sábado, 22 de abril de 2017

(Continuação 4) - Actualização em 12/05/2021


O "Americano”, no Porto, na Praça D. Pedro, em 1880 – Ed. Aurélio Paz dos Reis


Um "Americano", na Foz do Douro 



Ao fundo dos Clérigos, um Fiacre seguido de um Americano



Um Americano, na Praça Carlos Alberto



A Câmara Municipal do Porto a 27 de Junho de 1878 autoriza provisoriamente as companhias, designadas correntemente como “Companhia de Baixo” e “Companhia de Cima”, à introdução da tracção a vapor.
A partir de 1878 a “Companhia Carris de Ferro do Porto”, designada por “Companhia de Cima” no percurso até à rotunda da Boavista, onde tinha a sua Estação Central, passa a recorrer aos habituais Americanos, mas, aí, os passageiros faziam transbordo para a “Máquina”, um veículo a vapor, que podemos considerar o primeiro “metro de superfície” do país e que quando prolongado até Matosinhos (1882) aí entrava por Juncal de Baixo, hoje a Rua Roberto Ivens.
A “Companhia Carril Americano do Porto à Foz e Matosinhos” vulgarmente designada por “Companhia de Baixo” efectuava a ligação entre a Porta Nobre (ou Nova), passando pela Rua Nova da Alfândega até à Foz, prolongada depois até Matosinhos (1873) por Juncal de Cima, hoje a Rua Brito Capelo.



Cruzamento (1) dos percursos do Americano e da Máquina a Sul do Castelo do Queijo (2)



A “Companhia de Baixo” com Estação Central no Ouro ficou ligada à chamada linha da marginal.
As duas empresas concorrentes, Companhia de Cima e Companhia de Baixo fundem-se, em 1893, numa só que mantém o nome da primeira, "Companhia Carris de Ferro do Porto".
Passados 13 anos, em 1906, é decidido atribuir uma concessão para o transporte citadino.
Um grupo de investidores ganha a concessão.
O vencedor tinha de direito o exclusivo da exploração dos transportes colectivos urbanos, continuando a “Companhia Carris de Ferro do Porto”, que não concorreu, a explorar os transportes de viação americana.
 Aquele grupo de investidores viria a constituir um ano depois (1907) a Companhia Viação Eléctrica do Porto” que, tendo durado apenas 1 ano, não chega a dar início a qualquer actividade.
Em 1908 “A Viação Eléctrica do Porto”, é absorvida pela "Companhia Carris de Ferro do Porto", que vem a beneficiar da concessão.
A "Companhia Carris de Ferro do Porto" durou, com esta designação, 73 anos. Ainda hoje, há muita gente que, seguindo o velho hábito, ao referir-se ao Serviço de Transportes Colectivos do Porto (S.T.C.P.) continua a chamar-lhe "Carris".
A designação do Serviço de Transportes Colectivos do Porto surge em 1946, com o resgate da concessão referida, feita pela Câmara Municipal do Porto a um grupo de empresários. Esta concessão durou 40 anos em vez dos 73 anos previstos.


“Linha 1 (Marginal)

Rota
Praça da Liberdade - Infante - Alfândega - Massarelos - Foz (Castelo) - Castelo do Queijo - Matosinhos - Leixões (Leça da Palmeira).
Comprimento 11.9 km (até 1960, encerramento do troço Matosinhos - Leixões), 10½ km (até 1968, encerramento do troço Praça da Liberdade - Infante), 9.7 km (até 1993, encerramento do troço Castelo do Queijo - Matosinhos); Duração da viagem num sentido: 52½ minutos (1934); 40 minutos (1991).

