sexta-feira, 14 de abril de 2017

(Conclusão) - Actualização em 17/04/2020

13.6 A Rádio


Nota: O texto que segue sobre a história da rádio na cidade do Porto baseia-se, em boa parte, nas memórias, principalmente, de Jorge José da Silva e de António Jorge Branco e ainda, na revista “QSP – Revista de Rádio e Comunicações” e, sobretudo, no blogue “telefoniasemfios.blogspot”. 


“Em 20 de Março de 1917 nuns terrenos sitos ao Sardoal, a Norte de Leça da Palmeira, o técnico inglês John Joseph Leary termina a instalação do Posto de T.S.F. do Norte, estação para a direcção da qual fora já nomeado o distinto oficial dos C.T.T. Carlos Augusto”.
In “O Tripeiro” 7ª Série, Ano XXXVI, Nº 03, Março 2017


«A radiodifusão na cidade Invicta começou a dar os primeiros passos cedo. Júlio Silva - futuro proprietário da Ideal Rádio - já em 1918, tinha construído o seu primeiro emissor e feito chamadas aos colegas “senfilistas”. Este é o primeiro caso documentado, obtido através de declarações de Júlio Silva a uma revista da especialidade nos anos 30. Não se sabe se antes de 1918, existiram mais experiências de Telegrafia ou Telefonia Sem Fios na cidade do Porto ou se, até à segunda metade dos anos de 1920, existiram tentativas de radiodifusão.
Em 1926, aparece a primeira estação emissora de radiodifusão sonora do Porto, pela mão de António Rodrigues, que fundou a Rádio Porto - uma casa comercial de aparelhos eléctricos e que acabaria por montar um posto emissor.
Vários postos de radiodifusão foram aparecendo e desaparecendo na cidade Invicta, a maior parte deles pertencendo a casas que vendiam aparelhos eléctricos, nomeadamente receptores de rádio. Existiam também muitos radioamadores, mas a maioria dedicava-se à Telegrafia Sem Fios ou Radiofonia, poucos faziam experiencias de radiodifusão com emissões de música e palavra, como os postos comerciais.
As estações dividiam entre si uma só frequência emitindo em dias e horários diferentes. Até finais dos anos 30, apenas a Sonora Rádio emitiria numa frequência diferente dos restantes postos, pois retransmitia a Emissora Nacional.
Só em 1939, aparece a primeira estação emissora que não estava ligado ao comércio: o Portuense Rádio Clube. A década de 40, veria aparecer então mais rádio clubes.
Durante a Segunda Guerra Mundial, as emissoras foram obrigadas a centralizarem-se numa só, dividindo entre si – rotativamente - o horário de emissão. A escolha da estação centralizadora recaiu sobre o Portuense Rádio Clube, pois era a estação que melhores condições tinha na altura. Esta associação só terminaria nos anos 50, dando lugar depois aos Emissores do Norte Reunidos - mas só com cinco estações centralizadas, pois já tinham desaparecido a Sonora Rádio, o Portuense Rádio Clube, a Rádio Clube Lusitânia.
A Invicta Rádio (Rádio Clube Invicta) tinha dado lugar ao Rádio Clube do Norte.
