É muito provável que
os irmãos António Nascimento e Venâncio Nascimento, dois transmontanos que
demandaram o Porto, em finais do século XIX, tenham começado por ter percursos
comuns na sua profissão, mas acabariam, na realidade, por percorrer caminhos
distintos na sua actividade profissional ligada à marcenaria.
Durante muitas
décadas, as firmas sob a responsabilidade de cada um deles eram uma referência
de superior qualidade, no que ao mobiliário dizia respeito, servindo tanto a
instituições públicas e privadas e, ainda, a uma burguesia em ascensão.
“António do Nascimento & Filhos” – Grandes Armazéns
Nascimento
No cruzamento da Rua de Santa Catarina com a Rua de Passos
Manuel, a poente/sul, foi levantado um edifício com projecto de 1914 do
arquitecto Marques da Silva, que albergou os Grandes Armazéns Nascimento de
António Nascimento e, a partir de 1940, alojou o famigerado Café Palladium.
As instalações da Rua de Santa Catarina dos Grandes Armazéns
Nascimento que, à data, tinha a sua
sede na Rua de Ferreira Borges, foram inauguradas em 1927, com o objectivo de
vender, no Porto, os móveis construídos na fábrica que, entretanto, António
Nascimento tinha comprado na Rua do Freixo.
De facto, no início
da década de 1920, António Nascimento tinha comprado ao engenheiro Raúl Tavares
Basto a fábrica de marcenaria mecânica a vapor "A Económica", em
Campanhã.
Antes, António do
Nascimento & Filhos teve, também, oficinas na "Marcenaria Nascimento",
sita no Largo de Santa Clara (Rua de Saraiva de Carvalho), em prédio onde tinha
estado, no ano de 1893, em trânsito, o "Asilo do Terço". Para
melhoria das instalações, em 1913 (licença n.º 423) e em 1917 (licença n.º 364),
a sociedade solicitava à Câmara do Porto as devidas autorizações, para a morada
do Largo de Santa Clara.
“ (…) António do Nascimento e o seu irmão
Venâncio, naturais de Trás-os-Montes, instalaram-se no Porto no início da
segunda metade do século XIX, tendo o primeiro inaugurado em 1877 (13 de
Junho) um estabelecimento de marcenaria e
loja de mobiliário, na rua da Ferraria de Baixo. Com o desenvolvimento dos
negócios, as instalações da firma transitaram sucessivamente para a rua
Ferreira Borges e, em 1927, para a rua Passos Manuel. No início da década de
'20, a firma "António do Nascimento e Filhos" encontrava-se numa
excelente situação económica, como o comprova o facto de dois anos antes ter
adquirido a fábrica de marcenaria mecânica a vapor "A Económica" -
ainda segundo António Cardoso, ao engenheiro Raul Tavares Bastos -, o que lhe
possibilitava o fabrico de mobiliário, a partir de então, em grande escala,
transformando-se deste modo num importante empório comercial e industrial. Na
publicidade com que nessa época se apresentava, reclamava constituir "a
mais importante fábrica de móveis da península, e o maior estabelecimento de
estojos, papéis pintados, decorações, oleados e faianças artísticas".
Salvaguardando o possível exagero publicitário, não há dúvida que os Armazéns
Nascimento e, principalmente, a sua fábrica "A Económica",
apresentavam uma enorme capacidade de produção, investindo igualmente na
qualidade do mobiliário que fabricavam, não sendo portanto de estranhar que
algumas das mais importantes entidades e empresas nacionais contratassem os
seus serviços para mobilar e decorar as respectivas instalações”.
Após um pavoroso
incêndio ocorrido em finais de 1934 que destruiu os armazéns e a fábrica da rua
do Freixo, a empresa nunca mais seria a mesma. Apesar das instalações fabris
terem sido de imediato reconstruídas (…), o certo é que em finais de 1939 a
firma se vê obrigada a vender o imóvel de Santa Catarina.