História
Esta foi a linha original da Companhia Carril Americano do Porto á Foz e Matosinhos aberto em 9 de março de 1872 entre a Alfândega e a Foz. No dia 15 de maio, a linha foi estendida para Matosinhos e as festividades de abertura oficial ocorreu.
Logo depois que também a parte entre a Rua dos Ingleses (Infante) e a Alfândega foi aberto. Em 1887 a linha foi estendida para Leça da Palmeira.
Para esta extensão viria a ser construída uma ponte de ferro sobre o rio Leça.
Em 1896 iniciou-se serviços eléctricos entre Infante e Ouro (Estação) e em 1897 o resto da linha de Leça foi eletrificada.
Em 1898 a linha foi estendida em Leça da Palmeira da Rua do Arnado ao Castelo de Leça. O serviço eléctrico entre a Praça e o Infante começou em 24 de abril de 1898, mas ainda como um serviço independente da linha principal. Somente em novembro 1898 Praça - Leça foi operado como um serviço.
No período de 1938-1940 um reencaminhamento foi feito em Leixões devido à construção da primeira doca. Com estes trabalhos também a ponte sobre o Leça foi desmantelada. A Extensão das docas provocou o corte da linha para Matosinhos (Mercado) em 1960.”
Fonte: Site “tram-porto.ernstkers.nl/”


Já a “Companhia de Cima” com Estação Central na Boavista, teve a sua primeira linha, antes da tracção a vapor, entre a Praça Carlos Alberto e Cadouços (Foz do Douro).



“Linha 18 (Cadouços)

Rota
Praça da Liberdade - Carmo - Carvalhosa - Boavista; mudança para tracção a vapor; Boavista - Fonte da Moura - Foz (Cadouços) - Castelo do Queijo - Matosinhos (Roberto Ivens)

História
A CCFP (“Companhia Carris de Ferro do Porto”) teve as festividades para a abertura de sua primeira linha da Praça Carlos Alberto até à Foz (Cadouços) em 12 de Agosto de 1874. Dois dias depois o serviço começou. Em outubro, a linha foi estendida para a Porta do Olival (Cordoaria próximo da Torre dos Clérigos). Desde agosto 1875 os carros americanos andando na direção da Boavista estavam usando Rua do Rosário em vez de Rua da Cedofeita.
Uma linha urbana da Boavista via Praça de Campanhã foi aberta alguns meses antes. Dois anos depois estes serviços foram combinados para uma linha de Campanhã - Foz (Cadouços).
Existia um túnel que liga a Praça Duque de Beja e Rua do Rosário. Também foi usado pelos eléctricos até Outubro de 1925.




Túnel entre a Rua do Rosário (1) e a Praça do Duque de Beja (2) e ainda Rua da Restauração (3) – Planta de Telles Ferreira de 1892




A linha foi convertida para o uso da tracção a vapor entre a Boavista e a Foz em 1878. Durante os primeiros anos a linha da Foz houve uma operação mista com tracção a vapor durante o período de verão e tracção animal durante o período de inverno e na noite durante o verão.
Em 1882 a linha foi estendida da Foz (Cadouços) via Rua da Gondarém para Matosinhos.
A linha atingiu a costa do Atlântico a sul do Castelo do Queijo onde cruzou com a linha da CCAPFM (“Companhia Carril Americano do Porto à Foz e Matosinhos”).
Em Matosinhos a linha estava situada na rua agora se chama Rua Roberto Ivens, uma rua paralela à Rua Brito Capelo.
Para evitar declives acentuados um túnel e três viadutos foram construídos na linha:
-Um túnel foi feito na Foz abaixo do Monte da Luz. Este túnel ainda existe.
-Um viaduto foi feito na Rua de Correia de Sá para atravessar a Rua de Tânger. No mesmo local um novo viaduto mais largo existe, ainda.
-Um viaduto foi feito entre Cadouços e a Rua Nova do Túnel para atravessar Rua Fonte da Luz. Este viaduto desapareceu.
-Um viaduto foi feito na Rua de Gondarém para atravessar Rua da Agra. Um encosto ainda permanece.
Desde 1884 a linha de Cadouços foi cortar a Praça Dom Pedro IV e uma linha separada operando entre Boavista e Campanhã.
Em 1886 a CCFP construía uma ponte de madeira sobre o rio Leça, perto do terminal da linha a vapor. Esta ponte foi demolida em 1922.
Em 1912 a linha de Cadouços fez obter o número 18 com tracção elétrica a partir da Praça da Liberdade até a Boavista e a partir da Boavista tracção a vapor para Matosinhos. Em novembro de 1914 a tracção a vapor foi encerrado e a rota via a Foz (Cadouços) fechada. Com esta ocasião o número da linha 18 desapareceu. Ele foi usado novamente para uma variação da linha 2 desde 1934, quando a nova rota a partir do Carmo via Palácio para Boavista foi aberto.

