13.6 A Rádio
Nota: O texto que
segue sobre a história da rádio na cidade do Porto baseia-se, em boa parte, nas memórias, principalmente, de Jorge José da
Silva e de António Jorge Branco e ainda, na revista “QSP – Revista de
Rádio e Comunicações” e, sobretudo, no blogue “telefoniasemfios.blogspot”.
“Em 20 de Março de
1917 nuns terrenos sitos ao Sardoal, a Norte de Leça da Palmeira, o técnico
inglês John Joseph Leary termina a instalação do Posto de T.S.F. do Norte,
estação para a direcção da qual fora já nomeado o distinto oficial dos C.T.T.
Carlos Augusto”.
In “O Tripeiro” 7ª Série, Ano XXXVI, Nº 03, Março 2017
«A radiodifusão na
cidade Invicta começou a dar os primeiros passos cedo. Júlio
Silva - futuro proprietário da Ideal Rádio - já em 1918, tinha
construído o seu primeiro emissor e feito chamadas aos colegas “senfilistas”.
Este é o primeiro caso documentado, obtido através de declarações de Júlio
Silva a uma revista da especialidade nos anos 30. Não se sabe se antes de 1918,
existiram mais experiências de Telegrafia ou Telefonia Sem Fios na cidade do
Porto ou se, até à segunda metade dos anos de 1920, existiram tentativas de
radiodifusão.
Em 1926, aparece a
primeira estação emissora de radiodifusão sonora do Porto, pela mão de António
Rodrigues, que fundou a Rádio Porto - uma casa comercial de aparelhos
eléctricos e que acabaria por montar um posto emissor.
Vários postos de
radiodifusão foram aparecendo e desaparecendo na cidade Invicta, a maior parte
deles pertencendo a casas que vendiam aparelhos eléctricos, nomeadamente
receptores de rádio. Existiam também muitos radioamadores, mas a maioria
dedicava-se à Telegrafia Sem Fios ou Radiofonia, poucos faziam experiencias de
radiodifusão com emissões de música e palavra, como os postos comerciais.
As estações dividiam
entre si uma só frequência emitindo em dias e horários diferentes. Até finais
dos anos 30, apenas a Sonora Rádio emitiria numa frequência diferente dos
restantes postos, pois retransmitia a Emissora Nacional.
Só em 1939, aparece a
primeira estação emissora que não estava ligado ao comércio: o Portuense Rádio
Clube. A década de 40, veria aparecer então mais rádio clubes.
Durante a Segunda
Guerra Mundial, as emissoras foram obrigadas a centralizarem-se numa só,
dividindo entre si – rotativamente - o horário de emissão. A escolha
da estação centralizadora recaiu sobre o Portuense Rádio Clube, pois era a
estação que melhores condições tinha na altura. Esta associação só terminaria
nos anos 50, dando lugar depois aos Emissores do Norte Reunidos - mas
só com cinco estações centralizadas, pois já tinham desaparecido a Sonora
Rádio, o Portuense Rádio Clube, a Rádio Clube Lusitânia.
A Invicta Rádio (Rádio
Clube Invicta) tinha dado lugar ao Rádio Clube do Norte.
Quando se iniciou a
segunda metade do século XX, o Porto tinha emissores e estúdios, na cidade, do
Rádio Clube Português, dos Emissores do Norte Reunidos, da Rádio Renascença e
do Emissor Regional do Norte da Emissora Nacional. Tudo em Onda Média. A
Frequência Modulada só chegaria ao Porto nos anos 60. A partir de 1930, já não
seria possível aos radioamadores fazerem estações emissoras comerciais sem uma
licença profissional.
As estações
profissionais eram obrigadas a identificarem-se, a partir de 1930, com o
indicativo oficial “CS1(...)”, enquanto os postos amadores tinham como prefixo
“CT1(...)”. Em 1937, com nova legislação, os indicativos sofrem alterações e
aos emissores de Ondas Curtas é atribuído o indicativo “CS2W(...)”, seguido de
uma letra que identificava o posto. Em Onda Média, às estações do Porto
são atribuídos indicativos “CS2X(...)”, seguido da letra identificativa da
estação. No início dos anos 50, com uma nova legislação sobre a radiodifusão,
os amadores continuariam com o prefixo “C T ...” e as estações emissoras
profissionais passaram a ter como indicativo oficial “C S B ...”, seguido
de um número que identificava a estação emissora de radiodifusão sonora.
Curioso de notar que foi
na década de 1950 que os relatos de futebol passaram a ser transmitidos na
íntegra. Até então, era dado um resumo da primeira parte e relato da segunda
parte, isto porque os clubes temiam perder espectadores se o relato fosse
transmitido totalmente na rádio. Foi Domingos Lança Moreira o precursor do
relato completo.
