domingo, 22 de junho de 2025

25.282 Pesquisa das moradas de Ana Plácido na Rua do Almada

 
Rua das Hortas e Rua do Almada
 
 
Segundo Horácio Marçal, a Rua das Hortas ia da Calçada dos Clérigos até à Rua de Santo António dos Lavadouros depois, Rua dos Lavadouros (actual Rua Elísio de Melo), como é explicitado, abaixo, na porção de um texto daquele historiador.

 
 

In revista “O Tripeiro”, Vª Série, Ano IX, Março de 1954, pág. 339
 

 
A partir dali, para norte, começou a ser aberto em 1761, o arruamento que começou por chamar-se Rua Nova do Almada e que, mais tarde, passaria a ser a Rua do Almada
Naquela data, a Rua das Hortas já existia há alguns anos.
Em 29 de Julho de 1760, D. José I tinha autorizado a construção da Rua do Almada. As obras de abertura e calcetamento começaram em 1761 e duraram até 1785.
 
 
 

Planta de 1761 de Francisco Xavier do Rego, sargento-mor de Infantaria, com o exercício de engenheiro, técnico escolhido por João Almada para abertura da Rua do Almada
 
 
Legenda da planta acima:
 
- A Rua de Santo António dos Lavadouros (1) seguiria, para poente, pela antiga Rua da Picaria (2), que era no lado Norte da actual Praça de Filipa de Lencastre. A actual Rua da Picaria era a antiga Travessa da Picaria (3), que termina na Praça da Conceição.
- Na parte nascente do Monte da Douda (4) foi construída, mais tarde, a igreja da Trindade.
- A Rua das Hortas (5) estendia-se para lá da Rua da Fábrica (6)
 
 
 
 
Atribuição de n.ºs de polícia
 
 
Para fazer a identificação de algumas moradas, na cidade do Porto, é necessário ter como referência a data de Abril de 1860.
Acontece que, antes daquela data, as moradas eram identificadas por um n.º de polícia, cuja atribuição ocorreu gradualmente, ao longo do tempo, com o objectivo de organizar e facilitar a localização de edifícios, principalmente, para distribuição do correio e que era atribuído da seguinte forma:
Começava-se numa origem e a rua ou praça, em causa, era percorrida no sentido dos ponteiros do relógio.
Como se depreende da aplicação daquele método, os n.ºs de polícia eram corridos.
As identificações eram afixadas às habitações pela distância de portas e janelas ao ponto de origem.
Aquela distância era executada em metros ou varas (1,10 metros) de acordo com os técnicos que procediam à tarefa.
A obrigatoriedade da aplicação do sistema métrico, só se verificaria no início do século XX, pelo Código de Posturas do Município do Porto de 1905, nomeadamente, no seu n.º 3, do art.º 186.
Da aplicação prática daquela determinação resultaram alterações óbvias, com algumas excepções, pois algumas moradas mantiveram-se.
A partir de 1860, o visconde de Gouveia, Governador Civil do Porto faz publicar um edital com um conjunto de regras que subsiste até hoje.
Assim, o método de determinação dos n.ºs de polícia continuaram a ser corridos, apenas para os largos e praças.
No caso das ruas, um lado passa a ter números pares (direita) e o lado oposto ímpares (esquerda), de acordo com a orientação a partir de uma origem, na qual o observador tomava o rio Douro, nas suas costas, como referência.
No caso das ruas paralelas ao rio Douro o sentido de orientação era o do seu fluxo para a foz.
Segue texto de parte do edital atrás referido.
 
Edital
 
Jozé Freyre de Serpa Pimentel de Mansilha e Silva Donnas Botto de Mesquita Sequeira e Vasconcellos, 2.º visconde de Gouveia, par e grande do reino, moço fidalgo com exercicio no paço, socio do real conservatorio de Lisboa, e do instituto de Coimbra, juiz no quadro da magistratura judicial, e governador civil do districto do Porto. 
Convindo ao bom regimen policial, economico, e administrativo, e ao interesse particular dos cidadãos, que as ruas, praças, largos, e mais logares publicos desta cidade, Villa Nova de Gaia, e seus suburbios, sejão conhecidos por denominações claras, simples, e distinctas; e que a numeração dos predios siga uma ordem regular e methodica; considerando que as inscripções de muitas ruas e logares publicos se acham apagadas ou deterioradas pelo tempo, e não são em numero sufficiente carecendo-se portante d'uma renovação geral, - sendo esta a melhor occazião d'emendar os defeitos de muitas denominações, já por haver ruas que se prolongão mudando de nome, já porque outras tem denominações repetidas, vagas, ou confuzas; - attendendo a que differentes reprezentações me teem sido inderessadas, pedindo providencias sobre a numeração dos predios, em razão das muitas irregularidades, a que dão logar não só as multiplicadas edificações e reformas, mas também a má ordem da antiga numeração em partes interpolada, em partes apagada; - tendo colhido as convenientes informações dos respectivos administradores dos bairros, e concelhos, e da camara municipal; - ouvindo o conselho do districto, que conveio na oportunidade das medidas; - e visto o codigo administrativo, os artigos 224 e 227; e as portarias de 27 de setembro de 1843, e 9 de julho de 1859, determino o seguinte:  (…) 
O lado direito de uma rua, travessa, ou viella (tanto aquém, como além Douro) será determinado nas que correrem perpendicular, ou obliquamento ao rio, pela direita do viandante, que marchar afastando-se do mesmo rio; - e nas que forem paralelas, pela direita do que marchar no sentido da corrente. 
Porto 20 d'Abril de 1860. - O governador civil, Visconde de Gouvêa
 
