quinta-feira, 27 de abril de 2023

25.187 Cancela Velha e Laranjal

 
A Rua da Cancela Velha ia da Rua do Bonjardim ao Largo do Laranjal.
O topónimo de Largo do Laranjal seria, primeiro, atribuído ao que viria a ser a Praça da Trindade e passaria, depois, após o segundo quartel do século XIX, a ser atribuído a um pequeno largo junto da confluência da Rua do Laranjal e da Rua da Cancela Velha, situado um pouco mais abaixo onde está hoje a estátua de Almeida Garrett, em frente à Câmara Municipal.
Nos finais do século XIX, começos do século XX, a Rua da Cancela Velha era uma das mais movimentadas da cidade daque­le tempo. Nela estavam sedeadas as redacções de dois importantes jornais do Porto: "A Montanha", fundado por Júlio Ribeiro em Março de 1911, que começou como vespertino e acabou matutino; e a "Auro­ra", que começou a circular logo a seguir à implantação da República e que ainda se publicava em 1913. 
 
 
 

Perspectiva da Rua da Cancela Velha obtida a partir do Largo do Laranjal
 
 
Legenda:
 
1. Café Primavera
2. Companhia do Gás
3. Farmácia Rica
4. Guimarães & Medina – loja de couros
5. Entrada da viela do Cirne
6. Saída da Rua Elias Garcia

 
 
Na foto acima vêem-se, a meio, ao fundo, uns prédios na Rua do Bonjardim. A rua, que até eles percorre a nossa visão, é a Rua da Cancela Velha. A meio dela, à direita, desemboca a Rua de Elias Garcia (antes da implantação da República chamada de D. Pedro) e, entre os dois primeiros prédios, à esquerda, a Rua do Laranjal (que vinha “lá de baixo dos Lavadouros”). Os Lavadouros situavam-se sensivelmente onde hoje fica o café Guarany.
Um pouco mais acima ainda, à esquerda, mas não visível, partia para Norte a Viela do Cirne, e ainda um pouco mais acima, uma outra rua que nunca passou de beco (pois não tinha saída) e se chamou Rua Adriano Machado.
Em 13/12/1888 já havia projectos com indicação de terrenos e proprietários a alienar, para fazer a ligação da Rua Formosa à Praça da Trindade, no que viria a ser a tal Rua Adriano Machado.
 
 
 
«Em um dos prédios do referido largo [do Laranjal] estavam instalados os conhecidos armazéns de vinhos Morêda. E nos altos do mesmo prédio foi a sede durante bastantes anos do célebre e muito recordado ginásio Paul Lauret... Vê-se na gravura, no primeiro plano depois do chafariz, a rua do Laranjal, mais acima, do lado esquerdo e ao fundo a rua do Bonjardim. Na casa que faz esquina para a rua Adriano Machado, em que se vêm os toldos descidos, eram os escritórios da velha companhia do Gás, e na casa mais alta que se vê na rua do Bonjardim e que também tem os toldos descidos, era a farmácia Rica, propriedade do saudoso poeta Maximiano Rica.
Em época muito mais recuada e quasi em frente á rua de D. Pedro existiu um teatro que desapareceu, parece destruído por um incêndio. O nome do teatro não me recordo (...) Isto vai talvez há mais de 65 anos!... Muito mais tarde começaram a construir, mais para o lado da rua do Bonjardim, um novo teatro de grandes proporções, mas não chegou a concluir-se e depois foi demolido para a abertura da rua de Adriano Machado - abertura é como quem diz, pois a rua era .. tapado, um autêntico beco sem saída...»
Fonte: F.M.N.J., In “O Tripeiro”, Vol. 1 da 5.ª Série
 
