A 4 de Maio de 1853, a Companhia de Viação Portuense, que
tinha escritórios na desaparecida Rua de S. Lázaro, passou a
estabelecer ligações diárias entre o Porto e Braga e, há coisa de século e meio,
a mesma companhia explorava ainda, carreiras de transporte para Viana e outras
terras nortenhas. Em Dezembro de 1859, foi inaugurada uma carreira de
diligências para a Vila da Feira com partidas às Segundas, Quartas e
Sextas-feiras do Porto e Terças, Quintas e Sábados das terras de Santa Maria e,
nesse mesmo ano, saindo do Carregal, ia-se e vinha-se a S. Tirso no próprio dia
conforme o anúncio abaixo.
In “O Jornal do Porto”, 21 junho 1859
Na estrada entre Porto e Braga, mais propriamente, próximo
da Trofa existiu uma ponte icónica para algumas gerações.
Ponte da Barca da Trofa - Desenho de Nogueira da Silva, In
Archivo Pittoresco
“A Ponte Pênsil
da Barca da Trofa era uma estrutura, entretanto demolida em 1935, que ligava
Ribeirão (Vila Nova de Famalicão) e São Martinho do Bougado (Trofa),
assegurando a travessia do rio Ave. Inaugurada em 1858, veio substituir uma
barca outrora existente a montante, conhecida por barca da trofa. A sua
construção, da responsabilidade da Companhia de Viação do Minho, é obra dos
engenheiros Belchior Sousa Garcez e Sebastião Lopes Calheiros. Estava suspensa
sobre o rio por cordões aramados presos e cabos de suspensão, que tinham nos
seus extremos dois enormes pegões de granito e as casas dos portageiros. Foi
demolida, por não reunir as condições de segurança e por ser demasiado exígua,
sendo que no seu lugar viria a ser construída a atual ponte de cimento armado,
melhor preparada para o tráfego intenso”.
In site:
freg-ribeirao
Como se pode ver no
documento abaixo, está impresso que a construção da ponte foi da
responsabilidade da Companhia de Viação Portuense (facto corroborado por Pinho
Leal no Portugal Antigo e Moderno, I volume, edição de 1873), contrariando o
expresso no texto anterior, que dá a obra como da responsabilidade da Companhia
de Viação do Minho. Aliás, fazia parte do contrato de exploração que a Companhia
de Viação Portuense fizesse a construção das estradas na carreira de Porto a
Braga, que explorava desde 1851. Em Agosto de 1871 a empresa foi liquidada, não
resistindo à concorrência do comboio.
Croquis sobre a
ponte da Trofa
A par das companhias de viação, havia os estafetas, de que
são mais conhecidos o João Branco com escritório na Praça Carlos Alberto e o
Sebastião das Neves com escritório na antiga Rua dos Ferradores que
estabeleciam ligações a Viana do Castelo e Valença do Minho com saídas do Porto
às Quartas-feiras e Domingos e regresso às Terças-feiras e Sábados.
Sobre as viagens na região norte, com partida do Porto, são
curiosos os textos seguintes:
Fonte: portoarc.blogspot
Artur de Magalhães
Basto in “Figuras Literárias do Porto” - Fonte: portoarc.blogspot
O passageiro mistério, do texto acima, era o poeta António
Nobre.
Naquelas viagens à
Foz, fora o transporte fluvial, a partir de meados do século XIX, as
viagens fazem-se em caleches de aluguer que saíam de Miragaia e do Carmo para a
Foz, havendo também carreiras de Cedofeita para Matosinhos e Leça da Palmeira.
Era da Porta Nova que saíam para a Foz as caleches a 80 reis cada passageiro e nos que partiam do Largo do Carmo era mais caro 6 vinténs por pessoa.
As caleches são carruagens de 4 rodas com 2 bancos, frente a frente puxado por uma ou duas parelhas de cavalos.
Os trens de aluguer estacionavam em 3 Praças: Carlos Alberto, D. Pedro e Batalha.
Ainda sobre os passeios à Foz, segundo Firmino Pereira em o “Porto d’Outros Tempos”:
“os estúrdios faziam a
passeata em burros alugados ao Corta-Macho
e à Mariquinhas do Laranjal. Mas os
janotas como os Monfalins, os Guedes Infantes, os Farias, os Lima Barretos, os
Navarros, o Soveral, os Baldaques, os Maias, os Portocarreros, os Cirnes, os
Brandões, os Lemos, iam a cavalo ou guiando as suas magníficas equipagens”.