 
 
O edital atrás transcrito concluía com a publicação de uma reorganização toponímica que, entre outras alterações, provocou que a rua, até aí conhecida como Rua das Hortas, passaria a fazer parte da Rua do Almada.

 

Casa onde nasceu Ana Plácido
 
 
 
Ana Augusta Vieira Plácido era filha de António José Plácido Braga (1795-1852) e de Ana Augusta Vieira (1799-1855), tendo nascido em 27 de Setembro de 1831, na Travessa da Praça D. Pedro, nºs 5 a 9.
Hoje, o perfil correspondente à tal travessa coincide com a Rua do Dr. Artur Magalhães Basto, pelo que, a casa onde teria nascido Ana Plácido, não existe mais, como se verá.
Na igreja de Santo Ildefonso, no registo do seu baptismo, é dada uma morada da Praça Nova.
Os pais de Ana Plácido construíram uma família numerosa e, para além dela, conceberam Antónia Cândida Plácido Braga, Eduardo Augusto Plácido, Alberto Augusto Plácido, Emília Antónia Plácido e 10 outros.
Assim, impunha-se que os cómodos para alojar tamanha prole tivessem de ser de uma certa envergadura.
Acontece que, em 14 de Julho de 1838, António José Plácido Braga fez um pedido de licenciamento, para executar obras num prédio, de que se dizia proprietário, sito na Travessa D. Pedro, nºs 3 a 9, com frente para a Rua das Hortas, nºs 149 a 151.
Pelas regras de atribuição de números de polícia e para o caso concreto anterior, se pode concluir que, no caso da Rua das Hortas, a numeração tinha a sua origem na sua confluência com a Calçada dos Clérigos e continuava pelo lado poente da rua passando, depois, para o lado nascente, seguindo o sentido dos ponteiros do relógio.
 
 
 
 

Pedido de licenciamento de 14 de Julho de 1838, que originou a licença nº 169/1838 – Fonte: AHMP


 
Assim, se pode concluir, que o prédio onde teria nascido Ana Plácido fazia esquina com a Rua das Hortas. Falta saber se seria a esquina a norte ou a sul.
Um requerimento dirigido por José António Silva Braga, à Câmara do Porto, três anos após a morte de António José Plácido Braga, para execução de obras num prédio e que obteve a licença nº 434/1855, parece resolver a dúvida.
O requerente, junto dos serviços camarários, apresenta-se como proprietário do prédio em causa e solicita o lançamento nele de mais um andar.

 
 

Requerimento apresentado à Câmara por José António da Silva Braga, solicitando o acrescento de um andar num prédio, que obteve o nº 434/1855
 


 

Desenho das fachadas do prédio integrante de projecto apresentado à Câmara do Porto, que obteve o nº 434/1855, para solicitar o acrescento de mais uma andar
 
 
 
No desenho anterior, a fachada, ao centro, é indicada como sendo a da Travessa da Praça D. Pedro, a da direita, como a voltada para a Rua das Hortas e, a da esquerda, a voltada para a Praça D. Pedro (antes, Praça Nova).
Acrescenta-se que, no mesmo desenho, está representada, à esquerda, uma fachada identificada como voltada para a Praça, o que está de acordo com o registo de baptismo de Ana Plácido, existente na igreja de Santo Ildefonso, que a dá como nascida, algures, na Praça Nova.
Pode, então, concluir-se, que o prédio onde nasceu Ana Plácido é o da esquina a sul que, hoje, é chão da delegação do Banco de Portugal, no Porto. 
O requerente, anteriormente mencionado, José António da Silva Braga, passados cerca de oito anos, encontrava-se comerciando, naquele local, de acordo com o anúncio seguinte.
 
