quinta-feira, 20 de abril de 2017

(Continuação 2) - Actualização em 06/05/2021

A 4 de Maio de 1853, a Companhia de Viação Portuense, que tinha escritórios na desaparecida Rua de S. Lázaro, passou a estabelecer ligações diárias entre o Porto e Braga e, há coisa de século e meio, a mesma companhia explorava ainda, carreiras de transporte para Viana e outras terras nortenhas. Em Dezembro de 1859, foi inaugurada uma carreira de diligências para a Vila da Feira com partidas às Segundas, Quartas e Sextas-feiras do Porto e Terças, Quintas e Sábados das terras de Santa Maria e, nesse mesmo ano, saindo do Carregal, ia-se e vinha-se a S. Tirso no próprio dia conforme o anúncio abaixo.



In “O Jornal do Porto”, 21 junho 1859



Na estrada entre Porto e Braga, mais propriamente, próximo da Trofa existiu uma ponte icónica para algumas gerações.



Ponte da Barca da Trofa - Desenho de Nogueira da Silva, In Archivo Pittoresco



“A Ponte Pênsil da Barca da Trofa era uma estrutura, entretanto demolida em 1935, que ligava Ribeirão (Vila Nova de Famalicão) e São Martinho do Bougado (Trofa), assegurando a travessia do rio Ave. Inaugurada em 1858, veio substituir uma barca outrora existente a montante, conhecida por barca da trofa. A sua construção, da responsabilidade da Companhia de Viação do Minho, é obra dos engenheiros Belchior Sousa Garcez e Sebastião Lopes Calheiros. Estava suspensa sobre o rio por cordões aramados presos e cabos de suspensão, que tinham nos seus extremos dois enormes pegões de granito e as casas dos portageiros. Foi demolida, por não reunir as condições de segurança e por ser demasiado exígua, sendo que no seu lugar viria a ser construída a atual ponte de cimento armado, melhor preparada para o tráfego intenso”. 
In site: freg-ribeirao



Como se pode ver no documento abaixo, está impresso que a construção da ponte foi da responsabilidade da Companhia de Viação Portuense (facto corroborado por Pinho Leal no Portugal Antigo e Moderno, I volume, edição de 1873), contrariando o expresso no texto anterior, que dá a obra como da responsabilidade da Companhia de Viação do Minho. Aliás, fazia parte do contrato de exploração que a Companhia de Viação Portuense fizesse a construção das estradas na carreira de Porto a Braga, que explorava desde 1851. Em Agosto de 1871 a empresa foi liquidada, não resistindo à concorrência do comboio.




Croquis sobre a ponte da Trofa


 



 
 
 
Na notícia acima do jornal “O Comércio do Porto” de 6 de Novembro de 1860, é pré-anunciada para o dia 10 desse mês, a inauguração de uma ligação por diligência entre Porto e Coimbra, a cargo de um consórcio de que fazia parte também, o alquilador portuense Bernardo Branco de Oliveira com alquilaria à Praça da Batalha.
A par das companhias de viação, havia os estafetas, de que são mais conhecidos o João Branco com escritório na Praça Carlos Alberto e o Sebastião das Neves com escritório na antiga Rua dos Ferradores que estabeleciam ligações a Viana do Castelo e Valença do Minho com saídas do Porto às Quartas-feiras e Domingos e regresso às Terças-feiras e Sábados.
Sobre as viagens na região norte, com partida do Porto, são curiosos os textos seguintes:





Fonte: portoarc.blogspot




Artur de Magalhães Basto in “Figuras Literárias do Porto” - Fonte: portoarc.blogspot



O passageiro mistério, do texto acima, era o poeta António Nobre.
 



In jornal “O Comércio do Porto” de 6 de Novembro de 1860
 
 
 
Entretanto, no Porto, para substituir o uso do burro ou dos carroções é criado em Agosto de 1855 um serviço de transporte de veraneantes entre a Ribeira e a Foz, utilizando o navio Duriense com uma lotação de 80 lugares.
O percurso fluvial demorava cerca de 45 minutos, e havia 4 viagens de ida e volta.


«Durante algum tempo, uma companhia lembrou-se de organizar um serviço de navegação fluvial entre o Porto e a Foz. Havia um vaporzinho que fazia carreira entre a cidade e a Can­tareira, mas a empresa não deu bom resultado, tal era o apego ao burro, no Porto daquele tempo, como meio de transporte.»
In “O Porto Há Trinta Anos, Alberto Pimentel”


Nestas carreiras de transporte fluvial entre o Porto e a Foz, eram utilizados em 1881 os barcos Andorinha e Liberal e em 1888 os vapores Leão e Ligeiro.
Por ocasião da romaria de Nossa Senhora da Luz, que se continuou a realizar, apesar da desactivação da capela de Nossa Senhora da Luz em 1832, um anúncio no jornal “O Comércio do Porto” de Setembro de 1888, refere as carreiras de “vaporzinhos” entre a Ribeira e a Foz:
 

“É no próximo domingo que se realiza na Foz a romaria da Senhora da Luz, que costuma ser muito concorrida. Os vaporzinhos «Leão» e «Ligeiro», desde as 5 horas da manhã, farão corri­das entre os Banhos e a Cantareira.”
 
