quarta-feira, 12 de novembro de 2025

25.291 As marcas “Nascimento” associadas ao mobiliário portuense

 
É muito provável que os irmãos António Nascimento e Venâncio Nascimento, dois transmontanos que demandaram o Porto, em finais do século XIX, tenham começado por ter percursos comuns na sua profissão, mas acabariam, na realidade, por percorrer caminhos distintos na sua actividade profissional ligada à marcenaria.
Durante muitas décadas, as firmas sob a responsabilidade de cada um deles eram uma referência de superior qualidade, no que ao mobiliário dizia respeito, servindo tanto a instituições públicas e privadas e, ainda, a uma burguesia em ascensão.
 
 
 
“António do Nascimento & Filhos” – Grandes Armazéns Nascimento
 
 
No cruzamento da Rua de Santa Catarina com a Rua de Passos Manuel, a poente/sul, foi levantado um edifício com projecto de 1914 do arquitecto Marques da Silva, que albergou os Grandes Armazéns Nascimento de António Nascimento e, a partir de 1940, alojou o famigerado Café Palladium.
As instalações da Rua de Santa Catarina dos Grandes Armazéns Nascimento que, à data, tinha a sua sede na Rua de Ferreira Borges, foram inauguradas em 1927, com o objectivo de vender, no Porto, os móveis construídos na fábrica que, entretanto, António Nascimento tinha comprado na Rua do Freixo.
De facto, no início da década de 1920, António Nascimento tinha comprado ao engenheiro Raúl Tavares Basto a fábrica de marcenaria mecânica a vapor "A Económica", em Campanhã.
Antes, António do Nascimento & Filhos teve, também, oficinas na "Marcenaria Nascimento", sita no Largo de Santa Clara (Rua de Saraiva de Carvalho), em prédio onde tinha estado, no ano de 1893, em trânsito, o "Asilo do Terço". Para melhoria das instalações, em 1913 (licença n.º 423) e em 1917 (licença n.º 364), a sociedade solicitava à Câmara do Porto as devidas autorizações, para a morada do Largo de Santa Clara.
 
 
 

Publicidade em 1922
 
 
 
 
“ (…) António do Nascimento e o seu irmão Venâncio, naturais de Trás-os-Montes, instalaram-se no Porto no início da segunda metade do século XIX, tendo o primeiro inaugurado em 1877 (13 de Junho) um estabelecimento de marcenaria e loja de mobiliário, na rua da Ferraria de Baixo. Com o desenvolvimento dos negócios, as instalações da firma transitaram sucessivamente para a rua Ferreira Borges e, em 1927, para a rua Passos Manuel. No início da década de '20, a firma "António do Nascimento e Filhos" encontrava-se numa excelente situação económica, como o comprova o facto de dois anos antes ter adquirido a fábrica de marcenaria mecânica a vapor "A Económica" - ainda segundo António Cardoso, ao engenheiro Raul Tavares Bastos -, o que lhe possibilitava o fabrico de mobiliário, a partir de então, em grande escala, transformando-se deste modo num importante empório comercial e industrial. Na publicidade com que nessa época se apresentava, reclamava constituir "a mais importante fábrica de móveis da península, e o maior estabelecimento de estojos, papéis pintados, decorações, oleados e faianças artísticas". Salvaguardando o possível exagero publicitário, não há dúvida que os Armazéns Nascimento e, principalmente, a sua fábrica "A Económica", apresentavam uma enorme capacidade de produção, investindo igualmente na qualidade do mobiliário que fabricavam, não sendo portanto de estranhar que algumas das mais importantes entidades e empresas nacionais contratassem os seus serviços para mobilar e decorar as respectivas instalações”.
Após um pavoroso incêndio ocorrido em finais de 1934 que destruiu os armazéns e a fábrica da rua do Freixo, a empresa nunca mais seria a mesma. Apesar das instalações fabris terem sido de imediato reconstruídas (…), o certo é que em finais de 1939 a firma se vê obrigada a vender o imóvel de Santa Catarina.
Com a devida vénia a José Manuel Lopes Cordeiro 
 
 
Por outro lado, o projecto (1914) do empreendimento encomendado por  "António do Nascimento & Filhos", na Rua de Santa Catarina, foi do arquitecto Marques de Silva, começado a executar em 1916 e, à data da inauguração, em 1927, já António Nascimento tinha falecido.
 
 
 

Inauguração dos Grandes Armazéns Nascimento, em 13 de Junho de 1927
 
 
 
Nas amplas montras do edifício, passaram, então, a ocorrer várias exposições de produtos, para além do sector do mobiliário de luxo.
Ficaram na memória de muitos os automóveis que eram expostos na montra que fazia esquina das duas ruas.
 