 
 
 

In jornal “O Comércio do Porto” de 30 de Abril de 1863
 
 
 
 
Antes da edificação da actual delegação do Banco de Portugal, no prédio do gaveto formado pela Praça D. Pedro (Praça da Liberdade), Travessa da Praça D. Pedro (Rua Dr. Magalhães Basto) e Rua do Almada (nesse local, antes, a Rua das Hortas), aí estava, a firma de materiais de construção e aparelhos sanitários "Arnaldo Lima" e a empresa de transportes L'Éclair.


 
 

No início do século XX, o prédio, mais à direita, do qual se observa uma nesga e, ao qual, ao longo dos anos, foram acrescentados mais andares, é aquele onde nasceu Ana Plácido
 
 
 
 

Esquina da Travessa da Praça D. Pedro e Rua do Almada, antes da construção do Banco de Portugal




Casa onde morou, em jovem, Ana Plácido
 
 
 
Tudo aponta que Ana Plácido viria a mudar-se, ainda muito jovem, para a Rua do Almada, nºs 27 a 30, acompanhando a família e aqui viveu até se casar.
De facto, em Fevereiro de 1839, António José Plácido Braga solicita à Câmara do Porto a realização de obras em duas moradas de casas que possuía na Rua Nova do Almada, nºs 27  e 30, que obtém a Licença de obra n.º 221/1839, dizendo-se, então, morador na Travessa da Praça D. Pedro, nºs 5 a 9 (morada atribuída para o nascimento de Ana Plácido).
Durante muitos anos a Rua do Almada era denominada Rua Nova do Almada e, a Rua das Hortas, por Rua Nova das Hortas.
De acordo com o anúncio abaixo, aquelas duas moradas de casas, de dois andares, tinham ligações à Picaria e, por isso, situar-se-iam, na Rua do Almada, no sentido ascendente, à esquerda.
De notar, que aquele n.º de polícia é anterior a 1860.
 
 
 
In jornal "O Comércio do Porto" de 27 de Outubro de 1859
 
 
 
 
A arrematação anunciada, acima, realizava-se após decorridos, cerca de sete anos, sobre o naufrágio do vapor Porto, no qual morreu o pai de Ana Plácido e decorreria de um processo de partilhas.


 

Porto, na Planta de George Balck, em 1811
 
 
Legenda da planta acima:
 
1. Rua das Hortas
2. Rua dos Lavadouros
3. Travessa da Picaria
4. Rua do Almada
 
 



Planta de Perry Vidal de 1844
 
 
Legenda da planta acima:
 
1. Rua das Hortas
2. Rua do Almada
3. Rua dos Lavadouros
 
 
 
De acordo com a atribuição dos n.ºs de polícia, antes de 1860, a morada da Rua do Almada, 27 a 30, distaria entre 27 a 30 varas ou metros da confluência das ruas das Hortas e dos Lavadouros, á esquerda, sentido ascendente.
 
 
 
 

Planta de Joaquim Costa Lima de 1839

 
 
Considerações sobre a planta anterior:
 

- Todas as moradas englobadas na elipse preta já existiam desde o lançamento da Rua do Almada, em 1761, pelo que, à data de 1839, faziam e fizeram parte da Rua das Hortas;
- A elipse amarela aparentemente numa área não construída era o local de implantação daquela que ficou conhecida como a Primeira Fonte da Rua do Almada e que tinha existência desde 1795.
- O prédio, mais a poente, na esquina da Rua da Picaria, dentro da elipse azul, tinha existência desde há mais de um século quando, em 1865, viu ser-lhe acrescentado mais um andar.
Pertencia, à data, ao visconde da Penna (título nobiliárquico atribuído pela corte espanhola).
 
 
 
 

Primeira Fonte da Rua do Almada, em 1909
 
 
 

À esquerda, o aglomerado de pessoas encontra-se junto da Primeira Fonte da Rua do Almada
 
 
 
A atribuição de números de polícia, na Rua do Almada, antes de 1860, tinha a sua origem, no seu lado poente, após a fonte da foto e passaria, depois, para o lado nascente, seguindo o sentido dos ponteiros do relógio.
 
 
 

Local actual onde se encontrava a Primeira Fonte da Rua do Almada
 
 
 
 
Morada de Ana Plácido, após casamento
 
 
 
Em 28 de Setembro de 1850, no dia seguinte ao seu 19º aniversário natalício, Ana Augusta Vieira Plácido iria casar e passaria a ser Ana Augusta Plácido Pinheiro Alves, passando a viver, ao que se sabe, na casa alugada onde vivia na Rua do Almada o seu marido, Manuel Pinheiro Alves (1807-1863).
Àcerca deste casamento, Camilo Castelo Branco ironizava:
 
"E no Porto? Isso então, rapariga bonita, às duas por três, está num papo dum brasileiro que tenha 50 contos, tanto faz que ele seja velho, com zarolho, como raquítico".
 