Horários
14 Agosto 1874
Praça Carlos Alberto - Cadouços: 4.20h - 20' - 20:00h
Cadouços - Praça Carlos Alberto: 4:50h - 20' - 20:50h
15 Decembro 1884
Praça - Foz: 6:30h - 30' - 19:30h - 21:00h - 22:00h - 23:00h
Praça - Matosinhos: 6:30h - 30' - 16:30h - 60' - 19:30h - 22:00h
Matosinhos - Praça: 7:30h - 30' - 17:30h - 60' - 20:30h - 23:20h
Foz - Praça: 6:30h - 30' - 20:00h - 21:00h - 22:30h
1914
Praça - Boavista: 6.35h - 20' - 11.35h - 30' - 16.05h - 20' - 20.05h - 30' - 0.05h
Boavista - Praça: 6.20h - 20' - 11.20h - 30' - 15.50h - 20' - 19.50' - 30' - 23.50'
Boavista - Matosinhos (tracção a vapor): 6.50h - 20' - 11.50h - 30' - 16.20h - 20' - 20.20h - 30' - 0.20h
Matosinhos - Boavista (tracção a vapor): 7.25h - 20' - 12.25h - 30' - 16.55h - 20' - 20.55h - 30' - 0.55h”
Fonte: Site “tram-porto.ernstkers.nl/”


Em 1893, seria criada pela fusão das duas empresas existentes, Companhia Carril Americano do Porto e Companhia Carris de Ferro do Porto (CCFP), de uma só companhia que tomou o nome da última.
Assim em 1893, a Companhia Carril Americano do Porto é adquirida pela Companhia Carris de Ferro do Porto e, em 12 de setembro de 1895, tem início a tracção eléctrica sendo eletrificada a linha entre o Carmo e a Arrábida.
Alguns dos carros americanos começaram, então, a ser colocados fora de serviço.
Os que durante muitos anos serviram a população com destino a Matosinhos foram comprados pela firma Lobo & Freitas, para prestarem serviço, como carruagens, no ramal de Penafiel à Lixa e de Penafiel a Entre-os-Rios; entre Braga e o Bom Jesus, muitas carruagens, provenientes do Porto, sulcaram também as ruas da cidade dos arcebispos; outras composições foram adquiridas pelo alquilador José Galiza, para prestarem serviço na exploração que ele tinha a seu cargo entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim.
Os que durante muitos anos serviram a população com destino a Matosinhos foram comprados pela firma Lobo & Freitas, para prestarem serviço, como carruagens, no ramal de Penafiel à Lixa e de Penafiel a Entre-os-Rios; entre Braga e o Bom Jesus, muitas carruagens, provenientes do Porto, sulcaram também as ruas da cidade dos arcebispos; outras composições foram adquiridas pela firma fundada pelo alquilador José Galiza e continuada pelos seus herdeiros, para prestarem serviço na exploração que ele tinha a seu cargo entre Vila do Conde e a Póvoa de Varzim.
Esta carreira realizada por uma linha, entre aquelas localidades, de carros americanos tinha sido inaugurada em 15 de Outubro de 1874.
Porém, só mais tarde, José Branco Soares Galiza vai arrematar o negócio subjacente à exploração da linha, por mil libras (4 contos e quinhentos mil reis).



Anúncio de 25 de Julho de 1920


Carro "americano" da empresa de José Branco Soares Galiza, Herdeiros, Lda, passando à entrada da Rua 5 de Outubro, em Vila do Conde, junto daquela que foi a terceira morada do Hotel Central



“Carro americano”, em 1880, na Póvoa de Varzim


Em 1928, de acordo com o anúncio seguinte, publicado no jornal “O Commercio do Porto” de 10 de Junho de 1928, a linha de americanos entre a Póvoa e Vila do Conde ainda estava em actividade.







Máquina a vapor puxando antigas carruagens de “carros americanos”, numa rua de Braga




Muitos outros carros americanos foram intervencionados nas oficinas da Companhia Carris de Ferro e convertidos de diversos modos e continuaram a rodar pelas ruas do Porto, já sob o domínio da tracção eléctrica.
Em pleno período de introdução da tracção eléctrica aos transportes citadinos, no Porto, em 1901, ainda se procedia à inauguração de novos percursos com os tradicionais carros americanos, como se observa no texto seguinte.


