terça-feira, 14 de janeiro de 2025

25.264 Escolha do local na cidade para a construção da estação terminal da linha do Norte e construção da Ponte Maria Pia

 
À data do lançamento da primeira pedra da linha do Minho, em S. Roque, em 12 de Julho de 1872, continuava sem ser decidido o local da estação terminal no Porto, o que só aconteceria no último dia desse ano.
Para esse efeito, um primeiro projecto da autoria de Eusébio Page seria apresentado em 11 de Fevereiro de 1862, pela “Companhia Real dos Caminhos de Ferro Portugueses”, empresa que substituíra uma outra, a “Companhia Central Peninsular dos Caminhos de Ferro em Portugal”, que tinha sido formada para a construção do caminho-de-ferro de Lisboa até à fronteira de Espanha, passando por Santarém, mas que acabaria por falir.
José Salamanca, empresário, capitalista, banqueiro e político espanhol, com uma actividade de anos como construtor da via-férrea de Espanha, propõe-se retomar os projectos que se encontravam suspensos em Portugal, tutelados por aquela Companhia Real.
Para o atravessamento do rio Douro, na proposta referida, seria necessário que, à saída da estação das Devesas, deveria ser feito um túnel que atravessaria a Serra do Pilar e, por intermédio de uma ponte em ferro de 9 vãos, 27 metros acima do nível da baixa-mar, seria atingido o Esteiro de Campanhã, onde ficaria a estação ferroviária, entre a foz dos rios Torto e Tinto. Daqui, seria feita uma ligação às linhas do Minho e do Douro.


 

Igreja da Serra do Pilar, em 1833 – Gravura de Joaquim Villanova


 
 

Esteiro de Campanhã

 
 

Ponte de madeira sobre o rio Torto, ao Esteiro de Campanhã, reconstruída após um temporal ocorrido na década de 1930
 
 
 
 
Dada a distância considerável do centro do Porto, a que ficaria uma estação no Esteiro de Campanhã, a solução não avançaria, apesar de algumas poucas intervenções efectuadas.
Surge, então, uma segunda hipótese que propunha para a edificação da estação, a zona das Fontainhas ou do Prado do Repouso.
Nesta hipótese, a partir das Devesas o percurso seria feito até à Pedra Salgada, sendo o rio atravessado por uma ponte 27 metros acima do nível da maré-cheia, a que se seguiria um viaduto sobre o vale do rio Torto até à aldeia do Pego Negro, onde ligaria directamente à solução proposta para a estação.
Como as expropriações seriam imensas, o projecto não vingaria. Acresce o aparecimento de um diferendo entre o Governo e a empresa construtora sobre o atravessamento em via dupla pela ponte que uniria as duas margens, hipótese que José Salamanca rejeitava.
Após uma intervenção de um tribunal arbitral e de outras negociações, é acordado que a concepção da ponte, com possibilidade de introdução futura de uma 2ª via, seja abandonada e é fixado que a estação fique no Campo do Cirne.

 
“O espaço em questão era, até 1880, um imenso território dividido a meio pela estrada de Campanhã (Rua de Reimão/ 29 de Setembro/Heroísmo), pertença dos mesmos proprietários da Quinta do Fragoeiro (…).
O Campo do Cirne, com os seus extensos terrenos ao sul do Campo de Mijavelhas, até ao Prado do Bispo e à Quinta da Fraga, eram da quinta do Reimão, pertença da família Cirne de Madureira desde pelo menos o século XVI. Esta quinta de dimensões assinaláveis permanecia por urbanizar sete anos depois da chegada do primeiro comboio a Campanhã, sendo naturalmente um lugar apetecível para o efeito”.
Cortesia de Jorge Ricardo Pinto – In “O Porto Oriental no final do século XIX”

 
 
Em Maio de 1864, já alguns proprietários de terrenos, no Campo do Cirne, procuravam transaccioná-los, tendo em consideração a estação ferroviária projectada para o local.
 
 
 

In jornal "O Commercio do Porto" de 23 de Maio de 1864
 
 
 
Nesta solução, seria então no Campo do Cirne, atravessado pela Estrada de Campanhã, que seria realizada a ligação às linhas do Douro e Minho, tentando ainda aproveitar-se algum do trabalho já feito, anteriormente.
Estávamos em 8 de Novembro de 1869. Porém, os diferendos entre as partes envolvidas continuaram.
É, por fim, apresentado ao governo uma nova solução da autoria de Manuel Afonso Espregueira, Pedro Inácio Lopes e Gustav Eiffel, em 31 de Dezembro de 1872.
Então, tudo se mantinha até ao Alto da Bandeira, junto a General Torres. O percurso seguinte era feito através de um túnel de 200 metros e, na margem elevada do rio, em frente ao Seminário, seria lançada uma ponte metálica de 355 metros, à altura de 62 metros acima do nível da baixa-mar.
Na margem direita do rio, por intermédio de um túnel no Seminário e outro na Quinta da China, alcançava-se o local da estação terminal, em terrenos da Quinta do Pinheiro, razão pela qual a estação ferroviária se começou por chamar Estação do Pinheiro de Campanhã.