Quando se iniciou a segunda metade do século XX, o Porto tinha emissores e estúdios, na cidade, do Rádio Clube Português, dos Emissores do Norte Reunidos, da Rádio Renascença e do Emissor Regional do Norte da Emissora Nacional. Tudo em Onda Média. A Frequência Modulada só chegaria ao Porto nos anos 60. A partir de 1930, já não seria possível aos radioamadores fazerem estações emissoras comerciais sem uma licença profissional.
As estações profissionais eram obrigadas a identificarem-se, a partir de 1930, com o indicativo oficial “CS1(...)”, enquanto os postos amadores tinham como prefixo “CT1(...)”. Em 1937, com nova legislação, os indicativos sofrem alterações e aos emissores de Ondas Curtas é atribuído o indicativo “CS2W(...)”, seguido de uma letra que identificava o posto.  Em Onda Média, às estações do Porto são atribuídos indicativos “CS2X(...)”, seguido da letra identificativa da estação. No início dos anos 50, com uma nova legislação sobre a radiodifusão, os amadores continuariam com o prefixo “C T ...” e as estações emissoras profissionais passaram a ter como indicativo oficial  “C S B ...”, seguido de um número que identificava a estação emissora de radiodifusão sonora.
Curioso de notar que foi na década de 1950 que os relatos de futebol passaram a ser transmitidos na íntegra. Até então, era dado um resumo da primeira parte e relato da segunda parte, isto porque os clubes temiam perder espectadores se o relato fosse transmitido totalmente na rádio. Foi Domingos Lança Moreira o precursor do relato completo.
Quanto a publicações no Porto sobre rádios dá-se conta de algumas.
O «Indicador da Rádio» era uma revista gratuita, impressa no Porto, e oferecida em vários estabelecimentos comerciais.
A «Lista de Estações Philips» também era oferecida pelas casas comerciais.
Impressa pela Bertrand, em Lisboa, em 1938, trazia uma descrição das estações emissoras de todo o mundo equipadas com aparelhos Philips.
A “Electra” – quinzenário de electricidade e radiotecnia.
É a primeira revista dedicada à rádio publicada no Porto.
Sob a direcção de Manuel Henrique Varejão(CT1FK) surge em Setembro de 1934 e termina em Outubro de 1935. São editados apenas 18 números, existindo alguma irregularidade nas últimas publicações. Esta revista descreveu em pormenor as estações emissoras do Porto e as suas actividades.
Em Outubro de 1936, aparece a segunda revista editada no Porto. A “Antena” – revista mensal de T.S.F.”.
Tem como director e editor Manuel Henrique Varejão. A revista trazia artigos técnicos, críticas às emissoras de Lisboa, um dicionário de rádio e a televisão já era assunto abordado nas suas páginas. Entre Outubro de 1939 e Março de 1940 a “Antena” viu interrompida a sua publicação devido à II Guerra Mundial. Terminou a sua publicação em Dezembro de 1947.
(…) Em 1939, com o início da Segunda Guerra Mundial, as rádios foram obrigadas a centralizarem-se numa só. A escolha do posto centralizador era da competência dos serviços radioeléctricos. Devido às excelentes instalações que possuía e por ser a mais moderna das estações do Porto, o Portuense Rádio Clube foi a emissora escolhida.
Esta associação obrigatória só terminaria em Junho de 1947.”
Com a devida vénia a telefoniasemfios.blogspot


