Antes do aparecimento do Carro Eléctrico quando o “americano” fazia a ligação à Foz, podia assistir-se à cena abaixo descrita.
“Uma nuvem de poeira avisa que o americano está a chegar.
A jornada desde Mathozinhos até à parte superior da cidade termina á entrada
d'este jardim. Espera-o muita gente. Vem completamente cheio, mas tam depressa
descarrega a sua carregação de banhistas da Foz, que se enche immediatamente e
parte.”
Lady Jackson, (Catherine Hannah Charlotte Elliott) In “Fair Lusitania” (Formosa Lusitânia) -
traduzida e anotada por Camilo Castello Branco 1878
“A Câmara Municipal do
Porto a 27 de Junho de 1878 tinha autorizado provisóriamente às companhias, designadas
correntemente como “Companhia de Baixo” e “Companhia de Cima”, a introdução da
tracção a vapor.
Antes da introdução do
vapor, a “Companhia Carril Americano do
Porto à Foz e Matosinhos”
vulgarmente designada por “Companhia de Baixo”, com estação central no Ouro,
efectuava a ligação entre a Porta Nobre (ou Nova), passando pela Rua Nova da
Alfândega até à Foz, prolongada mais tarde até Matosinhos.
Já a “Companhia de
Cima” designava-se por “Companhia Carris
de Ferro do Porto”, estava
instalada na Boavista e teve antes da tracção a vapor, a sua primeira linha
entre a Praça Carlos Alberto e Cadouços (Foz do Douro).
Em 1893 fundiram-se aquelas duas companhias, ficando com o nome de “Companhia Carris de Ferro do Porto”.
A primeira linha
explorada com Carros Eléctricos surgiu na cidade do Porto, no ano de 1895. A
linha fazia a ligação de Massarelos ao Carmo pela Rua da Restauração, com dois
Carros Eléctricos, que eram carruagens de tramway da “Companhia Carris de Ferro
do Porto”, electrificadas com material Thomson-Houdson utilizando a energia
fornecida por uma central própria, na Arrábida.
Esta foi a primeira
linha a tração elétrica que entrou ao serviço na Península Ibérica.
Em 1896, a ligação
entre o Infante e Massarelos também passa a usar este tipo de tração, e,
no ano seguinte, é completada a eletrificação das linhas até à Foz e ao Castelo
do Queijo, e seguidamente a Matosinhos.
Em 21 de agosto de 1898, foi inaugurada a tracção eléctrica, em Leça, entre a Rua do Arnado (ponto de saída da actual ponte móvel) e o Castelo de Leça.
Em 19 de maio de 1899,
é a vez da ligação entre a Praça D. Pedro (hoje da Liberdade) e a Praça do
Marquês de Pombal.
Finalmente em 1904 com
a electrificação da linha do Carmo a Paranhos termina a tracção animal.
A prosperidade da
“Companhia Carris de Ferro do Porto” estava sempre a aumentar, tendo dirigindo
à Câmara um requerimento para formar as suas concessões em exclusivo, durante
um certo número de anos. Logo aparecem outros requerimentos, representando
outros grupos financeiros, surgindo a necessidade da edilidade nomear uma
Comissão em 1904 para estudar o assunto. Esta Comissão emitiu um parecer onde
seria conveniente aos interesses do Município, convidar a “Companhia Carris de
Ferro do Porto” para uma concessão com o exclusivo por 99 anos.
A deliberação
municipal foi mal acolhida e originou vários protestos pela cidade, agitando-se
a opinião pública. Assim, a Câmara decidiu abrir um concurso para a concessão
do «exclusivo da viação pública das linhas-férreas americanas para transportes
colectivos de passageiros e mercadorias em todas as vias municipais actuais e
futuras, que a isso se prestem, dentro dos limites do Concelho do Porto». A
Carris não concorre e em sessão extraordinária na Câmara do Porto, a 31 de
Março de 1906, foi adjudicada e atribuída a concessão, a partir de 5 de Abril,
a Paiva e Irmãos, de Lisboa, e a Mathieu Lugan do Porto. Os
concessionários transferem os seus direitos para uma nova empresa “Companhia Viação Eléctrica do Porto”
que tinha de direito o exclusivo da exploração dos transportes colectivos
urbanos eléctricos, continuando a “Companhia Carris de Ferro do Porto” a
explorar apenas, transportes de viação americana.
