser esse o nome dado à revolta.
Uma das principais figuras deste conflito seria o guerrilheiro miguelista Padre Casimiro José Vieira que se intitulava “Defensor das Cinco Chagas” e general comandante das forças populares do Minho e Trás-os-Montes.
A sublevação, apoiada em simpatizantes miguelistas, propagou-se depois ao resto do país e provocou a substituição do governo de Costa Cabral por um presidido por D. Pedro de Sousa Holstein, o 1º Duque de Palmela.
Entretanto, num golpe palaciano conhecido pela Emboscada, a 6 de Outubro de 1846, a rainha D. Maria II demite o governo do duque de Palmela e nomeia o marechal João Oliveira e Daun, Duque de Saldanha para constituir novo ministério e a insurreição reacende-se.
Em face da “Emboscada” um grupo de oposicionistas à governação de Costa Cabral insurge-se no Porto, reuniu exércitos, sob o comando do conde das Antas e organizou-se num governo paralelo, denominado Junta Provisória do Supremo Governo do Reino ou Junta Governativa do Porto.
Começava a guerra civil da Patuleia.
Patuleia tem aqui o significado de parolo, de patola e viria a ter como expressão, uma estranha aliança de Setembristas com os desiludidos e partidários de D. Miguel que continuavam a sonhar com uma tomada do poder, por oposição ao governo de Costa Cabral.
O resultado foi uma nova guerra civil de 8 meses, a Patuleia, que apenas terminaria com a assinatura da Convenção de Gramido, a 30 de Junho de 1847, após a intervenção de forças militares estrangeiras ao abrigo da Quádrupla Aliança.
A Junta Governativa do Porto tinha como presidente Francisco Xavier da Silva Pereira, o 1º conde das Antas, e como vice-presidente José da Silva Passos, que, para além de ser a alma da revolta, era irmão do político e ex-ministro progressista Manuel da Silva Passos, o famoso Passos Manuel.
Logo que conhecida a revolta do Porto, o visconde de Sá da Bandeira, Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo apareceu naquela cidade, aderindo à revolução e dando-lhe um indesmentível relevo nacional.
A Junta do Porto, embora legislando em nome da rainha e jurando-lhe obediência e respeito, na realidade mantinha uma política contrária à opinião da soberana, tudo fazendo para reverter o golpe de 6 de Outubro.
Em certa imprensa sem rebuços e em linguagem insultuosa, denegria-se a figura de D. Maria II e sugeria-se a sua abdicação, em prol da república ou, ao menos, em prol de uma qualquer regência em nome de D. Pedro V, na altura com apenas nove anos de idade.
Neste contexto, e perante o risco que corria o trono, a única solução parecia ser a via militar. Estava aberto caminho para mais uma guerra civil, pouco mais de uma década após a celebração da Convenção de Évora-Monte.
Ambos os lados iniciam o levantamento de exércitos e é novamente tempo de contar espingardas.
Em Outubro, visitando a cidade do Porto a mando da Rainha, o Duque da Terceira é preso e expulso.
A contenda ameaçava tomar tais proporções que D. Maria II, aconselhada pelo marechal Saldanha, logo a 16 de Outubro, pediu a intervenção da Espanha, da França e da Grã-Bretanha, ao abrigo da Quádrupla Aliança, para acabar com a revolução, alegando que era uma sublevação miguelista. Os espanhóis mandam de imediato forças para a fronteira, mas o governo britânico não aceita que haja uma revolta miguelista.
Entretanto, a 26 de Outubro, forças afectas à Junta do Porto dirigem-se para Santarém, ameaçando directamente a capital, o que leva a rainha, em 27 de Outubro, a assumir plenos poderes extraordinários, suspendendo-se a legalidade constitucional.
A 4 de Novembro, Santarém é ocupado pelas forças revoltosas. Sentindo-se ameaçado, o governo resolve apostar tudo, e a 6 de Novembro, Costa Cabral, no exílio em Espanha, é nomeado embaixador naquele país, ficando encarregado de pressionar o governo espanhol no sentido da entrada das suas forças em Portugal em socorro do governo de Lisboa.
Dadas as dificuldades financeiras, a 14 de Novembro, é promulgado um decreto que impõe o curso forçado permanente das notas do Banco de Lisboa, impondo pesadas punições a quem se tentar eximir. Este diploma é complementado, a 19 de Novembro, por um decreto que obriga à fusão do Banco de Lisboa com a Companhia Confiança, prevendo-se a criação de um Banco de Portugal, materializada no dia 26 de Dezembro imediato, instituição que ainda hoje perdura.