O «Indicador da Rádio» era uma revista gratuita, impressa no Porto, e oferecida em vários estabelecimentos comerciais.
O exemplar abaixo, é de Janeiro de 1947, e era oferecido pela “A Villarinha, Ld.ª” – uma casa de móveis da Rua de Cedofeita, no Porto.






Rádios de outros tempos




A rádio haveria de ter um papel fundamental na revolução acontecida no 25 Abril de 1974 e, assim, seguiria, até à década de 1980 quando, mercê do aparecimento das rádios pirata, a emissão radiofónica se massificou.
Apesar do incremento dos programas e canais televisivos, a rádio continuou e, continua, a cumprir o seu papel.



Sondagem sobre as preferências dos ouvintes em 1970




Estações de Rádio


RÁDIO PORTO


Fundadores: António Rodrigues
Ano da Fundação: 1926
Fecho: 1975
Morada: Rua dos Clérigos, 64 - 68






“A “Rádio Porto” iniciou as experiências em Janeiro de 1926, com um pequeno emissor. As primeiras transmissões eram efectuadas desde a casa particular de um gerente da empresa “Sociedade Produtos Industriais, Ldª” (mais tarde A. Sousa & Rodrigues). O indicativo de chamada era “Daqui SPIL - Rádio Porto”.  Seis meses mais tarde, a “Rádio Porto” montava estúdios na Rua de Cedofeita 293, fazendo experiências com um emissor de apenas 12 watts e tendo como primeiro locutor António Teixeira Laranjeira. A inauguração oficial deu-se a 14 de Outubro de 1927, com a presença do Coronel Craveiro Lopes - Governador Civil do Porto, representantes do Bispo do Porto, da Junta Geral do Distrito, da Câmara, da Universidade, da Imprensa, etc.. Todas estas entidades proferiram palavras de incentivo a um projecto que consideravam educador e recreativo. À “Rádio Porto” foi-lhe concedido o indicativo “P.R.P 1” e desde o dia da sua inauguração emitiu diariamente.
(…) Foram vários os projectos culturais que passaram pelos microfones da “Rádio Porto”.
Em Janeiro de 1928, a “P1RP” realizou um sarau de arte nos seus estúdios, com a Companhia Amélia Rey Colaço - Robles Monteiro.
Em Fevereiro desse ano, transmitiu uma peça teatral com uma companhia do Teatro Águia Douro. Em Maio, pela primeira vez, retransmitiu, em directo, uma peça desde o Teatro S. João. 
De sucesso em sucesso, a “Rádio Porto” entrou em silêncio no Outono de 1929, para proceder à instalação de um emissor de 100 watts, que inaugurou em Janeiro de 1930. Também nesse ano foi-lhe atribuído o indicativo oficial CS1RP.
Em 1932, o compositor e folclorista Armando Leça passou a exercer o cargo de director artístico da estação. Com esta nomeação a “Rádio Porto” diversificou a música - desde a clássica à ligeira. Em 1935, a “Rádio Porto” mudou as instalações para a Rua dos Clérigos, 64 – 68, possuindo já um emissor de 500 watts.
A locução na Rádio Porto continuava a cargo de António Laranjeira, o mais antigo locutor da emissora, e de João Rocha, chefe de vendas da loja que suportava o Posto emissor.
A Rádio Porto foi pioneira nas emissões infantis quando, em 1932, iniciou um programa semanal dedicado à infância sob a direcção de Alexandrina Reynaud.
Em 1938, estas emissões passaram a ser orientadas pelo semanário infantil “O Papagaio”.
Após a associação obrigatória das várias rádios, devido à 2ª Guerra Mundial, a Rádio Porto voltaria, em 1947, aos seus estúdios na Rua dos Clérigos.
Em 31 de Março de 1947, são inauguradas as novas instalações da Rádio Porto, na Rua dos Clérigos, sendo subagente da empresa RCA”.
Com a devida vénia a telefoniasemfios.blogspot





Rádio Porto, na Rua dos Clérigos



RÁDIO PROGREDIOR


Fundador: António Gasparinho
Ano da Fundação: 1931
Fecho: 1934
Morada: Rua 31 de Janeiro, 157


“António Gasparinho, já era radioamador desde 1929, só anos mais tarde -em 1931 - é que começaria com as suas emissões, mas muito irregularmente, em Onda Média.
Em 1934, a “Rádio Progredior”, emitiu em Onda Curta durante mês e meio, fazendo experiências com em onda extra-curta, conforme era divulgado nos anúncios publicados em revistas:
ATENÇÃO – Estamos fazendo ensaios de emissão de musica em extra-curtas com o indicativo «Rádio-progredior», todas as noites da 20 ½ às 23 ½, menos ao domingo.
As nossas experiências fazem-se actualmente com o comprimento de onda de 30 metros”.


RÁDIO CLUBE DO PORTO


Ano da Fundação: 1933
Morada – Rua Formosa, 353, 1º.


“Este foi apenas um clube de radioamadores do Porto. A sua função seria, em princípio, fazer uma estação emissora como o Rádio Clube Português -mas este projecto não saiu do papel.
Na inauguração a 14 de Julho de 1933, coube ao Dr. João Antunes Guimarães, Ministro do comércio e entusiasta da radiodifusão, o discurso de abertura.
Este clube desapareceu rapidamente, pois não houve muito interesse por parte dos associados.
Funcionou nas instalações da “Ideal Rádio”, na Rua Formosa”.



SONORA RÁDIO

Fundadores: Agostinho, Antero e José Alberto Calheiros Lobo
Ano da Fundação: 1 de Maio de 1930
Fecho: Junho de 1943
Morada: Rua Sá da Bandeira, 24


“A “CS1SR – Sonora Rádio” foi o segundo posto emissor de radiodifusão do Porto, tendo surgiu em Maio de 1930. Os mentores deste projecto foram os irmãos Calheiros Lobo, que queriam dotar a cidade com uma verdadeira estação de radiodifusão.
Situada, inicialmente, na rua 31 de Janeiro 190 (em 1930), à “Sonora Rádio” foi atribuído o indicativo CS1SR, tendo a “Administração Geral dos Correios e Telégrafos” autorizado, a 24 de Junho de 1930, o horário de emissão. Durante algum tempo a estação apresentava-se aos ouvintes apenas como “Posto Experimental Sonora Rádio” e as emissões, efectuadas inicialmente no comprimento de onda de 204 metros, consistiam na execução de música gravada, notícias e programas para a infância”.