O romance de "A Paixão de Camilo (Ana Plácido)" de Rocha Martins, Lisboa, 1900, sobre o afortunado noivo, narrava:
 
 
“Tinha quarenta e tres anos e era do logarejo de Souto, visinho de S. Miguel de Seide, um povoado triste, à beira de Famalicão onde se chegava por atalhos e quinteiros, saltando barrocos, à sombra das uveiras; os seus labutavam na chã e ele, depois de talhar a estrada do ganho, comprar a casa de portão na aldeia, acomodara-a, tomara servos e deixando os parentes a lidar partira para o Porto, abrira escritório de corretagem de barcos, instalara-se num andar espaçoso no 378 da rua do Almada donde espreitava a noiva que ia completar o seu sonho de “brasileiro” opulento.
Puzera-se a auxiliar o futuro sogro e talvez fosse esta ajuda o motivo primaz daquela união. Os cônjuges diferiam tanto em edades que não se poderia levar á conta de reciproca simpatia o acto que se ia realizar”.
 
 
 
Sobre a imposição deste casamento a Ana Plácido, por parte da família, ela acabaria por descrever o acto como a busca da felicidade pela abastança.
Sendo a obra acima citada uma das mais conceituadas sobre a vida de Camilo Castelo Branco, começou a aceitar-se, desde a sua publicação, que a morada do primeiro casamento de Ana Plácido fosse a da Rua do Almada, n.º 378.
Naquela obra, era apresentada uma foto do prédio, em causa, exibida a seguir.


 


 
 


Actualmente, em primeiro plano, o prédio da Rua do Almada, n.º 378, onde está o Restaurante Camilo que é o mesmo da foto anterior


 
 
Desconhece-se como Rocha Martins resolveu a conversão do n.º de polícia anterior a 1860 para o actual.
Para complicar a situação, no romance, o seu autor legenda a foto, colocando o prédio exibido, na Rua do Almada, n.º 385, como se mostra, na foto abaixo, em destaque.

 
 
 


 
 
 
Acreditando, que esta última morada é anterior a 1860, podemos concluir que nela viveu Ana Plácido até a 28 de Janeiro de 1859, quando foi expulsa de casa, com o seu filho pequenito, Manuel Plácido.
Então, Rocha Martins teve acesso a documentos que não divulgou.

domingo, 15 de junho de 2025

25.281 Casinos nas redondezas da cidade do Porto

 
1. Casino de Vila do Conde
 
Este casino, denominado “Casino da Praia de Vila do Conde” ou “Grande Assembleia de Vila do Conde”, foi inaugurado em 7 de Agosto de 1918, pelos empresários José Meneres, Álvaro Carvalho, Carvalho Paiva e Alberto Ventura, associados na “Companhia Portugueza de Turismo”, na esquina da Avenida Júlio Graça e Rua Bento de Freitas, próximo do teatro Afonso Sanches e projectado pelo arquitecto Eduardo Alves.
Com a fachada principal voltada para um jardim público, o seu rés-do-chão era ocupado pelo café, o restaurante e a barbearia e o seu primeiro andar pela assembleia. O seu salão de baile tinha 216 m2.
 
 
 

“Casino da Praia de Vila do Conde” ou “Grande Assembleia de Vila do Conde”

 
 

Publicidade à abertura do restaurante do casino, em 7 de Julho de 1920
 
 
 
 
 


 
Como era norma nestes empreendimentos de unidades ligadas ao jogo, associado ao casino de Vila do Conde, seria inaugurado na Rua de Bento de Freitas, em 1 de Agosto de 1920, o “Palace-Hotel” de Vila do Conde, com projecto do arquitecto Francisco d’Oliveira Ferreira.
A autorização para a construção de um hotel já tinha sido atribuída, em 1914, à “Sociedade Praia de Vila do Conde” que era proprietária do Hotel Universal, à Praça da Batalha, no Porto.
Porém, dada a grandeza do empreendimento, teve que ceder a posição à “Companhia Portugueza do Turismo” e nela se fundiu.
A “Companhia Portugueza do Turismo” tinha como elementos da administração o Dr. Alberto Thomaz David, António Teixeira da Silva Amarante, José da Fonseca Menéres e Luís Ferreira Alves.
Aquando da abertura do “Palace-Hotel”, era seu administrador-delegado da Companhia Adolfo de Castro e Solla, oferecendo alojamento a 60 hóspedes.
No entanto, as obras prosseguiram até ser atingida a meta dos 200 hóspedes.
 
 
 

“Palace-Hotel” de Vila do Conde


 

Etiqueta de bagagem
 
 
 
O “Palace-Hotel” resultou de uma profunda remodelação do então existente “Hotel da Avenida” inaugurado em 1887, sendo propriedade do presidente da edilidade vila-condense Joaquim Luiz de Souza, estava dotado também com um café.
 