Era da Porta Nova que saíam para a Foz as caleches a 80 reis cada passageiro e nos que partiam do Largo do Carmo era mais caro 6 vinténs por pessoa.
As caleches são carruagens de 4 rodas com 2 bancos, frente a frente puxado por uma ou duas parelhas de cavalos.
Os trens de aluguer estacionavam em 3 Praças: Carlos Alberto, D. Pedro e Batalha.
Ainda sobre os passeios à Foz, segundo Firmino Pereira em o “Porto d’Outros Tempos”:
A partir de determinado momento, com o aparecimento na
cidade do barco a vapor, a ligação à Foz começa a usar, também, este meio de
transporte e a via fluvial.
Em Maio de 1821, tinha sido feita, pela primeira vez, na cidade do Porto, uma alusão ao uso do vapor no transporte marítimo.
“Barco de Vapor: há notícias nesta cidade dum Barco de Vapor que da Inglaterra, onde se tinha mandado fabricar e chegou pelos fins do ano passado. Este vaso vai ser visto na cidade do Porto, pois principia a sua carreira para aqui. Em Lisboa murmurou-se pela segurança, mas aos domingos havia passeio de barco, com multidão apinhada, que se familiarizava com tal fenómeno. O Barco chama-se “Conde de Palmela” e o seu tamanho é o de um iate mediano, como uma barca que víamos defronte do Senhor do Além, há anos, transformado em moinho. As rodas que faziam mover o moinho são as que fazem mover o barco. Este barco tem uma máquina interna que, por via do Vapor, faz mover as rodas como remos”.
In “Borboleta dos Campos Constitucionais” de 19 de Maio de 1821, p. 3-4
Na realidade, a embarcação, o “Conde de Palmela”, começaria
a efectuar a ligação, experimental, entre Lisboa e o Porto, por barco a vapor.
No Porto, passaria a existir, então, a denominada Empresa do “Barco a Vapor do Porto” que fazia, apenas, a ligação da Ribeira com a Foz do Douro.
Entretanto, no Porto, para substituir o uso do burro ou dos carroções, entre a Ribeira e a Foz do Douro, é criado em Agosto de 1855, um serviço de transporte de veraneantes utilizando o navio Duriense com uma lotação de 80 lugares.
O percurso fluvial demorava cerca de 45 minutos, e havia 4 viagens de ida e volta.
«Durante algum tempo, uma companhia lembrou-se de organizar um serviço de navegação fluvial entre o Porto e a Foz. Havia um vaporzinho que fazia carreira entre a cidade e a Cantareira, mas a empresa não deu bom resultado, tal era o apego ao burro, no Porto daquele tempo, como meio de transporte.»
In “O Porto Há Trinta Anos, Alberto Pimentel”
Em Maio de 1821, tinha sido feita, pela primeira vez, na cidade do Porto, uma alusão ao uso do vapor no transporte marítimo.
“Barco de Vapor: há notícias nesta cidade dum Barco de Vapor que da Inglaterra, onde se tinha mandado fabricar e chegou pelos fins do ano passado. Este vaso vai ser visto na cidade do Porto, pois principia a sua carreira para aqui. Em Lisboa murmurou-se pela segurança, mas aos domingos havia passeio de barco, com multidão apinhada, que se familiarizava com tal fenómeno. O Barco chama-se “Conde de Palmela” e o seu tamanho é o de um iate mediano, como uma barca que víamos defronte do Senhor do Além, há anos, transformado em moinho. As rodas que faziam mover o moinho são as que fazem mover o barco. Este barco tem uma máquina interna que, por via do Vapor, faz mover as rodas como remos”.
In “Borboleta dos Campos Constitucionais” de 19 de Maio de 1821, p. 3-4
No Porto, passaria a existir, então, a denominada Empresa do “Barco a Vapor do Porto” que fazia, apenas, a ligação da Ribeira com a Foz do Douro.
Entretanto, no Porto, para substituir o uso do burro ou dos carroções, entre a Ribeira e a Foz do Douro, é criado em Agosto de 1855, um serviço de transporte de veraneantes utilizando o navio Duriense com uma lotação de 80 lugares.
O percurso fluvial demorava cerca de 45 minutos, e havia 4 viagens de ida e volta.
«Durante algum tempo, uma companhia lembrou-se de organizar um serviço de navegação fluvial entre o Porto e a Foz. Havia um vaporzinho que fazia carreira entre a cidade e a Cantareira, mas a empresa não deu bom resultado, tal era o apego ao burro, no Porto daquele tempo, como meio de transporte.»