Em 24 de Agosto de
1908, por escritura, a Carris funde com ela a “Companhia Viação Eléctrica do
Porto”, ficando a Carris com o exclusivo durante 75 anos, podendo a Câmara
resgatar ao 35º ano da concessão, com um aviso antecipado de cinco anos. A
“Companhia Carris de Ferro do Porto” dura com esta designação 73 anos e ainda
hoje a STCP S.A., é referida como “A Carris” por hábito.
Feita a junção com a
“Companhia Viação Eléctrica do Porto” e liquidada a situação da Companhia
perante a Câmara Municipal, no relatório do Conselho de Administração da
“Companhia Carris de Ferro do Porto” do Exercício de 1908, é verificado que de
1 de Janeiro até 16 de Setembro, os negócios estiveram confiados ao antigo
Conselho de Administração.
A 16 de Setembro
funcionou a comissão administrativa prevista nos estatutos, que após
assembleia-geral em Novembro, elegeu o Conselho de Administração”.
Com a devida vénia ao Engenheiro Fernando Pinheiro Martins
Logotipo da CCFP de
1904 a 1949
Logotipo da CCFP, entre
1873 e 1903
STCP (Quadro cronológico das fusões das sociedades) – Fonte:
portoarc.blogspot.pt
“Companhia Carris de Ferro do Porto – Locomoção eléctrica
Fez-se hontem a annunciada experiencia official do novo
carro pertencente áquella companhia, movido por meio de tracção eléctrica,
experiencia que, como a que se fez há dias, deu o mais satisfatorio resultado.
As pessoas que para aquelle acto tiveram convite,
começaram de reunir-se, depois das 10 horas da manhã, estação da Arrabida,
comparecendo também a commissão technica, que se compunha dos engenheiros srs.
Mattos Cid, Costa Portella, Ferreira d’Araujo e João Carlos Machado, e ainda o
engenheiro sr. Gualberto Povoas.
O carro tem o peso de 6.400 Kilos e fez a primeira
viagem, da Arrabida à Cordoaria – 1800 metros de percurso – em 8 minutos (…)
Em seguida realizou-se uma visita à casa das machinas, na
estação da Arrabida, e que é uma ampla dependência onde há uma soverba meza de
distribuição, um voltímetro, que se destina a medir a tensão, amperemetros, que
servem para medir a intensidade da corrente e ainda outros importantes
apparelhos sendo deveras admiráveis a machina e a bovina principal que tem a
força de 1500 cavallos. (…)
Na próxima quarta-feira começa a exploração da linha da
Cordoaria à Arrabida.
Terminada que foi a visita às installações da estação,
serviu-se um lunch aos convidados, sendo phreneticamente brindado, ao
champagne, o digno gerente da companhia, sr. José Ribeiro de Vieira de Castro,
pelo zello e intelligencia com que este cavalheiro se tem desempenhado da
missão que lhe foi confiada, ao que se deve o desenvolvimento e prosperidade
d’aquella Companhia.”
Fonte: Jornal de
Notícias 8-09-1895
“Carros americanos
a tracção eléctrica – A commissão executiva da camara municipal d’esta
cidade, na sua sessão de hontem, tomou conhecimento do relatório da comissão
official sobre a tracção eléctrica dos carros americanos na rua da restauração
e em parte da linha marginal, resolvendo conceder licença desde já à Companhia
Carris de Ferro do Porto para os carros fazerem o serviço de transportes de
passageiros.
Este serviço começa hoje, ás 6 horas da manhã, segundo
resolução da gerência da Companhia.”
Fonte: O Commércio do Porto 12-09-1895
A Estação Central de Energia da CCFP, na Arrábida, ocupou um
edifício construído no Ouro, junto da pedreira da Arrábida, perto de bons
mananciais de água, e estava integrado num complexo industrial que compreendia
a Fábrica do Gás, o Forno da Cal e uma fundição.
Estação de recolha de carros eléctricos, junto à estação
geradora da Arrábida, onde também existiu uma oficina de reparação dos veículos
- Fonte: Revista “Brasil-Portugal”, nº 96, de 16 de Janeiro de 1903
Descrição das principais características técnicas dos
equipamentos da Central da Arrábida - Fonte: Revista “Brasil-Portugal”, nº 96,
de 16 de Janeiro de 1903
As seis caldeiras, da Central da Arrábida, para a produção e fornecimento de energia eléctrica aos carros eléctricos da cidade - Fonte: Revista “Brasil-Portugal”,
nº 96, de 16 de Janeiro de 1903
Central eléctrica da Arrábida junto da segunda fonte da Arrábida, em 1908, foto de J. Bahia Junior
Arrábida onde se
situou a Central Eléctrica – Ed. Estrela Vermelha
Na foto acima o
local da Arrábida (com as chaminés das indústrias) onde esteve a 1ª central de
energia que forneceu a primeira linha de Carros Eléctricos entre Massarelos e o
Carmo a partir de 1895.