Publicidade da Sonora Rádio


IDEAL RÁDIO


Fundadores: Júlio Augusto Silva (CT1 EO) e José Santos Martins (CT1 FR)
Ano da Fundação: 1931
Fecho: 1975
Morada: Rua Alferes Malheiro, 147

“A Ideal Rádio era uma casa comercial que vendia aparelhos de rádio desde 1926, mas o seu proprietário - Júlio Silva - já em 1918, tinha construído um emissor e feito chamadas aos “senfilistas”.
A “Ideal Rádio” teve instalações na Rua Formosa, 353 – 1º. (21 de Dezembro de 1935), tendo sido a primeira localização do posto emissor.
A emissora era acusada de “Popularucha”, devido ao tipo de música que passava. Júlio Silva considerava que “No Porto não se morre de amores pelo fado” pelo que era avesso a esse género de música na sua estação, preferindo o folclore e música popular portuguesa alegre”.



A Ideal Rádio organizava e transmitia a partir do Coliseu do Porto o programa chamado "Comboio Foguete" e viria a dar guarida ao programa humorístico "A Voz dos Ridículos” nascida, em 1945, no “Portuense Rádio Clube”.
A Voz dos Ridículos  foi um programa de rádio, de grande audiência, protagonizado por João Manuel Antão, Benjamim Veludo, Castro Maia e outros companheiros, que ensaiavam e gravavam à Quinta-feira com o programa a ir para o ar, ao Domingo, à hora de almoço.
A dada altura, a orquestra que fazia os acompanhamentos musicais era a “Vou Ali e Já Venho”.
A Voz dos Ridículos, após passar pelo “Portuense Rádio Clube”, esteve na Ideal Rádio, Rádio Comercial, Rádio Clube de Matosinhos e, por fim, na Rádio Festival onde, em Julho de 2013, deixou de ir para o ar.
 
 
 



A abertura de cada programa era feita com o slogan: “A Voz dos Ridículos fala e o mundo acredita e ri…”


 

Notícia sobre uma revista levada à cena do elenco de “A Voz dos Ridículos”, em 1965
 
 
“Não será ideal tudo o que a Ideal Rádio vende?” - Este slogan ficou no ouvido de muita gente.


Publicidade ao receptor vendido pela Ideal Rádio




Receptor comercializado pela Ideal Rádio – Ed. Paulo Ferreira



O.R.S.E.C.
Oficinas de Rádio, Som, Electricidade e Cinema

Fundadores: Abílio, Manuel, António, Francisco e Jorge Oliveira.
Ano da Fundação: 1931
Fecho: 1975
Morada: Rua dos Caldeireiros, 113 (1922), Rua de Santa Catarina, 130 1º. (estúdios em 1935), Rua de Cedofeita, 452 (1937), Rua Fernandes Tomás, 666 (1950, como S.E.R.L.)

“A casa comercial ficava na Rua dos Caldeireiros, desde 1922, o posto emissor foi montado nos anos 30, na Rua dos Caldeireiros. Em 1935, o posto emissor passou para o 1.º andar de um prédio na Rua de Santa Catarina. A casa comercial mudou em 1937, para a Rua de Cedofeita, 452, esta mudança é devida a uma separação dos irmãos Oliveira. A oficina da Rua dos Caldeireiros continuou nas mãos de Abílio Oliveira como Radioeléctrica. A Rádio ORSEC montou, em 1947, uma oficina de venda e reparação de aparelhos eléctricos, com o nome de S.E.R.L. – Serviços Especializados de Rádio, Limitada, situado na rua Santos Pousada, 113.
Anos mais tarde esta oficina passou para a Rua Fernandes Tomás, 666, mesmo em frente ao mercado do Bolhão, onde foi montado um pequeno estúdio de rádio.
A O.R.S.E.C. montou um cinema sonoro em Amarante e chegou inclusive a tentar montar uma estação de televisão nos anos 30. Este projecto pioneiro foi abandonado por dificuldades financeiras, agravadas com a proibição de publicidade na rádio”.

Publicidade à O. R. S. E. C., na Rua dos Caldeireiros


RÁDIO BRANCO & IRMÃO

Fundadores: Humberto, José e Orlando Moreira Branco
Ano da Fundação: 1932
Fecho: Abril de 1938
Morada: Rua de Santo Ildefonso, 86 – 88


“A casa Branco & Irmão dedicava-se à comercialização de aparelhos de rádio e à reparação de aparelhos eléctricos. A emissora foi montada por Jorge Guedes - um rádio técnico que na altura era considerado dos melhores do país - e gerida pelos irmãos Branco.
A Rádio Branco & Irmão tentava satisfazer os mais variados gostos musicais: música clássica, ligeira, popular e de dança fazia parte do seu repertório”.