In “O Porto Há Trinta Anos, Alberto Pimentel”
Naquelas carreiras de transporte fluvial entre o Porto e a Foz, eram utilizados, em 1881, os barcos Andorinha e Liberal e, em 1888, os vapores Leão e Ligeiro.
Por ocasião da romaria de Nossa Senhora da Luz, que se continuou a realizar, apesar da desactivação da capela de Nossa Senhora da Luz em 1832, um anúncio no jornal “O Comércio do Porto” de Setembro de 1888, refere as carreiras de “vaporzinhos” entre a Ribeira e a Foz:
“É no próximo domingo que se realiza na Foz a romaria da Senhora da Luz, que costuma ser muito concorrida. Os vaporzinhos «Leão» e «Ligeiro», desde as 5 horas da manhã, farão corridas entre os Banhos e a Cantareira.”
Em 1821, o vapor "Conde de Palmela" deu início,
experimentalmente, às ligações por barco a vapor entre Lisboa e o Porto.
Em 1823, foi implementada uma ligação regular usando aquele tipo de embarcação. O serviço passou a ser feito pelo “Paquete Lusitano”.
Às 3h da madrugada do dia 10 de Julho de 1823, o “Paquete Lusitano” zarpou do Porto em direção a Lisboa. Fez escala na Figueira da Foz, para embarcar passageiros, retomando a viagem pelas 17h. Transportava, então, 189 passageiros, além dos tripulantes, quando durante a noite caiu um denso nevoeiro e uma forte corrente marítima arrastou o navio até ao cabo Rendidos, próximo da praia de Cambelas, na Ericeira, onde naufragaria pelas 3h30 do dia 11.
Em Maio de 1824, chegou a Lisboa um novo vapor, o “Restaurador Lusitano”, de 298 toneladas, comprado em Inglaterra para substituir o navio que se perdera. Com ele recomeçaram as viagens regulares entre Lisboa e Porto, três a quatro vezes por mês, só interrompidas durante o inverno ou quando o barco carecia de reparação.
Em 1823, foi implementada uma ligação regular usando aquele tipo de embarcação. O serviço passou a ser feito pelo “Paquete Lusitano”.
Às 3h da madrugada do dia 10 de Julho de 1823, o “Paquete Lusitano” zarpou do Porto em direção a Lisboa. Fez escala na Figueira da Foz, para embarcar passageiros, retomando a viagem pelas 17h. Transportava, então, 189 passageiros, além dos tripulantes, quando durante a noite caiu um denso nevoeiro e uma forte corrente marítima arrastou o navio até ao cabo Rendidos, próximo da praia de Cambelas, na Ericeira, onde naufragaria pelas 3h30 do dia 11.
Em Maio de 1824, chegou a Lisboa um novo vapor, o “Restaurador Lusitano”, de 298 toneladas, comprado em Inglaterra para substituir o navio que se perdera. Com ele recomeçaram as viagens regulares entre Lisboa e Porto, três a quatro vezes por mês, só interrompidas durante o inverno ou quando o barco carecia de reparação.
Em 1825, as carreiras seriam retomadas com o vapor
“Restaurador Lusitano”, que afundaria em 11 de Setembro de 1832, quando fazia o
transporte de tropas afectas a D. Miguel.
Até aí, a ligação marítima entre Lisboa e Porto era da exclusiva responsabilidade de João Baptista Ângelo da Costa & Cia.
Restaurador Luzitano
- Cortesia de "Oportoenaoso.blogspot.com"
Segundo Fausto Figueiredo (revista “O Tripeiro”, VI série, Ano III, Maio de 1963, pág. 145-149), em 18 de Maio de 1835, ocorre a aprovação dos Estatutos da Empresa Portuense de Navegação a Vapor, que teve o navio Porto, naufragado em 29 de Março de 1852 e o vapor Quinta do Vesúvio, ao seu serviço.
O navio a vapor Porto, ainda de madeira, com 150 cavalos e atingindo uma velocidade de 9,5 milhas por hora, foi construído em 1836, pelos Estaleiros de Plymouth, para a Empresa Portuense de Navegação a Vapor, que o viria a colocar ao serviço de correio, passageiros e carga entre o Porto e Lisboa, com eventual paragem na Figueira da Foz.
O vapor Porto funcionava, como é óbvio, a vapor, movido a rodas e entrou ao serviço, no Porto, em 24/12/1836.