Em Maio de 1821, tinha sido feita, pela primeira vez, na cidade do Porto, uma alusão ao uso do vapor no transporte marítimo.
 
“Barco de Vapor: há notícias nesta cidade dum Barco de Vapor que da Inglaterra, onde se tinha mandado fabricar e chegou pelos fins do ano passado. Este vaso vai ser visto na cidade do Porto, pois principia a sua carreira para aqui. Em Lisboa murmurou-se pela segurança, mas aos domingos havia passeio de barco, com multidão apinhada, que se familiarizava com tal fenómeno. O Barco chama-se “Conde de Palmela” e o seu tamanho é o de um iate mediano, como uma barca que víamos defronte do Senhor do Além, há anos, transformado em moinho. As rodas que faziam mover o moinho são as que fazem mover o barco. Este barco tem uma máquina interna que, por via do Vapor, faz mover as rodas como remos”.
In “Borboleta dos Campos Constitucionais” de 19 de Maio de 1821, p. 3-4
 
 
Naquelas viagens à Foz, fora o transporte fluvial, a partir de meados do século XIX, as viagens fazem-se em caleches de aluguer que saíam de Miragaia e do Carmo para a Foz, havendo também carreiras de Cedofeita para Matosinhos e Leça da Palmeira.
Era da Porta Nova que saíam para a Foz as caleches a 80 reis cada passageiro e nos que partiam do Largo do Carmo era mais caro 6 vinténs por pessoa.
As caleches são carruagens de 4 rodas com 2 bancos, frente a frente puxado por uma ou duas parelhas de cavalos.
Os trens de aluguer estacionavam em 3 Praças: Carlos Alberto, D. Pedro e Batalha.
Ainda sobre os passeios à Foz, segundo Firmino Pereira em o “Porto d’Outros Tempos”:
 
“os estúrdios faziam a passeata em burros alugados ao Corta-Macho e à Mariquinhas do Laranjal. Mas os janotas como os Monfalins, os Guedes Infantes, os Farias, os Lima Barretos, os Navarros, o Soveral, os Baldaques, os Maias, os Portocarreros, os Cirnes, os Brandões, os Lemos, iam a cavalo ou guiando as suas magníficas equipagens”.
 
 
 
Ligação marítima entre Porto e Lisboa
 
 
 
Em 1821, tinham começado as ligações semanais, entre as cidades de Lisboa e Porto, com o chamado vapor Lusitânia.
Em 1823, o Lusitânia naufragou, em 11 de Julho, ao largo da Ericeira.
Em 1825, as carreiras seriam retomadas com o vapor “Restaurador Lusitano”, que afundaria em 11 de Setembro de 1832, quando fazia o transporte de tropas afectas a D. Miguel.


 

Restaurador Luzitano - Cortesia de "Oportoenaoso.blogspot.com"
 
 
Até aí, a ligação marítima entre Lisboa e Porto era da exclusiva responsabilidade de João Baptista Ângelo da Costa & Cia.
No Porto, existia a denominada Empresa do “Barco a Vapor do Porto” que fazia, apenas, a ligação da Ribeira com a Foz do Douro.
Segundo Fausto Figueiredo (revista “O Tripeiro”, VI série, Ano III, Maio de 1963, pág. 145-149), em 18 de Maio de 1835, ocorre a aprovação dos Estatutos da Empresa Portuense de Navegação a Vapor, que teve o navio Porto, naufragado em 29 de Março de 1852 e o vapor Quinta do Vesúvio, ao seu serviço.
O navio a vapor Porto, ainda de madeira, com 150 cavalos e atingindo uma velocidade de 9,5 milhas por hora, foi construído em 1836, pelos Estaleiros de Plymouth, para a Empresa Portuense de Navegação a Vapor, que o viria a colocar ao serviço de correio, passageiros e carga entre o Porto e Lisboa, com eventual paragem na Figueira da Foz.
O vapor Porto funcionava, como é óbvio, a vapor, movido a rodas e entrou ao serviço, no Porto, em 24/12/1836.
Em 1838, António Bernardo Ferreira II, que controlava a Empresa Portuense de Navegação a Vapor, já havia comprado, em Liverpool, o navio Circassian, a que irá dar o nome de Quinta do Vesúvio, que passa a disputar com o vapor Porto (que também lhe pertence) o transporte de passageiros entre Lisboa e Porto.
Em 8 de Julho de 1838, chegava ao Porto o vapor “Quinta do Vesúvio”.
Em 1840, eram agentes, em Lisboa, do Paquete Vapor Porto, a casa José Van Zeller & Filho, no Cais do Sodré, 19 e, do Paquete Vapor Quinta do Vesúvio, Gabriel Borges Marques da Rocha, no Cais do Sodré, 13.
Antes, em 1834, já há alguns anos que a carreira entre as duas cidades, era feita, entre outros, também pelo vapor “Guilherme IV”, cujo capitão só recebia a bordo pessoas indicadas pelo agente, Archer & Miller, ao n.º 10 da Rua dos Ingleses e que praticava os seguintes preços, nas seguintes condicções:
 