Quanto a publicações
no Porto sobre rádios dá-se conta de algumas.
O «Indicador da Rádio» era uma revista gratuita, impressa no Porto, e
oferecida em vários estabelecimentos comerciais.
A «Lista de Estações Philips» também era oferecida pelas casas
comerciais.
Impressa pela
Bertrand, em Lisboa, em 1938, trazia uma descrição das estações emissoras de
todo o mundo equipadas com aparelhos Philips.
A “Electra” – quinzenário de electricidade e
radiotecnia.
É a primeira revista
dedicada à rádio publicada no Porto.
Sob a direcção de
Manuel Henrique Varejão(CT1FK) surge em Setembro de 1934 e termina em
Outubro de 1935. São editados apenas 18 números, existindo alguma
irregularidade nas últimas publicações. Esta revista descreveu em pormenor as
estações emissoras do Porto e as suas actividades.
Em Outubro de 1936,
aparece a segunda revista editada no Porto. A “Antena” – revista mensal de T.S.F.”.
Tem como director e
editor Manuel Henrique Varejão. A revista trazia artigos técnicos, críticas às
emissoras de Lisboa, um dicionário de rádio e a televisão já era assunto
abordado nas suas páginas. Entre Outubro de 1939 e Março de 1940 a “Antena” viu
interrompida a sua publicação devido à II Guerra Mundial. Terminou a sua
publicação em Dezembro de 1947.
(…) Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, as rádios foram obrigadas a centralizarem-se numa só. A escolha do posto centralizador era da competência dos serviços radioeléctricos. Devido às excelentes instalações que possuía e por ser a mais moderna das estações do Porto, o Portuense Rádio Clube foi a emissora escolhida.
(…) Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, as rádios foram obrigadas a centralizarem-se numa só. A escolha do posto centralizador era da competência dos serviços radioeléctricos. Devido às excelentes instalações que possuía e por ser a mais moderna das estações do Porto, o Portuense Rádio Clube foi a emissora escolhida.
Esta associação
obrigatória só terminaria em Junho de 1947.”
Com a devida vénia a telefoniasemfios.blogspot
O «Indicador da Rádio» era uma revista gratuita, impressa no
Porto, e oferecida em vários estabelecimentos comerciais.
O exemplar abaixo, é de Janeiro de 1947, e era oferecido
pela “A Villarinha, Ld.ª” – uma casa de móveis da Rua de Cedofeita, no Porto.
Rádios de outros tempos
A rádio haveria de ter um papel fundamental na revolução
acontecida no 25 Abril de 1974 e, assim, seguiria, até à década de 1980 quando,
mercê do aparecimento das rádios pirata, a emissão radiofónica se massificou.
Apesar do incremento dos programas e canais televisivos, a
rádio continuou e, continua, a cumprir o seu papel.
Sondagem sobre as preferências dos ouvintes em 1970
Estações de Rádio
RÁDIO PORTO
Fundadores: António Rodrigues
Ano da Fundação: 1926
Fecho: 1975
Morada: Rua dos Clérigos, 64 - 68
“A “Rádio Porto”
iniciou as experiências em Janeiro de 1926, com um pequeno emissor. As
primeiras transmissões eram efectuadas desde a casa particular de um gerente da
empresa “Sociedade Produtos Industriais, Ldª” (mais tarde A. Sousa &
Rodrigues). O indicativo de chamada era “Daqui SPIL - Rádio
Porto”. Seis meses mais tarde, a “Rádio Porto” montava estúdios na
Rua de Cedofeita 293, fazendo experiências com um emissor de apenas 12
watts e tendo como primeiro locutor António Teixeira Laranjeira. A inauguração
oficial deu-se a 14 de Outubro de 1927, com a presença do Coronel Craveiro
Lopes - Governador Civil do Porto, representantes do Bispo do Porto,
da Junta Geral do Distrito, da Câmara, da Universidade, da Imprensa, etc..
Todas estas entidades proferiram palavras de incentivo a um projecto que
consideravam educador e recreativo. À “Rádio Porto” foi-lhe concedido o
indicativo “P.R.P 1” e desde o dia da sua inauguração emitiu diariamente.
(…) Foram vários os
projectos culturais que passaram pelos microfones da “Rádio Porto”.
Em Janeiro de 1928, a
“P1RP” realizou um sarau de arte nos seus estúdios, com a Companhia Amélia Rey
Colaço - Robles Monteiro.