Em 1838, António Bernardo Ferreira II, que controlava a Empresa Portuense de Navegação a Vapor, já havia comprado, em Liverpool, o navio Circassian, a que irá dar o nome de Quinta do Vesúvio, que passa a disputar com o vapor Porto (que também lhe pertence) o transporte de passageiros entre Lisboa e Porto.
Em 8 de Julho de 1838, chegava ao Porto o vapor “Quinta do Vesúvio”.
Em 1840, eram agentes, em Lisboa, do Paquete Vapor Porto, a casa José Van Zeller & Filho, no Cais do Sodré, 19 e, do Paquete Vapor Quinta do Vesúvio, Gabriel Borges Marques da Rocha, no Cais do Sodré, 13.
Antes, em 1834, já há alguns anos que a carreira entre as duas cidades, era feita, entre outros, também pelo vapor “Guilherme IV”, cujo capitão só recebia a bordo pessoas indicadas pelo agente, Archer & Miller, ao n.º 10 da Rua dos Ingleses e que praticava os seguintes preços, nas seguintes condicções:
- na câmara da proa: 10$600 réis, incluindo a mesa «que deverá ser escolhida»
As crianças menores de 10 anos pagavam metade do bilhete e as criadas das famílias que fossem na câmara da ré, teriam acesso à mesma e pagariam 10$600 réis, comendo, no entanto, com as restantes criadas «onde se lhes destinar».
As cavalgaduras pertencentes a passageiros eram recebidas, a risco do dono, pagando 6$000 réis de passagem e os cães 480 réis, mas apenas com direito a água.
Não eram recebidas mercadorias, apenas passageiros e suas bagagens, que excedendo 4 arrobas pagaria 40 réis, por cada arrátel «a maior» ou excedendo a medida de 3 pés cúbicos, 200 réis, por cada pé de excesso.
Em 29/03/1852, o vapor “Porto” naufragou na foz do rio Douro, a cerca de algumas centenas de metros do local da estação de embarque, que estava fora de serviço, tendo morrido 37 passageiros e 29 tripulantes.
Gravura do vapor Porto
“Em 28/3/1852 o vapor Porto saiu da barra com destino a Lisboa. Apesar da ameaça de mau tempo seguiu a sua rota até que, nesse dia à noite era tal o temporal que o capitão decidiu regressar e rumar a Vigo. No dia seguinte, ao raiar da aurora foi avisado, de terra, para se fazer ao largo, pois o mar havia piorado. Porém, os passageiros em grande angústia, e contra a vontade do capitão, obrigaram-no a rumar à barra do Porto e não seguir para Vigo. Tal foi a sua insistência que este cedeu, autorizado pelo piloto-mor.
O barco foi encalhar na rocha do Touro onde permaneceu até à noite. Ouviam-se em terra os gritos e pedidos de socorro dos passageiros e tripulantes, porém nada podia ser feito para os salvar dado não haver quaisquer meios de salvamento. Foi então que Ricardo Clamouse Brown e António Ribeiro da Costa e Almeida saltaram para uma catraia e saíram para o mar. Porém, este estava de tal forma violento que os arrastou para a praia. Um arrais, Manuel Francisco Moreira Júnior ainda se conseguiu aproximar e segurar uma corda atirada pelo Porto. Mas era tal a força do mar e dos passageiros a puxá-la que o capitão deu ordem de a cortar para salvar a vida dos pilotos. Por fim uma enorme onda levantou o barco e atirou contra a pedra da Laje, tendo-se o barco partido a meio. Salvaram-se apenas sete dos sessenta e um tripulantes e passageiros, entre os quais algumas crianças. A administração da empresa do navio foi muito culpada e condenada, pois sabia que este estava em péssimo estado de navegabilidade.
O naufrágio do vapor Porto foi um tremendo abalo para a gente os habitantes da cidade, pois nele pereceram personalidades muito conhecidas, entre eles, José Allen, irmão do Visconde de Vilar d’Allen, e suas duas filhas, o Cônsul de França, o pai de Ana Plácido, amante de Camilo, e outros.
Com a devida vénia a “portoarc.blogspot”
Bilhete da "Empresa Portuense de Navegação por
Vapor", de 1849 – Fonte: restosdecoleccao.blogspot
Em 1861, a viagem entre aquelas duas cidades era feita por um outro vapor Lusitânia e pelo vapor Lisboa.
Anúncio de viagem
para o vapor Lisboa - In jornal "O Comércio do Porto" de 13 de Julho
de 1861
Anúncio de viagem
para o vapor Lusitania - In jornal "O comércio do Porto" de Agosto de
1861
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