terça-feira, 25 de abril de 2017

(Continuação 7)



O Ramal da Alfândega é uma curta via ferroviária, em bitola ibérica, que ligava a estação de Porto Campanhã, ao terminal da Alfândega.
Encontra-se, actualmente, totalmente encerrado ao tráfego, desde 1986.
Este ramal tem uma extensão de 3,896 km, tendo sido utilizado, unicamente, por serviços de mercadorias.
As obras de arte presentes neste ramal são duas pontes, uma sobre a Rua do Freixo e outra sobre a Rua da China, e três túneis: Alfândega I (80 m), Alfândega II (23 m) e Alfândega III (1320 m).
A Alfândega do Porto era, no Século XIX, um local de grande movimento comercial marítimo, pelo que era de grande interesse a sua ligação à rede ferroviária nacional.
Em 20 de Junho de 1875, tinha-se procedido à abertura da linha de comboio entre o Porto e Braga, a primeira construída com capital e técnicos portugueses.
Em 1872, já tinham arrancado os trabalhos para a instalação da linha do Minho, conforme notícia inserida nas páginas do jornal "O Comércio do Porto", de 7 de Julho de 1872 e que, a seguir, se dá conta.






A estação ferroviária referida na notícia acima e que o jornalista situa em S. Roque da Lameira seria, por certo, a actual estação de Contumil.
Um decreto-lei, publicado em 23 de Junho de 1880, estabeleceu a construção de um ramal ferroviário entre a estação do Pinheiro, em Campanhã, e a Alfândega do Porto, e da respectiva estação terminal.



Túnel do Seminário



O estudo do projecto foi da responsabilidade de Justino Teixeira, que se baseou num trabalho inicial de Mendes Guerreiro. O projecto foi aprovado em 9 de Outubro de 1880, e os trabalhos de construção iniciaram-se a 17 de Julho de 1881, sendo o ramal inaugurado, a 20 de Novembro de 1888.
O prolongamento do Ramal da Alfândega até Leixões, com a construção do Porto de Leixões, em 1892, tinha sido defendido pela Associação Comercial de Porto.
Uma Carta de Lei de 29 de Agosto do 1889, tinha estabelecido que a companhia que obtivesse a futura exploração do Porto de Leixões devia construir uma ligação ferroviária entre este porto e o Ramal da Alfândega.
A ligação entre a Alfândega e Leixões era já um dos projectos abrangidos numa lei de financiamento para construção de novas linhas, publicada em 14 de Julho de 1899 e, em 1902, decorreriam obras de duplicação da via no ramal da Alfândega, como forma de reduzir os problemas de tráfego na estação de Campanhã. 



Atravessamento do Monte do Seminário, observando-se a ruína da instituição e os túneis que estabeleciam a ligação à Estação de S. Bento e à Ponte Maria Pia





Mesma perspectiva da foto anterior, em local situado ao fundo da Rua Barão de Nova Sintra 



Relativamente ao atravessamento, no local do Monte do Seminário, o Ramal da Alfândega atravessava-o a uma cota inferior à das linhas visíveis nas fotos anteriores.


Ramal da Alfândega entre Ponte Luiz I e Ponte Maria Pia



Em 15 de Abril de 1903, o governo ordenou que a Direcção do Minho e Douro iniciasse a elaboração dos estudos e orçamentos necessários ao prolongamento do Ramal da Alfândega até Leixões, uma vez que a Companhia das Docas do Porto e dos Caminhos de Ferro Peninsulares tornou-se proprietária da exploração do Porto de Leixões, e, assim, incumbida da construção deste projecto.
O projecto, elaborado pelos engenheiros Eleutério da Fonseca e Alves de Sousa, incluía a construção de uma estação em Leixões, que servisse, igualmente, a Linha de Circunvalação do Porto, que ligava a área portuária à estação de Contumil, na Linha do Minho.