 

In jornal “A Voz Pública”, em 6 de Julho de 1901





Ripert foi o fundador em 1883 da "Empreza Portuense de Carros Ripert" com sede na Praça de Carlos Alberto, que fazia a exploração das várias linhas dentro da cidade e arredores, sob a direcção de outro francês, Henrique Latourrette. Os próprios cavalos que puxavam os carros eram os célebres "Percherons", também de origem francesa.
Os Ripert começam a fazer concorrência ao “americano” da Carris, chegando a utilizar os seus carris, uma vez que tinham rodas e comprimento de eixo semelhan­tes. Isto origina um conflito e a consequente reclamação à Câmara que responde que o que está na via pública é para ser utilizado pelo público. 



Anúncio do lançamento da linha do Ripert entre o Lugar do Ribeirinho (Rua de Cedofeita) e a estação do Pinheiro (Campanhã) - In jornal "O Comércio do Porto", de 12 de Julho de 1883



In jornal "A Voz Pública" de 23 de Agosto de 1900, pág.3



A Carris resolve então alterar o sistema de rodas e de carris, impedin­do assim os carros Ripert de se utilizarem dos mesmos.
Dissolvendo-se a empresa de Carros Ripert, foi um destes carros adquirido por Ignácio Bemfolga, que começou a explorar a carreira para S. Mamede de Infesta com partida da Praça Carlos Alberto. Em Fevereiro de 1910, a Companhia Carris cria uma linha de carro eléctrico até S. Ma­mede, e a população para festejar o acontecimento queima o Ripert.



Cartaz do Ripert


O Ripert




(O Ripert) …”Era um pesado carroção, conjunto pavoroso de madeira e ferro, ras­tejando quase ao nível do solo. Sobre quatro rodas pequenas, assentava um largo estrado de madeira, com a área de uns bons oito metros quadrados.
Dentro, dispostos longitudinalmente, transversalmente, em diagonal, e em todas as direcções imagináveis, incómodos bancos de tabuínhas onde um gárrulo grupo de viajantes viajava. Do tejadilho avantajado, de que uma curiosa renda de folha de zinco orlava, caíam cortinas de lona rendilhadas também pelos buracos que o tempo lhes fizera. Atrás e adiante, duas formidáveis plataformas, compridas como tabuleiros de ponte, largos corredores de hotel. Na frente, empunhando as rédeas, um cocheiro baixo, espadaúdo, de faces rosadas e bigode pendente, lembrava uma peça de louça de Bordallo. E ao poderoso puxão de três nédias mulas, a formidável mole arrastava-se pesadamente, aos sola­vancos, com um estridor de ferragens que lembrava o largar de terra de uma galera antiga — ora mergulhando de proa a proa, de encontro aos paralelepípedos da calçada, enquanto dentro os passageiros abanavam, dançavam, e se entrechocavam, ameaçando desconjuntar-se com a nave colossal que os conduzia “
Campos Monteiro in O Tripeiro.




Ripert em S. Mamede



O carro americano Ripert da foto acima servia a linha de S. Mamede.
Este carro foi queimado pelo povo, em frente à Igreja de S. Mamede, em 20/2/1910, quando lá chegou o eléctrico.



“Em 19 e 20/2/1910, S. Mamede festejou a chegada do eléctrico, que passou a ligar á cidade de 20 em 20 minutos desde as 5,37 da manhã até à 1,7 da noite. Acabaram-se as dificuldades da ida a S. Mamede; já os cocheiros não podiam pedir fortunas por uma viagem; já não havia que suportar os solavancos tremendos do carro Ripert. Acabou-se o pesadelo!
O povo de S. Mamede resolveu comprar o último antediluviano carro e fazer-lhe um solene auto-de-fé, em frente à Igreja de S. Mamede. 
Um tal Turidu, pseudónimo de Campos Monteiro leu no acto um pequeno poema.”
Fonte: portoarc.blogspot.pt




Igreja de S. Mamede em 1900 – Fonte: portoarc.blogspot.pt

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