A central de energia
da Arrábida funcionou até 1913.
O percurso de carro eléctrico
“A partir de Leixões,
se não se quiser ir na “máquina”, pode fazer-se o percurso até ao Centro no
carro eléctrico. Embora ambos passem pela Foz do Douro, o percurso no eléctrico
torna-se mais interessante já que percorre toda a marginal fluvial.
O carro de tracção
eléctrica veio nos primeiros anos do século substituir o “americano”, transporte sobre
carris de tracção animal, que tinha vários inconvenientes: as mulas ou cavalos
tinham de ser alimentados e tratados, defecavam nas ruas, em algumas ruas de
forte inclinação era necessário adicionar uma parelha suplementar, etc.
O carro eléctrico
depois de atravessar Matosinhos, segue pela marginal até ao Castelo do Queijo,
e pela Avenida de Carreiros até S. João da Foz”.
Fonte: “doportoenaoso.blogspot”
O carro eléctrico entre Matosinhos e a Foz na Avenida de
Carreiros, em 1905 – Ed. Aurélio da Paz dos Reis
“Hoje a povoação estendeu-se para o lado de Matosinhos,
sobre Carreiros. Construiram-se bairros novos, onde os chalets põem uma nota
garrida e animada.”
Alberto Pimentel 1893
Foz do Douro no Guia do Porto Illustrado 1910 - Fonte: “doportoenaoso.blogspot”
Cruzamento em Matosinhos da linha eléctrica e da linha a
vapor
Zona do Ouro em planta de Telles Ferreira de 1892
Legenda
1. Largo do Ouro
2. Casa da Companhia do Carril Americano do Porto à Foz e
Matosinhos
3. Estação do Ouro
4. Padaria Militar (antigo Arsenal Militar e Trem do Ouro)
5. Casa da Superintendência
6. Casa e Quinta da Murta
Estação dos carros eléctricos do Ouro em 1904, actual jardim
António Calém
Vista actual da foto anterior - Fonte: Google Maps
Eléctrico junto ao Castelo da Foz seguindo emparedado
Entrado o século XX, a rede do Carro Eléctrico vai-se
estendendo sobre a cidade.
Assim, em 20 de Abril de 1910, a Carris é autorizada, por portaria,
a abrir provisoriamente à exploração a linha de eléctricos, desde o Hospital do
Conde de Ferreira, na Rua de Costa Cabral, até à Estrada da Circunvalação.
Breve história
recente do STCP (Serviço de Transportes colectivos do Porto)
A rede de eléctricos
da cidade do Porto, existente desde 1895, é explorada pela STCP, contando, em
2011, com três carreiras regulares de serviço de passageiros.
A bitola é de 1435 mm
(bitola internacional), idêntica à do Metro do Porto.
Em 1946, a Companhia
Carris de Ferro do Porto é nacionalizada pela Câmara Municipal do Porto, que
forma o Serviço de Transportes Colectivos do Porto para gerir o sistema de
carros eléctricos. A primeira linha de autocarros, entre a Avenida dos Aliados
e Carvalhido, abriu a 1 de Abril de 1948.
Em 1950, atinge-se o
apogeu da rede dos carros eléctricos, com 150 quilómetros de via divididos em
38 linhas, e um parque de material circulante com 193 carros eléctricos e 24
reboques; no ano seguinte, é construído um protótipo, com o número 500, para uma
nova geração de carros eléctricos, de traços mais modernos, que dispunha de
portas automáticas operadas de forma pneumática pelo condutor. Uma outra
característica inovadora deste protótipo é que incluía cadeiras para o condutor
e para o técnico de revisão. No entanto, não chegaram a ser construídos mais
veículos desta série.
No entanto, em 1957, é
encerrada a estação de geração de electricidade de Massarelos, encontrando-se,
em serviço, no ano seguinte, apenas 81 quilómetros de via, circulando 192
carros eléctricos. As primeiras linhas de eléctricos são encerradas a 1 de
Janeiro de 1959, enquanto as primeiras 4 linhas de tróleicarros iniciam a sua
exploração a 3 de Maio do mesmo ano. Além da concorrência destas novas
modalidades de transporte, o serviço de carros eléctricos também começou a
sofrer de limitações económicas e técnicas, como a circulação nas exíguas ruas
e avenidas da cidade.