Com a devida vénia a José Manuel Lopes Cordeiro
Por outro lado, o
projecto (1914) do empreendimento encomendado por "António do
Nascimento & Filhos", na Rua de Santa Catarina, foi do arquitecto
Marques de Silva, começado a executar em 1916 e, à data da inauguração, em
1927, já António Nascimento tinha falecido.
Nas amplas montras
do edifício, passaram, então, a ocorrer várias exposições de produtos, para
além do sector do mobiliário de luxo.
Ficaram na memória
de muitos os automóveis que eram expostos na montra que fazia esquina das duas
ruas.
Os Grandes Armazéns
Nascimento tinham-se especializado, nomeadamente, no fornecimento de mobiliário
para a indústria hoteleira tendo, nessa época, fornecido os materiais de
decoração de quase todos os grandes hotéis então existentes em Portugal.
A Presidência da
República, o Grande Hotel do Porto, o Palácio Ford e o Hotel Tivoli em Lisboa,
várias entidades bancárias, a Agência Havas, os cinemas S. João e Tivoli, ou os
restaurantes Tavares Rico e Escondidinho, receberam mobiliário dos Grandes
Armazéns Nascimento.
Porém, decorridos
que foram sete anos, aquela fábrica e armazéns anexos da Rua do Freixo foram
destruídos por um incêndio, em 6 de Novembro de 1934, o que levou os herdeiros
de António Nascimento a vender o prédio, em 1939, a um grupo de comerciantes e
industriais do Porto que fizeram a sua adaptação para o Café Palladium, cujo
interior foi de autoria do arquitecto Mário Abreu.
In Diário de Lisboa de 7 de Novembro de 1934
Os Grandes Armazéns Nascimento reservaram, então, apenas,
uma pequena área de exposição para os seus artigos, com entrada pela Rua de
Passos Manuel, n.º 80, e, a partir daí, continuaram a servir uma clientela
endinheirada.
Café Palladium e, nas lojas, à direita, na Rua Passos Manuel,
as instalações que passaram a ocupar os Grandes Armazéns Nascimento, a partir
de 1940
Em 1975, já a firma era uma sociedade anónima – Grandes Armazéns
Nascimento, SARL.
"Venâncio do
Nascimento & Filho"
Por outro lado, em
31 de Agosto de 1890, o “Jornal do Porto”, na sua página 2, dava conta de que
no dia anterior tinha ocorrido a abertura de um estabelecimento de móveis, na
Rua do Bonjardim, próximo da Rua do Estevão, da firma "Venâncio do
Nascimento & Filho" e, mesmo defronte, do outro lado da rua,
haveria de ter o seu armazém, num prédio mandado restaurar por António Bernardo
Ferreira, o filho da Ferreirinha.
É, um facto, de que
os dois irmãos, oriundos de Trás-os-Montes, tiveram percursos comerciais
distintos.
No dia 21 de Março
de 1919, era publicitado que a firma Venâncio do Nascimento & Filho tinha
sido escolhida para fornecer as mobílias que haveriam de servir nos aposentos
do Palácio da Bolsa que se destinavam ao alojamento do Presidente da República
na visita que estava previsto fazer ao Porto.
Cumpria, à data, o
seu mandato, entre 16 de Dezembro de 1918 e 5 de Outubro de 1919, João do Canto
e Castro.
No local onde iria nascer o Palacete do 1.º Conde de Vizela, na Rua das Carmelitas, à esquerda, em
1919, um painel de publicidade à firma “Venâncio Nascimento & Filho” da responsabilidade das
“Propagandas Caldevilla”
Em 17 de Outubro de
1931, a Messe dos Oficiais, à Praça da Batalha, abria com mobiliário da Casa
Venâncio Nascimento.
A Câmara Municipal
do Porto recebeu, também, mobiliário deste reputado fabricante.
Em 1942, a firma
Venâncio do Nascimento & Filho, Sucessores decide transferir-se para a Rua
de Antero de Quental, n.º 483, para onde solicitava uma licença de obra (n.º
347/1942) com projecto do arquitecto Júlio José de Brito (1896-1965).
Venâncio do Nascimento
& Filho, Sucessores encerraria a sua actividade muito antes de se atingir o
último quartel do século XX.













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