Em Fevereiro desse
ano, transmitiu uma peça teatral com uma companhia do Teatro Águia Douro. Em
Maio, pela primeira vez, retransmitiu, em directo, uma peça desde o Teatro S.
João.
De sucesso em sucesso,
a “Rádio Porto” entrou em silêncio no Outono de 1929, para proceder à
instalação de um emissor de 100 watts, que inaugurou em Janeiro de 1930. Também
nesse ano foi-lhe atribuído o indicativo oficial CS1RP.
Em 1932, o compositor e folclorista Armando Leça passou a exercer o cargo de director artístico da estação. Com esta nomeação a “Rádio Porto” diversificou a música - desde a clássica à ligeira. Em 1935, a “Rádio Porto” mudou as instalações para a Rua dos Clérigos, 64 – 68, possuindo já um emissor de 500 watts.
Em 1932, o compositor e folclorista Armando Leça passou a exercer o cargo de director artístico da estação. Com esta nomeação a “Rádio Porto” diversificou a música - desde a clássica à ligeira. Em 1935, a “Rádio Porto” mudou as instalações para a Rua dos Clérigos, 64 – 68, possuindo já um emissor de 500 watts.
A locução na Rádio
Porto continuava a cargo de António Laranjeira, o mais antigo locutor da
emissora, e de João Rocha, chefe de vendas da loja que suportava o Posto
emissor.
A Rádio Porto foi
pioneira nas emissões infantis quando, em 1932, iniciou um programa semanal
dedicado à infância sob a direcção de Alexandrina Reynaud.
Em 1938, estas
emissões passaram a ser orientadas pelo semanário infantil “O Papagaio”.
Após a associação
obrigatória das várias rádios, devido à 2ª Guerra Mundial, a Rádio Porto
voltaria, em 1947, aos seus estúdios na Rua dos Clérigos.
Em 31 de Março de
1947, são inauguradas as novas instalações da Rádio Porto, na Rua dos Clérigos,
sendo subagente da empresa RCA”.
Com a devida vénia a telefoniasemfios.blogspot
RÁDIO PROGREDIOR
Fundador: António Gasparinho
Ano da Fundação: 1931
Fecho: 1934
Morada: Rua 31 de Janeiro, 157
“António Gasparinho,
já era radioamador desde 1929, só anos mais tarde -em 1931 - é que
começaria com as suas emissões, mas muito irregularmente, em Onda Média.
Em 1934, a
“Rádio Progredior”, emitiu em Onda Curta durante mês e meio, fazendo
experiências com em onda extra-curta, conforme era divulgado nos anúncios
publicados em revistas:
ATENÇÃO – Estamos fazendo ensaios de emissão
de musica em extra-curtas com o indicativo «Rádio-progredior», todas
as noites da 20 ½ às 23 ½, menos ao domingo.
As nossas experiências fazem-se actualmente com o
comprimento de onda de 30 metros”.
RÁDIO CLUBE DO PORTO
Ano da
Fundação: 1933
Morada – Rua Formosa, 353, 1º.
“Este foi apenas um
clube de radioamadores do Porto. A sua função seria, em princípio, fazer uma
estação emissora como o Rádio Clube Português -mas este projecto não saiu
do papel.
Na inauguração a 14 de
Julho de 1933, coube ao Dr. João Antunes Guimarães, Ministro do comércio e
entusiasta da radiodifusão, o discurso de abertura.
Este clube desapareceu
rapidamente, pois não houve muito interesse por parte dos associados.
Funcionou nas
instalações da “Ideal Rádio”, na Rua Formosa”.
SONORA RÁDIO
Fundadores: Agostinho, Antero e José Alberto Calheiros Lobo
Ano da Fundação: 1 de Maio de 1930
Fecho: Junho de 1943
Morada: Rua Sá da Bandeira, 24
“A “CS1SR – Sonora
Rádio” foi o segundo posto emissor de radiodifusão do Porto, tendo surgiu
em Maio de 1930. Os mentores deste projecto foram os irmãos Calheiros Lobo, que
queriam dotar a cidade com uma verdadeira estação de radiodifusão.
Situada, inicialmente,
na rua 31 de Janeiro 190 (em 1930), à “Sonora Rádio” foi atribuído o
indicativo CS1SR, tendo a “Administração Geral dos Correios e Telégrafos”
autorizado, a 24 de Junho de 1930, o horário de emissão. Durante algum tempo a
estação apresentava-se aos ouvintes apenas como “Posto Experimental Sonora
Rádio” e as emissões, efectuadas inicialmente no comprimento de onda de 204
metros, consistiam na execução de música gravada, notícias e programas para a
infância”.