 
 
 

Hotel Avenida

 
 

Publicidade ao Café da Avenida, em 1887
 
 
 
Até 1909, o Hotel Avenida e o Café da Avenida tinham sido administrados pelo proprietário e seus familiares, mas, a partir daí, começou a ser administrado pelo proprietário do Hotel Central, José Maria de Faria e Sousa, que o arrendou por 10 anos.
Todavia por falecimento, em 1912, da sua esposa, que administrava as diversas unidades hoteleiras, entrou numa série de incumprimentos.
Assim, em 1913 a gerência estava entregue a Amaral Correia e a Teixeira e Silva.
Após um período de decadência, em 1919, entrou na posse de Francisco Lopes Novo e, no ano seguinte da “Sociedade da Praia de Vila do Conde”.


 

“Palace-Hotel”, em frente e, à direita, o “Casino da Praia de Vila do Conde”

 
 
Em 1929, um incêndio afectou grandemente o hotel.
A partir do encerramento do casino, o hotel atravessou uma fase de decadência.
Em 1939, estava sob gerência de Narciso Garrido Boulhosa, de acordo com a publicidade abaixo.

 
 


 
 
O “Palace-Hotel” encerraria em 1958.
Em 1959, na posse da companhia de seguros “A Mundial”, sofreria obras de vulto.
 


 

Palácio Hotel, em 8 de Maio de 1960, após intervenção da companhia de seguros “A Mundial”
 
 
 
Exterior e interior do “Palácio Hotel” de Vila do Conde
 
 

“Palácio Hotel” de Vila do Conde fechou, definitivamente, em 1969 e, a partir de 1975, as suas instalações foram ocupadas por retornados das ex-colónias e esporadicamente serviu de apoio à “Feira Nacional de Artesanato”.
Em 1999, a propriedade foi vendida a uma empresa de investimentos imobiliários “IGF Investimentos Imobiliários S.A.”, mas, desde então, tudo se encontra ao abandono.
Quanto ao “Casino da Praia de Vila do Conde”, há muitos anos atrás que tinha fechado portas.
Em 1934, seria inaugurado o novo “Monumental Casino da Póvoa de Varzim”, em virtude de regulamentação surgida anos antes.
Em 1936, o “Casino da Praia de Vila do Conde” não aguentou a concorrência e encerrou, completamente, as suas portas.
Apenas, na década de 1950, as instalações voltariam a ser ocupadas pelo “Colégio de S. José”, até ao ano de 1988, quando foi comprado pela câmara Municipal que aí instalou o Centro de Juventude.
 
 
 
 

Antigas instalações do casino, actualmente – Fonte: Google maps
 
 
 
 
 
2. Casinos do Estado Novo
 
 
 
Durante muitos anos, após o aparecimento dos casinos, a partir da segunda metade do século XIX, que a sua actividade se exercia na ausência de qualquer regulamentação.
Era permitido e tolerado o funcionamento de locais de jogo de fortuna ou azar, muitas das vezes, a troco de subsídios para obras assistenciais, mormente nas praias e termas frequentadas pela burguesia.


 

Informação do Casino da Praia de Vila do Conde, em 8 de Agosto de 1920, dando conta da sua faceta de âmbito social
 
 


Então, no Ministério do Coronel Vicente de Freitas, foi promulgada legislação para regulamentar a exploração do jogo, pelo Decreto n.º 14643, de 3 de Setembro de 1927.
Foram, em sequência, criadas seis zonas de jogo: Estoril e Funchal, como zonas permanentes e quatro zonas temporárias, respectivamente, na Praia da Rocha (concelho de Portimão), Figueira da Foz, Espinho e Viana do Castelo.
Entretanto, nesta última localidade, foi impossível criar uma sociedade que concorresse à instalação aí de um casino.
Foi, quando, um conjunto de vontades poveiras se abalançou a tomar a seu cargo a possibilidade de que a Póvoa de Varzim substituísse Viana do Castelo.
 
 
 