INVICTA RÁDIO - RÁDIO CLUBE INVICTA

Fundadores: Henrique Guilherme Aguiar
Ano da Fundação: 1932
Fecho: 1947
Morada: Rua de Santa Catarina, 304 - 308


“Henrique Guilherme Aguiar era o representante em Portugal da americana Westinghouse, a proprietária da primeira emissora comercial do mundo, vendendo os rádios e outro material desta marca.
A Invicta Rádio apostava na sobriedade musical com muita música ligeira mas com um mínimo de qualidade.
Nascida em pleno período de lançamento do Estado Novo esta estação transmitia a propaganda da nova ordem, foi por isso considerada a emissora oficiosa da “Exposição Colonial do Porto” em 1934. A estação transmitiu todas as palestras do capitão Henrique Galvão e de outras figuras ligadas ao regime - muitas delas em Castelhano e destinadas a Espanha. Henrique Galvão, nos anos 30, ainda estava longe dos ideais que o levariam nos anos 60, a desviar o paquete “Santa Maria”.
Passaram por esta rádio vários nomes de destaque na altura, Drs. Bento Carqueja, Leonardo Coimbra, Joaquim Costa, António de Figueiredo, e o poeta Teixeira de Pascoaes.
Durante a Grande Exposição Colonial do Porto, foi considerada a rádio oficial do evento.
Este posto emissor associou-se ao jornal “O Século” para a transmissão de relatos de futebol de jogos disputados em Portugal e em Espanha”. 


RÁDIO CLUBE DO NORTE

Fundadores: Adolfo Quaresma e Américo Ferreira Adrião
Ano da Fundação: 1947
Fecho: 1975
Morada: Rua Duque de Loulé, 85, 1.º


“A Rádio Clube do Norte era uma ideia que já vinha desde que o Rádio Clube do Porto tinha deixado de existir. A vontade de criar um posto emissor comparável ao RCP era o sonho dos radiófilos do Porto. Este sonho acabou por ser concretizado em 1947, quando Adolfo Quaresma e Américo Ferreira Adrião tomaram conta do posto emissor pertença da Rádio Clube Invicta.
Este foi um dos postos fundadores dos Emissores do Norte Reunidos em 1953”.



POSTO EMISSOR ELECTROMECÂNICO

Fundadores: Manuel Moreira
Ano da Fundação: 1933
Fecho: 1975
Morada: Rua Alexandre Herculano, 366


“Este era um posto que dava preferência à “Canção Nacional”, muito “por culpa” do seu director artístico - Capitão Almeida Russo - que realizou em Setembro de 1937, uma palestra exaltando o fado e associando-o a todos os fastos da nacionalidade. Muitos contemporâneos da palestra acharam que esta se deveu a uma inspiração lírica espontânea, mas não deixaram de sublinhar a discutibilidade das suas conclusões.
Esta emissora foi montada em Agosto de 1933, por Manuel Moreira e pelo técnico Bracarense Santos da Cunha, a abertura oficial deu-se a 14 do mesmo mês.
Era diversificada a programação do Electromecânico, notícias às terças-feiras pelo jornalista Luís Costa, que também falava de cinema, teatro, desporto e turismo. Foi ainda criado um programa para crianças, feito por crianças: a “Hora Infantil”.
O programa mais curioso era a “Meia hora estrangeira”. Inaugurado a 10 de Agosto de 1938, todas as semanas era convidado da estação um dos cônsules residentes no Porto. Durante 30 minutos faziam uma alocução na sua língua natal dirigida à respectiva colónia. Seguia-se um programa sobre assuntos do país a que se referia a alocução.
Em finais dos anos 50, começou a ser emitido neste posto um dos mais famosos programas de rádio de sempre: “Festival”. Este programa da autoria de Fernando Gonçalves era gravado no cinema Vale Formoso (anos mais tarde passou para o Teatro Sá da Bandeira) aos domingos de Manhã pelos técnicos de som António Miranda e José Manuel Miranda e Jorge José da Silva. Era transmitido no domingo seguinte à mesma hora. A apresentação estava a cargo de Fernando Gonçalves e Maria de Laferia, substituída mais tarde por Natália Maria”.



Maria da Luz apresentando-se, no Cine-Teatro Vale Formoso, no programa “Festival” 






RÁDIO CASA FORTE

Fundadores: José Forte
Ano da Fundação: 1934
Fecho: Janeiro de 1938
Morada: Rua de Sá da Bandeira, 281


“A Casa Forte Bazar, S.A.R.L. vendia, entre outras coisas, receptores de rádio, pelo que a emissora foi um impulso de José Forte para tentar melhorar a oferta de emissões em português e incentivar à compra de aparelhos.  A Casa Forte possuiu durante algum tempo instalações na Rua de Santa Catarina, 20, mas acabariam por ser encerradas.
O espaço comercial da Casa Forte, situado na Rua de Sá da Bandeira, encerrou em 2004”.