Publicidade da Sonora Rádio
IDEAL RÁDIO
Fundadores: Júlio Augusto Silva (CT1 EO) e José
Santos Martins (CT1 FR)
Ano da Fundação: 1931
Fecho: 1975
Morada: Rua Alferes Malheiro, 147
“A Ideal Rádio era uma
casa comercial que vendia aparelhos de rádio desde 1926, mas o seu
proprietário - Júlio Silva - já em 1918, tinha construído um emissor
e feito chamadas aos “senfilistas”.
A “Ideal Rádio” teve
instalações na Rua Formosa, 353 – 1º. (21 de Dezembro de 1935), tendo sido a
primeira localização do posto emissor.
A emissora era acusada
de “Popularucha”, devido ao tipo de música que passava. Júlio Silva considerava
que “No Porto não se morre de amores pelo fado” pelo que era avesso a esse
género de música na sua estação, preferindo o folclore e música popular
portuguesa alegre”.
A Ideal Rádio
organizava e transmitia a partir do Coliseu do Porto o programa chamado
"Comboio Foguete" e viria a dar guarida ao programa humorístico "A
Voz dos Ridículos” nascida, em 1945, no “Portuense Rádio Clube”.
A Voz dos Ridículos
foi um programa de rádio, de grande audiência, protagonizado por João Manuel
Antão, Benjamim Veludo, Castro Maia e outros companheiros, que ensaiavam e
gravavam à Quinta-feira com o programa a ir para o ar, ao Domingo, à hora de
almoço.
A dada altura, a
orquestra que fazia os acompanhamentos musicais era a “Vou Ali e Já Venho”.
A Voz dos Ridículos,
após passar pelo “Portuense Rádio Clube”, esteve na Ideal Rádio, Rádio
Comercial, Rádio Clube de Matosinhos e, por fim, na Rádio Festival onde, em
Julho de 2013, deixou de ir para o ar.
A abertura de cada
programa era feita com o slogan: “A Voz dos Ridículos fala e o mundo acredita e
ri…”
“Não será ideal tudo
o que a Ideal Rádio vende?” - Este slogan ficou no ouvido de muita gente.
Publicidade ao
receptor vendido pela Ideal Rádio
Receptor
comercializado pela Ideal Rádio – Ed. Paulo Ferreira
O.R.S.E.C.
Oficinas de Rádio, Som, Electricidade e Cinema
Fundadores: Abílio, Manuel, António, Francisco e
Jorge Oliveira.
Ano da Fundação: 1931
Fecho: 1975
Morada: Rua dos Caldeireiros, 113 (1922), Rua de
Santa Catarina, 130 1º. (estúdios em 1935), Rua de Cedofeita, 452 (1937), Rua
Fernandes Tomás, 666 (1950, como S.E.R.L.)
“A casa comercial
ficava na Rua dos Caldeireiros, desde 1922, o posto emissor foi montado nos
anos 30, na Rua dos Caldeireiros. Em 1935, o posto emissor passou para o 1.º
andar de um prédio na Rua de Santa Catarina. A casa comercial mudou em 1937,
para a Rua de Cedofeita, 452, esta mudança é devida a uma separação dos irmãos
Oliveira. A oficina da Rua dos Caldeireiros continuou nas mãos de Abílio
Oliveira como Radioeléctrica. A Rádio ORSEC montou, em 1947, uma oficina de
venda e reparação de aparelhos eléctricos, com o nome de S.E.R.L. – Serviços
Especializados de Rádio, Limitada, situado na rua Santos Pousada, 113.
Anos mais tarde esta
oficina passou para a Rua Fernandes Tomás, 666, mesmo em frente ao mercado do
Bolhão, onde foi montado um pequeno estúdio de rádio.
A O.R.S.E.C. montou um
cinema sonoro em Amarante e chegou inclusive a tentar montar uma estação de
televisão nos anos 30. Este projecto pioneiro foi abandonado por dificuldades
financeiras, agravadas com a proibição de publicidade na rádio”.
Publicidade à O. R. S. E. C., na Rua dos Caldeireiros
RÁDIO BRANCO & IRMÃO
Fundadores: Humberto, José e Orlando
Moreira Branco
Ano da Fundação: 1932
Fecho: Abril de 1938
Morada: Rua de Santo Ildefonso, 86 – 88
“A casa Branco &
Irmão dedicava-se à comercialização de aparelhos de rádio e à reparação de
aparelhos eléctricos. A emissora foi montada por Jorge Guedes - um
rádio técnico que na altura era considerado dos melhores do país - e gerida
pelos irmãos Branco.