2.1 Casino da Póvoa de Varzim
 

Este casino foi inaugurado em 1934, na sequência de legislação aprovada em 1927 e fruto da impossibilidade de Viana do Castelo de exercer esse direito que alienou.
Depois de alguma luta, esse desiderato foi conseguido pelo Despacho n.º 212 de 14 de Setembro de 1928, publicado no DR e com a adjudicação à Comissão Administrativa da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim, por um período de 30 anos. Uma autorização especial do Ministério do Interior vai possibilitar que a Câmara passe a fazer para o efeito parte da Empresa de Turismo Praia da Póvoa de Varzim, SARL (ETPPV).
Até essa altura, o jogo tinha lugar no Hotel Luso-Brasileiro, Café Suisso, Café David e Café Universal,
A primeira assembleia geral da Empresa de Turismo Praia da Póvoa de Varzim (ETPPV) ocorreria em 13 de Junho de 1929 e elegeria os primeiros corpos sociais.
A ETPPV, por questões de cariz operacional, resolveu sub-adjudicar, por 10 anos, os direitos de exploração, a uma outra empresa constituída por Joaquim Correia Leal e Artur Teixeira Bessa.
Entretanto, enquanto não era erguido o edifício do novo casino, o jogo funcionou, em 1928, na antiga Assembleia Povoense, depois, sede do Clube Desportivo da Póvoa e, entre 1929 e 1933, nos salões do antigo Café Chinês, no Largo Dr. David Alves, onde foi erguido o Póvoa-Cine.
Este estabelecimento tinha sido fundado por Carlos Evaristo Félix da Costa (1828-1906).
Este empresário, antigo negociante de escravos no Brasil, nasceu no Porto e decidiu, retornado de terras sul-americanas, investir em duas zonas balneares emergentes: na Póvoa de Varzim, onde passaria a residir, a partir da década de 1880, inaugurando em 1886, o Café Chinês quando, em 1861, já tinha inaugurado outro Café Chinês, em Espinho.
Juntamente com os filhos, Alberto Evaristo Félix da Costa ( 1858-1911 ) e Carlos Evaristo Félix da Costa Júnior, Carlos Evaristo Félix da Costa explorou, também, o comércio de importação de artigos orientais.
Alberto Evaristo, a par deste negócio estabeleceu-se em 1894 como fotógrafo na Póvoa, criando em 1895 a “Photografia Evaristo”, no Largo do Café Chinês (hoje Largo Dr. David Alves), na esquina com a Rua do Norte (hoje Rua da Alegria).
 
 
 

Café Chinês, na Póvoa de Varzim

 
 

Póvoa Cine, na Póvoa de Varzim
 
 
 
Interior do Café Chinês, na Póvoa de Varzim
 
 
  
O lucro para a ETPPV, começou por ser no primeiro ano de 100 contos e no fim dos 10 anos de sub-adjudicação um total de 1.600 contos que cobriu a construção do novo casino.
No contrato com o Estado foi imposto à ETPPV a construção de um casino e de um hotel de 1.ª categoria com 100 quartos.
 
 
 

Monumental Casino da Póvoa de Varzim
 
 
 
O projecto do Monumental Casino foi, inicialmente, da responsabilidade do arquitecto lisboeta, José Coelho, coadjuvado pelo engenheiro municipal Alberto Vilaça.
Quando, em finais de 1931, o engenheiro Vilaça deixou a Póvoa de Varzim por ter sido colocado a direcção Técnica da Junta Autónoma dos Portos do Norte , em Viana do Castelo, o arquitecto José Coelho também se retirou, sendo substituído pelo arquitecto portuense, Rogério de Azevedo responsável, também, do projecto do hotel.
Rogério de Azevedo, conhecido como autor de uma arquitectura vanguardista, neste caso, apresentaria uma solução estética mais tradicional, à maneira da Escola de Raúl Lino, em voga nos anos 30.
A área de implantação do casino, após algumas hipóteses alvo de estudo, recaiu sobre um terreno pertencente ao património municipal, onde estava um Parque de Ténis, que era a paixão do capitão do porto, comandante Alberto Jacques.
No caso do Grande Hotel Palácio, a implantação escolhida recaiu no chão ocupado pelo Hotel Luso-Brasileiro, com frente para o topo sul da alameda do Passeio Alegre e pela sua aquisição aos herdeiros de José Martins de Oliveira e de mais dois prédios, com frente para a Rua Tenente Valadim, pertencentes ao visconde de Lindoso.
 
 
 

Grande Hotel Palácio, mais tarde, Grande Hotel da Póvoa de Varzim
 
 
 
 
 

Em perspectiva, a partir do Passeio Alegre, o Monumental Casino (à direita) e Grande Hotel Palácio (à esquerda)
 
 
 
Em 1930, a ETPPV acrescentaria ao seu património o Stadium Gomes de Amorim, localizado no Alto de Martim Vaz, que seria vendido pela quantia de 250 contos, pelo empresário agrícola Manuel Gomes de Amorim (1857-1918), nascido em A-Ver-o-Mar, sobrinho do poeta Francisco Gomes de Amorim (1827-1891).
  