Tendo surgido, pouco a pouco, por todo o país juntas que se afirmaram subordinadas da Junta Provisória do Supremo Governo do Reino, a do Porto, e todas se declararem em rebelião contra o governo de Lisboa e disporem de importantes forças militares e de indesmentível apoio popular, por causa da imperícia dos seus generais, felizmente para o governo, não foi possível imporem-se pela força, saindo as suas forças derrotadas num conjunto importante de recontros, logo nos meses iniciais da guerra.
A agitação tinha-se espalhado por todo o império. Assim, a 25 de Outubro de 1846, há já um pronunciamento em Ponta Delgada, formando-se ali a Junta Governativa do Distrito de Ponta Delgada.
No norte de Portugal, o general barão do Casal, comandante da divisão de Trás-os-Montes, optara por se manter fiel à rainha e marchou com as suas tropas sobre o Porto, esperando que ali rebentasse um contra-golpe cartista que lhe entregasse a cidade. Contudo, tal não aconteceu e, ao invés, Bernardo de Sá Nogueira de Figueiredo, então visconde de Sá da Bandeira, que havia aderido à Patuleia, sai-lhe ao encontro à frente de uma muito bem armada divisão, marchando pela Régua e Sabrosa até Chaves, onde as forças do barão do Casal se refugiam.
Ao mesmo tempo, forças guerrilheiras comandadas por Luís Malheiro Peixoto de Lemos e Vasconcelos, 1º barão de Castro Daire, ocupam Murça, dando a impressão que os patuleias irão controlar o norte. Esta situação inverte-se rapidamente já que, a 15 de Novembro, o visconde de Sá da Bandeira decide retirar para Valpaços, aparentemente para aí atrair as forças do barão do Casal e dar-lhe batalha.
Efectivamente, a 16 de Novembro, as forças do barão do Casal marcham sobre Valpaços e dão batalha. No recontro, onde dois regimentos do Porto se bandearam, o visconde de Sá da Bandeira é batido e obrigado, no dia 20 de Novembro, a recolher precipitadamente ao Porto. No fim do recontro, todo o norte parecia ficar sob controlo das forças leais ao governo.
Por essa altura, já o levantamento militar se espalhara pelo país. A sul do Tejo, o general José Lúcio Travassos Valdez, 1º conde de Bonfim, o brigadeiro Francisco Pedro Celestino Soares, futuro visconde de Leceia e Luís Francisco Estêvão Soares de Melo da Silva Breyner, 1º conde de Melo, comandavam tropas patuleias. Em Coimbra, o marquês de Loulé também se rebelara e reconstituíra o Batalhão Académico.
Para piorar a situação, durante a retirada, o que restava das forças de Sá da Bandeira encontra na Régua um numeroso grupo guerrilheiro comandado pelo velho general realista Reginald MacDonell, o qual tinham ali aclamado D. Miguel. É o miguelismo que, aproveitando a oportunidade criada pelos patuleias, ameaça ressurgir das cinzas das guerras liberais.
Num raro contra-ataque, a 25 de Novembro, as forças patuleias entram em Guimarães.
Em Lisboa, a instabilidade era grande, esperando-se a qualquer momento um levantamento patuleia. Aparentemente, a revolta só aguardava que as forças rebeldes avançassem sobre o Cartaxo, localidade onde as forças do marechal Saldanha estavam aquarteladas e o fizessem recuar.
A 3 e 4 de Dezembro, os marinheiros governamentais, comandados por Francisco Soares Franco, futuro 1º visconde de Soares Franco, tomam Valença. Em Viana do Castelo, as forças governamentais conseguirão manter o castelo em seu poder, apesar de atacadas, a 4 de Dezembro, pelas forças da Junta. Entretanto, as actividades militares concentram-se na Estremadura, já que, o conde das Antas e o conde do Bonfim, com o grosso das tropas patuleias, mantém a ocupação de Santarém, enquanto o conde de Vila Real se posiciona em Ourém.
Foi contra esta última posição que. a 4 de Dezembro, o marechal Saldanha resolveu enviar uma brigada, que as forças do conde de Bonfim tentaram interceptar. Não o conseguindo, foi unir-se às forças do conde de Vila Real, aquarteladas em Leiria, onde recebeu também cerca de 3 000 homens enviados de Santarém. Com estas forças tentou avançar para sul, mas surpreendido pelas forças do marechal Saldanha, retrocedeu sobre Torres Vedras.
E foi, naquela cidade, que a 22 de Dezembro de 1846, numa das batalhas decisivas da guerra, o brigadeiro José Lúcio Travassos Valdez, o 1.º conde de Bonfim, foi completamente batido pelo marechal Saldanha, numa cruenta batalha em que foi morto o general Luís da Silva Mouzinho de Albuquerque (Lisboa, São Vicente de Fora, 16 de Junho de 1792 — Torres Vedras, 27 de Dezembro de 1846), avô do administrador colonial Mouzinho de Albuquerque, um militar liberal que chegou a ser ministro do Reino, durante a regência liberal. Ao fim daquele dia, após um conjunto de brilhantes decisões tácticas, Saldanha era o claro vencedor, aprisionando quase todas as tropas patuleias. O conde das Antas, então no Cercal, optou por não vir em socorro das forças de Bonfim, optando antes por uma rápida retirada para o Porto.