 
O teatro mencionado no texto anterior foi inaugurado em fevereiro de 1874 e chamava-se “Teatro da Trindade”. Em Julho de 1873, o teatro foi devorado por um incêndio e substituído, no mesmo local, por um teatro-barraca chamado “Teatro Chalet” que também ardeu em 1880.
Foi então decidido construir uma outra sala de espectáculos o “Teatro Rainha” que não chegaria a abrir, apesar de já estar praticamente concluído.
Ainda, de acordo com o texto anterior, no largo em que se encontra o chafariz, no Largo do Laranjal, nº 4, existia um prédio que no seu piso térreo era ocupado pelo armazém de vinhos do conhecido comerciante de nome Moreda e, no piso superior, desde 24 de Julho de 1884, pelo ginásio de Paul Lauret, que para aqui veio proveniente do Largo da Picaria, nº 13, onde tinha sido, primitivamente, inaugurado em 1882 e, cuja entrada para o ginásio, se fazia junto das escadas que do largo davam acesso à Rua do Pinheiro.
Mais tarde, Paul Lauret (1852-1918) transferiria o seu ginásio para a Rua do Laranjal, nº 193, para um belo edifício situado mais a norte, em frente à Viela do Cirne.
Paul Lauret começaria por dar aulas de ginástica no Colégio Pestalozzi-Jardim Escola Froebel, que esteve instalado na Rua da Alegria, um pouco acima da Rua Firmeza.

 
 

Ginásio Lauret (2) na Rua do Laranjal e antigas instalações no Largo do Laranjal (1) em Planta de Telles Ferreira de 1892


 
 

Ginásio de Paul Lauret na Rua do Laranjal – Fonte: Desenho de João Ribeiro Cristino da Silva, com base numa gravura de Domingos Caselas Branco, publicada na Revista “O Occidente” de 21 de Janeiro de 1887
 
 
 
“A imprensa caracteriza-o como possuindo todas as diversões próprias de um club, embora se tratasse de uma escola de ginástica e sala d’armas onde “se ensina methodicamente estas duas artes, com notavel aproveitamento dos discipulos, tanto creanças como adultos” e considerando que “nesta nova casa acha-se o Gymnasio Lauret perfeitamente instalado, tendo salas de gymnastica, de armas, bilhares, dança, tiro defferentes jogos, electricidade, banhos etc., o que tudo faz um conjuncto de estabelecimento de primeira ordem”. (Ginásio Lauret no Porto, 1887, p. 19)”.
Fonte: “lauret.pt”
 
 
 
“O ensino no Gymnasio Lauret está devidido em differentes cursos, conforme as idades dos discipulos, e regulado de modo a dar rezultados mais praticos e proveitosos. A sua frequencia é de 100 alumnos devididos do seguinte modo: meninas 7, meninos 33, adultos 60, tem um medico effectivo, o sr. Dr. Aureliano Cirne, e 250 socios protectores. (Ginásio Lauret no Porto, 1887)”.
Fonte: Revista “O Occidente”
 
 
 

Texto sobre o Ginásio Lauret – Fonte: Revista “O Occidente”, nº 291, em 21 de Janeiro de 1887
 
 
 
Em 12 de Junho de 1896, Paulo Lauret foi viver com a filha para o Rio de Janeiro, onde abre o Gymnasio Lauret e Sala D’Armas, tendo realizado com os seus alunos inúmeras apresentações públicas, amplamente cobertas pela imprensa.
No Rio de Janeiro viria a falecer Paulo Lauret, em 1918.
Após o fecho do ginásio de Paulo Lauret, as instalações na Rua do Laranjal foram ocupadas pelo “Ginásio Clube”, vindo da Rua do Breiner e que tinha como professor de ginástica artística Tomé Coelho.
Subindo a mencionada Rua do Laranjal iríamos desembocar na Praça da Trindade.