A Rádio Branco &
Irmão tentava satisfazer os mais variados gostos musicais: música clássica, ligeira,
popular e de dança fazia parte do seu repertório”.
INVICTA
RÁDIO - RÁDIO CLUBE INVICTA
Fundadores: Henrique Guilherme Aguiar
Ano da Fundação: 1932
Fecho: 1947
Morada: Rua de Santa Catarina,
304 - 308
“Henrique Guilherme
Aguiar era o representante em Portugal da americana Westinghouse, a proprietária da
primeira emissora comercial do mundo, vendendo os rádios e outro material desta
marca.
A Invicta Rádio
apostava na sobriedade musical com muita música ligeira mas com um mínimo de
qualidade.
Nascida em pleno período
de lançamento do Estado Novo esta estação transmitia a propaganda da nova
ordem, foi por isso considerada a emissora oficiosa da “Exposição Colonial do
Porto” em 1934. A estação transmitiu todas as palestras do capitão Henrique
Galvão e de outras figuras ligadas ao regime - muitas delas em
Castelhano e destinadas a Espanha. Henrique Galvão, nos anos 30, ainda estava
longe dos ideais que o levariam nos anos 60, a desviar o paquete “Santa Maria”.
Passaram por esta
rádio vários nomes de destaque na altura, Drs. Bento Carqueja, Leonardo
Coimbra, Joaquim Costa, António de Figueiredo, e o poeta Teixeira de Pascoaes.
Durante a Grande
Exposição Colonial do Porto, foi considerada a rádio oficial do evento.
Este posto emissor
associou-se ao jornal “O Século” para a transmissão de relatos de futebol de
jogos disputados em Portugal e em Espanha”.
RÁDIO CLUBE DO NORTE
Fundadores: Adolfo Quaresma e Américo
Ferreira Adrião
Ano da Fundação: 1947
Fecho: 1975
Morada: Rua Duque de Loulé, 85, 1.º
“A Rádio Clube do
Norte era uma ideia que já vinha desde que o Rádio Clube do Porto tinha deixado
de existir. A vontade de criar um posto emissor comparável ao RCP era o sonho
dos radiófilos do Porto. Este sonho acabou por ser concretizado em 1947, quando
Adolfo Quaresma e Américo Ferreira Adrião tomaram conta do posto emissor
pertença da Rádio Clube Invicta.
Este foi um dos postos
fundadores dos Emissores do Norte Reunidos em 1953”.
POSTO EMISSOR ELECTROMECÂNICO
Fundadores: Manuel Moreira
Ano da Fundação: 1933
Fecho: 1975
Morada: Rua Alexandre Herculano, 366
“Este era um posto que
dava preferência à “Canção Nacional”, muito “por culpa” do seu director
artístico - Capitão Almeida Russo - que realizou em Setembro de 1937,
uma palestra exaltando o fado e associando-o a todos os fastos da
nacionalidade. Muitos contemporâneos da palestra acharam que esta se deveu a
uma inspiração lírica espontânea, mas não deixaram de sublinhar a
discutibilidade das suas conclusões.
Esta emissora foi
montada em Agosto de 1933, por Manuel Moreira e pelo técnico Bracarense Santos
da Cunha, a abertura oficial deu-se a 14 do mesmo mês.
Era diversificada a
programação do Electromecânico, notícias às terças-feiras pelo jornalista Luís
Costa, que também falava de cinema, teatro, desporto e turismo. Foi ainda
criado um programa para crianças, feito por crianças: a “Hora Infantil”.
O programa mais
curioso era a “Meia hora estrangeira”. Inaugurado a 10 de Agosto de 1938, todas
as semanas era convidado da estação um dos cônsules residentes no Porto.
Durante 30 minutos faziam uma alocução na sua língua natal dirigida à
respectiva colónia. Seguia-se um programa sobre assuntos do país a que se
referia a alocução.
Em finais dos anos 50,
começou a ser emitido neste posto um dos mais famosos programas de rádio de
sempre: “Festival”. Este programa da autoria de Fernando Gonçalves era gravado
no cinema Vale Formoso (anos mais tarde passou para o Teatro Sá da Bandeira)
aos domingos de Manhã pelos técnicos de som António Miranda e José Manuel
Miranda e Jorge José da Silva. Era transmitido no domingo seguinte à mesma
hora. A apresentação estava a cargo de Fernando Gonçalves e Maria
de Laferia, substituída mais tarde por Natália Maria”.