Estação de Contumil



A 1 de Julho desse ano de 1903, foi publicado um decreto das Cortes Gerais, que previa que a ligação entre a Alfândega e Leixões devia ser construída pela Associação Commercial do Porto, caso a Companhia das Docas do Porto e dos Caminhos de Ferro Peninsulares não realizasse este projecto nos prazos estipulados.
Em 28 de Setembro de 1904, uma representação de comerciantes e industriais do Porto publicou uma declaração no jornal “O Primeiro de Janeiro”, pedindo ao governo para construir a ligação para Leixões através de Contumil em vez de ir directo de Leixões à Alfândega.
O argumento utilizado foi que esta solução seria mais vantajosa para as regiões do Minho e Douro, e que o Ramal da Alfândega não detinha capacidade para mais tráfego. A posição daqueles comerciantes e industriais acabaria por sair vencedora.
A Linha de Circunvalação do Porto, que era considerada mais útil e menos onerosa foi aprovada em 4 de Julho de 1905, mas a primeira empreitada apenas foi adjudicada em 25 de Setembro de 1915. As obras começaram em 1921, mas foram várias vezes interrompidas até 1926.
Em 28 de Janeiro de 1922, tinham sido atribuídos 300 mil escudos à construção da linha férrea Contumil-Leixões.
Entre as estações de Contumil e São Gemil, tem uma das pendentes mais acentuadas da rede portuguesa.
A construção foi retomada em 1931, tendo o primeiro troço, entre Leixões-Serpa Pinto e Leixões, sido inaugurado em 20 de Julho de 1938.
O relatório de 1931-1932, da Direcção-Geral de Caminhos-de-Ferro incluiu, no seu programa de melhoramentos a realizar nas linhas do estado, a renovação de via entre Campanhã e Ermesinde e no Ramal da Alfândega.
As obras terminaram em 15 de Setembro de 1938, e a linha foi totalmente aberta à exploração, em 18 de Setembro daquele ano, incluindo a concordância entre São Gemil e Ermesinde.
Foi construída em via única, embora com plataforma de via já preparada para duplicação, e foram instaladas as estações de São Gemil, São Mamede de Infesta, Leça do Balio e Leixões.


Estação Ferroviária de Leixões, c. 1950



Com a inauguração da Linha de Cintura do Porto ou de Circunvalação, o Porto de Leixões pôde assumir em pleno a sua função como uma infra-estrutura portuária, sem as limitações do Ramal de Matosinhos, que tinha sido, até essa altura, a única ligação à rede ferroviária.
Em 1993, foi terminado o programa para a construção de passagens desniveladas, que custou mais de um milhão de contos, e que incluiu as pontes de Nau Vitória, Rebordãos, Arroteia, Recarei de Baixo e Picoutos.
Esta Linha de Circunvalação, com cerca de 18 quilómetros de extensão, é hoje só utilizada para tráfego de mercadorias, tendo havido serviço de passageiros até 1987 e entre Maio de 2009 e Janeiro de 2011.
As linhas do Douro e do Minho ligam a Leixões através de S. Gemil.
 

“A “CONCORDÂNCIA DE SÃO GEMIL”, não raras vezes chamada por “Ramal de Ermesinde” e até confundida com o subsidiário particular “Ramal do Lidador”, é um troço ferroviário em bitola ibérica, com cerca de três mil e oitocentos metros, que se situa a norte da cidade do Porto. Sai da estação de Ermesinde – onde entroncam as Linhas do Minho e do Douro – em direção à Estação Ferroviária de São Gemil, da Linha de Leixões, possibilitando, assim, a ligação direta daquelas duas linhas ao porto de Leixões”.
Fonte: “faroldanossaterra.net/”
 



Estação de S. Gemil


Quanto ao Ramal da Alfândega, com inauguração do Porto de Leixões perderia uma progressiva importância como terminal de embarque e desembarque de mercadorias, o que colocaria em causa a sua viabilidade.
A cada vez mais reduzida actividade do Ramal da Alfândega, aliada à dificuldade do traçado, bem como a pouca importância no sistema ferroviário nacional, levou ao seu encerramento em Junho de 1989.
O ramal está totalmente encerrado ao tráfego, mas, o seu traçado, apesar de abandonado, está quase intacto.
Um grupo de entusiastas, associados no GARRA - Grupo de Acção para a Reabilitação do Ramal da Alfândega, defende a reabilitação do ramal, sugerindo, entre outros, o prolongamento do serviço de passageiros da Linha de Leixões até Porto-Alfândega, criando-se uma exploração comercial, pela CP Porto do itinerário Porto-Alfândega - Porto Campanhã - Contumil - São Gemil - Leixões.
Encontra-se, também, em estudo, a construção da “Ciclovia das Fontainhas” (com ligação à “Ciclovia da Marginal”) que transformaria parte do percurso do ramal, em ciclovia.




Terminal da Alfândega em 1900


O movimento dos comboios no Terminal da Alfândega



Na Alfândega em 1976 uma locomotiva dos anos 20 …e na rua acima um “Belga”



Túnel da linha do Ramal da Alfândega na zona das Fontainhas – Ed. Ismael Queiroz



Saída entaipada do túnel para a Alfândega



Na foto acima pode-se observar a saída, agora entaipada, do túnel que desembocava no que é hoje, o parque de estacionamento. 

Sem comentários:

Enviar um comentário