A Rua do Laranjal, já a montante do chafariz do Laranjal, com a Igreja da Trindade, em fundo, c. 1900

 
 
 

Rua da Cancela Velha e os trabalhos de demolição dos prédios adjacentes ao seu leito – Fonte: Blogue “A Porta Nobre”
 
 
 
Na foto acima vêem-se, a meio, ao fundo, uns prédios na Rua do Bonjardim, visíveis também na foto anterior e ainda hoje existentes.
À esquerda, de frente, vêem-se as fachadas de prédios que deviam estar na Rua Adriano Machado.
Em toda esta área iria situar-se, mais tarde, o Palácio dos Correios.
 
 
 
 
Planta de Telles Ferreira de 1892, com traçado a azul do leito da actual Rua Guilherme Costa Carvalho

 
Legenda:
 
1. Largo do Laranjal com Chafariz do Laranjal
2. Rua da Cancela Velha
3. Rua do Bonjardim
4. Rua do Laranjal
5. Prédios da Rua do Bonjardim ainda existentes
6. Rua do Almada
 
 
Como é visível, na planta anterior, a antiga Rua da Cancela Velha não alinhava com a Rua Formosa, inclinando um pouco mais para Norte, relativamente ao arruamento que a veio substituir - a Rua Guilherme Costa Carvalho.
Por essa razão, pode observar-se que os prédios da Rua do Bonjardim presentes na foto anterior, que mostrava o chafariz, ainda existem e localizam-se na planta com o nº 5.


 

À esquerda os 3 prédios da Rua do Bonjardim, em frente dos quais desembocava a antiga Rua da Cancela Velha – Ed. Google maps


 

Vista geral c. 1900, do edifício da «Guimarães & Medina», loja de couros curtidos, solas, cabedais; e da «Associação de Socorros Mútuos Commércio e Indústria no Porto», na desaparecida Rua da Cancela Velha, n.º 18 – Ed. Foto Guedes; Fonte: AHMP


 
 

Planta da Cancela Velha, de Telles Ferreira, em 1892

 
 
No local assinalado na planta acima, com um rectângulo negro, na esquina das ruas da Cancela Velha e Adriano Machado, tinha estado a Companhia do Gás.

 
 
 

Os prédios identificados a azul estavam presentes em foto anterior na qual aparecia o Chafariz do Laranjal – Ed. Arquivo Histórico Municipal


 

Os prédios frontais, com as fachadas voltadas a norte, são o que ainda restava, em 1939, da Rua da Cancela Velha - Ed. Guilherme Bonfim Barreiros, In: “nocentenariodaavenida.up.pt”; Fonte: AHMP
 
 
À esquerda da foto acima, na Rua de António Sardinha, actual Rua Dr. António Luís Gomes, nasceria, depois do necessário desaterro, o Palácio dos Correios.


 

Vista da Cancela Velha, na década de 1940 - Ed. CMP, Arquivo Histórico Municipal
 
 
 
A perspectiva da foto anterior é obtida a partir das existentes, à data, escadas do edifício da Câmara Municipal do Porto, na Praça do Município (hoje do General Humberto Delgado), na década de 1940 e observa-se à esquerda, os antigos edifícios da Cancela Velha, entretanto, demolidos, onde hoje está a Rua de Guilherme da Costa Carvalho e, ao centro, a Rua de Rodrigues Sampaio, que conduz à praça de D. João I, na época ainda em construção. Tudo se passa na sequência da abertura da Avenida dos Aliados.

 
 

Uma perspectiva actual, aproximada, da foto anterior, pois a antiga Rua da Cancela Velha, desenvolvia-se por parte do chão do Palácio dos Correios - Fonte: Google maps
 
 
 
 

Avenida dos Aliados, c. 1940 – In: “nocentenariodaavenida.up.pt”; Fonte: CPF 
 
 
Para além dos Paços do Concelho, ainda em construção, são reconhecíveis, à esquerda, o edifício César Augusto Bordallo ocupado, em 1933, pelo Futebol Clube do Porto e o do Clube dos Fenianos, ocupado em 1935.

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