Saldanha ainda ensaiou uma perseguição às forças do conde das Antas, seguindo para norte em marchas forçadas, mas quando este entrou no Porto, optou por se aquartelar em Oliveira de Azeméis.
Entretanto, o brigadeiro Celestino era destroçado em Viana do Castelo pelo velho general João Schwalbach (1774 – 1874), 1º visconde de Setúbal e, a 31 de Dezembro, as forças cartistas do barão do Casal tomavam Braga pela força depois de uma cruenta batalha com os guerrilheiros do general MacDonnell. Por ordem do barão do Casal, a cidade foi barbaramente castigada com fuzilamentos pelas ruas. O velho general miguelista MacDonnel é preso em Vila Pouca de Aguiar e morto por um sargento de cavalaria cartista.
A 3 de Janeiro de 1847, Álvaro Xavier Coutinho e Póvoas, antigo oficial da Legião Portuguesa, ao serviço da França, e figura carismática do miguelismo, é nomeado tenente-general do exército da Junta, e comandante militar das duas Beiras.
A 10 de Janeiro, o marechal Saldanha propõe secretamente à Junta do Porto um acordo de paz, com base na Convenção de Chaves, a mesma que, em 1837, tinha posto termo à Revolta dos Marechais.
Num momento clarificador do conflito, a 12 de Janeiro de 1847, são assinadas as Bases da União dos realistas insurgentes com a Junta do Porto, isto é, da aliança dos miguelistas com os setembristas. Era finalmente oficial a coligação contra-natura, mas por esta altura já o marechal Saldanha se encontra perto do Porto, comandando as forças militares leais ao governo. A esquadra governamental, comandada por Soares Franco já bloqueava o Douro.
Ensaiando um contra-ataque, o exército da Patuleia, comandado pelo conde de Melo, ataca Estremoz em 27 de Fevereiro e a 9 de Abril, Sá da Bandeira, assumindo-se como lugar-tenente da Junta, desembarca no Algarve e inicia marcha para Lisboa. Chega a Setúbal e junta-se às tropas do conde de Melo e às guerrilhas do sul. Tem como colaboradores Anselmo Braamcamp Freire e José Estêvão Coelho de Magalhães.
A 11 de Abril, rebentam tumultos em Lisboa, onde estacionam tropas inglesas e espanholas, e o governo destaca o general Vinhais para as colinas de Azeitão, por forma a impedir o avanço sobre Lisboa das forças patuleias estacionadas em Setúbal. A 16 de Abril, as forças enfrentam-se na batalha do Alto Viso, às portas de Setúbal, onde perdem os patuleias 500 homens. O combate termina de forma indecisa por um armistício negociado pelo comandante inglês do navio de guerra, “HMS Polyphemus”, atracado na foz do Sado.
A 29 de Abril, novos tumultos patuleias acontecem em Lisboa, permitindo a fuga de 600 presos do Limoeiro. A anarquia cresce, e a fome ameaça as populações.
A guerra civil intensificava-se e a Quádrupla Aliança que tinha sido formada em 1834 pelo Reino Unido, França, Espanha e Portugal e visava apoiar D. Maria II contra o usurpador D. Miguel acabou, por ter aqui, uma importância fundamental.
Mesmo depois da entrada em Portugal das forças da Quádrupla Aliança, os pronunciamentos continuaram: a 29 de Abril de 1847, é a vez de se formar a Junta Governativa da Madeira; a 22 de Maio de 1847, é vez da ilha Terceira, nos Açores; na Índia Portuguesa, instala-se uma Junta e fala-se em vender território aos britânicos.
Na sequência de um protocolo assinado a de 21 de Maio de 1847, como resultado de novo pedido para uma intervenção da Quádrupla Aliança a Marinha Britânica bloqueia a barra do Douro, as Tropas Espanholas entram em Portugal e dirigem-se para o Porto e as tropas de D. Maria II seguem também para as imediações do Porto.
A 3 de Junho de 1847, o general Concha, à frente das tropas espanholas, ocupa a cidade do Porto, com os marinheiros ingleses já em S. João da Foz.
Aquele general de seu nome, Manuel Gutiérrez de la Concha e Irigoyen (1808-1874), ao serviço de Espanha é quem, em 1847, seguindo as directrizes da Quádrupla Aliança, vai encabeçar uma expedição a Portugal, para ajudar a manter o governo de rainha D. Maria II, entrando por Trás-os-Montes.
As tropas Espanholas montam quartel em Vendas Novas (Rio Tinto) e, em S. Cosme, Gondomar, tentam negociar um acordo.
 