RÁDIO GAIA


Fundador: Guilherme Vasconcelos
Ano da Fundação: 1934
Fecho: 1936
Morada: Praça da Batalha, 37 – 1º


“Eram locutores deste posto Alberto Alves e Guilherme Vasconcelos. Este posto emissor estava montado em Vila Nova de Gaia, mas foi montada outra oficina e emissores na cidade do Porto num edifício entre os cinemas Águia D’Ouro e Batalha.
Começou como casa comercial que vendia receptores e outro material de T.S.F., além de ter uma oficina de bobinagem e reparação de equipamento eléctrico”.



RÁDIO CLUBE LUSITÂNIA



Fundador:

Ano da Fundação: Dezembro de 1938
Fecho: 15 de Novembro de 1945
Morada: Alameda do Bonfim, 83


“O encerramento da emissora foi anunciado num pequeno espaço na coluna de T.S.F. do jornal “O Comércio do Porto”:
«Rádio Clube Lusitânia
Comunica-nos o director de Rádio Clube Lusitânia, que esta estação emissora, há muito ao serviço dos ideais democráticos, foi suspensa por tempo indeterminado». Nunca mais regressou ao éter”.


Estação de Rádio da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal


Fundadores: Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal
Ano da Fundação: Janeiro de 1948
Morada: Rua de Cedofeita

“A Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal teve autorização para emitir em Janeiro de 1948, tendo as emissoras centralizadas do Porto cedido meia-hora cada do seu tempo de emissão, para que a ATNP tivesse espaço de emissão”.



GRÉMIO CENTRALIZADO DAS CASAS COMERCIAIS


“Uma das suas locutoras era Elisa de Carvalho, uma ex-locutora do posto emissor da Assistência aos Tuberculosos do Norte de Portugal.
Este posto ficou com o indicativo e horário ocupado pela Rádio Clube Lusitânia.
A sua abertura deu-se possivelmente em 1948”.


PORTUENSE RÁDIO CLUBE


Fundadores: Capitão Rogério Marques de Almeida Russo e mais 50 personalidades do Porto
Ano da Fundação: 27 de Maio de 1937
Fecho: 1954
Morada: Avenida de Rodrigues de Freitas, 374


“A 27 de Maio de 1937, um grupo de quase meia centena de pessoas fundaram a Associação Cultural e de Recreio “Portuense Rádio Clube”, cuja sede ficou situada, provisoriamente, na Rua de Santo Ildefonso, 14-1º. O Portuense Rádio Clube foi uma estação que saiu dos moldes das rádios de então, já que era um clube - com associados e outras actividades para além da rádio. O principal mentor do projecto foi o Capitão Rogério Marques de Almeida Russo, um militar que já tinha sido director artístico do Posto Emissor Electromecânico.
A primeira emissão do Portuense Rádio Clube teve lugar a 20 de Novembro de 1938, em instalações situadas na Rua Sá da Bandeira 339-1º, no Porto. Mais tarde mudou-se para a Rua de Entreparedes 3 - 2º e por fim, a 01 de Maio de 1939, para a Av. Rodrigues de Freitas 374. Nestas instalações passou a utilizar um emissor de 5 KW, que tinha sido adquirido a Abílio Gomes, proprietário da “Rádio Sanjoanense”.
Com o início da II Guerra Mundial, é publicado o decreto-lei n.º 29 937, que suspende o funcionamento de todas as estações emissoras particulares. O mesmo diploma previa a concessão de autorizações especiais. O Rádio Clube Português e a Rádio Renascença e outras emissoras profissionais foram autorizados a emitir, após um requerimento de funcionamento. Os postos amadores tiveram de encerrar.
Das várias estações que continuaram “no ar”, um triunvirato tinha relações privilegiadas com o Estado Novo: a Emissora Nacional, que era controlada pelo governo; o Rádio Clube Português, dirigido por Jorge Botelho Moniz e que estava intimamente ligado ao regime; e a Rádio Renascença que, pertencendo à igreja católica, estava parcialmente controlada pois existia uma relação de proximidade entre a igreja católica e o Estado português. As estações mais pequenas foram obrigadas a centralizarem-se num único posto, em cada cidade.
A escolha do posto centralizador era da competência dos serviços radioeléctricos.
Possuindo excelentes instalações, o Portuense Rádio Clube foi a estação escolhida. Todos os postos de radiodifusão ficaram com os emissores selados, pelo que só podiam transmitir, rotativamente, desde os estúdios da estação centralizadora.
Foi no Portuense Rádio Clube que nasceu, a 17 de Abril de 1945, “A Voz dos Ridículos”.
João Manuel foi o mentor do programa que é “património mundial da hilaridade”, pois é, muito provavelmente, o mais antigo programa radiofónico do mundo que ainda vai para o ar. Pode ser escutado, aos domingos, na Rádio Festival – uma rádio local da cidade do Porto.
A Voz dos Ridículos nascida em 1945 no Portuense Rádio Clube, esteve sucessivamente na Ideal Rádio (onde se manteve durante décadas), Rádio Comercial, Rádio Clube de Matosinhos e, por fim, e ainda hoje, na Rádio Festival.
A Voz dos Ridículos foi o resultado da confluência de diversos factores. Um deles foi a longevidade do seu criador principal, João Manuel Antão, mais conhecido simplesmente como João Manuel. Outro dos factores essenciais para o longo êxito foi a sua popularidade junto de camadas sociais médias e baixas da sociedade do Porto.
O programa reuniu à sua volta duas gerações, pais e filhos, permitindo a entrada de mulheres na segunda geração.
Também o xadrez teve o seu espaço na emissora. O “Grupo de Xadrez do Porto”, na altura presidido por Adelino Ribeiro, passou a ter regularmente um espaço dedicado ao jogo do xadrez.
Em 1954 é retirada a licença ao Portuense Rádio Clube”.