 

Túneis atravessando o Monte do Seminário

 
 
Em 3 de Fevereiro de 1875, é celebrado o contrato com a casa Eiffel Constructions Métalliques, de Paris e, em 4 de Novembro de 1877 é, por fim, inaugurada a ponte Maria Pia com a presença do casal real que, nessa manhã, assistiram a uma missa na capela de Carlos Alberto, ao Palácio de Cristal, honrando deste modo a rainha a memória do seu avô – o rei Carlos Alberto.
Chegada a comitiva real, ao Porto, em 3 de Novembro de 1877, por aqui ficaria até ao dia 9 de Novembro, com um programa que, para além da inauguração da travessia do Douro e da Estação de Campanhã (que já vinha funcionando desde há cerca de dois anos), teve ainda associado diversos aspectos lúdicos, entre eles se destacando as corridas de cavalos acontecidas no Hipódromo de Matosinhos.
 
 
 
 

Notícia da chegada do casal real à Estação das Devesas para presidirem à inauguração da ponte Maria Pia - In jornal “O Comércio do Porto” de 4 de Novembro de 1877
 
 
 
O projecto da ponte é do Eng.º Théophile Seyrig. O Início de construção ocorreu a 5 de Janeiro de 1876 e a conclusão da obra foi a 31 de Outubro de 1877.
Foi inspirado nesta ponte que, anos mais tarde, em França, seria lançado o célebre viaduto Garabit.

 
 

Construção da ponte Maria Pia, observando-se no cimo do monte o antigo edifício do Seminário Maior, ainda em ruínas, fruto das lutas do Cerco do Porto, em 1833



 

Construção da ponte Maria Pia, em processo de conclusão dos trabalhos

 
 
 

Construção do viaduto do caminho-de-ferro para acesso da estação das Devesas, em Vila Nova de Gaia, à ponte Maria Pia, em 1876


 
 

Estação de Campanhã, no início do século XX
 
 
 
 
 
Necessidade de adequar a Ponte Maria Pia ao desenvolvimento do transporte ferroviário
 

 
Inaugurada a Ponte Maria Pia, desde logo se observou que haveria de melhorar o seu funcionamento.
Assim, começou por ser lamentar a ponte não ter via dupla e, para além disso apresentava algumas fragilidades: a reduzida largura (3,10 m) e interrupção das vigas principais no fecho do arco e a sua extraordinária leveza, que embora tenha facilitado a sua construção, impedia leituras topográficas em provas de carga.
Com 20 anos de idade, a ponte preocupava os técnicos. Assim sendo, em 1890, foi criado em Ovar, uma oficina de Obras Metálicas destinada a apoiar os trabalhadores na manutenção da ponte, cujos trabalhos ocorreram entre 1900 e 1906. A ponte exigia, à data, restrições de carga e velocidade: 14 ton/eixo e 10 km/h.
Em 1909, a ponte foi inspeccionada por um técnico francês – Eng.º Manet Rabut.
Em 1916, foi criada uma comissão para estudar a implantação de uma 2.ª via.
Em 1928, após cerca de 50 anos sobre a inauguração da travessia ferroviária do rio Douro, começa a colocar-se a hipótese de construção de uma segunda ponte.
Entretanto, tinha sido eliminada a junta entre os carris, soldando-os, e que elevou a velocidade para 20 km/h e as cargas foram elevadas até 17,5 ton/eixo.


 

Ponte Maria Pia, antes da abertura da marginal entre o Freixo e a Ribeira
 
 
 
 
Os projectos sucederam-se, agora para substituição da velha ponte: construção de uma nova de via dupla e eixo rodoviário (em betão ou metálica?); construção de ponte metálica (tabuleiro superior rodoviário e inferior ferroviário). O costume.
Em 1963, já tinha sido construída a Ponte da Arrábida e a situação não se alterava.
Entretanto de reforço em reforço, apesar da manutenção da velocidade em 20 km/h, a carga passa a 20 ton7eixo.
Em 1976, finalmente, é aberto concurso para nova ponte, utilizando o cimbre da Ponte da Arrábida. Das seis propostas apresentadas, cinco sugeriam variantes. Novo adiamento.
Em 1982, a Ponte Maria Pia é declarada Monumento Nacional.
Em 1983, aberto novo concurso internacional, vai ter financiamento do Banco Europeu de Investimentos.
Em Maio de 1991, terminaria a construção da Ponte S. João, em projecto do Eng.º Edgar Cardoso.
A Ponte Maria Pia, é abandonada e, assim se encontra, decorridos que são já trinta e quatro anos.
 



Cronologia de algumas intervenções importantes nos caminhos-de-ferro
 
 
 
Cronologia inserida em editorial - In jornal “O Comércio do Porto” de 4 de Novembro de 1877
 
 
 


Fonte: “pt.wikipedia.org/wiki/”

 
 


 
 

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