 
 

General Concha

 
 
A 29 de Junho de 1847, é assinada na “Casa Branca” a Convenção de Gramido, em que a Junta do Porto esteve representada pelo Duque de Loulé.
Os termos da convenção determinados pelas chefias militares, em presença, foram, porém, considerados inválidos pelos Ministros plenipotenciários da Quádrupla Aliança por colidirem com o protocolo de 21 de Maio.
No 2 de Julho, foi assinado então um novo protocolo que estipulava novas directivas e a Convenção de Gramido foi revogada.



 

“Casa Branca” à face da EN 108, actualmente - Fonte Google Maps


 

“Casa Branca”, antes da remodelação - Ed. memorialdolamento.blogs
 
 
 
A “Casa Branca de Gramido” que apresenta numa das padieiras das portas a data de 1789, localiza-se em frente ao areinho de Avintes, num local que terá sido, ao longo da história, palco do lançamento de pontes entre as duas margens, mormente na movimentação de tropas.
Em 1815, seria propriedade de António Francisco d’Araújo.
Esta personagem, de apelido “Casas Brancas”, era tenente do exército razão, pela qual, talvez, a casa que habitava fosse escolhida para local das reuniões de paz.
Com a vitória cartista, o partido dos cabralistas iria vencer as eleições de 1849 e Costa Cabral estaria, assim, à frente dos destinos do País até 1851, quando surgiu o movimento da Regeneração.
Tendo sido colocado um fim à guerra civil, em Gramido, seguiram-se as comemorações da nova ordem estabelecida.
 