 
“No início do século XX, criam-se estruturas de apoio à cidade no Alto de Martim Vaz. Primeiro com o Velódromo, em 1925 transformado no Estádio Gomes de Amorim, casa do Sporting Club da Póvoa, criado em 1916 e que irá subsistir até meados da década de 1940, até então jogava no Velódromo. O Estádio era propriedade da empresa Póvoa-Praia. A Avenida dos Banhos tinha sido prolongada e criada a Avenida Vasco da Gama. O Estádio do Varzim Sport Club é inaugurado a 13 de Setembro de 1932, o clube tinha sido criado em 1915 e, na altura, jogava num campo junto à Basílica Coração de Jesus. O estádio do Varzim localizava-se em frente ao Estádio Gomes de Amorim que será demolido e, no local, criadas as Piscinas Municipais e Court de Tenis da Póvoa de Varzim”.
Cortesia de “anossapovoa.blogspot.com”
 
 
O Alto de Martim Vaz ficava localizado no centro da Póvoa de Varzim. Era um afloramento de pedregulhos e areia onde se encontraram restos de uma antiga vila lusitano-romana e, depois, funcionou um velódromo.
Em 1 de Junho de 1934, o casino abre portas, para funcionamento das salas de jogo e de acordo com calendário pré-definido referente à concessão, mas a inauguração oficial do novo Casino da Póvoa de Varzim só ocorreria no dia 10 de Junho de 1934, pelo Major Luís Alberto de Oliveira, Ministro da Guerra, em representação do governo.
A obra inaugurada, ao estilo da Escola Francesa, de Garnier (criador da Ópera de Paris e do Casino de Monte-Carlo), previa a criação de duas alas laterais em amplos terraços, que não se concretizou.


 

Publicidade ao Monumental Casino, em 1934
 


 

Sala de jogo do Monumental Casino, em 1934
 
 
 
 
O Monumental Casino, antes e depois
 
 
 
Em 3 de Dezembro de 1975, a concessão do jogo é entregue à “Sopete, S.A.” que ficará obrigada a uma série de beneficiações das instalações quando, antes, em 1970, já tinha adquirido o Grande Hotel.
A partir de 18 de Agosto de 1981, legislação publicada para o efeito, vai determinar que a concessão de jogo da Póvoa de Varzim de zona temporária passe a permanente.
Actualmente, a concessão está atribuída à empresa “Varzim-Sol - Turismo, Jogo e Animação S.A.” e como acionista maioritário a “Sociedade Estoril-Sol, SGPS”.



 
 
2.2 Casino de Espinho
 
 
Não fugindo à regra, a vila de Espinho, em finais do século XIX e início do século XX, oferecia aos veraneantes a praia e uma série de momentos de lazer, mormente, espectáculos tauromáquicos, sessões dançantes e jogos de fortuna e azar.
Em Espinho, na segunda metade do século XIX, a jogatana era praticada em cafés e, entre todos, destacava-se o Café Chinês, na Avenida Serpa Pinto (actual Av. 8), cujo dono iria abrir outro Café Chinês, na Póvoa de Varzim.
Ramalho Ortigão, que de visita a Espinho, em 1876, se alojou, por certo no Hotel Bragança, ao Café Chinês de Espinho fazia referência, na sua obra “As Farpas”, vol. 1, p. 274 a 278, chamando-o de “Celeste Império”.
 
 
 
“Resumindo as impressões que deixou no meu espirito o exemplar instituto do Celeste Imperio em Espinho, eu faço votos fervorosos para que o paiz em todo o seu conjuncto possa um dia hombrear com a jogatina espinhense.
Á camara dos deputados, ao lyceu nacional de Lisboa, á galeria portuense de bellas artes, aos futuros museus escholares, commerciaes e industriaes, ao futuro theatro de opera popular, ás futuras salas de concertos e de conferencias scientificas e litterarias, desejo deveras uma installaçáo tão decorosa, tão elegante, tão bem accommodada aos seus fins como a d’este convidativo e confortavel estabelecimento. Aos debates parlamentares desejo vivamente a mesma compostura, a mesma gravidade, a mesma decencia, a mesma propriedade de expressões e a mesma nobreza de gestos, que caracterisam esta assembléa; e aos clubs politicos, aos centros artisticos e litterarios, ás companhias anonymas de responsabilidade limitada, ás juntas geraes de districto e ás juntas de parochia, aos bancos, ás associações commerciaes, aos cabidos, ás confrarias, ás collegiadas, e em geral a todos os corpos collectivos – de caracter politico, de caracter commercial, de caracter scientifico, de caracter religioso – eu desejo emfim, acima de tudo, o conjuncto e a cooperação de cavalheiros tão distinctos, tão illustres, tão idoneos e tão venerandos, como os que ora vejo presentes, em torno do panno verde, no ambito d’esta espelunca!”
 
 
 
 

Hotel Bragança, em Espinho, na esquina da Avenida Serpa Pinto (Av 8) e a Rua 19

 
 
Em primeiro plano, o Café Chinês e, ao lado, a “Assembleia Recreativa”
 
 
 
O rés-do-chão da Assembleia Recreativa acabaria por ser ocupado pelo Casino Peninsular.