Em 1966, ainda
restavam 72 quilómetros de via ao serviço, percorrida por 184 eléctricos, sendo
os últimos atrelados retirados ao serviço no dia 31 de Dezembro desse ano. No
ano seguinte, são substituídas as primeiras linhas de eléctricos por
autocarros, passando a rede a contar apenas com 44 quilómetros de via e 130
eléctricos. Em 1968, o serviço de eléctricos é, de novo, reduzido, possuindo
apenas 127 veículos que circulam em 38 quilómetros de via.
A partir de 1978,
extinguem-se todos os serviços de eléctricos que circulam após as 21 horas;
neste ano, a rede dispunha de 84 veículos e 21 quilómetros de via. Em 1983, são
eliminados os serviços aos domingos.
Em 1988, data em que a
Estação de Recolha da Boavista é substituída pela de Massarelos para o serviço
normal, a rede de eléctricos dispunha apenas de 18 quilómetros de linha e 50
veículos. Entre Março e Julho de 1991, os eléctricos foram recolhidos nas
instalações da Boavista devido a obras nas ruas da cidade.
A 4 de Maio de 1992,
foi organizado um desfile de eléctricos, em que participaram vários veículos
históricos, e, no 18 de Maio, foi aberto o Museu do Carro Eléctrico, nas
instalações de Massarelos; no mesmo contexto, foi realizada, pela Sociedade de
Transportes Colectivos do Porto e pela delegação do Porto da Associação Portuguesa
dos Amigos dos Caminhos-de- Ferro, uma reunião de entusiastas na Boavista.
Nesse ano, só existiam 3 carreiras em funcionamento, utilizando 19 dos 35
eléctricos em estado de funcionamento, servindo praticamente apenas zonas
periféricas na cidade; planeava-se a substituição de toda a rede por uma só
linha turística, ao longo da margem do Rio Douro, ligando a cidade às praias no
Oceano Atlântico. Em 11 de Setembro de 1993, foi suprimida a linha 19, que
ligava a Boavista a Matosinhos; a operadora justificou esta decisão com a falta
de rendibilidade dos carros eléctricos, devido aos elevados custo de manutenção
e consumo de energia eléctrica. Com este encerramento, apenas ficaram duas
carreiras, a 18, que ligava o Carmo, Foz e Boavista, e a 1, desde o Infante até
ao Castelo do Queijo; nesta altura, previa-se o encerramento da linha 18,
ficando a outra a circular para fins turísticos.
Em 1996, só restava
uma linha de eléctricos, a 18, com 14 quilómetros de via, efectuado por três
veículos, que funcionava entre as 9 e as 19 horas, com uma frequência de 35
minutos; os serviços ao Domingo são retomados. Em meados da década de 1990
grande parte da frota remanescente foi alienada, no âmbito da retração da rede
e do serviço planeada pela gestão, e a exemplo da congénere lisboeta, passando
para as mãos de particulares, museus, e outros sistemas de transporte.
Até finais de 1996
haviam sido vendidas unidades para sete destinos estrangeiros — nomeadamente
Estados Unidos (31 veículos), Inglaterra (oito carros de linha e quatro
zorras), e Canadá, Argentina, Escócia, Espanha, e Itália (uma ou duas unidades
para cada). Os preços de venda neste período variam entre 1,5 e 5 milhões de
escudos, consoante o estado de conservação de cada veículo — valor muito
superior ao praticado em Lisboa na mesma época, devido ao rodado em bitola internacional,
integrável na maioria das vias no destino.
Entre Junho a Novembro
de 1998 e Fevereiro a Maio do ano seguinte, realizam-se, novamente, obras nas
ruas, tendo os eléctricos, como dantes, sido reunidos na Remise da Boavista;
neste último ano, iniciou-se a demolição destas instalações, para dar lugar à
Casa da Música. Em 2005, a linha 18 reabriu até ao Carmo (Cordoaria), e 3
carros eléctricos são doados para a cidade de Santos, no Brasil. Em 21 de
Setembro de 2007, abre a linha 22, até à Praça da Batalha.
Em 2010 os carros
eléctricos transportaram 390 mil pessoas, 32 mil por mês, mais de mil por dia,
a imensa maioria constituída por turistas.
A rede actual tem uma
extensão de 8,9 km.
Fonte: pt.wikipedia.org
Logotipo do S. T. C. P.
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