 
“Ontem teve lugar o Baile que a Assembleia Portuense deu em obséquio de Sua Ex.ª o General Concha: a função esteve brilhante e esplêndida, sendo extraordinária a concorrência orçando-se em 240 senhoras e 600 homens. Assistiram o General Concha, e vários outros Generais: o coronel Buenaga, oficiais espanhóis e ingleses, e várias famílias destas duas nações, e alguns Ajudantes de ordens de Sua Ex.ª o Duque de Saldanha. Assistiu igualmente o sr. Barão de Almofala, Comandante interino da 3ª Divisão. O Baile acabou às cinco da manhã. Daremos depois a descrição desta função.”
In “Boletim Oficial do Porto” de 20 de Julho de 1847






Costa Cabral e o fim do Cabralismo
 
António Bernardo da Costa Cabral (Fornos de Algodres, Algodres, 9 de Maio de 1803 – Porto, 1 de Setembro de 1889), o 1.º conde e 1.º marquês de Tomar, mais conhecido simplesmente por Costa Cabral, entre outros cargos e funções, foi deputado, par do Reino, conselheiro de Estado efectivo, ministro da Justiça e Negócios Eclesiásticos, ministro do Reino e presidente do Conselho de Ministros.
Chegou a abrir banca de advogado em Penela, Viseu, em 1823, mas, em 1826, era indigitado, aí, para juiz de fora.
Politicamente acompanhou D. Pedro IV no desembarque no Mindelo e foi apoiante do Setembrismo.
Deputado às cortes, em 1836, abandona o Setembrismo e funda o Partido Cartista.
Foi, a partir de 1841, Grão-Mestre da Maçonaria.
Perante o alastrar da sublevação popular, muito a contragosto, a 20 de Maio de 1846, a rainha D: Maria II foi obrigada a demitir Costa Cabral, que se exilou para Madrid. Foi o fim do Cabralismo.
Apesar de arredado da esfera do poder, o conde de Tomar enveredou por um novo campo: a diplomacia.
Por decreto de 25 de Abril de 1859, foi Costa Cabral nomeado ministro plenipotenciário junto do imperador do Brasil.
Em Julho de 1870, é-lhe confiada nova missão diplomática, agora como chefe da Legação de Portugal junto da Santa Sé, ainda antes da tomada daquela cidade pelas tropas de Victor Emanuel II.
Em 1878, António Rodrigues Sampaio, elevava Costa Cabral à categoria de 1.º Marquês de Tomar.
A 6 de Fevereiro de 1885, a marquesa de Tomar, dama honorária da rainha D. Maria Pia, falece em Roma.
No Verão seguinte, Costa Cabral partiu de Roma para Castellammare di Stabia, nos subúrbios de Nápoles, acompanhado por sua filha.
Aí, adoeceu gravemente, seguindo então para Portugal em princípios de Setembro, a bordo da corveta Estefânia, então sob o comando do seu filho Fernando Augusto da Costa Cabral.
 
 
Em meados de 1889, Costa Cabral decide ir a ares para a Foz do Douro.
 
 
“Tendo regressado gravemente doente, manteve-se afastado da vida política, procurando recuperar a saúde perdida. E foi por razões de saúde que em Julho de 1889, acompanhado pela filha, partiu para a Foz do Douro. Faleceu naquela localidade no dia 1 de Setembro imediato. Na igreja da Foz foram-lhe feitas exéquias, seguindo o seu corpo para Lisboa, onde no dia 4 de Setembro ficou depositado em jazigo de família no cemitério dos Prazeres.”
Fonte: pt.wikipedia.org/
 
 
Em 1 de Setembro de 1899, morre Costa Cabral, numa casa do Passeio Alegre.
 


Jornal do Porto 3 de Setembro de 1889, pág. 2
 
 
 
Uma lápide esteve para ser colocada na fachada do prédio onde morreu Costa Cabral, na Foz do Douro.

 
 

In jornal “ A República” de 28 de Julho de 1890, pág. 1

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