RÁDIO CASA FORTE
Fundadores: José Forte
Ano da Fundação: 1934
Fecho: Janeiro de 1938
Morada: Rua de Sá da Bandeira, 281
“A Casa Forte Bazar,
S.A.R.L. vendia, entre outras coisas, receptores de rádio, pelo que a emissora
foi um impulso de José Forte para tentar melhorar a oferta de emissões em
português e incentivar à compra de aparelhos. A Casa Forte possuiu
durante algum tempo instalações na Rua de Santa Catarina, 20, mas acabariam por
ser encerradas.
O espaço comercial da
Casa Forte, situado na Rua de Sá da Bandeira, encerrou em 2004”.
RÁDIO GAIA
Fundador: Guilherme Vasconcelos
Ano da Fundação: 1934
Fecho: 1936
Morada: Praça da Batalha, 37 – 1º
“Eram locutores deste
posto Alberto Alves e Guilherme Vasconcelos. Este posto emissor estava montado
em Vila Nova de Gaia, mas foi montada outra oficina e emissores na cidade do
Porto num edifício entre os cinemas Águia D’Ouro e Batalha.
Começou como casa
comercial que vendia receptores e outro material de T.S.F., além de ter uma
oficina de bobinagem e reparação de equipamento eléctrico”.
RÁDIO CLUBE LUSITÂNIA
Fundador:
Ano da Fundação: Dezembro de 1938
Fecho: 15 de Novembro de 1945
Morada: Alameda do Bonfim, 83
“O encerramento da
emissora foi anunciado num pequeno espaço na coluna de T.S.F. do jornal “O
Comércio do Porto”:
«Rádio Clube Lusitânia
Comunica-nos o
director de Rádio Clube Lusitânia, que esta estação emissora, há muito ao
serviço dos ideais democráticos, foi suspensa por tempo indeterminado». Nunca
mais regressou ao éter”.
Estação de Rádio da Assistência aos Tuberculosos do Norte
de Portugal
Fundadores: Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal
Ano da Fundação: Janeiro de 1948
Morada: Rua
de Cedofeita
“A Assistência aos Tuberculosos do Norte
de Portugal teve autorização para emitir em Janeiro de 1948, tendo as
emissoras centralizadas do Porto cedido meia-hora cada do seu tempo
de emissão, para que a ATNP tivesse espaço de emissão”.
GRÉMIO CENTRALIZADO DAS CASAS COMERCIAIS
“Uma das suas
locutoras era Elisa de Carvalho, uma ex-locutora do posto emissor
da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal.
Este posto ficou
com o indicativo e horário ocupado pela Rádio Clube Lusitânia.
A sua abertura deu-se
possivelmente em 1948”.
PORTUENSE RÁDIO CLUBE
Fundadores: Capitão Rogério Marques de Almeida
Russo e mais 50 personalidades do Porto
Ano da Fundação: 27 de Maio de 1937
Fecho: 1954
Morada: Avenida de Rodrigues de Freitas, 374
“A 27 de Maio de 1937,
um grupo de quase meia centena de pessoas fundaram a Associação Cultural e de
Recreio “Portuense Rádio Clube”, cuja sede ficou situada, provisoriamente, na
Rua de Santo Ildefonso, 14-1º. O Portuense Rádio Clube foi uma estação que saiu
dos moldes das rádios de então, já que era um clube - com associados
e outras actividades para além da rádio. O principal mentor do projecto foi o
Capitão Rogério Marques de Almeida Russo, um militar que já tinha sido director
artístico do Posto Emissor Electromecânico.
A primeira emissão do
Portuense Rádio Clube teve lugar a 20 de Novembro de 1938, em instalações
situadas na Rua Sá da Bandeira 339-1º, no Porto. Mais tarde mudou-se para a Rua
de Entreparedes 3 - 2º e por fim, a 01 de Maio de 1939, para
a Av. Rodrigues de Freitas 374. Nestas instalações passou a utilizar um emissor
de 5 KW, que tinha sido adquirido a Abílio Gomes, proprietário da
“Rádio Sanjoanense”.
Com o início da II
Guerra Mundial, é publicado o decreto-lei n.º 29 937, que suspende o funcionamento
de todas as estações emissoras particulares. O mesmo diploma previa a concessão
de autorizações especiais. O Rádio Clube Português e a Rádio Renascença e
outras emissoras profissionais foram autorizados a emitir, após um requerimento
de funcionamento. Os postos amadores tiveram de encerrar.
Das várias estações
que continuaram “no ar”, um triunvirato tinha relações privilegiadas com o
Estado Novo: a Emissora Nacional, que era controlada pelo governo; o Rádio
Clube Português, dirigido por Jorge Botelho Moniz e que estava intimamente
ligado ao regime; e a Rádio Renascença que, pertencendo à igreja católica,
estava parcialmente controlada pois existia uma relação de proximidade entre a
igreja católica e o Estado português. As estações mais pequenas foram obrigadas
a centralizarem-se num único posto, em cada cidade.