“(…) Dos 48 fundadores, incluíam-se o governador civil do Porto e os comandantes da Região Militar e da Polícia de Segurança Pública.
Ao Portuense Rádio Clube foi atribuído o indicativo radifónico inicial CS2XL, depois alterado para CSB6. De acordo com o antigo locutor Júlio Guimarães, «Portuense Rádio Clube ficava situado na avenida Rodrigues de Freitas, perto da Batalha. Já naquela época, em 1944, havia variedades todas as quintas-feiras à noute e havia assistência. Isto é, havia uma sala preparada para que as pessoas que quisessem fossem assistir ao vivo aquele espetáculo. Em 1944, havia rádios com auditórios. [...] O Clube dava recreio aos seus associados, nomeadamente os bailes dançantes. E fazia-se rádio todos os dias».
A Portuense Rádio Clube” era a rádio que habitualmente fazia a retransmissão de espectáculos do Palácio de Cristal, com artistas de renome nacional, como Tony de Matos, Francisco José ou Carlos Ramos. Outros espectáculos alvo de cobertura aconteciam bem próximo da estação, no Parque das Camélias, (hoje um centro de camionagem), onde se distinguiu o empresário Domingos Parker, com «A Hora do Garnizé».
A estação promoveu múltiplas iniciativas culturais e recreativas: Maria Amélia Canossa foi revelada em concurso de novos talentos; a Festa da Rádio (12 de Junho de 1946) reuniu no Coliseu do Porto artistas como José António, Irmãs Meireles, Maria Gabriela e Maria da Graça. O Portuense Rádio Clube teve locutores famosos como Fernando Gonçalves, Carlos Silva e Humberto Branco. Na mesma emissora, Domingos Parker foi expulso e readmitido em 1945, tendo chegado a administrador do edifício do Monte da Virgem, mais tarde vendido após o desaparecimento da estação por perda de licença.
Um dos sócios mais conhecidos, que a determinada altura se incompatibilizou com o fundador, Almeida Russo, foi Manuel Correia de Brito (morreu em 2009), director de produção e igualmente membro da direcção do Portuense. Ele fora consagrado hoquista do Estrela e Vigorosa Sport Clube, do Académico Futebol Clube e da selecção da Associação de Patinagem do Norte e selecionador nacional da modalidade. Depois, do desaparecimento do Portuense, notabilizou-se na rádio no papel do menino Quim (espécie de réplica do menino Tonecas, de José de Oliveira Cosme) – de que não haverá nenhum texto escrito guardado para a posteridade – e na imprensa, como colaborador do jornal O Comércio do Porto.
Com as quedas das receitas de publicidade a acentuarem-se nos anos após a II Guerra, em determinada altura, no início dos anos 50, pensa-se adquirir um novo emissor.
Embora sob hipoteca, para o efeito, foi adquirido um terreno de sete mil metros quadrados no Monte da Virgem (Vila Nova de Gaia) e construído um edifício para instalar toda a atividade do Portuense Rádio Clube.
o atraso na compra do emissor, a avaria no primeiro equipamento e a instalação do novo emissor fez passar tempo e caducar a licença (final de Março de 1954). Em Abril de 1955, a Emissora Nacional adquiria o terreno para aí instalar o emissor de frequência modulada para a região do Porto”.
Fonte: Com a devida vénia a Rogério Santos; In “Os 60 anos dos Emissores do Norte Reunidos”- Colóquio, 2013/02/25