 
 

Em 1939, um Willys Overland em exposição numa montra dos Armazéns Nascimento
 
 
 
Os Grandes Armazéns Nascimento tinham-se especializado, nomeadamente, no fornecimento de mobiliário para a indústria hoteleira tendo, nessa época, fornecido os materiais de decoração de quase todos os grandes hotéis então existentes em Portugal.
A Presidência da República, o Grande Hotel do Porto, o Palácio Ford e o Hotel Tivoli em Lisboa, várias entidades bancárias, a Agência Havas, os cinemas S. João e Tivoli, ou os restaurantes Tavares Rico e Escondidinho, receberam mobiliário dos Grandes Armazéns Nascimento.
Porém, decorridos que foram sete anos, aquela fábrica e armazéns anexos da Rua do Freixo foram destruídos por um incêndio, em 6 de Novembro de 1934, o que levou os herdeiros de António Nascimento a vender o prédio, em 1939, a um grupo de comerciantes e industriais do Porto que fizeram a sua adaptação para o Café Palladium, cujo interior foi de autoria do arquitecto Mário Abreu.


 
In Diário de Lisboa de 7 de Novembro de 1934




 

Aqui, estiveram os Grandes Armazéns Nascimento, mais tarde, Galerias Paladium


 
 

Interior dos Grandes Armazéns Nascimento em 1927
 
 
 
 
 

Publicidade cedida por António Duarte a “restosdecoleccao.blogspot.pt”

 
 
Os Grandes Armazéns Nascimento reservaram, então, apenas, uma pequena área de exposição para os seus artigos, com entrada pela Rua de Passos Manuel, n.º 80, e, a partir daí, continuaram a servir uma clientela endinheirada.

 
 

Café Palladium e, nas lojas, à direita, na Rua Passos Manuel, as instalações que passaram a ocupar os Grandes Armazéns Nascimento, a partir de 1940
 
 
 
 
Em 1975, já a firma era uma sociedade anónima – Grandes Armazéns Nascimento, SARL.
 
 
 
 
"Venâncio do Nascimento & Filho"
 

 
Por outro lado, em 31 de Agosto de 1890, o “Jornal do Porto”, na sua página 2, dava conta de que no dia anterior tinha ocorrido a abertura de um estabelecimento de móveis, na Rua do Bonjardim, próximo da Rua do Estevão, da firma "Venâncio do Nascimento & Filho" e, mesmo defronte, do outro lado da rua, haveria de ter o seu armazém, num prédio mandado restaurar por António Bernardo Ferreira, o filho da Ferreirinha.

 
 
 
Publicidade a Venâncio do Nascimento & Filho, em 1908

 
 
É, um facto, de que os dois irmãos, oriundos de Trás-os-Montes, tiveram percursos comerciais distintos.
 
 
 
Localização de armazém de Venâncio do Nascimento & Filhos, no Largo do Bonjardim, n.ºs 155-159 (Largo Tito Fontes), que obteve a licença de obra n.º 52/1914, para execução de obras
 
 
 
No dia 21 de Março de 1919, era publicitado que a firma Venâncio do Nascimento & Filho tinha sido escolhida para fornecer as mobílias que haveriam de servir nos aposentos do Palácio da Bolsa que se destinavam ao alojamento do Presidente da República na visita que estava previsto fazer ao Porto.
Cumpria, à data, o seu mandato, entre 16 de Dezembro de 1918 e 5 de Outubro de 1919, João do Canto e Castro.

 
 
No local onde iria nascer o Palacete do 1.º Conde de Vizela, na Rua das Carmelitas, à esquerda, em 1919, um painel de publicidade à firma “Venâncio Nascimento & Filho” da responsabilidade das “Propagandas Caldevilla”
 
 
 
Em 17 de Outubro de 1931, a Messe dos Oficiais, à Praça da Batalha, abria com mobiliário da Casa Venâncio Nascimento.
A Câmara Municipal do Porto recebeu, também, mobiliário deste reputado fabricante.
Em 1942, a firma Venâncio do Nascimento & Filho, Sucessores decide transferir-se para a Rua de Antero de Quental, n.º 483, para onde solicitava uma licença de obra (n.º 347/1942) com projecto do arquitecto Júlio José de Brito (1896-1965).

 
 

Por aqui, na Rua de Antero Quental, esteve a fábrica de Venâncio do Nascimento & Filho, Sucessores
 
 
 
Venâncio do Nascimento & Filho, Sucessores encerraria a sua actividade muito antes de se atingir o último quartel do século XX.

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