A escolha do posto
centralizador era da competência dos serviços radioeléctricos.
Possuindo excelentes instalações,
o Portuense Rádio Clube foi a estação escolhida. Todos os postos de radiodifusão
ficaram com os emissores selados, pelo que só podiam transmitir, rotativamente,
desde os estúdios da estação centralizadora.
Foi no Portuense Rádio
Clube que nasceu, a 17 de Abril de 1945, “A Voz dos Ridículos”.
João Manuel foi o
mentor do programa que é “património mundial da hilaridade”, pois é, muito
provavelmente, o mais antigo programa radiofónico do mundo que ainda vai para o
ar. Pode ser escutado, aos domingos, na Rádio Festival – uma rádio local da
cidade do Porto.
A Voz dos Ridículos nascida em 1945 no Portuense
Rádio Clube, esteve sucessivamente na Ideal Rádio (onde se manteve durante
décadas), Rádio Comercial, Rádio Clube de Matosinhos e, por fim, e ainda hoje,
na Rádio Festival.
A Voz dos Ridículos
foi o resultado da confluência de diversos factores. Um deles foi a longevidade
do seu criador principal, João Manuel Antão, mais conhecido simplesmente como
João Manuel. Outro dos factores essenciais para o longo êxito foi a sua
popularidade junto de camadas sociais médias e baixas da sociedade do Porto.
O programa reuniu à
sua volta duas gerações, pais e filhos, permitindo a entrada de mulheres na
segunda geração.
Também o xadrez teve o
seu espaço na emissora. O “Grupo de Xadrez do Porto”, na altura presidido por
Adelino Ribeiro, passou a ter regularmente um espaço dedicado ao jogo do xadrez.
“(…) Dos 48
fundadores, incluíam-se o governador civil do Porto e os comandantes da Região
Militar e da Polícia de Segurança Pública.
Ao Portuense Rádio
Clube foi atribuído o indicativo radifónico inicial CS2XL, depois alterado para
CSB6. De acordo com o antigo locutor Júlio Guimarães, «O Portuense
Rádio Clube ficava situado na avenida Rodrigues de Freitas, perto da Batalha.
Já naquela época, em 1944, havia variedades todas as quintas-feiras à noute e
havia assistência. Isto é, havia uma sala preparada para que as pessoas que
quisessem fossem assistir ao vivo aquele espetáculo. Em 1944, havia rádios com
auditórios. [...] O Clube dava recreio aos seus associados, nomeadamente os
bailes dançantes. E fazia-se rádio todos os dias».
A Portuense Rádio
Clube” era a rádio que habitualmente fazia a retransmissão de espectáculos do
Palácio de Cristal, com artistas de renome nacional, como Tony de Matos,
Francisco José ou Carlos Ramos. Outros espectáculos alvo de cobertura
aconteciam bem próximo da estação, no Parque das Camélias, (hoje um centro de
camionagem), onde se distinguiu o empresário Domingos Parker, com «A Hora do
Garnizé».
A estação promoveu
múltiplas iniciativas culturais e recreativas: Maria Amélia Canossa foi
revelada em concurso de novos talentos; a Festa da Rádio (12 de Junho de 1946)
reuniu no Coliseu do Porto artistas como José António, Irmãs Meireles, Maria
Gabriela e Maria da Graça. O Portuense Rádio Clube teve locutores famosos como
Fernando Gonçalves, Carlos Silva e Humberto Branco. Na mesma emissora, Domingos
Parker foi expulso e readmitido em 1945, tendo chegado a administrador do
edifício do Monte da Virgem, mais tarde vendido após o desaparecimento da estação
por perda de licença.
Um dos sócios mais
conhecidos, que a determinada altura se incompatibilizou com o fundador, Almeida
Russo, foi Manuel Correia de Brito (morreu em 2009), director de produção e
igualmente membro da direcção do Portuense. Ele fora consagrado hoquista do
Estrela e Vigorosa Sport Clube, do Académico Futebol Clube e da selecção da
Associação de Patinagem do Norte e selecionador nacional da modalidade. Depois,
do desaparecimento do Portuense, notabilizou-se na rádio no papel do menino
Quim (espécie de réplica do menino Tonecas, de José de Oliveira Cosme) – de que
não haverá nenhum texto escrito guardado para a posteridade – e na imprensa,
como colaborador do jornal O Comércio do Porto.
Com as quedas das
receitas de publicidade a acentuarem-se nos anos após a II Guerra, em
determinada altura, no início dos anos 50, pensa-se adquirir um novo emissor.