Sede da Portuense Rádio Clube – In site: “classicosdaradio.com“, com a devida vénia a Jorge Silva

Local actual da foto anterior (Avenida Rodrigues de Freitas com Rua de Entreparedes ao fundo) – Fonte Google maps


EMISSORES DO NORTE REUNIDOS


Fundadores: Rádio Porto, Ideal Rádio, Posto Electromecânico, Rádio Clube do Norte, Rádio O.R.S.E.C.
Ano da Fundação: 1953
Fecho: 1975
Morada: Rua de D. João IV, 960


Com o fim do decreto que obrigava à centralização, as estações, para além da Portuense Rádio Clube, prepararam-se para emitir autonomamente, como já acontecia antes de 1939.
A separação dos postos e o reatar das emissões não foi, no entanto, livre de dificuldades. Problemas financeiros e técnicos colocaram entraves a uma normalização das emissões tendo, inclusive, levado à extinção da “Rádio Clube Lusitânia”. 
Em Fevereiro de 1953, constituiu-se no Porto a “Sociedade Emissores do Norte Reunidos, Ldª.”  que teve como associados a Rádio Porto, Ldª.; ORSEC, Ldª.; Posto Emissor Electromecânico (Manuel Moreira & Cia. Ldª.); Ideal Rádio, Ldª.; e Rádio Clube do Norte (Sá, Quaresma & Cia. Ldª.).
Tinha instalações na Rua D. João IV donde a programação era emitida.
O posto emissor situava-se em Canidelo, V.N. Gaia.
Davam voz, Humberto Branco (Rádio Porto), Júlio Silva (Ideal Rádio), Maria Moreira (Electromecânico), Eugénio Alcoforado (ORSEC) e Ernesto Oliveira (Rádio Clube do Norte).
Por este Emissor destacam-se outros nomes que por aqui passaram: Olga Cardoso, Ilídio Inácio e Alfredo Alvela.
Em 1954, tinha sido retirada a licença ao Portuense Rádio Clube, tendo este deixado de emitir.
Esta sociedade transformou os antigos postos emissores numa espécie de produtores independentes, pois já não tinham emissores próprios, pelo que perderam o código de chamada.
As rádios emitiam pela mesma frequência em Onda Média, em espaços de 3 ou 4 horas rotativamente.
Em 1962, todas as estações emissoras (os “Emissores do Norte Reunidos”, também), fechavam por volta da meia-noite , mas, com o aparecimento dos produtores independentes, esta situação começaria a mudar.
A programação dos “Emissores do Norte Reunidos” era ocupada das 00h às 01h por Carlos Silva, um ex-locutor da Rádio Porto, com o programa “Ultima Hora”, que era uma produção independente da sua autoria. Da 01h às 02h outro produtor independente - a “Rádio Record Portuguesa” - levava a efeito as suas emissões.
No final de 1962, experimentalmente começam as primeiras emissões nas madrugadas de Sexta-Feira para Sábado e de Sábado para Domingo das 02 às 05 horas com o programa “Enquanto a noite passa”. Isto veio preencher o vazio que se sentia durante a noite no Norte de Portugal. O locutor do programa era Jorge José da Silva.
Os “Emissores do Norte Reunidos” emitiram até ao final de 1975, quando a nacionalização da rádio os integrou na chamada RDP.
Cada associado recebeu três mil contos.

Em 1975, passou a chamar-se Rádio Porto e nos anos 80, Rádio Comercial Norte. Foi extinta em 1993, quando a Rádio Comercial foi privatizada e a frequência que ocupava no Porto, em FM, passou a transmitir a Antena 3. 

2 comentários:

  1. Agradeço ao autor por ajudar a divulgar a história na Rádio no Porto.

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  2. Muito obrigado pelas suas amáveis palavras. Espero que continue a seguir este blogue.

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