- na câmara da ré: 16$000 réis;
- na câmara da proa: 10$600 réis, incluindo a mesa «que deverá ser escolhida»
- no convés 4$800 réis, sem comida.
As crianças menores de 10 anos pagavam metade do bilhete e as criadas das famílias que fossem na câmara da ré, teriam acesso à mesma e pagariam 10$600 réis, comendo, no entanto, com as restantes criadas «onde se lhes destinar».
As cavalgaduras pertencentes a passageiros eram recebidas, a risco do dono, pagando 6$000 réis de passagem e os cães 480 réis, mas apenas com direito a água.
Não eram recebidas mercadorias, apenas passageiros e suas bagagens, que excedendo 4 arrobas pagaria 40 réis, por cada arrátel «a maior» ou excedendo a medida de 3 pés cúbicos, 200 réis, por cada pé de excesso.
Em 29/03/1852, o vapor “Porto” naufragou na foz do rio Douro, a cerca de algumas centenas de metros do local da estação de embarque, que estava fora de serviço, tendo morrido 37 passageiros e 29 tripulantes.
 
 

Gravura do vapor Porto

 
 
“Em 28/3/1852 o vapor Porto saiu da barra com destino a Lisboa. Apesar da ameaça de mau tempo seguiu a sua rota até que, nesse dia à noite era tal o temporal que o capitão decidiu regressar e rumar a Vigo. No dia seguinte, ao raiar da aurora foi avisado, de terra, para se fazer ao largo, pois o mar havia piorado. Porém, os passageiros em grande angústia, e contra a vontade do capitão, obrigaram-no a rumar à barra do Porto e não seguir para Vigo. Tal foi a sua insistência que este cedeu, autorizado pelo piloto-mor.
O barco foi encalhar na rocha do Touro onde permaneceu até à noite. Ouviam-se em terra os gritos e pedidos de socorro dos passageiros e tripulantes, porém nada podia ser feito para os salvar dado não haver quaisquer meios de salvamento. Foi então que Ricardo Clamouse Brown e António Ribeiro da Costa e Almeida saltaram para uma catraia e saíram para o mar. Porém, este estava de tal forma violento que os arrastou para a praia. Um arrais, Manuel Francisco Moreira Júnior ainda se conseguiu aproximar e segurar uma corda atirada pelo Porto. Mas era tal a força do mar e dos passageiros a puxá-la que o capitão deu ordem de a cortar para salvar a vida dos pilotos. Por fim uma enorme onda levantou o barco e atirou contra a pedra da Laje, tendo-se o barco partido a meio. Salvaram-se apenas sete dos sessenta e um tripulantes e passageiros, entre os quais algumas crianças. A administração da empresa do navio foi muito culpada e condenada, pois sabia que este estava em péssimo estado de navegabilidade.
O naufrágio do vapor Porto foi um tremendo abalo para a gente os habitantes da cidade, pois nele pereceram personalidades muito conhecidas, entre eles, José Allen, irmão do Visconde de Vilar d’Allen, e suas duas filhas, o Cônsul de França, o pai de Ana Plácido, amante de Camilo, e outros. 
 Com a devida vénia a “portoarc.blogspot”
 
Sobre o texto anterior diga-se que António Ribeiro da Costa e Almeida foi professor de filosofia do Liceu Central e Ricardo Clamouse Brown, devido ao seu heroísmo foram agraciados com a ordem da “Torre e Espada” e o poeta Augusto Luso da Silva dedicou a Ricardo Brown os versos seguintes que eram recitados nos serões dos palacetes do Porto:



Versos de Augusto Luso



Bilhete da "Empresa Portuense de Navegação por Vapor", de 1849 – Fonte: restosdecoleccao.blogspot
 
 
 
Aquele bilhete era válido para uma viagem do Porto para Lisboa, a bordo do vapor "Porto".
Em 1861, a viagem entre aquelas duas cidades era feita por um outro vapor Lusitânia e pelo vapor Lisboa.
 
 
 

Anúncio de viagem para o vapor Lisboa - In jornal "O Comércio do Porto" de 13 de Julho de 1861

 
 

Anúncio de viagem para o vapor Lusitania - In jornal "O comércio do Porto" de Agosto de 1861


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