Embora sob hipoteca, para
o efeito, foi adquirido um terreno de sete mil metros quadrados no Monte da
Virgem (Vila Nova de Gaia) e construído um edifício para instalar toda a
atividade do Portuense Rádio Clube.
o atraso na compra do
emissor, a avaria no primeiro equipamento e a instalação do novo emissor fez
passar tempo e caducar a licença (final de Março de 1954). Em Abril de 1955, a
Emissora Nacional adquiria o terreno para aí instalar o emissor de frequência modulada
para a região do Porto”.
Fonte: Com a devida vénia a Rogério Santos; In “Os 60 anos
dos Emissores do Norte Reunidos”- Colóquio, 2013/02/25
Sede da Portuense Rádio Clube – In site:
“classicosdaradio.com“, com a devida vénia a Jorge Silva
Local actual da foto anterior (Avenida Rodrigues de Freitas
com Rua de Entreparedes ao fundo) – Fonte Google maps
EMISSORES DO NORTE REUNIDOS
Fundadores: Rádio Porto, Ideal Rádio, Posto
Electromecânico, Rádio Clube do Norte, Rádio O.R.S.E.C.
Ano da Fundação: 1953
Fecho: 1975
Morada: Rua de D. João IV, 960
Com o fim do decreto que obrigava à centralização, as
estações, para além da Portuense Rádio Clube, prepararam-se para emitir
autonomamente, como já acontecia antes de 1939.
A separação dos postos e o reatar das emissões não foi, no
entanto, livre de dificuldades. Problemas financeiros e técnicos colocaram
entraves a uma normalização das emissões tendo, inclusive, levado à extinção da
“Rádio Clube Lusitânia”.
Em Fevereiro de 1953, constituiu-se no Porto a “Sociedade Emissores do Norte Reunidos, Ldª.” que teve
como associados a Rádio Porto, Ldª.;
ORSEC, Ldª.; Posto Emissor Electromecânico (Manuel
Moreira & Cia. Ldª.); Ideal
Rádio, Ldª.; e Rádio Clube
do Norte (Sá, Quaresma & Cia. Ldª.).
Tinha instalações na Rua D. João IV donde a programação era
emitida.
O posto emissor situava-se em Canidelo, V.N. Gaia.
Davam voz, Humberto Branco (Rádio Porto), Júlio Silva (Ideal
Rádio), Maria Moreira (Electromecânico), Eugénio Alcoforado (ORSEC) e Ernesto
Oliveira (Rádio Clube do Norte).
Por este Emissor destacam-se outros nomes que por aqui
passaram: Olga Cardoso, Ilídio Inácio e Alfredo Alvela.
Em 1954, tinha sido retirada a licença ao Portuense Rádio
Clube, tendo este deixado de emitir.
Esta sociedade transformou os antigos postos emissores numa
espécie de produtores independentes, pois já não tinham emissores próprios,
pelo que perderam o código de chamada.
As rádios emitiam pela mesma frequência em Onda Média, em
espaços de 3 ou 4 horas rotativamente.
Em 1962, todas as estações emissoras (os “Emissores do Norte
Reunidos”, também), fechavam por volta da meia-noite , mas, com o
aparecimento dos produtores independentes, esta situação começaria a mudar.
A programação dos “Emissores do Norte Reunidos” era ocupada
das 00h às 01h por Carlos Silva, um ex-locutor da Rádio Porto, com o programa
“Ultima Hora”, que era uma produção independente da sua autoria. Da 01h às 02h
outro produtor independente - a “Rádio Record Portuguesa” -
levava a efeito as suas emissões.
No final de 1962, experimentalmente começam as primeiras
emissões nas madrugadas de Sexta-Feira para Sábado e de Sábado para Domingo das
02 às 05 horas com o programa “Enquanto a noite passa”. Isto veio preencher o
vazio que se sentia durante a noite no Norte de Portugal. O locutor do programa
era Jorge José da Silva.
Os “Emissores do Norte Reunidos” emitiram até ao final de
1975, quando a nacionalização da rádio os integrou na chamada RDP.
Cada associado recebeu três mil contos.
Em 1975, passou a chamar-se Rádio Porto e nos anos 80, Rádio
Comercial Norte. Foi extinta em 1993, quando a Rádio Comercial foi
privatizada e a frequência que ocupava no Porto, em FM, passou a transmitir a
Antena 3.
Agradeço ao autor por ajudar a divulgar a história na Rádio no Porto.
ResponderEliminarMuito obrigado pelas suas amáveis palavras. Espero que continue a seguir este blogue.
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