 
 
 

À esquerda, a fachada do Café Chinês voltada para a Rua 19

 
 

Interior do Café Chinês, em Espinho
 
 
 

Esplanada do Café Chinês, em 1907, em Espinho – Foto de Aurélio da Paz dos Reis
 
 
 

Casino Peninsular nas instalações da antiga “Assembleia Recreativa”
 
 
 

Interior do Casino Peninsular de Espinho e exibição musical de um sexteto, em 1907
 
 



Espinho: Hotel Bragança, Café Chinês e Assembleia Recreativa
 
 
 
 
A concessão do jogo, nesta vila, foi entregue à empresa “Casino Peninsular, SARL”, mas, em 1928, já tinha passado para a “Sociedade Espinho-Praia, SARL” que, sob a administração de Mário de Freitas Ribeiro, tratou de ampliar as instalações do antigo Casino Peninsular.
Aquele empresário era também o proprietário, em Lisboa, do Bristrol Club”.
Este casino teve origem no Decreto n.º 14643, de 3 de Setembro de 1927, com funcionamento sazonal, entre 1 de Maio e 30 de Outubro, o que decorria da legislação. A partir de 1934 até 1976, aquele horário passou a ser de 1 de Junho a 30 de Novembro.
Como noutras localidades anexo ao casino, por aqui, também existiria o apoio de um hotel.
Começou pelo aproveitamento do então existente Hotel Bragança, mas, desde sempre, esteve no horizonte o levantamento do “Palácio Hotel”.
A profunda remodelação começaria em 1930.
Só, em 22 de Julho de 1939, depois de anos de espera, foi possível inaugurar o “Palácio Hotel”.
 
 
 

Palácio Hotel, em Espinho
 
 
Entretanto, em 1940, as obras de reconversão do edifício do antigo Casino Peninsular também prosseguiam, sob a orientação do arquitecto Carlos Chambers Ramos (1897-1969), no mesmo estilo art-deco exibido no Palácio Hotel.


 

Publicidade ao Grande Casino de Espinho, em 1942
 
 
 
O novo casino, ainda com obras a decorrer nos andares superiores, foi inaugurado em 1 de Junho de 1943.
Em 30 de Julho de 1943, seria inaugurado o salão nobre, no andar supeior.

 
 

Casino de Espinho

 
 

Publicidade ao Grande Casino de Espinho, em 1944

 
 

BAR do Hotel Palácio, em 1948, em Espinho
 
 
 
Em 6 de Agosto de 1951, seria inaugurado, no chão em que tinha estado o Café Chinês, anexo ao casino, o “Cine-Teatro do Casino de Espinho”, dotado de 358 lugares na plateia e 176 no balcão.
 
 



“Cine-Teatro do Casino de Espinho” (em primeiro plano) e Casino de Espinho
 
 
Em 30 de Junho de 1958, chegava ao fim a concessão à “Sociedade Espinho-Praia”, passando a ser detentora da mesma, até 1968, a “Sociedade Turismo de Espinho” constituída, em Junho de 1958, por José Dias Vieira de Magalhães e José Gonçalves Pinto Roma.

 
 

Casino de Espinho e “Picadeiro”
 
 
 
Na foto anterior é exibido o “Picadeiro” de Espinho, o local onde os veraneantes (famílias inteiras) vindos, principalmente, do distrito de Aveiro, alguns de Viseu ou do Porto se mostravam e exibiam e onde cumpriam o ritual de confirmarem reciprocamente a sua existência.
A Póvoa de Varzim e a Figueira da Foz também tinham o seu “Picadeiro”.
Em 1974, o governo de Marcelo Caetano entrega a concessão do “Casino de Espinho”, por 15 anos, à “Solverde”.
Foi, então, contractualmente a Solverde obrigada, entre outras obrigações, à construção de um novo casino.
No lugar do Palácio Hotel iria, assim, em dois quarteirões a sul, surgir um centro comercial, um apart-hotel com 13 pisos e, no quarteirão, a norte, um centro comercial de dois pisos, com parque de estacionamento sub-terrâneo que reverteria na extinção da concessão para a autarquia.
Em 14 de Agosto de 1979, seria inaugurado o novo casino.
Construído em duas fases, ocupou, em parte, o chão da “Pensão Demêtrio” que tinha sido adquirida, em 1972, pela Solverde.
Em 1980, começariam os trabalhos de demolição do antigo casino.
Em 25 de Setembro de 1982, foi inaugurado o novo Casino de Espinho.

 
 

Novo Casino de Espinho, no local onde esteve o Café Chinês (depois, o Cine Teatro) e a “Assembleia Recreativa” (depois, o Casino Peninsular e o Casino de Espinho)